UFSC lidera pela primeira vez associação nacional de Filosofia comprometida com questões de gênero e inclusão

Professora informa que, em 2026, UFSC deve receber pela primeira vez evento nacional. Foto: Divulgação/UFSC
A professora Janyne Sattler, do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), assumiu, desde janeiro deste ano, a presidência da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF). Esta é a primeira vez que uma docente da universidade preside a ANPOF, o que representa uma conquista para a instituição e, sobretudo, para o Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFIL/UFSC), que terá mais protagonismo e visibilidade no cenário acadêmico brasileiro. “Em todos os espaços onde estarei representando a ANPOF, estarei representando o programa. Essa visibilidade também é importante para os alunos e alunas do programa, que podem se sentir mais próximos da associação”, afirma a pesquisadora.
Além disso, a UFSC sediará o próximo encontro da ANPOF, em novembro de 2026, sendo a primeira vez que o evento ocorre em uma universidade catarinense. “Teremos toda a comunidade filosófica brasileira da pós-graduação aqui na UFSC”, comenta. O PPGFIL já possui a nota 7, que é a nota máxima na avaliação da CAPES. Mas geralmente as atenções estão mais voltadas principalmente aos programas do Rio de Janeiro e São Paulo. Portanto, segundo ela, será importante que o encontro ocorra na UFSC, valorizando a pesquisa que é produzida aqui. “O programa da UFSC já é muito consolidado. Temos um quadro docente bastante variado, que trabalha em áreas muito variadas.”
Questões de gênero em foco
“Eu diria que fui chamada à presidência um pouco pelo meu papel nas discussões sobre gênero dentro da filosofia”, explica Janyne, que é reconhecida na academia por suas contribuições nos debates e nas diversas atividades que vem desenvolvendo nesta área desde 2016. Por priorizar uma reflexão crítica feminista em um campo historicamente mais fechado a abordagens heterodoxas, Janyne se destacou no cenário nacional: “Isso foi importante para que confiassem em mim nesse cargo”, avalia.
Eu realmente estava e estou nesse lugar histórico, envolvida com essas ações que ficaram conhecidas e estão transformando o campo da filosofia. E daí vem o questionamento: por que não temos filósofas no cânone?
Janyne Sattler,
presidente da ANPOF
Segundo Janyne, debates sobre gênero e raça vêm ganhando espaço na filosofia e já havia uma demanda para que a ANPOF trilhasse um caminho mais progressista, buscando maior inclusão e descentralização. Tradicionalmente, a associação era liderada por um grupo político bastante conservador e elitista, focado em uma única regionalidade, geralmente o Sudeste. “Era sempre o mesmo grupo assumindo a ANPOF. E durante certo tempo, inclusive, não havia sequer eleição, era uma coisa assim de indicação“, lembra a professora. Em 2016, entretanto, uma candidatura mais progressista foi eleita pela primeira vez, representando um ponto de virada na história da entidade. “A ANPOF passou então a atuar contra esse elitismo acadêmico, contra a manutenção de uma única regionalidade, e também a pensar nessas outras questões que têm a ver com gênero, com raça, com classe.”
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