Espécies exóticas invasoras ameaçam mais da metade das unidades de conservação do país

02/10/2024 18:46

Espécies exóticas estão entre as cinco principais causas de perda de biodiversidade. Na foto, a abelha-africanizada (Apis mellifera). Crédito: Christopher T. Blum/Divulgação

Um estudo publicado por pesquisadores brasileiros na revista Biological Invasions na última sexta-feira, 27 de setembro, mostra que 561 unidades de conservação do país registram mais de 5,6 mil ocorrências de espécies exóticas invasoras. São animais, plantas, samambaias, microrganismos, algas e musgos catalogados em 327 unidades de conservação estaduais e 234 federais, o que representa mais da metade do total destas áreas no Brasil. As regiões mais afetadas estão ao longo da costa, especialmente no bioma da Mata Atlântica, no Sul e Sudeste. Atualmente as espécies exóticas estão entre as cinco principais causas de perda de biodiversidade.

Para Michele Dechoum, professora do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autora do estudo, o bioma onde está inserida a unidade de conservação é determinante para a presença das invasoras. “Embora espécies exóticas invasoras já tenham sido identificadas em todos os ecossistemas terrestres e aquáticos no Brasil, nossa análise mostra uma concentração clara ao longo da costa, principalmente na Mata Atlântica, uma área de alta prioridade para conservação, mas com alta pressão antrópica, como urbanização, o que aumenta a propagação das espécies invasoras”, explica. O bioma amazônico foi o que apresentou o menor número de espécies invasoras, “mas isso pode estar relacionado à menor quantidade de estudos na região e ao desafio de gerenciar grandes áreas protegidas”, pondera Dechoum.

> Acesse a publicação na revista Biological Invasions

O tipo de unidade de conservação também influencia na ocorrência da ameaça das espécies invasoras. “Surpreendentemente, áreas de uso sustentável, como Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável, apresentaram menos espécies exóticas invasoras”, comenta Dechoum. Em contraste, parques nacionais e estaduais, que são voltados mais estritamente para a conservação da biodiversidade, abrigam mais espécies exóticas invasoras. “Isso pode ser explicado pelo turismo e recreação, que são importantes vias de introdução de espécies exóticas”, acrescenta a pesquisadora.
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Encontro discute campanha pela criação de Unidade de Conservação na planície do Pântano do Sul’

05/10/2023 15:10

O evento “Resistências no contexto da Mata Atlântica: criação da UC Pântano do Sul, Plano Diretor e a luta indígena” será realizado no dia 10 de outubro, das 18h30 às 22h, no Auditório do Centro de Ciências Biológicas. O encontro dá direito a certificado de duas horas, sem necessidade de inscrição prévia. A promoção é do Centro Acadêmico de Biologia (CABio-CCB), o Grupo Terra Trabalho e Resistência (TTR-DSS-CSE), Conselho Regional de Biologia (CRBIO-09), ECOLHAR e Rede Mata Atlântica (RMA). 

Três palestrantes comporão a mesa: Gert Schinke, ecologista e historiador; Ingrid Sateré Mawé, liderança nacional indígena e integrante da ANMIGA; e João de Deus Medeiros, biólogo, Coordenador Geral da Rede de Ongs da Mata Atlântica – RMA e presidente do CRBIO-09.

Esta é a terceira atividade em prol da ‘Campanha Pela Criação da Unidade de Conservação na planície do Pântano do Sul’, que já contou com dois eventos públicos realizados no Distrito do Pântano do Sul. A criação desta Unidade de Conservação no extremo sul da Ilha de Santa Catarina está diretamente ligada às repercussões do novo Plano Diretor da capital. Este avança sobre nove áreas de grande importância ecológica na ilha, as chamadas ‘AUE’ – Área Urbanística Especial, impactando severamente o bioma Mata Atlântica, que vive sob constante pressão da expansão urbana e da especulação imobiliária, não somente em Santa Catarina, mas em todo sul do Brasil.

Mais informações pelo Instagram

 

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Tese defendida na UFSC e em Portugal propõe alternativa sustentável para a palmeira Juçara

01/08/2023 12:09

Palmeira Juçara. Foto: Catie Godoy/Embrapa.

A palmeira Juçara é uma árvore da Mata Atlântica ameaçada de extinção devido à extração predatória do palmito. Mas seus frutos, parecidos com o açaí, também podem ser consumidos de forma sustentável, evitando o corte da árvore. Uma tese com dupla titulação – defendida ao mesmo tempo no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Santa Catarina (PósENQ-UFSC) e na Universidade de Aveiro, em Portugal – mostra um caminho possível para o aproveitamento do fruto da juçara. O estudo fornece uma alternativa mais econômica e ambientalmente amigável: a obtenção de compostos essenciais, que podem ser utilizados na indústria da alimentação e de cosméticos. 
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CTC ganhará mural artístico do projeto Muros na Mata Atlântica

25/07/2022 08:30

Projeção de como o mural deverá ficar. Imagem: Alexandre Filiage

A Secretaria de Obras, Manutenção e Meio Ambiente (Seoma) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) anuncia que a fachada do Bloco 3 do Centro Tecnológico (CTC), localizado na esquina da Rua Delfino Conti com a Rua Dep. Antônio Edu Vieira, se tornará um mural artístico. Ele será pintado pelo artista plástico Alexandre Filiage, a partir de 28 de julho, dependendo da condição climática.

No dia 1º de agosto, segunda-feira, às 9h, está agendada uma palestra com o muralista sobre a Mata Atlântica, aberta à comunidade em geral, no auditório Professor João Ernesto Escosteguy Castro (Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC). No final do evento, está prevista uma visita guiada com alunos da educação especial ao local da pintura. As atividades serão promovidas em conformidade com protocolos sanitários adotados pela Universidade, sendo obrigatório o uso de máscaras.

O mural faz parte do projeto Muros na Mata Atlântica, que consiste em ações educativas e na realização de 14 murais de Filiage, que, nascido em Ribeirão Preto (SP), tem obras exibidas e murais realizados na Alemanha, Espanha e Turquia. Os murais, com temas da Mata Atlântica, estão em dez cidades brasileiras nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Dois desses murais serão executados na cidade de Florianópolis, sendo um anterior ao do CTC, entre 23 e 27 de julho, no Parque da Luz. O catálogo do artista pode ser acessado aqui.

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Mais de 100 mudas de espécies nativas da Mata Atlântica são plantadas no Bosque do CFH

09/12/2021 15:32

A Coordenadoria de Gestão Ambiental (CGA), o Laboratório de Análise Ambiental (LAAm) e Observatório de Áreas Protegidas (OBSERVA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) efetuaram o plantio de mais de cem mudas no Bosque do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) na manhã desta quinta-feira, 09 de dezembro de 2021.
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Uma ave inédita e muita riqueza: conheça a fauna do Distrito do Saí que deve ser protegida por Refúgio de Vida Silvestre

30/09/2021 10:00

Ave bordada com bico robusto, segundo o Wiki Aves, é o significado para a nomenclatura científica do Pachyramphus marginatus, ou apenas “Caneleiro-Bordado”. O pequeno animal, que mede até 14 cm e pesa não mais que 18 gramas, tinha sua distribuição registrada desde Pernambuco até o Paraná, mas em dezembro de 2019 foi visto pela primeira vez ainda mais ao Sul, especificamente na região do Distrito do Saí.

Os ornitólogos que o reconheceram são da equipe da Universidade Federal de Santa Catarina responsável pelo levantamento socioambiental para a criação de uma unidade de conservação em São Francisco do Sul, litoral Norte de Santa Catarina. Primeiro, a equipe identificou o macho. Alguns meses depois, uma fêmea também foi vista pela primeira vez, consolidando a hipótese de que a floresta tem muito a apresentar, inclusive em termos de turismo ecológico.

Caneleiro bordado no Distrito do Saí

De acordo com o professor Guilherme Renzo Rocha Brito, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, esses primeiros registros estendem a espécie por cerca de 40 km ao sul de sua área de distribuição conhecida, e embora não seja possível afirmar com toda certeza se outros exemplares já haviam voado mais ao Sul, trata-se de um dado relevante para a compreensão da avifauna do Saí. A equipe identificou pelo menos 252 espécies diferentes na região, de 59 famílias – dados que a elevam como uma das regiões mais ricas do estado.

“É uma das áreas mais ricas de aves da Mata Atlântica do Estado. Dali para baixo começa a diminuir um pouco, por questões climáticas, por conta do frio. Em termos comparativos, é possível que haja números semelhantes nas matas de araucárias, mas desconfio que não chegue muito perto da riqueza que encontramos ali”, explica.

O professor conta que aves são animais de ambientes muito específicos, ou seja, de acordo com o tipo de ambiente é possível encontrar uma comunidade que se adequa somente aquela região. “Num manguezal, por exemplo, você encontra aves que estão somente nesse ambiente. Já nas florestas vai encontrar uma comunidade um pouco diferente. Mas no caso do Distrito do Saí, naquela região há um mosaico de vários tipos”, comenta. Cercada por baía, manguezais, florestas e morros, a área tem pássaros de cores, tipos e padrões diferentes – um registro de biodiversidade e da urgência de conservação.”Pouco mais acima, na divisa do Paraná e de São Paulo, por exemplo, vai haver uma riqueza um pouco maior por ser um núcleo maior de florestas. O que vemos no Saí é um potencial bastante interessante”.

