Publicações de autoria feminina se destacam na classificação da UFSC em ranking internacional
O número de publicações de autoria feminina na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) se destaca na classificação do Leiden Ranking, produzido pelo Centro de Estudos de Ciência e Tecnologia (CWTS), da Universidade de Leiden, na Holanda. Entre os quatros indicadores existentes no levantamento, ‘Gênero’ coloca a UFSC em sua melhor colocação entre as 1.225 universidades avaliadas em 69 países.
O Leiden Ranking é baseado em dados bibliográficos de publicações científicas, em particular em artigos publicados em revistas científicas. Atualmente, baseia-se no banco de dados Clarivate Analytics Web of Science como fonte primária e não usa dados obtidos diretamente das universidades. Na listagem, são considerados quatro parâmetros de análise: 1. Impacto científico (artigos publicados na base de dados Web of Science de 2016 a 2019); 2. Colaborações (artigos em parceria com outras instituições); 3. Acesso aberto (proporção de artigos livres em relação aos restritos); 4. Gênero (proporção de autoras).
Quando considerados os indicadores ‘Impacto científico’, ‘Colaborações’ e ‘Acesso aberto’, a Universidade figura entre as posições 430 e 480 no ranking internacional. Na classificação por gênero, a instituição catarinense passa a ocupar o 334º lugar, sendo a 10ª melhor colocada na América Latina e 8ª no Brasil. O levantamento contabiliza 17.741 publicações pela Universidade, sendo 7.185 delas (40,5%) de mulheres. Há ainda 811 publicações registradas como gênero desconhecido.
A professora Maique Weber Biavatti, superintendente de Projetos da Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq), afirma que o ranking reforça a posição da Universidade vista em outras classificações, mas considera que a falta de recursos para pesquisa brasileira dificulta a competitividade com as melhores instituições do mundo. “A UFSC tem um protagonismo bastante importante na ciência brasileira considerando o tamanho da Universidade e a abrangência dela. Sempre ficamos entre as dez melhores universidades em vários rankings. Quanto à classificação mundial, sabemos que somos um país periférico, então é muito difícil chegarmos no mesmo ponto onde estão países centrais e que recebem um grande financiamento. Acho que fazemos um trabalho milagroso diante do baixo financiamento que temos. E para o incentivo à pesquisa, infelizmente, não é um cenário favorável este que estamos vivendo”, avaliou.
Ainda em relação ao indicador ‘Gênero’, chama a atenção a proporção na divisão por áreas do conhecimento. A única em que o percentual de publicações femininas é superior às masculinas é na área das Ciências biomédicas e de saúde: 3.132 autorias masculinas (49,6%) e 3.186 autorias femininas (50,4%). Nas demais, a representatividade feminina é inferior. Nas Ciências da computação e Matemática, por exemplo, a participação das mulheres constitui apenas 10% do total de publicações (ver tabela abaixo).
Autoria masculina | Autoria feminina | |
Ciências biomédicas e de saúde | 3.132 (49,6%) | 3.186 (50,4%) |
Ciências da vida e da terra | 2.495 (55,5%) | 2.000 (44,5%) |
Ciências da computação e Matemática | 1.033 (90%) | 115 (10%) |
Ciências físicas e Engenharias | 3.598 (67,4%) | 1.737 (32,6%) |
Ciências sociais e humanas | 298 (67,1%) | 146 (32,9%) |
Para a professora Maique, a leve vantagem em uma das áreas não é suficiente para consolidar uma maioria. “Compartilhar o protagonismo, do ponto de vista de igualdade, seria 50%. Mas se você considerar que nas Ciências da saúde, em geral, historicamente a participação feminina é muito superior a 50,4%, então não chega a ser representativa, uma vez que a área é predominantemente exercida por mulheres. Ainda há uma participação masculina bastante grande, apesar de a maioria das pessoas que se formam na área da Saúde serem do sexo feminino”, salientou.
Já a professora Débora Menezes Peres, eleita na última semana a primeira mulher presidente da Sociedade Brasileira de Física, destaca a assimetria existente no número de pesquisadoras conforme o campo de atuação. A docente cita um estudo da Public Library of Science (PLOS) que colocou a Computação e a Física entre as áreas de menor representatividade feminina. “Esse estudo diz que levaria 258 anos para haver igualdade de gênero ou equidade de gênero quando o assunto é mulheres que publicam como primeiro ou último autor na área da Física, por exemplo. Primeiro ou último autor porque são as colocações de destaque quando os papers não estão em ordem alfabética”, explicou Débora. “Essa assimetria tem a ver com o número de pesquisadores nas diferentes áreas do conhecimento. A gente não precisa ir longe: se você olhar as estatísticas do número de mulheres na Física, na Engenharia da Computação, na Automação, dá pra ver que a diferença é muito grande”, complementou.
Ambas as professoras concordam que a Universidade só tem a ganhar com indicadores positivos de diversidade. “Existem vários estudos, como da Mckinsey Diversity Database e da Goldman Sachs, que estudam a diversidade na academia. Todos eles mostram que a maior diversidade de gênero e ética contribui para uma pesquisa melhor, mais eficiente, e para que os grupos sejam mais produtivos. Então, a Universidade só ganha com indicadores positivos de diversidade, mesmo com alguns homens brancos conservadores gritando que não”, ressalta a professora Débora Peres.
A UFSC implantou recentemente ações que buscam diminuir o desequilíbrio que existe na produção científica. A professora Maique Biavatti destacou a instituição da Comissão de Equidade, formalizada em portaria da Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidade (Saad), com representação de mulheres de diferentes setores, cargos e campi. Ressaltou ainda a idealização do Prêmio Propesq – Mulheres na Ciência, que busca inspirar a comunidade científica interna e externa nas diferentes áreas do conhecimento e contribuir para diminuir a assimetria de gênero na ciência. “Devemos pensar sempre em formas de diversificar os grupos de pesquisa o máximo que pudermos para atingirmos pontos de vista, pensamentos e hipóteses científicas mais criativas”, afirmou.
Classificação nos demais indicadores
A classificação da UFSC variou entre as posições 432 e 479 nos outros três indicadores do Leiden Ranking. Quanto ao ‘Impacto Científico’, a Universidade ocupa o 432º lugar entre as 1.225 instituições avaliadas no mundo, sendo a 8ª mais bem classificada na América Latina e 7ª no Brasil. Ao todo, o levantamento contabiliza 3.213 publicações no período entre 2016 e 2019. Destas, 1.088 são das Ciências físicas e Engenharias, 922 das Ciências biomédicas e de saúde, 754 das Ciências da vida e da terra, 311 das Ciências da computação e Matemática, e 118 das Ciências sociais e humanas.
Quanto ao indicador ‘Colaborações’, a Universidade figura na 479ª posição no mundo, 11ª na América do Sul e 8ª no Brasil. Foram registradas, conforme o ranking, 6.245 colaborações entre 2016 e 2019, sendo 5 mil publicações colaborativas interinstitucionais (80,1% do total), 2.687 publicações colaborativas internacionais e 177 contribuições colaborativas com a indústria. A UFSC repete esta classificação (479ª no mundo, 11ª na América do Sul e 8ª no Brasil) quando considerado o indicador ‘Acesso aberto’. Das 6.245 das publicações analisadas na pesquisa, 2.109 são de acesso aberto (33,8% do total).
Maykon Oliveira/Jornalista da Agecom/UFSC