Reconhecida pelo êxito nas políticas de ingresso por ações afirmativas, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vem aos poucos melhorando seus índices de pessoas negras concluintes. No entanto, os números ainda estão abaixo do ideal. Em 2021, apenas o Centro de Desportos (CDS) formou mais pessoas negras do que a porcentagem dessa população no estado, que é em torno de 18%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2021. Outros quatro centros de ensino se mantiveram próximos a esse número.
A UFSC instituiu o primeiro sistema de cotas em 2008. Quatro anos depois, com a criação da Lei nº 12.711 pelo governo federal, as universidades públicas do país passaram a reservar 50% das vagas nos cursos da graduação para estudantes de escola pública, pessoas negras, indígenas, e com deficiência.
Segundo a Pesquisa sobre a Implementação da Política de Cotas Raciais nas Universidades Federais, realizada pelo Grupo de Trabalho de Políticas Etnorraciais- Defensoria Pública da União (DPU) e pela Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), a UFSC foi a instituição que mais ofereceu vagas por meio das políticas de cotas desde que essa lei existe, além do mínimo estipulado. A mesma pesquisa mostra que a maioria das universidades federais ficou com saldo negativo.
Ao comparar os números de pessoas formadas de 2021 na UFSC com os primeiros anos das ações afirmativas, é possível notar que a universidade vem conseguindo aumentar a quantidade de concluintes como fez com a de ingressantes. Em 2008, cerca de 6% dos formados eram pessoas negras; em 2012, o número passou para 10,7% e, em 2021, chegou a 14,1%. Os dados são referentes ao campus Florianópolis. Apesar de a média de formandos da UFSC na capital catarinense não chegar ao patamar de 18%, ao observar o desempenho isolado, alguns centros de ensino se destacam e se aproximam dessa porcentagem.
Os dados fornecidos pela Secretaria de Planejamento e Orçamento (Seplan), a pedido dos pesquisadores Marcelo Tragtenberg, Antonio Boing, Thamara Hubler Figueiró e Marcelo Eduardo Borges, que integram o Consórcio de Avaliação das Ações Afirmativas que avalia a Lei de Cotas, mostram cinco centros de ensino em destaque. São eles: Centro de Desportos (CDS), Centro Socioeconômico (CSE), Centro de Ciências da Saúde (CCS), Centro de Comunicação e Expressão (CCE) e Centro de Ciência Jurídicas (CCJ).
Por outro lado, os Centros de Ciências Agrárias (CCA), Ciência Biológicas (CCB) e o de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), além dos campi de Curitibanos e Joinville, nunca atingiram nem 16%, percentual do IBGE utilizado como base para o ingresso dos alunos da graduação e que faz referência a quantidade de pessoas negras no estado em 2010, mas que segundo Tragtenberg está defasado.
Em 2019, 2.623 pessoas que não se autodeclararam como negras se formaram pela UFSC; entre os autodeclarados, foram 361. No primeiro ano de pandemia, 2020, o primeiro grupo de formandos sofreu uma queda de 29%, enquanto que entre as pessoas negras a queda foi de pouco menos de 1%. Em 2021, porém, o cenário teve uma leve alteração. O número de formandos negros reduziu cerca de 12% e o de não autodeclarados 1,3%.
O caso do Centro de Desportos
Em 2018, 2019 e 2021 o CDS manteve o percentual de pessoas negras formadas acima de 18%. Foi o o centro de ensino que teve o melhor desempenho nos últimos quatro anos. Com os cursos de Educação Física – Licenciatura e Bacharelado, o diretor do CDS, Michel Saad, e o coordenador de departamento, Carlos Cardoso, destacam que, com exceção do período de pandemia, há pouca evasão nessas graduações.
Saad conta que como o bacharelado tem aulas pela manhã e a licenciatura à tarde, os alunos conseguem conciliar trabalho com a carga horária acadêmica. “É um curso que desde a primeira fase muitos já se inserem no mercado de trabalho. Começam a fazer estágio em academias e clubes.” Segundo os diretores, o CDS também disponibiliza inúmeras oportunidades de bolsas remuneradas. Além de pesquisa e monitoria, os cursos oferecem, como projeto de extensão, atividades esportivas para a comunidade, o que demanda alunos envolvidos.
Como essas iniciativas trazem à universidade indivíduos de idades e condições sociais heterogêneas, o diretor de departamento considera que o contato com a população externa torna o centro mais conhecido. Para ele, dois pontos estão diretamente vinculados à procura pela graduação de Educação Física e a baixa desistência do curso. “Por questões sociais no Brasil, uma das formas de ascensão social é o esporte, e também como forma de conseguir uma profissão, vinculada a um tipo de vida esportiva, a licenciatura.”
Outro ponto destacado por Cardoso e pela direção do CDS, além do êxito na formação, é o desempenho da graduação e pós-graduação nas avaliações de qualidade de ensino. Pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a pós-graduação em Educação Física da UFSC tem nota máxima. Na graduação, pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), o bacharelado também ocupa o primeiro lugar, com nota 5, e a licenciatura vem na sequência, com nota 4.
Karol Bernardi/Imprensa Apufsc