Equipe trabalha para receber primeiros voluntários (Fotos: Daiane Mayer/Agecom)
A Universidade Federal de Santa Catarina começou a oferecer um novo serviço de atendimento à população impactada diretamente pela pandemia de Covid-19. Atuando em diversas frentes de pesquisa e extensão relacionadas ao coronavírus, agora a instituição terá um estudo a longo prazo sobre o impacto do exercício físico na reabilitação de pacientes curados que manifestaram a doença de forma moderada a grave. A iniciativa ocorre no Centro de Desportos (CDS), com parceria do Núcleo de Pesquisa em Asma e Inflamação das Vias Aéreas (Nupaiva), do Hospital Universitário.
Intitulada Efeitos do Treinamento Físico em Desfechos Funcionais, Clínicos e Psicossociais de Adultos e Idosos Pós-infecção por Covid-19: Covid-19 And Rehabilitation Study (Core-Study), a iniciativa abrange ações de pesquisa e extensão, com prestação de serviços à comunidade e, ao mesmo tempo, coleta de dados e informações sobre um tema ainda desconhecido pela ciência. Os primeiros voluntários estão sendo selecionados, e a expectativa é de que funcione a pleno vapor até o final do ano.
O professor Rodrigo Sudatti Delevatti, coordenador geral do projeto, explica que, com os esforços iniciais concentrados na epidemiologia e na elaboração da vacina, começa a surgir somente agora. “Existe uma demanda urgente de reabilitação, porém não existem evidências científicas que deem segurança para reabilitar. Ainda não saíram os ensaios clínicos de qualidade que provam superioridade, eficácia e segurança dos modelos de reabilitação”, contextualiza.
Professor Rodrigo coordena o projeto
A ideia do projeto é atender, nesse momento, 60 pacientes de moderado a grave, que estiveram internados no HU em 2021 e receberam alta. A triagem é feita no Nupaiva, coordenado pela professora Rosemeri Maurici, e os voluntários passam a frequentar o CDS de duas a três vezes por semana, com protocolos de treinamento físico e acompanhamento dos resultados. De acordo com o professor, é possível perceber um grande percentual de sobreviventes de Covid-19 com sequelas como fraqueza muscular, fadiga e problemas de ordem psicossocial.
Para ele, a universidade pode colaborar com a construção das primeiras evidências relacionadas à intervenção direta com os pacientes curados. “A gente também observa problemas na qualidade do sono e sintomas depressivos e sabemos que o exercício, a princípio, ajuda muito isso, pois restaura a capacidade das pessoas. Só que o nosso conhecimento sobre esse papel do exercício é em outras condições, ou ainda muito raso, baseado em estudos sem grupo controle e/ou com pequeno tamanho amostral”, explica.
Por isso, o Core Study tem metas ambiciosas e começa a operar nos próximos dias com a expectativa também de comparar os reabilitados atendidos pelo programa com outros, que receberão recomendações de atividade física, mas não frequentarão à universidade neste momento. Serão 24 semanas de acompanhamento, com cinco ciclos diferentes de treinamento e a análise diária de parâmetros como frequência cardíaca, saturação de oxigênio e pressão arterial. Antes e após as 24 semanas, serão analisados parâmetros relacionados à função vascular, pulmonar, aspectos psicossociais, capacidade funcional, aptidão cardiorrespiratória, nível de atividade física, força muscular e composição muscular.
O professor também explica que as questões tanto relacionadas à fadiga, como as de ordem psicossocial, em linhas gerais, costumam compor um ciclo que tende a afastar os pacientes curados da prática das atividades físicas. Muitos desses pacientes já vinham de meses de confinamento, depois ainda passaram por uma internação. Alguns perderam o emprego e também estão com dificuldade de adaptação. “Tem uma questão psicológica e até funcional de muitos não terem conseguido voltar à atividade laboral. Se não forem reabilitados, e isso é uma questão da saúde pública, não vão conseguir voltar”.
Reabilitação também para outras doenças
O Centro de Reabilitação vai funcionar onde era realizado o Programa de Reabilitação Cardiorrespiratória (ProCor), cujo objetivo é avaliar as condições fisiológicas, clínicas, psicológicas, sociais e profissionais dos cardiopatas por meio de exercícios físicos. O espaço foi adaptado com novos equipamentos – como esteiras e oxímetros, adquiridos com recursos da UFSC, por meio da Pró-reitoria de Extensão e de um esforço conjunto da direção do CDS e da Secretaria de Esportes.
Projeto tem equipamentos novos
Segundo Delevatti, além da importância científica da coleta de dados junto aos pacientes e da contribuição com a saúde pública, o projeto também terá o compromisso de servir como um piloto para atender a reabilitados de outras doenças. “A reabilitação pós-Covid dá a largada ao projeto, mas o Centro deve abrigar outros no futuro”, explica o professor, que também é coordenador de extensão do CDS.
Para isso, outros professores do centro, além de estudantes de graduação e de pós-graduação também estão envolvidos com a atividade, que deverá ser implementada junto à política de curricularização de extensão da UFSC, que prevê que pelo menos 10% da carga horária das graduações seja voltada a projetos com as comunidades.
O professor ainda reforça que o estudo trabalhará com uma perspectiva a longo prazo: muito embora as atividades diretas com os grupos tenha duração prevista de 24 semanas, a ideia é acompanhar os pacientes anualmente, inclusive possibilitando que, ao fim da pesquisa, eles continuem a realizar atividades físicas gratuitas oferecidas pela UFSC à comunidade.
Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC