O reitor Ubaldo Cesar Balthazar reuniu-se, em 9 de dezembro, com um grupo de 137 pessoas, incluindo servidores docentes, técnicos administrativos em Educação, integrantes do Conselho Universitário (CUn), entidades sindicais, coletivos estudantis e membros da sociedade civil, em um encontro virtual. A motivação para a reunião era a discussão, no CUn, acerca de uma troca de e-mails entre um grupo de docentes do Centro Tecnológico (CTC), com afirmações de cunho racista.
Durante a reunião foram levantadas questões recentes e históricas sobre situações vivenciadas na Universidade. Segundo relato enviado à Agecom por Iclícia Viana, psicóloga educacional no Campus de Araranguá, que participou da reunião, as discussões durante a reunião apontaram que “o fato não é isolado e nem recente, mas é algo que tem sido vivido e denunciado cotidianamente na UFSC por estudantes negros(as) e indígenas”. Também foi lembrado que a UFSC integra a cátedra da Unesco de Erradicação do Racismo no Ensino Superior, e que se comprometeu publicamente em enfrentar este problema estrutural que se evidencia na instituição.
Questionou-se, segundo Iclícia, “até que ponto a universidade, com a estrutura que tem, dá conta de acolher e proceder diante das denúncias formalizadas pela Ouvidoria e Corregedoria. Não seria hora de criar novas estratégias de enfrentamento?“.
Propostas
O reitor recebeu sete propostas apresentadas pelo grupo: assegurar representação negras e indígenas nos órgãos colegiados/deliberativos; realizar processos de educação antirracista; colocar em vigor o Comitê de Combate às Violências na UFSC, que foi construído pela Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades (Saad); criar um protocolo contra as violências; fazer com o que o autor da discriminação seja obrigado a frequentar cursos e palestras sobre o tema, com carga horária superior a 100 horas; garantir estrutura física e profissional com constante qualificação e autonomia, bem como número suficiente de trabalhadores para fortalecer o trabalho da Saad.
Ubaldo agradeceu o espaço e comentou sua posição de contrariedade às práticas racistas. O reitor solicitou o encaminhamento das propostas do grupo para o Gabinete da Reitoria e disse que está atento ao trabalho da Corregedoria bem como dos órgãos colegiados da Universidade, respeitando o papel de cada instância frente a este enfrentamento.
Moção
O Conselho Universitário da UFSC aprovou uma moção de posicionamento em repúdio ao racismo no contexto universitário, na sessão do dia 8 de dezembro. Confira o texto, na íntegra:
“Em defesa da educação pública como bem de todas e todos, o Conselho Universitário da UFSC vem a público registrar sua posição de contrariedade e repúdio ao racismo institucional e estrutural ainda presente em nossa universidade. Historicamente o Brasil é marcado pela escravização, genocídio e etnocídio de populações indígenas e negras, bem como por uma ideologia de branqueamento que insiste no mito da democracia racial.
A história brasileira é, na verdade, marcada pela desigualdade racial, em que o privilégio da branquitude insiste em se manter cotidianamente no poder, questionando a necessidade das medidas equânimes de acesso para as populações em diferentes condições históricas no campo educacional. Há mais de dez anos as universidades federais têm visto mudanças no perfil racial estudantil por meio da Lei nº 12.711, conhecida como Lei de Cotas. No entanto, verificamos, ainda e infelizmente, situações que reproduzem as violências simbólicas e o racismo nesta instituição.
Este Conselho repudia toda ação racista dentro da UFSC e exige que toda medida administrativa e legal seja levada a cabo. Discursos racistas e de ódio, disfarçados como meros exercícios de liberdade de expressão, não podem ser tolerados no nosso meio universitário. Além de racismo ser crime, já previsto nas legislações vigentes, tais discursos negam os direitos conquistados e toda a produção teórica e científica sobre o tema. Pelo acesso equânime à universidade em seus diferentes níveis. Por uma UFSC mais justa e antirracista!
Florianópolis, 8 de dezembro de 2020”.