Professor da UFSC vai reconstruir história de marfins do Museu Nacional de Belas Artes em pesquisa internacional

Peças estudadas têm uma origem oficial que será investigada em pesquisa internacional liderada pela UFSC
O professor Sílvio Marcus de Souza Correa, do departamento de História da UFSC, vai conduzir uma investigação internacional que pretende reconstruir a história de marfins do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA) em um projeto de pesquisa premiado pelo Centro Marc Bloch de Berlim, na Alemanha. Ele busca identificar as origens e o percurso de quatro peças lavradas da coleção africana e compreender se o conjunto foi um presente protocolar de Léopold Senghor, então Presidente do Senegal, durante a sua visita oficial ao Brasil em 1964.
Ele explica que esta hipótese carece de averiguação. Além disso, pairam dúvidas sobre a origem dos marfins, a sua antiguidade e sua procedência. “O objetivo principal é reconstituir o percurso desses marfins desde o seu ‘mundo de produção’ até a sua entrada no ‘mundo museal'”, comenta.
Para isso, uma equipe irá trabalhar ao longo de um ano. As atividades devem se realizar em etapas bimestrais. Na primeira etapa da pesquisa, a equipe deve reunir dados em documentos de arquivos no Brasil e no Senegal. Numa segunda etapa, a análise deste material permitirá um estudo comparativo com outros marfins lavrados em outros acervos museológicos, especialmente na França, Bélgica, Alemanha e Portugal.
Ainda haverá uma terceira etapa, na qual os pesquisadores devem se reunir para apresentar os resultados preliminares sobre os marfins lavrados do Museu. O trabalho será apresentados e também terá um relatório final associado à organização de um seminário com o apoio do Museu Théodore Monod de arte africana, em Dacar, e também da Universidade Gaston Berger de Saint-Louis.
A pesquisa de proveniência de objetos culturais, segundo o professor da UFSC e coordenador do projeto, é a nova tendência na museologia de países como a França e a Alemanha. A equipe de pesquisa que será coordenada pelo historiador brasileiro é formada por pesquisadores da França, da Alemanha e do Senegal. A iniciativa surgiu durante a pesquisa de pós-doutorado do professor, em 2023. “Na altura, eu pesquisava as coleções de arte africana em acervos museológicos do Brasil. Numa visita à reserva técnica do MNBA, encontrei esse conjunto de marfins lavrados”, explica.
História
Segundo Correa, a base da coleção africana do MNBA vem de uma compra realizada no início da década de 1960 pelo seu então diretor José Roberto Teixeira Leite. “Depois de quase dois anos como adido cultural na embaixada do Brasil em Accra, Gasparino Damata trouxe cerca de uma centena de objetos de arte africanos para vender no país”, comenta. Mas estes quatro marfins investigados foram adquiridos pelo MNBA depois. “A informação que precisa ser comprovada é que os marfins foram um presente do presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, no quadro de sua visita oficial ao Brasil em 1964″.
O professor conta que, no catálogo do MNBA de 1982, consta que os marfins são do Benim. Apesar disso, não há consenso entre especialistas em arte africana quanto ao fato. “Alguns especialistas em arte africana e, especialmente arte em marfim africano, me disseram que, provavelmente, aqueles marfins são da Costa do Loango”, diz.
Outro objetivo é saber se os marfins lavrados foram adquiridos pelo presidente do Senegal ou se já se encontram em outra coleção museológica como, por exemplo, aquela do museu do Instituto Fundamental da África Negra de Dacar (Senegal). “Outra dúvida é sobre a doação ao MNBA. Quem foi o doador? Senghor, o presidente senegalês ou o seu sobrinho, Henry Senghor, que foi embaixador do Senegal no Rio de Janeiro naquela época? “, questiona.
Financiamento e cooperação internacional
O Fundo Franco-Alemão de pesquisa de proveniência de objetos da África subsaariana abriu edital no início deste ano para pesquisadores que trabalham na intersecção de questões ligadas à história da arte, à proveniência dos objetos de coleção e às novas práticas museais.
Além do financiamento do Centro Marc Bloch de Berlim, o projeto tem o apoio da associação franco-senegalesa Rede de Valores Culturais Solidários, do Instituto Nacional de História da Arte de Paris, do Museu de Arte Africana Théodore Monod de Dacar e do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
A equipe internacional de pesquisa conta com profissionais com formação na Escola do Louvre, no Instituto Nacional de História da Arte e na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, na Université Cheikh Anta Diop de Dacar e no Museu de História Natural do Instituto Leibniz de Pesquisa para Evolução e Biodiversidade de Berlim.
Para o professor, trata-se de um projeto de pesquisa em rede internacional que dará visibilidade às coleções africanas em museus do Brasil. Ele destaca ainda a importância do apoio à investigação científica do Centro Marc Bloch de Berlim, instituição de pesquisa franco-alemã para as áreas de humanidades e ciências sociais e das instituições museológicas de quatro países (Brasil, Senegal, França e Alemanha).