Como as aves são bastante sensíveis a alterações no seu ambiente e muito dependentes de habitat florestal, a riqueza na área também é um indicativo de que as florestas da região do Distrito do Saí sustentam uma comunidade relativamente saudável, inclusive com alto número de endemismos e espécies raras e ameaçadas. Além do Caneleiro-Bordado, a equipe identificou também espécies como o Jaó-do-Sul, da família dos macucos, um animal relativamente grande, que parece uma galinha e é muito caçado, buscado para servir de alimento. Um Curió de vida livre também foi identificado, uma espécie mais rara muito procurada por gaioleiros no passado só encontrada em áreas de vida selvagem preservada e pouco perturbada.

Curió Sporophila é ameaçado de extinção

“O recado é que é uma comunidade muito complexa, com muitos agentes e muitos exemplos. E quanto mais complexa a comunidade, mais complexas são as interações, pois para sustentar uma comunidade dessas é preciso um ambiente muito saudável, com muitos recursos. Mais de 50% dessas aves são insetívoras, por exemplo, dependentes de insetos”, ilustra.

Um desdobramento efetivo dessa análise sobre a avifauna foi bastante comentado junto à comunidade do Distrito do Saí, já que essa característica pode levar à criação de projetos turísticos relacionados à observação de pássaros. “O Distrito do Saí é uma das únicas áreas no estado de Santa Catarina com a possibilidade de observação e registro de muitas espécies. Essa beleza cênica fomenta o turismo de natureza”, indica o relatório da UFSC. “A recepção da comunidade quanto a essa possibilidade foi muito boa. Proprietários de pousada, por exemplo, ficaram empolgados com essa questão, pois apareceu como um novo potencial”, reforça o professor.

Exemplo de biodiversidade
A região, segundo o levantamento de fauna, tem uma importância ecológica inegável. De acordo com o professor Selvino Neckel de Oliveira, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, que coordenou o estudo, o primeiro passo para a conservação é o conhecimento da área e do que ela tem de biodiversidade, pois assim é possível avaliar cada espécie e suas características determinadas. “A partir desse dado você consegue ter uma dimensão do estado de conservação, por exemplo, se você está diante de uma espécie que tem distribuição restrita naquela área ou se ela nunca foi registrada naquele ambiente”.

Piaya cayana

 

No caso da Mata Atlântica, que foi reduzida a cerca de 7% do que ela já foi originalmente no passado, sua posterior recuperação ocasionou uma paisagem com habitats fragmentados, ou seja, manchas de áreas florestais separadas por cidades ou sistemas agrícolas que isolaram determinadas espécies que, como consequência, podem ser extintas. “Num contexto de fragmentação, mesmo as espécies que conseguem permanecer se tornam inviáveis, pois as populações vão diminuindo, já que não há troca de material genético entre as populações”, explica.

 

Haematopus palliatus

 

Oliveira explica que é necessário estudar o ambiente, saber o que ele dispõe e avaliar o seu estado de conservação. “Nosso levantamento de fauna mostrou que o Distrito do Saí é um dos lugares mais ricos de espécies da nossa Mata Atlântica, com uma quantidade de espécies muito alta, comparado à unidade de área”, pontua.”E por que esse ambiente é rico? Porque a parte Norte de Santa Catarina é uma região de conexão de fauna e flora que vem do Sudeste/Nordeste brasileiro e da parte Sul do Brasil. Então, temos elementos da fauna e flora do Sul se encontrando com elementos das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil.

Um exemplo que a equipe incluiu nas suas análises é o do Veado Bororo, espécie registrada na mata do Distrito do Saí há cerca de dois anos e cuja ocorrência era mais comum na porção da Mata Atlântica da região de São Paulo e dali para o Nordeste. Espécies de anfíbios observadas na floresta também são exemplos de uma região com uma fauna heterogênea, com elementos que tiveram suas origens mais ao sul ou mais ao norte do Saí. “O que ocorre é que o limite de distribuição dessa inúmeras espécies ocorre aqui na na região do Saí”.

Eira: exemplar da mastofauna no Distrito do Saí

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O professor lembra que aquilo que a equipe levantou na região é uma pequena amostra, fruto de cerca de 20 dias de campo, por conta do contexto pandêmico. Mesmo assim, observou-se uma grande diversidade. “Imagina se tivesse uma estação de estudo nesse local há 20, 30 anos e a importância que teriam estes registros a longo prazo. Ficamos impressionados, pois em pouco tempo conseguimos comprovar essa biodiversidade”, completa.

Os dados – que no relatório são divididos por grupos (peixes, anfíbios, reptéis, mamíferos, avese insetos dipteros) – não permitem que a equipe lance hipóteses sobre a possível perda de biodiversidade ocasionada pela ação humana, por exemplo. Mas o pesquisador observa que a região tem perdido áreas de floresta, além de ser ameaçada constantemente por obras, como as de ampliação portuária. “O veado, por exemplo, a gente registrou um indivíduo apenas. Será que não havia mais há dez ou cem anos atrás? Ou mesmo o macaco Bugio, que antes era visto com certa frequência e agora praticamente não se vê mais nessa região”.

Para ele, o que mais chama a atenção na fauna do Distrito do Saí é o conjunto da obra, identificado por meio da observação dos elementos da floresta atlântica que estão bem representados em diversos pontos do polígono e que são essenciais para a justificativa de uma unidade de conservação. “São muitos componentes da biodiversidade: o meio físico, com as nascentes com água de boa qualidade, o componente biótico, como árvores imensas; poucas, mas existem, e árvores que produzem muitos frutos para fauna. Os componentes da biodiversidade da Mata Atlântica estão todos ali”.

 

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Amanda Miranda/Jornalista da Agecom

Tags: conservaçãoecologiaMata Atlânticameio ambienteNascentes do SaíProjeto Nascentes do SaíRefúgio de Vida Silvestre

UFSC e comunidade de São Francisco do Sul sugerem criação de Refúgio de Vida Silvestre no Distrito do Saí

28/09/2021 10:00

Por dentro das matas no alto de um morro no Litoral Norte de Santa Catarina, um pequeno caneleiro-bordado está pronto para desbravar um mundo novo. Poderia ser personagem de um desenho animado, mas é uma ave observada pela primeira vez em um Estado onde não costuma ser vista. A região escolhida é cheia de características atrativas: com espécies diversificadas e água em abundância, deve se tornar a primeira unidade de conservação da parte continental de São Francisco do Sul, por recomendação de um extenso trabalho que uniu a ciência e as comunidades do Distrito do Saí.

A parceria começou após a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ser contratada pela Prefeitura de São Francisco do Sul para estudar a região. Os recursos vieram como parte de uma multa recolhida pelo Ministério Público Federal e foram aplicados para que se analisasse as características para a criação de uma unidade de conservação municipal, em um polígono previamente estabelecido. O estudo resultou em um relatório com mais de 700 páginas, que organiza o conhecimento sobre aspectos como a hidrologia, a geologia, a fauna e a flora da região e ainda apresenta um histórico socioantropológico da área, recomendada para ser um Refúgio de Vida Silvestre.

Caneleiro bordado: espécie foi vista pela primeira vez e indica o quanto a mata pode ter riquezas desconhecidas (Foto: Fernando Farias)

O Projeto Nascentes do Saí traça uma imagem panorâmica e também o raio-x de um lugar repleto de particularidades, que tem urgência na preservação da sua biodiversidade e também pode servir como ponto de turismo ecológico por conta de suas características. O território do Distrito do Saí possui 116 km2, água, floresta e animais em abundância e um patrimônio cultural cheio de histórias. Transformá-lo em unidade de conservação vai contribuir com a proteção e exploração sustentável dos seus encantos turísticos.

Coordenadoria de Design e Programação Visual / Agecom

“A região de morros do Distrito do Saí nos surpreendeu com a sua riqueza de espécies, tanto de flora, como de fauna. É um remanescente de Mata Atlântica muito importante para o Estado, tendo a sua maior parte em estágio avançado de regeneração, além de ser fundamental para a segurança hídrica do município por causa dos seus mananciais”, explica o professor Rodrigo de Almeida Mohedano, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e coordenador do projeto. “Além dessa tomada de informações, de dados, o projeto é pautado em um processo de governança com a comunidade, porque entendemos que essas ações muito verticais, de cima para baixo, não têm muita efetividade. É preciso que a comunidade participe desde o começo”, contextualiza o professor.

De início, não foi um processo fácil, pois, no senso comum, unidades de conservação costumam ser temidas por, em alguns casos, enrijecerem determinadas regras de ocupação. Mas mesmo com uma pandemia imprevista pelo caminho, a equipe conseguiu construir, com base no diálogo, uma proposta e uma minuta de lei para criar o que se denomina Refúgio da Vida Silvestre.

O polígono inicialmente delimitado pela prefeitura transformou-se em uma área maior, de aproximadamente 6.702 hectares, segundo explica o professor Orlando Ferretti, responsável pela caracterização geográfica. O traçado passou a abranger, também, áreas de maiores altitudes, na divisa com Itapoá e Garuva, onde não há ocupação, mas há floresta.

Segundo Ferretti, a proposta de criação de uma unidade no local remonta à década de 1980, quando a Unesco criou o conceito de Reserva da Biosfera, com o objetivo de dar sustentação à preservação dos diferentes biomas espalhados pelo mundo. No Brasil, esse processo se estendeu entre final de 1990 e início de 2000, onde se estabeleceram as possíveis reservas para as áreas de Mata Atlântica. “Foi uma designação muito mais de uma política internacional, de observar nos diferentes biomas quais as áreas que deveriam ser mais cuidadas e ter mais trabalhos científicos e áreas protegidas”, contextualiza.

Hoje, a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), a primeira criada no Brasil, passou por diversas ampliações. De acordo com informações da Unesco, ela cobre porções territoriais de vegetação de Mata Atlântica ao longo de 89.687.000 hectares. Isso forma um corredor ecológico por 17 estados, incluindo Santa Catarina. A RBMA é a maior e uma das mais importantes unidades da Rede Mundial da Unesco.

Dentro do próprio bioma de Mata Atlântica, explica o professor, foram criadas inúmeras reservas, parte delas na região Sul – e a mais importante hoje denominada Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. “No Norte, há áreas de serra do mar, nas regiões de Joinville, Campo Alegre, Garuva, São Chico. Ali há uma grande indicação da importância e da biodiversidade nessas áreas, balizadas pela Unesco”, comenta. A região de São Francisco do Sul, desde os anos 2000, é reconhecida como altamente importante, mas ainda não tem uma unidade de conservação em sua área continental.

A ideia de criar a primeira unidade de conservação de proteção integral na região tem uma importância adicional: somado às outras áreas protegidas do entorno, esse polígono seria uma espécie de corredor ecológico e garantiria mais trocas genéticas nas populações de animais ou de plantas que vivem em outras reservas. “É importante que haja muita unidade de conservação para que haja conexão entre os diferentes fragmentos, para que as espécies possam circular entre as áreas, tendo essa facilidade para o fluxo genético”, reforça Rodrigo.

Equipe de pesquisa em ação

O professor Ferretti também reforça a possibilidade de uma nova reserva se agregar a um chamado mosaico de áreas protegidas, que garante uma maior cobertura de proteção legal, com uma intensa variedade de ambientes, tais como serra e planície, por exemplo. Isso possibilita que haja ligação possível com corredores, seja pela água, seja pela terra, fazendo com que os animais façam a passagem de um ponto a outro. “É urgente a criação de unidades também para não isolar esses animais”, pontua.

Unindo saberes

Trabalho com a comunidade começou antes da pandemia (Fotos: acervo do projeto)

Segundo o professor Rodrigo, o Núcleo de Educação Ambiental (NEAmb) foi um dos vértices de todo esse processo. Além de já ter, no histórico, a execução de um trabalho semelhante, realizado na cidade de Itapema, o NEAmb potencializou conhecimentos multidisciplinares para o estudo. “O nosso diferencial foi trabalhar com as comunidades, empoderar a comunidade com conhecimento e incluí-la no processo, com metodologias de educação ambiental e de governança”.

A proposta de unir os saberes locais da comunidade e os saberes técnicos que a equipe da UFSC propunha fez com o que o projeto Nascentes do Saí fosse um trabalho coletivo. “Não adianta vir alguém de fora, da universidade ou do poder público e impor a criação de uma Unidade de Conservação, pois sem a apropriação desta pela comunidade, ela ficaria apenas no papel”, destaca Luiz Gabriel Catoira Vasconcelos, responsável pela governança. “O conceito de governança que trazemos do professor Daniel Silva é justamente esse: aumentar a capacidade das comunidades de participar da gestão do seu território e seus bens comuns”.

O pesquisador lembra que foi um desafio romper as opiniões pré-estabelecidas, já que muitos moradores identificavam o projeto como uma espécie de inimigo. A falta de confiança no poder público e até mesmo um preconceito com iniciativas ambientais são apontados como duas das possíveis causas desse afastamento inicial. “A efetividade da gestão de bens comuns como as águas, florestas e o meio ambiente equilibrado depende da existência de diálogo e cooperação entre todos atores envolvidos. Do contrário, a competição individualista leva à intensificação da degradação e eventualmente a um colapso irreversível”, aponta.

Justamente por isso, a equipe buscou cultivar e construir relações de confiança. A comunidade foi chamada a participar desde o primeiro momento, em conversas, depois em grupos virtuais, por conta da pandemia, e também nas três audiências públicas executadas para apresentar o que estava sendo coletado e ouvir o que os moradores tinham a dizer. As oficinas de construção participativa da proposta da Unidade de Conservação colocaram em diálogo pessoas com concepções divergentes trabalhando de modo cooperativo.

“Certamente a participação de cada um enriqueceu o processo e contribuiu para a qualidade e legitimidade das decisões tomadas. Mais do que isso, foi um alento de que ainda pode ser possível regenerar a capacidade de diálogo e cooperação em nossa sociedade”, pontua Vasconcelos, que viu a comunidade exercer a autonomia para a proposição da categoria Refúgio de Vida Silvestre, uma recomendação coletiva, que conciliou os saberes técnicos da equipe da UFSC com os interesses e saberes da comunidade. “É claro que também houve os momentos objetivos e metodológicos das oficinas, mas eles foram resultado de meses de escuta, conversa, afeto e perseverança no diálogo, especialmente quando este era mais difícil”.

Proteção também à cultura e às tradições

A comunidade, ativamente participante das decisões sobre a unidade de conservação do Distrito do Saí, também integrou o projeto em outra frente: compartilhando suas memórias, contando suas histórias e apresentando suas práticas, o que permitiu à equipe da UFSC realizar um inventário socioantropológico da região. Para a pesquisadora Elis do Nascimento Silva, coordenadora do estudo, é importante considerar que a criação de uma UC em um território não envolve apenas a proteção do ambiente natural e sua biodiversidade, mas articula-se também com a vida dos povos e comunidades.

Entrevistas fizeram parte do levantamento realizado pela UFSC

“A abordagem sociológica, histórica e antropológica se faz necessária desde o momento inicial do estudo e dos levantamentos dos dados primários e secundários que nos permitem compreender o histórico de ocupação da região, as atividades e práticas produtivas das comunidades que dependem das áreas destinadas à criação da UC e, sobretudo, os vínculos afetivos e modos tradicionais das pessoas interagirem com esses ambientes há algumas gerações”, resume Elis.

Uma das coisas que mais chamou a atenção da equipe foi a riqueza do histórico de ocupação naquela área, desde o período pré-colonial, sinalizada pelos vestígios dos sambaquis, que comprovam que existe a presença humana na região há pelo menos 6.000 anos antes do presente.

Há outros pontos da história que mereceram o registro atento das pesquisadoras da UFSC como parte do esforço de registrar as memórias e os acontecimentos da comunidade: a chegada dos franceses em 1504 e a experiência do Falanstério do Saí em 1842 para implantação de um sistema coletivista de trabalho baseada na livre associação e cooperativismo, por exemplo, também é um momento que diferencia o Distrito do Saí de outras áreas. Outras heranças socioculturais são atribuídas à presença histórica do povo Guarani, dos portugueses, espanhóis, alemães e dos afrodescendentes escravizados.

O reconhecimento e a valorização da pesca artesanal como um importante patrimônio cultural imaterial do Distrito do Saí é outro destaque que a pesquisadora faz ao estudo. De acordo com ela, mesmo com um certo enfraquecimento da prática desta atividade entre as novas gerações, trata-se de uma tradição do lugar que está presente na memória da maioria das famílias. “Relacionada à pesca artesanal, também estão a cultura dos engenhos de farinha e as festividades – tradicionais e contemporâneas – que são celebradas atualmente no Distrito do Saí, como a Festa da Nossa Senhora da Glória e a Festa do Camarão”, pontua.

Para Elis, a existência de uma unidade de conservação no Distrito pode envolver ainda mais a comunidade ao território, sendo capaz de fortalecer a identidade cultural e gerar um sentimento de pertencimento por conta da valorização da biodiversidade por parte do poder público e dos turistas. “Com a criação da UC, prevemos que ela poderá ser mais um atrativo turístico para a região e que, a partir do interesse e organização da comunidade, seus patrimônios culturais materiais e imateriais podem ser melhor geridos e valorizados como potenciais do Distrito do Saí, não só histórico-culturais mas também movimentando ainda mais a economia local”, acrescenta a pesquisadora.

 

Água abundante e floresta regenerada

A abundância hídrica e a riqueza de espécies na floresta do Distrito do Saí reforçam aquilo que os pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina já reconheciam a partir da literatura e de outros trabalhos na localidade: é necessário promover a conservação da biodiversidade e potencializar o turismo sustentável na região. A criação de um Refúgio de Vida Silvestre irá possibilitar que a Mata Atlântica permaneça protegida, o que garante, também, água de qualidade e outros benefícios às comunidades.

“A garantia da preservação da floresta confere um papel importante de conexão das pessoas com a natureza, de entrarem na mata e se sentirem confortáveis. A mata promove uma sensação muito agradável: sensação térmica, estética, de andar numa floresta e conseguir enxergar flores, aves, insetos. Para esse turismo mais voltado para o desfrute do meio ambiente é importante que a mata esteja muito bem preservada”, explica o professor Pedro Fiaschi, do departamento de Botânica.

Euterpe edulis, popularmente conhecida como ‘juçara'(Foto: acervo do projeto Nascentes do Saí)

A mata do Distrito do Saí, segundo Fiaschi, tem características que chamam a atenção. A área é coberta por Mata Atlântica em estágio avançado de regeneração. “Temos nesta região árvores altas e com diâmetro grande, além de estruturação em vários níveis: desde as árvores muito grandes, até as camadas inferiores. São vários extratos de floresta com indício de que estão em estado avançado de regeneração”, explica. Além disso, há também trechos que podem ser matas primárias – ou seja, que nunca sofreram impacto e preservam suas características originais desde antes mesmo da chegada da espécie humana.

Segundo o relatório de 2020 da SOS Mata Atlântica, esse bioma abrange cerca de 15% do território do Brasil, o que equivale a 17 estados. Além disso, é o lar de 72% da população, abrigando três dos maiores centros urbanos do continente sul-americano. Os dados sobre seu desmatamento também chamam a atenção: de 2018 para 2019, foram 14.502 hectares – ou 14 mil campos de futebol suprimidos, ameaçando sua rica biodiversidade.

