Foto: Daniela Caniçali/Agecom/UFSC
Identidade de gênero, orientação sexual, homossexualidade, transsexualidade, bissexualidade, intersexualidade, assexualidade. Esses foram alguns dos conceitos apresentados e debatidos na palestra “Gênero e Sexualidade: Conexões e Transversalidades”, proferida pelo professor Rodrigo Otávio Moretti-Pires na sexta-feira, 23 de junho. O evento, que foi promovido pelo PET Conexões de Saberes, ocorreu no auditório do Centro Socioeconômico (CSE) e contou com a participação de professores e estudantes de diversas áreas de estudo.
Rodrigo é professor do Departamento de Saúde Pública (DSP/CCS) da UFSC e desenvolve pesquisas na área de saúde coletiva, com enfoque em diversidade sexual e gênero. Durante a palestra, ele destacou como as questões de gênero e sexualidade estão presentes nos mais diversos espaços e relações sociais. “Uma das questões centrais no mundo ocidental é a sexualidade. O filósofo francês Michel Foucault afirma que a sexualidade é como um dispositivo, um mecanismo que opera de forma muito mais ampla do que podemos perceber. Está presente o tempo todo, em todos os lugares e em todas as relações que estabelecemos. Ao mesmo tempo, quase não debatemos sobre isso em nosso cotidiano.”
Foto: Daniela Caniçali/Agecom/UFSC
Dividir o mundo entre homens e mulheres é, segundo o pesquisador, uma maneira muito precária de entender o conceito de gênero. “Sempre temos que dizer, quando preenchemos qualquer tipo de cadastro, qual é o nosso sexo. Mas qual a importância de se conhecer os genitais das pessoas? Nenhuma. Além disso, existem os genitais masculinos, femininos e o intersexo. Há poucos estudos sobre isso no Brasil, mas já é algo avançado em outros países. Em torno de 3 a 5 % da população é intersexual.” Os indivíduos intersexuais seriam aqueles que apresentam genitais com estrutura de ambos os sexos. Usualmente, detecta-se essa característica assim que a criança nasce e faz-se uma cirurgia priorizando o sexo que está mais desenvolvido.
Para o professor, esse tipo de decisão médica é condenável, pois pode gerar consequências negativas. “Muitas dessas pessoas nunca ficam sabendo que eram intersexuais. A justificativa para a intervenção cirúrgica é que estar no limbo entre ser homem ou mulher causa problemas numa sociedade que é binária. Mas o que o genital provoca na vida da pessoa não está dado, senão não haveria a possibilidade de alguém sentir atração pelo mesmo sexo. Na Europa existe um movimento forte que criminaliza a medicina que decide pelo corpo dessas pessoas antes delas mesmas.”
Foto: Daniela Caniçali/Agecom/UFSC
As diferenças entre identidade de gênero e expressão de gênero também foram expostas. “Identidade tem a ver com como eu me percebo. Cada um se percebe, se identifica, com um determinado gênero. A forma como expresso esse gênero é descolada da identidade, por isso pode ser diferente. Mulheres trans, por exemplo, podem sentir atração por mulheres, podem ser lésbicas. Como o corpo original, sem modificação, é de um homem, as pessoas geralmente se perguntam: então por que não continua sendo homem, sendo que se atrai por mulheres? Justamente porque a identidade é diferente da expressão de gênero.” Nesse sentido, explicou, ser drag queen seria uma parte da expressão de gênero e não estaria necessariamente relacionado à orientação sexual nem à identidade de gênero.
A orientação sexual, por sua vez, se refere à atração. “Posso me atrair por homens, por mulheres, pelos dois, por tudo ou por todos, como é o caso dos pansexuais, que se atraem por qualquer tipo de pessoa, sem discriminações. E posso também não me sentir atraído por ninguém, que são as pessoas assexuais.” Rodrigo observa, porém, que quem é assexual não tem desejo sexual pelo outro, mas pode se masturbar e sentir prazer sozinho. Ainda há poucos estudos sobre isso no Brasil e, pelo desconhecimento, os assexuais sofrem preconceitos inclusive por parte dos profissionais da saúde.
A questão da homossexualidade também foi abordada durante a palestra. “Isso ainda não está resolvido na maior parte do mundo. São poucos os países que permitem e reconhecem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Muitos outros, além de não permitirem, criminalizam esse tipo de relação ao ponto de se condenar à prisão, prisão perpétua e até pena de morte. E mesmo nas sociedades menos discriminatórias, existe uma vigilância extrema sobre qualquer um que não se adeque à norma ou à expectativa social.” Para o professor, a estrutura patriarcal e machista na qual nossa sociedade é organizada precisa ser superada.
Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC