Um trabalho fruto de uma dissertação defendida no Programa de Pós-graduação em Nutrição da UFSC foi premiado no Congresso Brasileiro de Nutrição Oncológica por sua relevância e pelo longo período de coleta de dados. O estudo de Jaqueline Schroeder, com coautoria de Luiza Kuhnen Reitz, Yara Maria Franco Moreno, Marina Raick e Patricia Faria Di Pietro, levou o primeiro lugar como melhor tema livre do evento, investigando o impacto das recomendações da World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research sobre mortalidade, tempo de sobrevida e recidiva em mulheres diagnosticadas com câncer de mama.
A pesquisa foi orientada pela professora Patricia Faria Di Pietro e consistiu no acompanhamento de 101 mulheres admitidas para a realização de tratamento cirúrgico de câncer de mama entre 2006 a 2011. Aos hábitos destas pacientes foi atribuído um sistema de pontuação padronizado de adesão às recomendações da WCRF/AICR. O câncer de mama é um dos mais diagnosticados no mundo e um dos que apresentam maior taxa de mortalidade.

O estudo observacional, analítico e prospectivo foi dividido em duas fases: na primeira utilizou informações já coletadas entre 2006 e 2011 sobre os dados sociodemográficos, clínicos e antropométricos e sobre o consumo alimentar das mulheres. Na segunda, entre 2020 e 2021, buscou as informações adicionais de mortalidade, tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer de mama e sobre a recidiva da doença – ou seja, seu reaparecimento.
As recomendações da WCRF/AICR, foco da pesquisa, baseiam-se em dez hábitos a serem desenvolvidos como forma de prevenir o câncer e de fazer com que a doença não retorne. Limitar o consumo de carne vermelha e processada, de açúcar e bebidas açucaradas, de álcool e de fast food estão entre os itens da lista. Ter uma dieta rica em grãos integrais, vegetais, frutas e leguminosas, ser fisicamente ativo e manter um peso corporal saudável também fazem parte dos itens. Não utilizar suplementos nutricionais para a prevenção de câncer, amamentar os filhos se possível e, depois de um diagnóstico, seguir as recomendações completam a lista do que é possível fazer para um tratamento positivo.
A análise constata, por meio do acompanhamento das mulheres em tratamento, a relevância do seguimento das recomendações da WCRF/AICR para melhor expectativa de vida após o diagnóstico do câncer de mama. De acordo com Jaqueline, fatores como alimentação inadequada e sedentarismo podem interferir na expectativa de vida de pacientes com câncer de mama. “No estudo, identificou-se menor sobrevida – ou seja, tempo de sobrevivência após o primeiro diagnóstico do câncer de mama – daquelas mulheres que seguiram menos as recomendações da WCRF/AICR”, pontua.
O estudo atribuiu um sistema de pontuação padronizado. Por exemplo: aquelas que mantinham uma dieta de consumo de frutas e vegetais maior do que 400 gramas por dia pontuaram mais do que aquelas que ingeriram uma porção menor ou não ingeriram. Princípio semelhante foi aplicado em sete das dez recomendações da entidade de prevenção ao câncer. Jaqueline utilizou métodos estatísticos para fazer a análise para cada mulher que participou da pesquisa.

Ilustração: waldryano/Pixabay
Entre 2020 e 2021 o estudo coletou os dados de mortalidade, geral e específica por câncer de mama, e o tempo de sobrevida das pacientes. Curvas de Kaplan-Meier, modelos de regressão logística e regressão de Cox foram elaborados para associar o escore WCRF/AICR com mortalidade e sobrevida. Jaqueline explica que a amostra de participantes foi dividida em três partes, cada uma correspondendo a um tercil. “O primeiro tercil é composto de mulheres que menos seguiram as recomendações; o segundo, pelas mulheres que seguiram moderadamente as recomendações; e o terceiro, as que mais seguiram as recomendações de prevenção ao câncer”.
As mulheres com menor adesão às recomendações, do primeiro tercil, tiveram uma menor chance de sobrevida em 10 anos quando comparadas às pacientes com maiores escores. “Sugere-se que a adesão às recomendações da WCRF/AICR antes do tratamento do câncer de mama pode contribuir com a melhor expectativa de vida”, pontua, na pesquisa. “Podemos afirmar, por meio deste estudo, que mulheres que seguem menos as recomendações têm maior risco de sobreviver menos após o diagnóstico do câncer”, completa.
Ainda, o estudo aponta que consumo de frutas, vegetais e prática de atividade física já aparecem associados à maior sobrevida e menor mortalidade em outras pesquisas. O consumo de açúcar e bebidas açucaradas também surge como um fator de risco de doenças cardiovasculares, que podem evoluir para alguns tipos específicos de câncer. Outra conclusão é que o excesso de peso influencia na recidiva e em diferentes comorbidades e que o sedentarismo e o estilo de vida inadequado podem ocasionar inflamação sistêmica e maior risco de desenvolvimento de tumores e metástases.
A pesquisadora continua investigando a temática. “Estou buscando mais informações sobre mortalidade e recidiva das mulheres. Até o momento consegui dados do Centro de Pesquisas Oncológicas e pretendo ampliar a amostra para o estudo de sobrevida em 10 anos com dados de pacientes da Carmela Dutra”, adianta. O estudo também tem desdobramento na sua pesquisa de doutorado. “Pretendo associar o escore WCRF/AICR a outros desfechos, como alguns biomarcadores inflamatórios específicos e perfil de saúde hepática de mulheres sobreviventes do câncer de mama”, finaliza.
Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC