Pesquisadores e instituições de diversas regiões do mundo, inclusive da Universidade Federal de Santa Catarina, participam de um projeto para pensar o desenvolvimento sustentável, a conservação e a inclusão social na região Amazônica. Os resultados desse processo culminaram no livro Diálogos Amazônicos: contribuições para o debate da sustentabilidade e inclusão, lançado na última semana, com acesso gratuito em português, espanhol e inglês. Entre as questões enfrentadas no livro estão os desafios para a demarcação e titulação de territórios indígenas e quilombolas no Brasil, Equador e Suriname.
O principal objetivo da publicação foi promover uma abordagem interdisciplinar para jovens pesquisadores envolvidos com a Amazônia, destacando a importância da ciência e, ao mesmo tempo, valorizando o conhecimento indígena e tradicional na abordagem dos desafios históricos da região.
Co-assinado pelo pesquisador de doutorado Marcos Catelli Rocha, do Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH), um dos capítulos analisa as medidas necessárias que devem acompanhar a demarcação e titulação de terras indígenas e quilombolas para garantir a efetiva conservação da diversidade biocultural e dos ecossistemas desses territórios na Pan-Amazônia.
Os autores analisam três casos: os territórios indígenas no Yasuní no Equador, o territótio Indígena Arara do Rio Amônia no Brasil, e o território reivindicado pelos quilombolas Saamaka, no Suriname e detalham seus processos, conflitos, conquistas e necessidades. Concluem que os territórios continuam sob graves ameaças, apesar de terem sido oficialmente reconhecidos e/ou demarcados e recomendam dezesseis inovações para garantir que a bioculturalidade seja de fato conservada.
Já o pesquisador Mário Tagliari, egresso do Programa de Pós-graduação em Ecologia, é co-autor de artigo sobre os desafios e oportunidades para zerar o desmatamento na Amazônia Brasileira, que gera um alto risco à biodiversidade, ao clima, aos ecossistemas e aos povos da região e internacionais. O objetivo do estudo é analisar as principais ações bem-sucedidas na redução do desmatamento e identificar oportunidades para zerá-lo até os anos de 2030, 2040 e 2050. “Os resultados obtidos sugerem que as ações de combate ao desmatamento devem ser realizadas de acordo com as características fundiárias das áreas desmatadas, priorizando principalmente a destinação de terras públicas, que atualmente abrigam 51% das taxas de desmatamento”, pontuam.
O trabalho é fruto da Escola São Paulo de Ciência Avançada Amazônia Sustentável e Inclusiva, que faz parte das diversas ações da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) junto à Iniciativa Amazônia +10 , que reúne as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa de 25 Estados brasileiros, sob a coordenação do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Os trabalhos produzidos compilados e organizados nesta publicação são o resultado da combinação de experiências anteriores, conhecimentos e lições aprendidas – individual e coletivamente. Refletem, portanto, o aprendizado e amadurecimento dos participantes”, avalia Carlos Joly, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, um dos coordenadores da proposta. A Escola contou com a participação de 88 jovens pesquisadores, todos envolvidos em pesquisas na Amazônia, sendo 60% brasileiros e 40% de países amazônicos como Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Venezuela e extra-amazônicos como Guatemala, México, Estados Unidos, Itália e Países Baixos.
O livro é composto por 10 capítulos que abordam diferentes problemas da região e trilham caminhos para análise, tomada de decisão e de ação. Os capítulos são organizados em três sessões: a primeira destinada à análise dos vetores de degradação e impactos de larga escala na Bacia Amazônica; a segunda sessão versa sobre a inclusão e diversidade cultural na Bacia Amazônica, tanto no nível local como no transnacional; e a terceira analisa os aspectos relacionados à governança local, participação e transdisciplinaridade.