No Distrito do Saí, no entanto, o relatório dos pesquisadores da UFSC indica uma área relativamente preservada, o que aumenta a relevância de medidas de conservação. De acordo com o professor, muitas áreas da Mata Atlântica sofreram impacto da ação humana ao longo do processo de ocupação urbana, o que é menos evidente na região do Saí. “Tudo isso sugere que essa região deva ser preservada. Uma floresta muito bem conservada vai ter uma quantidade de espécies muito maior e vai abrigar também muitas espécies de animais. Quanto mais espécies houver na flora, mais rica será a fauna associada”.

Esses indícios, entretanto, não sugerem que não tenha havido impactos da ação humana na floresta nativa. De acordo com o pesquisador, é possível que tenha existido, na localidade, um histórico de corte raso em alguns trechos, com a remoção da floresta, e também a remoção seletiva de algumas espécies, tais como jequetibá e canela-preta. Assim, ainda que a floresta seja considerada em estágio avançado de regeneração e seja rica em espécies, há outras regiões, mesmo em Santa Catarina, que se encontram em melhor estado de conservação, especialmente aquelas localizadas em regiões mais íngremes, cujo acesso à ação humana é dificultado.

Riqueza florística

O jequetibá é uma árvore de tronco largo, grande e vistosa, dessas que são impossíveis de não se reparar. Por isso, é difícil que passem despercebidas mesmo por olhos leigos. No trabalho de campo da UFSC, um aluno do professor Pedro Fiaschi identificou um indivíduo jovem. “Ele coletou um ramo e nos mostrou. É possível que haja mais pela floresta, mas esse que identificamos é um indivíduo jovem”, explica. A espécie é considerada ameaçada de extinção, mas pode ser encontrada no Distrito do Saí.

Segundo o professor, essa espécie não é encontrada em outras regiões do estado. Em Florianópolis, por exemplo, não há registro de jequetibás. Isso ocorre porque as florestas mais ao norte, no caso da Mata Atlântica, costumam ter registros de espécies que não ocorrem em áreas mais ao sul do estado. O Distrito do Saí, portanto, tem mais esse diferencial: por estar no Litoral Norte, vai apresentar algumas espécies características de uma região com chuvas mais abundantes e clima um pouco menos sazonal que o de Florianópolis, por exemplo. Este foi um ponto destacado pela equipe que fez o levantamento no relatório do projeto: as florestas do Distrito do Saí caracterizam- se como importantes componentes florísticos do estado por conta dessa característica, “contribuindo para a riqueza biológica de Santa Catarina e proporcionando habitat para uma fauna silvestre igualmente biodiversa”, tal como consta no relatório.

Rudgea jasminoides: registro de uma espécie que ocorre no interior de florestas bem conservadas

Para os pesquisadores, a existência de muitas espécies de bromélias, samambaias e outras epífitas na região do Distrito do Saí não surpreende. Essas espécies são comuns na Mata Atlântica e muitas não são encontradas em outros biomas brasileiros.”Sobre as bromélias, quando você vai a uma floresta e olha para cima das árvores, observa muitas espécies crescendo sobre o tronco das árvores, o que não surpreende em florestas bem estruturadas situadas em morros, com árvores de grande porte e penetração de luz sob vários ângulos”, resume.

De acordo com o professor, a beleza dessas plantas pode ser um atrativo para os turistas, já que elas atraem também muitas espécies de aves e outros polinizadores. “Como muitas outras plantas, as bromélias têm muita interação com polinizadores, que são muito importantes para sua reprodução, enquanto outras plantas dependem de animais para a dispersão das suas sementes, o que é essencial para a manutenção da floresta, já que permite o repovoamento de outras áreas”.

Já as samambaias também aparecem como parte do relatório do projeto. Algumas espécies são mais raras e conhecidas em poucas localidades. “No Distrito do Saí identificamos muitas espécies de samambaias, muito mais do que acharíamos em Florianópolis, por exemplo. Elas são um grupo que está associados a florestas úmidas e geralmente ocorrem onde há muitos corpos de água e chuvas bem distribuídas ao longo do ano”, explica.

A formação florestal, portanto, destaca-se na paisagem do Distrito do Saí. De acordo com o levantamento da equipe do professor Orlando Ferretti, mais de 90% do solo da região estudada tem essa composição – e apenas 1,14% seria floresta exótica, plantada. “A gente já imaginava que o Distrito é uma região importantíssima do ponto de vista da biodiversidade. Claro que dentro dele há áreas que sofreram modificação recente, por conta de ocupações que estão mais a margem. Inclusive, a área de entorno da unidade de conservação registra que a ocupação urbana está encostando no polígono”, explica.

Essa biodiversidade, segundo aponta o professor, é tributária também das formações da Serra do Mar, cadeia montanhosa composta por inúmeras reservas. A vegetação da região, explica ele, foi transformada pelo menos há cerca de 50 anos, com o corte seletivo em alguns lugares. “Mesmo assim, a gente percebe que está no estado de regeneração bem interessante, com topos de morro e encostas bastante recuperadas, o que também dá qualidade para a água da região, em mais de 150 pontos de nascente”.

Qualidade da floresta

A relação da floresta com a água também diz muito sobre a qualidade de uma e de outra. De acordo com o relatório 2020 da ONG SOS Mata Atlântica, o bioma fornece água para mais de 60% da população brasileira. Não é diferente no Litoral Norte de Santa Catarina e particularmente em São Francisco do Sul. O próprio nome do projeto da UFSC, Nascentes do Saí, remete à característica hidrológica da região.

De acordo com o professor Nei Kavaguichi Leite, do Departamento de Ecologia e Zoologia, é possível recorrer ao ciclo da água para entender o papel da floresta com relação a esse aspecto. Uma das imagens ilustrativas do fenômeno é quando parte da água da chuva fica retida na copa das árvores, o que faz com que o solo a absorva de uma forma mais lenta, recarregando aquíferos que alimentam os rios. A falta de cobertura florestal, por outro lado, acelera este processo e faz com que o solo fique rapidamente saturado de água. “Isso gera um alto escoamento superficial que pode acarretar em um rápido aumento do nível dos rios e riachos, com consequente inundação, ou mesmo resultar em assoreamento devido ao aporte de grande quantidade de sedimento nos cursos d`água”.

Conservar a floresta garante qualidade da água

 

O estudo da equipe de hidrologia do projeto abrangeu nove bacias hidrográficas, com o interesse em compreender a disponibilidade hídrica nessas áreas, verificando também sua distribuição e abundância. Outro ponto importante a ser considerado é que essas águas são responsáveis por parte do abastecimento dos municípios de São Francisco do Sul e Itapoá, garantindo qualidade de vida à população. Cinco dos oito pontos de captação da empresa Águas de São Francisco estão na região.

Conforme o relatório, as bacias hidrográficas analisadas têm área de aproximadamente 26,7 km2, com monitoramento realizado pela equipe de hidrologia cobrindo cerca de 77% da área de estudo, em um total aproximado de 57 nascentes. As nascentes são o ponto por onde começa um curso de água e estão localizadas nas regiões mais altas.

A abundância hídrica do Distrito do Saí também foi corroborada pelo alto índice de chuvas, com uma média anual de 2.363 mm, acima da que é registrada em Santa Catarina, que é de 1.506 mm. Também se destacaram, na análise, a extensa cobertura de mata nativa, o que assegura a urgência de medidas de conservação. “Tem riachos que estão em regiões com certo grau de antropização, mas um aspecto bastante relevante é a manutenção das matas ciliares, que margeiam os rios. São matas que servem de refúgio para a biodiversidade, garantem a estabilidade dos barrancos e controlam a água que chega nos riachos. Em muitos desses riachos que estudamos, as matas ciliares disponibilizam alimentos para muitas espécies e servem também de recreação”, pontua Nei.

O professor lembra, ainda, que a manutenção dessas matas e da floresta, de um modo geral, também são medidas preventivas para deslizamentos ocasionados pelo forte índice pluviométrico. “A falta de cobertura vegetal pode acarretar em erosão e até mesmo assoreamento de riachos. Em locais com pequenas modificações, como a queda de uma árvore, em algum momento, já se detecta esse fenômeno. Mudar completamente as características da região pode gerar um impacto bem grande”, pondera.

O alerta também surge do professor Orlando Ferretti. Segundo ele, apesar da grande biodiversidade e da grande quantidade de florestas, a área apresenta riscos de deslizamento caso a floresta não seja conservada e não se torne alvo de políticas ambientais. “Quando se percebe o tipo de solo que existe lá, suscetível a riscos geológicos, e também a quantidade de chuva, pode-se falar até em um risco mais imediato, já que a área urbana está crescendo”.

Uma ave inédita 

Ave bordada com bico robusto, segundo o Wiki Aves, é o significado para a nomenclatura científica do Pachyramphus marginatus, ou apenas “Caneleiro-Bordado”. O pequeno animal, que mede até 14 cm e pesa não mais que 18 gramas, tinha sua distribuição registrada desde Pernambuco até o Paraná, mas em dezembro de 2019 foi visto pela primeira vez ainda mais ao Sul, especificamente na região do Distrito do Saí.

Os ornitólogos que o reconheceram são da equipe da Universidade Federal de Santa Catarina responsável pelo levantamento socioambiental para a criação de uma unidade de conservação em São Francisco do Sul, litoral Norte de Santa Catarina. Primeiro, a equipe identificou o macho. Alguns meses depois, uma fêmea também foi vista pela primeira vez, consolidando a hipótese de que a floresta tem muito a apresentar, inclusive em termos de turismo ecológico.

Caneleiro bordado no Distrito do Saí

De acordo com o professor Guilherme Renzo Rocha Brito, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, esses primeiros registros estendem a espécie por cerca de 40 km ao sul de sua área de distribuição conhecida, e embora não seja possível afirmar com toda certeza se outros exemplares já haviam voado mais ao Sul, trata-se de um dado relevante para a compreensão da avifauna do Saí. A equipe identificou pelo menos 252 espécies diferentes na região, de 59 famílias – dados que a elevam como uma das regiões mais ricas do estado.

“É uma das áreas mais ricas de aves da Mata Atlântica do Estado. Dali para baixo começa a diminuir um pouco, por questões climáticas, por conta do frio. Em termos comparativos, é possível que haja números semelhantes nas matas de araucárias, mas desconfio que não chegue muito perto da riqueza que encontramos ali”, explica.

O professor conta que aves são animais de ambientes muito específicos, ou seja, de acordo com o tipo de ambiente é possível encontrar uma comunidade que se adequa somente aquela região. “Num manguezal, por exemplo, você encontra aves que estão somente nesse ambiente. Já nas florestas vai encontrar uma comunidade um pouco diferente. Mas no caso do Distrito do Saí, naquela região há um mosaico de vários tipos”, comenta. Cercada por baía, manguezais, florestas e morros, a área tem pássaros de cores, tipos e padrões diferentes – um registro de biodiversidade e da urgência de conservação.”Pouco mais acima, na divisa do Paraná e de São Paulo, por exemplo, vai haver uma riqueza um pouco maior por ser um núcleo maior de florestas. O que vemos no Saí é um potencial bastante interessante”.

Como as aves são bastante sensíveis a alterações no seu ambiente e muito dependentes de habitat florestal, a riqueza na área também é um indicativo de que as florestas da região do Distrito do Saí sustentam uma comunidade relativamente saudável, inclusive com alto número de endemismos e espécies raras e ameaçadas. Além do Caneleiro-Bordado, a equipe identificou também espécies como o Jaó-do-Sul, da família dos macucos, um animal relativamente grande, que parece uma galinha e é muito caçado, buscado para servir de alimento. Um Curió de vida livre também foi identificado, uma espécie mais rara muito procurada por gaioleiros no passado só encontrada em áreas de vida selvagem preservada e pouco perturbada.

Curió Sporophila é ameaçado de extinção

“O recado é que é uma comunidade muito complexa, com muitos agentes e muitos exemplos. E quanto mais complexa a comunidade, mais complexas são as interações, pois para sustentar uma comunidade dessas é preciso um ambiente muito saudável, com muitos recursos. Mais de 50% dessas aves são insetívoras, por exemplo, dependentes de insetos”, ilustra.

Um desdobramento efetivo dessa análise sobre a avifauna foi bastante comentado junto à comunidade do Distrito do Saí, já que essa característica pode levar à criação de projetos turísticos relacionados à observação de pássaros. “O Distrito do Saí é uma das únicas áreas no estado de Santa Catarina com a possibilidade de observação e registro de muitas espécies. Essa beleza cênica fomenta o turismo de natureza”, indica o relatório da UFSC. “A recepção da comunidade quanto a essa possibilidade foi muito boa. Proprietários de pousada, por exemplo, ficaram empolgados com essa questão, pois apareceu como um novo potencial”, reforça o professor.

Exemplo de biodiversidade

A região, segundo o levantamento de fauna, tem uma importância ecológica inegável. De acordo com o professor Selvino Neckel de Oliveira, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, que coordenou o estudo, o primeiro passo para a conservação é o conhecimento da área e do que ela tem de biodiversidade, pois assim é possível avaliar cada espécie e suas características determinadas. “A partir desse dado você consegue ter uma dimensão do estado de conservação, por exemplo, se você está diante de uma espécie que tem distribuição restrita naquela área ou se ela nunca foi registrada naquele ambiente”.

Piaya cayana

 

No caso da Mata Atlântica, que foi reduzida a cerca de 7% do que ela já foi originalmente no passado, sua posterior recuperação ocasionou uma paisagem com habitats fragmentados, ou seja, manchas de áreas florestais separadas por cidades ou sistemas agrícolas que isolaram determinadas espécies que, como consequência, podem ser extintas. “Num contexto de fragmentação, mesmo as espécies que conseguem permanecer se tornam inviáveis, pois as populações vão diminuindo, já que não há troca de material genético entre as populações”, explica.

 

Haematopus palliatus

 

Oliveira explica que é necessário estudar o ambiente, saber o que ele dispõe e avaliar o seu estado de conservação. “Nosso levantamento de fauna mostrou que o Distrito do Saí é um dos lugares mais ricos de espécies da nossa Mata Atlântica, com uma quantidade de espécies muito alta, comparado à unidade de área”, pontua.”E por que esse ambiente é rico? Porque a parte Norte de Santa Catarina é uma região de conexão de fauna e flora que vem do Sudeste/Nordeste brasileiro e da parte Sul do Brasil. Então, temos elementos da fauna e flora do Sul se encontrando com elementos das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil.

Um exemplo que a equipe incluiu nas suas análises é o do Veado Bororo, espécie registrada na mata do Distrito do Saí há cerca de dois anos e cuja ocorrência era mais comum na porção da Mata Atlântica da região de São Paulo e dali para o Nordeste. Espécies de anfíbios observadas na floresta também são exemplos de uma região com uma fauna heterogênea, com elementos que tiveram suas origens mais ao sul ou mais ao norte do Saí. “O que ocorre é que o limite de distribuição dessa inúmeras espécies ocorre aqui na na região do Saí”.

Eira: exemplar da mastofauna no Distrito do Saí

O professor lembra que aquilo que a equipe levantou na região é uma pequena amostra, fruto de cerca de 20 dias de campo, por conta do contexto pandêmico. Mesmo assim, observou-se uma grande diversidade. “Imagina se tivesse uma estação de estudo nesse local há 20, 30 anos e a importância que teriam estes registros a longo prazo. Ficamos impressionados, pois em pouco tempo conseguimos comprovar essa biodiversidade”, completa.

Os dados – que no relatório são divididos por grupos (peixes, anfíbios, reptéis, mamíferos, avese insetos dipteros) – não permitem que a equipe lance hipóteses sobre a possível perda de biodiversidade ocasionada pela ação humana, por exemplo. Mas o pesquisador observa que a região tem perdido áreas de floresta, além de ser ameaçada constantemente por obras, como as de ampliação portuária. “O veado, por exemplo, a gente registrou um indivíduo apenas. Será que não havia mais há dez ou cem anos atrás? Ou mesmo o macaco Bugio, que antes era visto com certa frequência e agora praticamente não se vê mais nessa região”.

Para ele, o que mais chama a atenção na fauna do Distrito do Saí é o conjunto da obra, identificado por meio da observação dos elementos da floresta atlântica que estão bem representados em diversos pontos do polígono e que são essenciais para a justificativa de uma unidade de conservação. “São muitos componentes da biodiversidade: o meio físico, com as nascentes com água de boa qualidade, o componente biótico, como árvores imensas; poucas, mas existem, e árvores que produzem muitos frutos para fauna. Os componentes da biodiversidade da Mata Atlântica estão todos ali”.

Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC

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Trabalho da UFSC recomenda a criação de unidade de conservação no Norte de SC; leia a série ‘Nascentes do Saí’

27/09/2021 10:00

 

Uma Mata Atlântica ameaçada, uma equipe de pesquisadores e pesquisadoras e uma comunidade interessada em compartilhar seus saberes e em debater a conservação da região. O projeto Nascentes do Saí, formalmente intitulado Diagnóstico Socioambiental para Criação de Unidade de Conservação na Vila da Glória, município de São Francisco do Sul/SC, deu origem a um relatório de mais de 700 páginas que destaca uma recomendação ao poder público: é preciso conservar legalmente o polígono que envolve florestas, morros, nascentes de rio e centenas de espécies antes que ele seja destruído.

Para cumprir o objetivo de traçar um diagnóstico socioambiental da região, o projeto de caráter multidisciplinar contou com uma equipe de professores e estudantes de diversos centros da Universidade Federal de Santa Catarina e também da Univille para realizar estudos sobre fauna, flora, geologia e geomorfologia, socioantropologia, levantamento fundiário e caracterização geográfica.  Suas diretrizes envolviam desde a preservação dos recursos hídricos até disponibilização de recursos naturais à pesquisa científica, passando também pela criação de programas de educação ambiental e pela proposição de um plano para construção da Política de Conservação e Gestão Territorial da unidade.

A partir desta terça-feira, a Agência de Comunicação da UFSC irá apresentar três reportagens que sintetizam a importância da parceria entre a universidade, a ciência e a sociedade e ajudam a apresentar uma das regiões mais ricas do Estado, em que as chuvas abundantes e as condições geográficas geram um “combo” que pode beneficiar a comunidade com iniciativas de turismo ecológico.

A série está dividida em três blocos de assuntos, que serão apresentados entre terça e quinta-feira: na primeira reportagem há uma apresentação geral de como se deu o projeto e do envolvimento da comunidade em todas as suas etapas; na segunda, o foco é a apresentação da floresta, suas matas e nascentes e, por fim, a fauna ganha destaque, reforçando-se a importância da correlação desta com a conservação.


