O professor Oscar Bruña-Romero, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP), do Centro de Ciências Biológicas da UFSC, fez parte, desde o início de 2020, dos comitês formais e informais de tomada de decisão da instituição quanto à pandemia de Covid-19. Quando pouco se sabia sobre o vírus, Oscar ajudou a UFSC a indicar as medidas de proteção e alertou quando da necessidade de preservar vidas.
É especialista em imunologia e microbiologia, com especial ênfase em desenvolvimento de vacinas recombinantes contra doenças infecciosas. Após o início da imunização dos trabalhadores da UFSC, o cientista mostra-se otimista, mas ressalta que para o retorno presencial, os órgãos deliberativos da UFSC e a Administração Central precisará aguardar uma cobertura vacinal significativa.
Imagem de Angelo Esslinger por Pixabay
“O Brasil parece ter, até este momento, somente pouco mais de 10% da sua população vacinada com duas doses. E somente esses contam verdadeiramente como indivíduos que participam da imunidade de rebanho para proteção comunitária. Sabemos que com as vacinas disponíveis, esse número não pode estar abaixo de 75% e deveria estar próximo de 95%. Qualquer outro número inferior não surtirá efeitos a nível de proteção comunitária suficiente dos cidadãos, e continuaremos tendo novos casos da doença e novos óbitos, e o pior, será mantida a sensação de medo e insegurança que nos atinge desde 2020”, salienta.
A vacinação apenas de trabalhadores não será suficiente, segundo o cientista, para assegurar um retorno seguro às aulas presenciais. “O relatório da Comissão Científica para o enfrentamento da Covid-19 sugeriu que somente entrássemos na Fase 3 deste processo no caso em que todos os membros da Universidade estivessem vacinados, pois não seria possível colocar estudantes ou funcionários num risco superior ao das circunstâncias normais da sua vida diária”, ressalta.
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“A vacina representaria uma diminuição muito significativa desses riscos e por isso as atividades presenciais poderiam então ser aprovadas. Nessa linha, quando permitidas as atividades já na Fase 2, anterior àquela que requer a vacinação universal de todos os membros, deveria ser considerado como princípio decisório a não superação dos riscos de vida habituais aos que qualquer funcionário ou aluno da UFSC esteja submetido sem ir trabalhar presencialmente, e que estes riscos sejam em qualquer caso aceitos de forma voluntária, não forçada, e individual por todos os participantes”, complementa o pesquisador.
Oscar durante mutirão de vacinação em Florianópolis. O professor atua no projeto de extensão Imuniza Floripa, do curso de Enfermagem. (Foto: Arquivo Pessoal)
Número de vacinados no país está aquém do desejável
O professor Oscar Bruña-Romero faz coro com outros especialistas no Brasil ao destacar que o número de vacinados no país ainda está aquém do desejável. Segundo ele, os critérios para decisão da compra das vacinas e sua aplicação deveriam ter ficado sob responsabilidade de técnicos e pesquisadores em vacinas e saúde pública. Até mesmo os investimentos na campanha nacional de vacinação mereciam essa atenção estritamente técnica.
“O risco a que estamos nos submetendo ao deixar o vírus circular livremente em quase 90% da população do Brasil é de um tamanho que não conseguimos mensurar, e pode nos dar um susto incontornável com as ferramentas atuais a qualquer momento”, pondera.
Ele também destaca um histórico recente do que qualifica como “comunicação muito errada” dos governos com o cidadão. “Os cidadãos não conseguiram entender ainda, por culpa dos erros prévios de comunicação oficial em matéria de saúde, que os benefícios da vacina superam enormemente quaisquer desconfortos momentâneos, que os efeitos adversos são leves, e que a importância da vacinação para ajudar ao país a superar este trauma e continuar com seu desenvolvimento é fundamental”.
Apesar disso, ele acredita que os esforços de alguns municípios para a vacinação rápida dos cidadãos e para a manutenção das medidas de prevenção vêm demonstrando que também há prefeitos e secretários de saúde cumprindo corretamente o papel de gestão. A crítica, nesse sentido, estaria relacionada àqueles que não consideram a ciência nas decisões. “Até hoje não entendo a insistência na necessidade exaustiva de meritocracia promulgada por muitos governantes e políticos, e, ao mesmo tempo, o fato do Ministério e muitas Secretarias de Saúde tomarem decisões políticas e não científicas, com uma desconsideração absoluta por qualquer mérito científico demonstrável. Espero que a lição nos sirva para planejar um futuro melhor”, diz.
Alunos da UFSC e o professor Oscar participam de mutirão de vacinação. O especialista é um dos voluntários do projeto Imuniza Floripa. (Foto: Acervo Pessoal)
Já com relação aos efeitos da imunização na Universidade, o pesquisador reforça que a segurança só será atingida para o retorno das atividades presenciais após a vacinação de 75% a 95% da comunidade universitária. Além disso, salienta que as decisões também devem ser tomadas considerando o cenário epidemiológico.
“A porcentagem exata [da cobertura vacinal] será conhecida durante os próximos meses, conforme os dados de proteção de cada vacina individual na situação de vida real sejam divulgados. A modo de exemplo, podem ter visto recentemente que para a vacina Coronavac, do Instituto Butantan, a aplicação em 95% dos cidadãos da cidade de Serrana em São Paulo levou a uma diminuição de mais de 95% do número de óbitos e casos graves da doença nessa cidade, o que é considerado um excelente resultado e poderia ser extrapolável à nossa situação”.
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Amanda Miranda e Mayra Cajueiro Warren / Agecom / UFSC