Os sociólogos Umberto Melotti e Marxiano Melotti
Os sociólogos italianos Umberto Melotti e Marxiano Melotti estiveram na UFSC para falar sobre migração na Europa, turismo arqueológico na pós-modernidade e migração e saúde. Eles participaram do seminário “Sociedade e Cultura Política – Debates Contemporâneos”, no dia 29 de fevereiro. No dia 1º de março, o professor Umberto Melotti participou do seminário “Diálogos sobre Sociedade, Saúde e Cultura Política”.
Na primeira conferência, o professor Umberto Melotti, da Faculdade de Sociologia da Universidade de Roma La Sapienza, abordou o panorama da migração na Europa contemporânea. De acordo com o professor, a migração deve ser vista não apenas como um fenômeno econômico ou social, mas principalmente como um fenômeno político. Melotti falou sobre as diferentes políticas migratórias de quatro países: França, Alemanha, Reino Unido e Itália.
A França caracteriza-se pelo assimilacionismo etcnocêntrico, em que a integração busca assimilar os novos grupos à cultura local, com o objetivo de transformar o imigrante em cidadão francês. Hoje o país enfrenta problemas de integração social, decorrentes da contradição entre os problemas reais com esse projeto de assimilação, principalmente no caso de imigrantes muçulmanos, por exemplo.
Já a cultura do Reino Unido possui uma forte característica etcnocêntrica, na qual não existe o projeto de transformar o estrangeiro em britânico. Lá a solução foi aceitar as diferenças, com a constituição de comunidades étnicas culturais e suas particularidades. O problema ficou visível nos conflitos de 2005: os filhos de imigrantes, principalmente os muçulmanos do Paquistão, não se sentindo verdadeiramente britânicos, usaram espaços de ataques para afirmar sua identidade.
A Alemanha, embora com grande número de imigrantes, não se considerava um país de migração. Do ponto de vista político, os migrantes eram considerados uma força de trabalho temporária, destinada a voltar a seu país. Somente no ano 2000, o país mudou a lei para permitir que os nascidos no país pudessem ter a cidadania alemã, uma mudança profunda de impacto em políticas públicas de diferentes países.
Ao completar cem anos de fundação na década de 1950, a Itália viu uma crescente saída de sua população para outros países. Hoje é um dos países que mais recebe migrantes: são oficialmente 500 mil estrangeiros, cerca de 8% da população, que é de 60 milhões de habitantes. O professor Melotti explica que na Itália se fala mais retoricamente sobre abertura cultural e multiculturalismo, uma visão mais otimista, que valoriza a riqueza cultural trazida pelos imigrantes. Ainda que na prática não seja bem assim, pelo menos teoricamente o conceito é bem aceito. Ele acredita que posturas xenofóbicas são as formas mais agudas da experiência do contato com o migrante, mas com o tempo acabam sendo superadas.
Professor Umberto Melotti estuda a questão de migrações
“Quando se fala sobre migração, sempre se fala também sobre integração, o que não é algo fácil de definir. Para mim, integração é o desenvolvimento de relações sociais normais entre pessoas de origem diferente no que concerne à etnia, cultura, religião, orientação sexual e outras características”, afirma Melotti. O professor recomenda a leitura de Gilberto Freyre, que tem muitas lições importantes para o mundo de hoje, pois considera a diversidade como valor, um recurso, e não como um problema. Melotti acredita que as experiências brasileiras podem ser muito importantes para o mundo de hoje. “Uma coisa que me chamou a atenção foi chegar ao aeroporto brasileiro e ver um outdoor dizendo que ‘o Brasil é contra a discriminação social, racial, orientação sexual’. É o primeiro país em que vejo isso”, conta Melotti.
No Seminário Diálogos sobre Sociedade, Saúde e Cultura Política, realizado na quinta feira dia 01/03, o professor Umberto Melotti debateu sobre migrações e saúde. A migração provoca mudanças que têm consequências demográficas. Como a população europeia está envelhecendo, a migração ajuda a limitar as consequências desse processo. A média de idade dos migrantes é de 32 anos, enquanto dos italianos é de 44 anos. Outro fenômeno que ocorre é a baixa natalidade, que na Itália está em 1,29 filhos por mulher. Oficialmente o número de emigrantes na Itália é de 8% da população e eles contribuem com 14% dos novos nascidos.
A migração e a mobilidade trazem/levam doenças típicas dos países de origem que chegam à Europa. Na década de 1970, a Itália tinha erradicado a tuberculose e a sífilis. Essas doenças apareceram novamente no país. Médicos italianos não conheciam doenças tropicais como malária, que atinge tanto imigrantes quanto italianos que vão ao exterior.
Sociólogo Marxiano Melotti discute a
autenticidade relativa das experiências turísticas
O sociólogo Marxiano Melotti pesquisa o turismo e a cultura na pós-modernidade
Em sua palestra Marxiano Melotti, falou que o aspecto fundamental do turismo hoje é a sua autenticidade relativa, sobretudo nos EUA. O sociólogo é professor de Facoltà di Scienze della Formazione – Università delle Scienze Umane “Niccolò Cusano” (UNISU), de Roma. Sua palestra é uma interessante leitura sobre o turismo arqueológico e como é o nosso imaginário com o passado.
O professor apresentou vários exemplos, como a proposta do Hotel Luxor, de Las Vegas (EUA), que oferece um turismo de entretenimento com a temática egípcia. “O turismo aparece como descoberta, exploração, uma mistura de educação e entretenimento, em que o papel da cultura é divertir. A autenticidade não conta muito, basta a sensação de autenticidade”, explica Melotti.
O Museu Egípcio de Turium, Itália, passou por uma transformação em 2006, a partir da contratação de um light designer, que utilizou as mesmas obras e com a luz criou um novo clima para a exposição. O museu passou de 300 mil visitantes anuais para mais de 510 mil. Na Caverna de Altamira, Espanha, passou por uma reforma, com a construção de réplicas, e conseguiu ampliar o número de visitantes para mais de 275 mil anuais. “O contato visual com uma réplica representa um novo tipo de autenticidade”, explica. Outra experiência são as atrações turísticas em que a população local veste-se e age como povos de outras épocas, como os os vikings na ilha de Lofoten, Noruega.
O professor Melotti abordou também do uso de museu como cenário de mostras de caráter comercial. É o caso da exposição do estilista italiano Valentino, que mostrou sua coleção de moda no Museu Ara Pacis, de Roma. “Este é um ponto crítico, pois o público não está interessado na estátua exposta no museu. A dimensão histórica diminui em relação à força do mercado, do marketing”, explica.
Sobre os eventos
O Seminário Sociedade e Cultura Política – Debates Contemporâneos, de 29 de fevereiro, foi uma promoção conjunta dos programas de pós-graduação em Saúde Coletiva, Sociologia Política e Interdisciplinar em Ciências Humanas, através do Núcleo de Pesquisa em Bioética e Saúde Coletiva (NUPEBISC), Núcleo de Pesquisa em Ecologia Humana e Saúde (ECOS) e Núcleo de Estudos em Filosofia e Saúde (NEFIS).
O Seminário Diálogos sobre Sociedade, Saúde e Cultura Política, realizado no dia 1º de março, foi promovido pelo Núcleo de Pesquisa em Bioética e Saúde Coletiva (NUPEBISC) do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, e pelo Núcleo de Pesquisa e Estudos em Enfermagem, Quotidiano, Imaginário e Saúde (NUPEQUIS) do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem.
Por Laura Tuyama, jornalista na Agecom. Fotos: Wagner Behr