Acompanhe pelo calendário

Terça-feira (28/09) – UFSC e comunidade de São Francisco do Sul sugerem criação de Refúgio de Vida Silvestre no Distrito do Saí

Quarta-feira (29/09) – Água abundante e floresta regenerada serão preservadas com criação de Refúgio da Vida Silvestre em São Chico

Quinta-feira (30/09) – Uma ave inédita e muita riqueza: conheça a fauna do Distrito do Saí que deve ser protegida por Refúgio da Vida Silvestre


Mais sobre o Projeto Nascentes do Saí:

Textos: Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC
Artes: Coordenadoria de Design e Programação Visual / Agecom
Fotos: Acervo do Projeto Nascentes do Saí

Tags: BiodiversidadeconservaçãoDistrito do SaíecologiaMata AtlânticaNascentes do SaíProjeto Nascentes do Saí

Ecoando Sustentabilidade debate projeto de lei que pode alterar Código do Meio Ambiente em SC

21/07/2020 09:05

A edição desta semana da live Ecoando Sustentabilidade irá debater o Projeto de Lei PL 0105.9/2020, que pode alterar o Código Estadual do Meio Ambiente, instituído pela Lei 14.675 de 13 de abril de 2009. O projeto foi apresentado à Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc) no último dia 16 de junho, pelo deputado Valdir Cobalchini.

A live PL 0105.9/2020 – Riscos para sustentabilidade socioambiental em Santa Catarina está agendada para esta quarta-feira, 22 de julho, a partir das 17h, e terá transmissão pelo canal no Youtube do Ecoando Sustentabilidade. Os convidados desta semana são a ambientalista Miriam Prochnow, da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), e o biólogo João de Deus Medeiros, coordenador da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A iniciativa é uma ação das Pós-Graduações em Ecologia, Oceanografia, Geografia e em Ciência e Engenharia de Materiais da UFSC.

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Alterações na Lei da Mata Atlântica podem retirar proteção da Ilha de SC e dos campos da Serra, alerta pesquisadora da UFSC

12/05/2020 09:18

Um artigo publicado na última semana no jornal O Estado de S. Paulo traz um alerta acerca de uma tentativa de redução de áreas atualmente protegidas pela Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428, de 2006). A professora do departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Michele Dechoum foi uma das autoras do texto, assinado também por Sílvia R. Ziller, do Instituto Horus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, e Gerhard Ernst Overbeck, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A publicação é subscrita pela Coalizão Ciência e Sociedade, que reúne 73 pesquisadores de instituições de todas as regiões brasileiras.

O artigo intitulado E daí? Ministro do Meio Ambiente atua para reduzir proteção da Mata Atlântica informa que o ministro Ricardo Salles encaminhou uma minuta de decreto à Presidência da República em que propõe a exclusão de alguns tipos de formações vegetais da regulamentação da referida lei. As mudanças afetariam também a anuência prévia do Ibama para desmatamentos de áreas maiores do que o limite atual. A alteração estabelece que essa autorização seria necessária somente para áreas maiores de 150 hectares na zona rural e 30 hectares na zona urbana – atualmente os limites são de 50 hectares na zona rural e três hectares na zona urbana.

A norma que Ministério de Meio Ambiente pretende alterar é o Decreto nº 6.660, de 21 de novembro de 2008, que regulamenta a Lei da Mata Atlântica. Para isso, Salles sugere manter a proteção legal para as formações tipicamente florestais, mas exclui as formações não-florestais do bioma “como os campos salinos e áreas alagáveis; estepes e savanas (incluindo as extensas áreas campestres nas serras do sul do País); campos rupestres e de altitude e áreas de transição entre diferentes tipos de vegetação, assim como a vegetação nativa de ilhas oceânicas e costeiras”.
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UFSC na mídia: professora aponta tentativa de redução de área protegida na Mata Atlântica

05/05/2020 10:05

A professora do departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Michele Dechoum é uma das autoras de artigo publicado na segunda-feira, 4 de maio, na seção Sustentabilidade do Estadão. No texto, intitulado E daí? Ministro do Meio Ambiente atua para reduzir proteção da Mata Atlântica, pesquisadores criticam uma proposta enviada por Ricardo Salles para mudança na Lei da Mata Atlântica que deixa desprotegidas áreas não florestais.

“Embora o termo ‘mata’ enfatize as florestas, o bioma inclui variados ecossistemas, tais como restingas, manguezais, campos, banhados. (…) Se a proposta do ministro for implementada, toda vegetação da Ilha de Santa Catarina, por exemplo, onde se situa Florianópolis, não seria mais protegida. Também os Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”, informa o artigo.

> Acesse a íntegra do artigo publicado no site do Estadão

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Mata Atlântica é uma ‘floresta vazia’ após super-exploração, aponta estudo da UFSC

02/10/2018 13:51

A Mata Atlântica se tornou uma “floresta vazia” após cinco séculos de colonização europeia no Brasil, com eliminação de 44% dos mamíferos grandes e médios na estimativa mais conservadora – e 71% no pior cenário. É o que aponta um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina e da University of East Anglia (da Inglaterra) e publicado na revista Plos One. Apesar da diminuição da Mata Atlântica ser um fato notório (hoje, a Mata Atlântica tem apenas 12% da área original), “até que ponto esse bioma perdeu sua fauna de mamíferos permanece pouco compreendido”, diz o artigo.

Para o estudo, foram compilados estudos com inventários de mamíferos de médio e grande porte entre 1983 e 2017. “Os números são estimativas com base em dados empíricos em muitos locais, por muitos anos. Então, acompanhando a literatura, alguns estudos em escalas regionais também mostram esses valores preocupantes”, explica Juliano Bogoni, um dos autores do artigo, que começou a escrever quando estava no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia na UFSC – hoje ele faz estágio de pós-doutoramento na USP.
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TV UFSC: Parque Estadual do Rio Vermelho no ‘Estação Verão’

11/02/2016 13:00

O programa “Estação Verão”, da TV UFSC, apresenta o Parque Estadual do Rio Vermelho, localizado na costa leste da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis. Criado com o objetivo de conservar amostras de Mata Atlântica, assim como a restinga e a fauna associadas a ela, o parque também visa manter o equilíbrio do complexo hídrico da região, propiciar ações de recuperação dos ecossistemas alterados e proporcionar a realização de pesquisas científicas e visitação pública.

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Lei da Mata Atlântica é tema de abertura da Semana do Meio Ambiente

29/05/2015 14:58

Na última quarta-feira, 27 de maio, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Lei da Mata Atlântica foi assunto do seminário de abertura da Semana do Meio Ambiente, organizada pela Coordenadoria de Gestão Ambiental (CGA) da UFSC, com atividades integradas à Semana de Conscientização Ambiental da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram) de Florianópolis.

O seminário “O ambiente urbano integrado à Mata Atlântica”, realizado no primeiro dia da Semana, contou com a palestra de Mauro Figueiredo, advogado ambiental e presidente da APRENDER Entidade Ecológica, uma ONG de Florianópolis.

O palestrante afirma que a lei é “uma importante conquista na política ambiental brasileira, pois dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa dos biomas de Mata Atlântica”, e que, devido a interesses políticos, o projeto de lei que conduziu à sua criação tramitou no Congresso durante 14 anos até ser aprovado. Mauro detalhou ao longo da palestra todos os seus aspectos: “É importante saber onde podemos encontrar nossos direitos no corpo da lei para poder requerê-los.”

A chefe do Departamento de Educação Ambiental da Floram, Silvane Dalpiaz do Carmo, relata que o órgão realiza todos os anos uma semana com atividades para promover conscientização ambiental em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente – 5 de junho. “Educação ambiental não se faz em um só dia, em um só lugar”, afirma ela, justificando a realização de uma semana de atividades, em vez da celebração de apenas uma data.

O seminário foi realizado em três blocos: I- Questões legais, do qual fez parte a palestra “Lei da Mata Atlântica”; II- Técnico e operacional; e III-Atividades didático-pedagógicas, acerca do tema Mata Atlântica.

O evento dá direito a certificado de horas de extensão mediante comprovação de presença.

Mais informações no site do evento.

Gisele Flôres/Estagiária de Jornalismo Agecom/DGC/UFSC

Tags: FloramMata AtlânticaSemana do Meio AmbienteUFSC

Livro “Mata Atlântica: o bioma onde eu moro” está disponível para download

26/02/2013 09:08

Publicado o livro ilustrado “Mata Atlântica: o bioma onde eu moro”, disponível em www.mata-atlantica.educacaocerebral.org e www.bookess.com/read/15367-mata-atlantica-o-bioma-onde-eu-moro/, recurso educativo complementar ao jogo homônimo. Enquanto o jogo multimouse propicia experiência colaborativa entre seus jogadores, o livro permite aprofundar o estudo das informações científicas.

Segundo o professor Emílio Takase, do Laboratório de Educação Cerebral do Centro Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da UFSC, o livro se destaca pela consistência do conteúdo abordado, tanto nos textos, quanto nas imagens, sem abrir mão de linguagem atraente e adequada ao público infantojuvenil (estudantes do Ensino Fundamental).

Takase diz que a tecnologia educacional “Mata Atlântica: o bioma onde eu moro” contribui para o conhecimento e a sensibilização sobre a fauna e os ecossistemas encontrados em Santa Catarina. “Considerando o quadro crítico do Bioma Mata Atlântica em nosso país, as ações educativas relacionadas a este tema são prioritárias, já que este é o bioma brasileiro em maior risco”, acrescenta.

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Especial Jogos Educacionais: Para conhecer o próprio lar

18/09/2012 07:21

As ciências podem ser das mais variadas – humanas, exatas, da saúde – mas os professores em sala de aula têm a mesma preocupação: atrair a atenção e facilitar o entendimento dos conteúdos ministrados. Para isso, muitos deles se desdobram lançando mão da criatividade e, não raro, buscam no lúdico a alternativa para estimular a imaginação dos estudantes e auxiliar na fixação das matérias. A UFSC tem desenvolvido pesquisas sobre jogos educacionais e o Jornal Universitário n°429 trouxe algumas das tantas iniciativas desenvolvidas por seus professores e estudantes. As cinco matérias resumidas no JU estão sendo publicadas na íntegra no site da UFSC durante esta semana.

 

Para conhecer o próprio lar

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Ao final do jogo os alunos acabam conhecendo 36 animais de seis ecossistemas da Mata Atlântica em Santa Catarina

Primeiro as crianças se surpreendem. O jogo eletrônico educativo Mata Atlântica – o bioma onde eu moro, em vez de incitar a competição entre os jogadores, ligados ao mesmo computador pela tecnologia multimouse, os faz entender que precisam ajudar um ao outro para só então avançarem, sempre juntos, à próxima etapa. Depois do espanto, as crianças compreendem a nova lógica e seguem descobrindo sobre o ecossistema que já compôs 15% do território brasileiro e hoje está reduzido a 7% de sua cobertura original.

O game nasceu dos estudos desenvolvidos pelo coordenador geral do projeto e também do Laboratório de Educação Cerebral (LEC) da UFSC, professor Emílio Takase. Pesquisando a tecnologia multimouse, teve a ideia de aplicá-la em jogo educacional. Assim, as informações sobre a Mata Atlântica acabam se tornando mais acessíveis, não só pelo conceito de edutenimento utilizado – em que a educação se dá a partir do entretenimento – mas principalmente porque no Brasil há muitas escolas públicas em que o número de computadores é inferior ao de alunos.

“A idéia do game é promover o encantamento por meio das atividades, das cores e dos sons; dessa maneira, fica mais fácil as pessoas se interessarem pelo meio ambiente”, defende a Cristina Santos, bióloga responsável pelo conteúdo científico do jogo e integrante da equipe composta ainda por bolsistas de psicologia, designers, programadores e músico. Todo o projeto foi financiado por edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), voltado a valorizar a biodiversidade.

São três desafios – quebra-cabeças, sudoku e procure-ache – para cada um dos seis ecossistemas da Mata Atlântica em Santa Catarina (Manguezal, Restinga, Campos de Altitude e as Florestas Ombrófila Densa, Ombrófila Mista e Estacional Decidual). Ao final, os alunos acabam conhecendo 36 animais: aparência, sons que emitem (obtidos também junto à fonoteca do professor Alexandre Moreira, do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade) e lugar onde preferem viver. “Optamos por uma estética mais naturalista e menos cartunizada, para que eles possam identificar de imediato quando observarem esses animais na natureza”, esclarece Cristina.

E toda essa metodologia surte o efeito desejado. A equipe do LEC testou o game em três turmas do quinto ano do Colégio de Aplicação, em 2011. “Monitoramos as reações das crianças: em 90% do tempo, estavam imersas no jogo; mostraram-se surpresas quando souberam da extensão da área desmatada no Estado, e quando visitaram o Parque Estadual Serra do Tabuleiro apontaram naturalmente os animais, mencionando seus nomes”.

A colaboração entre os jogadores é fundamental para se progredir, mas a versão para um único mouse foi recentemente desenvolvida, principalmente para poder rodar no sistema operacional livre Linux, que substitui o Windows nos UCAs – Um Computador por Aluno – distribuído em algumas escolas públicas. Assim, o game pode ser jogado em computadores com Windows com dois mouses conectados, em laptops com pelo menos um – já que o touch pad também funciona como o acessório -, e também nos UCAs e outros computadores com software livre.

O LEC pesquisa também os efeitos que jogos causam nos usuários. Luciano Caminha Jr., mestrando em Psicologia e um dos integrantes da equipe, explica que a observação serviu para “calibrar” os games, investigando “o tempo necessário para se atingir a satisfação sem cair no tédio”.

Cristina entende que a imaginação deve ser aliada da aprendizagem, seja incitada por livros, filmes ou jogos. “Muitas vezes os adultos acabam afastando as crianças da curiosidade com que todas elas nascem sobre o mundo natural. Precisamos estimular essa característica, pois ao crescer terão aprendido a respeitar e a se interessar pelas questões ambientais”.

Mais informações: www.mata-atlantica.educacaocerebral.org ou cristina@educacaocerebral.com.

Leia mais:

:: Humanos contra o lixo espacial

Bancando o detetive

Outros olhares

Vencer de maneira sustentável

Por Cláudia Schaun Reis / Jornalista da Agecom

Tags: Emílio Takasejogos educacionaisLaboratório de Educação CerebralLECMata Atlânticao bioma onde eu moro

Sala Verde lança projeto Educar Brincando

11/06/2012 16:34

Crianças do NDI participam da oficina no Dia Mundial do Meio Ambiente

A Sala Verde da Universidade Federal de Santa Catarina lançou durante a Semana do Meio Ambiente o seu projeto de extensão Educar Brincando – Mata Atlântica em foco. Uma das atividades de lançamento foi realizada no Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) da UFSC. Na tarde de terça-feira, 5 de junho, quando se comemorou o Dia Mundial do Meio Ambiente, as crianças do NDI participaram das oficinas, que envolveram teatro, música e jogos de mesa.

Outra atividade oferecida pelo projeto é o jogo eletrônico Mata Atlântica: o bioma onde eu moro, que estimula o conhecimento dos ecossistemas de Santa Catarina. Lançado oficialmente na sexta-feira, dia 1º de junho, durante o II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, o projeto também realiza oficinas de reaproveitamento de materiais, como confecção de agendas e blocos de rascunho.

A Sala Verde também realiza oficinas educativas abertas à comunidade. Para agendar uma visita, é necessário entrar em contato com a coordenadora do projeto, Marlene Alano Coelho Aguilar, pelo telefone (48) 3721-9044 ou pelo e-mail marlenecga@reitoria.ufsc.br. A Sala Verde atende à tarde, das 14h às 18h. As inscrições são feitas para grupos de até 20 pessoas sem limite de idade. As atividades são realizadas no Espaço Referência, no primeiro andar da Biblioteca Universitária da UFSC.
Mais informações pelo telefone (48) 3721-9044.

Por Murici Balbinot/Bolsista de Jornalismo na Agecom. Fotos: Wagner Behr.

Tags: educar brincandoextensãoMata AtlânticaSala VerdeUFSC

Mata Atlântica é destaque da Semana do Meio Ambiente na UFSC

04/06/2012 07:52
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Uma das interfaces do jogo Mata Atlântica - o bioma onde eu moro

Segue até esta quarta-feira, 6 de junho, a Semana do Meio Ambiente da Sala Verde da UFSC. Entre as atividades abertas ao público estão a apresentação do projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco, na segunda-feira, e na quarta, a confecção de agendas e blocos com materiais reaproveitáveis e a discussão de propostas de novos parques para Florianópolis.

O projeto Educar Brincando se utiliza de ferramentas educativas como jogos de tabuleiros destinados a todas as idades, o jogo eletrônico Mata Atlântica – o bioma onde eu moro , o Painel Interativo com a temática da Mata Atlântica – desenvolvido no Laboratório de Abelhas Nativas da UFSC, além da participação de bolsistas de Psicologia, Biologia e Artes Cênicas  para trazer os conhecimentos sobre o bioma a partir de músicas e do teatro.

“O espaço Referência da Sala Verde UFSC está disponível para receber turmas de até 20 pessoas; ainda na terça (29), os filhos de agricultores que participaram do Encontro da Rede Ecovida passaram a tarde conosco”, relata Marlene Alano Coelho Aguilar, bióloga coordenadora da Sala Verde. “A ideia é expandir esse trabalho à rede estadual de educação, atingindo principalmente as crianças do interior de Santa Catarina”, completa.

A Semana do Meio Ambiente da Sala Verde da UFSC tem como parceiros o Ministério do Meio Ambiente, o Laboratório de Abelhas Nativas da UFSC (Lanufsc), o Laboratório de Educação Cerebral (LEC), o Programa Venha Conhecer a UFSC, o Fotovoltaica UFSC e a Ong Klimata – Centro de Estudos Ambientais.

A Sala Verde atende ao público de segunda a sexta, das 14h às 18h. Mais informações com Marlene: 3721-9044 e 3721-6469, marlenecga@reitoria.ufsc.br e salaverde@salaverde.ufsc.br.

 

Programação:
31 de maio – 5a. feira
14:30 h – Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco com a turma de crianças 6A Vespertino, do NDI/UFSC, no Espaço
Referência.
Participação no Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, durante todo o dia.

1o. de junho – 6a. feira
Participação no Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, apresentando o Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco.

02 e 03 de junho – Sábado e Domingo
Sugerimos que famílias e grupos de amigos realizem atividades ao ar livre, desfrutando da Mata Atlântica que carinhosamente nos acolhe aqui em Santa Catarina.

04 de junho – 2a. feira
14:30 às 17:30
– O Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco estará no Hall da Reitoria.

05 de junho 3a. feira
14h30 – No Dia Mundial do Meio Ambiente, o Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco estará com a turma de crianças 3A Vespertino, do NDI/UFSC, no Espaço
Referência.

06 de junho – 4a. feira
14h às 18h – Tarde aberta no Espaço Referência para a confecção de agendas e blocos de rascunho, reaproveitando materiais. Quem puder, traga folhas A4 usadas com o verso
livre e apostilas antigas com espiral.
19:00 h – Evento da FEEC, no Espaço Referência, abordará Propostas de Novos Parques para Florianópolis.

Se chover nas tardes de 31/05 e 05/06, a equipe da Sala Verde UFSC irá até o NDI.
O Espaço Referência da Sala Verde UFSC fica no piso térreo da Biblioteca Central.

Tags: LECMata AtlânticaSala Verde

Mata Atlântica é destaque da Semana do Meio Ambiente na UFSC

30/05/2012 18:19
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Uma das interfaces do jogo Mata Atlântica - o bioma onde eu moro

Começa nesta quinta, 31/05, e segue até 06/06 a Semana do Meio Ambiente da Sala Verde da UFSC. Dentre as atividades abertas ao público estão a apresentação do projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco, na segunda-feira, e na quarta, a confecção de agendas e blocos com materiais reaproveitáveis e a discussão de propostas de novos parques para Florianópolis.

O projeto Educar Brincando se utiliza de ferramentas educativas como jogos de tabuleiros destinados a todas as idades, o jogo eletrônico Mata Atlântica – o bioma onde eu moro , o Painel Interativo com a temática da Mata Atlântica – desenvolvido no Laboratório de Abelhas Nativas da UFSC, além da participação de bolsistas de Psicologia, Biologia e Artes Cênicas  para trazer os conhecimentos sobre o bioma a partir de músicas e do teatro.

“O espaço Referência da Sala Verde UFSC está disponível para receber turmas de até 20 pessoas; ainda nesta terça, os filhos de agricultores que participaram do Encontro da Rede Ecovida passaram a tarde conosco”, relata Marlene Alano Coelho Aguilar, bióloga coordenadora da Sala Verde. “A ideia é expandir esse trabalho à rede estadual de educação, atingindo principalmente as crianças do interior de Santa Catarina”, completa.

A Semana do Meio Ambiente da Sala Verde da UFSC tem como parceiros o Ministério do Meio Ambiente, o Laboratório de Abelhas Nativas da UFSC (Lanufsc), o Laboratório de Educação Cerebral (LEC), o Programa Venha Conhecer a UFSC, o Fotovoltaica UFSC e a Ong Klimata – Centro de Estudos Ambientais.

A Sala Verde atende ao público de segunda a sexta, das 14h às 18h. Mais informações com Marlene: 3721-9044 e 3721-6469, marlenecga@reitoria.ufsc.br e salaverde@salaverde.ufsc.br.

 

Programação:
31 de maio – 5a. feira
14:30 h – Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco com a turma de crianças 6A Vespertino, do NDI/UFSC, no Espaço
Referência.
Participação no Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, durante todo o dia.

1o. de junho – 6a. feira
Participação no Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, apresentando o Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco.

02 e 03 de junho – Sábado e Domingo
Sugerimos que famílias e grupos de amigos realizem atividades ao ar livre, desfrutando da Mata Atlântica que carinhosamente nos acolhe aqui em Santa Catarina.

04 de junho – 2a. feira
14:30 às 17:30
– O Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco estará no Hall da Reitoria.

05 de junho 3a. feira
14h30 – No Dia Mundial do Meio Ambiente, o Projeto Educar Brincando – A Mata Atlântica em Foco estará com a turma de crianças 3A Vespertino, do NDI/UFSC, no Espaço
Referência.

06 de junho – 4a. feira
14h às 18h – Tarde aberta no Espaço Referência para a confecção de agendas e blocos de rascunho, reaproveitando materiais. Quem puder, traga folhas A4 usadas com o verso
livre e apostilas antigas com espiral.
19:00 h – Evento da FEEC, no Espaço Referência, abordará Propostas de Novos Parques para Florianópolis.

Se chover nas tardes de 31/05 e 05/06, a equipe da Sala Verde UFSC irá até o NDI.
O Espaço Referência da Sala Verde UFSC fica no piso térreo da Biblioteca Central.

Tags: Mata Atlânticameio ambienteSala Verde

Tese produz subsídios para aproveitamento sustentável de bromélia nativa da Mata Atlântica

10/05/2012 13:39

Expectativa é de que a espécie com potencial econômico possa ser usada em programas de diversificação ou de incremento de renda para comunidades rurais e semi-urbanas

“Seus frutos são ingeridos tanto in natura como em preparados, como remédio contra a tosse, com ação expectorante nas infecções respiratórias, recomendados para o tratamento de asma e de bronquite. Os mesmos frutos são considerados antihelmínticos, sendo que seu sumo tem ainda efeito sobre tecidos decompostos, deixando feridas completamente limpas”. A descrição do potencial da Bromelia antiacantha, publicada pelo padre pesquisador Raulino Reitz no fascículo da Flora Ilustrada Catarinense “Bromeliáceas e a malária – bromélia endêmica” permanece como estímulo a novos estudos.

O pensamento do padre botânico de que “Todas as plantas são potencialmente úteis” está presente na tese ´Uso e manejo de Caraguatá (Bromelia antiacantha) no Planalto Norte Catarinense: está em curso um processo de domesticação?`, em desenvolvimento junto ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais da UFSC.

O trabalho da bióloga Samantha Filippon com a bromélia nativa da Mata Atlântica é uma continuidade dos estudos iniciados em seu mestrado, orientado no mesmo programa pelo professor Maurício Sedrez dos Reis (e agora com coorientação do professor Nivaldo Peroni). “Esperamos que com o aprofundamento dos estudos etnobotânicos se possa resgatar e caracterizar junto à comunidade local as formas de manejo da espécie”, explica Samantha.

Conservabio
A pesquisa é realizada em áreas da Floresta Nacional de Três Barras, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental do governo brasileiro. A floresta é localizada no planalto norte de Santa Catarina, entre os municípios de Três Barras e Canoinhas. O trabalho envolve a comunidade de Campininha, que participa do projeto “Rede para geração do conhecimento na conservação e utilização sustentável dos recursos florestais não madeiráveis da Floresta Ombrófila Mista”, sigla Conservabio. A iniciativa é financiada e coordenada pela Embrapa.

Os estudos de Samantha são executados em uma área de floresta secundária, utilizada como mangueirão para animais cerca de 60 anos atrás, e onde atualmente existe uma grande densidade da Bromelia antiacantha. Se estendem também a uma área caracterizada como mata nativa, em que há décadas foi realizada exploração madeireira, e a algumas propriedades rurais na comunidade.

A meta é esclarecer aspectos sobre o manejo do caraguatá nas paisagens com maior interferência humana, principalmente na confecção das cercas vivas. O projeto vai buscar informações sobre a seleção das plantas, de onde vêm as mudas, quem faz as cercas e porque – pois ainda que não sejam mais utilizados os antigos mangueirões, ainda são feitas cercas com a bromélia. Estas estruturas de gravatá são utilizadas há décadas, o que foi comprovado por Samantha ao visitar as propriedades e em relatos de agricultores de que algumas existem há cerca de 70 anos.

Domesticação
Em sua dissertação, a bióloga já havia observado que vários agricultores praticaram ou praticam algum tipo de manejo sobre o caraguatá. “Pelo fato de existir manejo e seleção de plantas, principalmente para as cercas vivas, seja por vigor, facilidade de manuseio ou crescimento rápido, pode estar em curso um processo de domesticação dessa espécie pela comunidade local”, considera Samantha, que tem como desafio em sua tese elucidar aspectos culturais envolvidos no uso e manejo da bromélia. Sua investigação associa   estudos demográficos (para documentação de padrões de propagação, brotação, frutificação e crescimento, entre outros) a pesquisas genéticas e etnobotânicas.

“Essa espécie mostra potencial econômico e seu uso pode ser estimulado com a utilização em programas de diversificação ou de incremento de renda para comunidades rurais e semi-urbanas”, considera a bióloga. “Mas são necessários mais estudos para avaliar o impacto da extração sobre a diversidade genética e a regeneração natural, assim como sobre sua disponibilidade para a fauna, o que pode auxiliar o estabelecimento de estratégias sustentáveis de manejo”, complementa.

Segundo ela, ainda que a Bromelia antiacantha reúna características medicinais, alimentícias, ornamentais e industriais, é uma espécie pouco estudada quanto a seu uso. Em pesquisa na literatura, Samantha não encontrou estudos sobre a domesticação do caraguatá, apesar da expressiva utilização em comunidades rurais do Planalto Norte Catarinense e também no Rio Grande do Sul.

Ecologia da espécie
Outros pesquisadores já descreveram características medicinais, alimentícias, ornamentais e industriais (para fabricação de fibras para tecidos, cordoaria e de sabão) do caraguatá. Sua utilização na medicina popular é descrita desde a década de 1940.

No trabalho de mestrado desenvolvido entre o final de 2007 e o início de 2009, Samantha observou que na comunidade de Campininha, em Três Barras (SC), o caraguatá tem três usos principais: xarope expectorante (feito com frutos maduros), palmito (retirado da base das folhas da bromélia) e em cercas vivas. A pesquisa também possibilitou um maior conhecimento sobre a ecologia da planta, sua reprodução, período de floração e predadores.

Segundo Samantha, um levantamento preliminar indica o início da construção de um mercado para o caraguatá. Há comercialização em bancas medicinais em mercados públicos, feiras e eventos relacionados à biodiversidade ou a plantas medicinais. A comercialização acontece tanto em cacho como em pacotinhos contendo cerca de 100g. Há também comercialização de mudas,  licores e geleias. A defesa da tese está prevista para o inicio de 2013.

Mais informações: samabio82@gmail.com / Fone: 48 3721-5322

Por Arley Reis / Jornalista da Agecom

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