Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC
Na quarta-feira, 13 de julho, ocorreu a sétima e última conferência do seminário Dimensões Estéticas da Formação Humana. Com o título “A natalidade como possibilidade de amor mundi – humanismo e formação em Hannah Arendt”, a aula foi ministrada pela professora Daiane Eccel, do departamento de Estudos Especializados em Educação (EED) da UFSC. “Hannah Arendt não é uma pensadora específica da educação, mas ela faz um bom diagnóstico de época — a modernidade —, sobre a atual crise na educação. Minha proposta é pensar em que medida a ideia de amor mundi, relacionada à natalidade, pode ajudar a refletir sobre essa crise”, explica Daiane.
A professora iniciou a conferência diferenciando os conceitos de amor e amor mundi – que, segundo ela, não está explícito na obra de Hannah Arendt: “O conceito amor mundi aparece disperso, não há nenhuma referência clara e direta sobre ele.” Daiane destacou as duras críticas da filósofa alemã à ideia de amor ao próximo. “Para ela, quando o cristão tem a pretensão de amar a todos, ele não ama ninguém. Não é possível amar ao próximo como a ti mesmo. No cristianismo, ‘o próximo’ é só um meio para chegarmos a um fim. Isso, para Arendt, não é amor, é uma espécie de deturpação do amor.”
Hannah Arendt também critica a ideia de amor romântico: “A pessoa retira-se do mundo para construir um outro mundo, junto da pessoa amada. O amor romântico, portanto, é um ‘egoísmo a dois’. Mas esse amor também gera uma contribuição ao mundo, uma nova possibilidade, que é uma criança.” Daiane seguiu discorrendo sobre a relação do conceito de amor mundi com a natalidade, que seria o “segundo nascimento”.
O primeiro nascimento, o biológico, envolve apenas as necessidades essenciais para a sobrevivência. “Para o segundo nascimento acontecer, é necessário uma preparação. É aí que entra o papel da educação, da formação. Hannah Arendt afirma que a educação deve se dar na passagem do primeiro nascimento para o segundo nascimento. É nesse meio onde operam os pais e a escola”, expôs Daiane.
A professora discursou também sobre a interdependência entre democracia e educação. “O primeiro nascimento está na esfera do lar, da necessidade. O segundo nascimento, na esfera pública, da liberdade. Todos devem ter acesso a determinado conteúdo, para então estar preparado para agir sobre o mundo.” Na modernidade há problemas na transição entre esses dois momentos. A crise na educação, segundo Hannah Arendt, tem a ver com essa passagem mal feita.
Daiane explicou que, quando o processo educacional não possibilita o segundo nascimento, ele é julgado como falho. “O indivíduo pode escolher se vai ou não agir na esfera pública, mas ele deve ter as ferramentas para isso. O amor mundi não é um sentimento privado. Ele é externo, está completamente ligado à esfera pública. É a responsabilidade que todos temos com as próximas gerações”, finaliza a pesquisadora.
Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC
Seminário
Coordenado pela professora Marlene de Souza Dozol, o seminário teve por objetivo discutir a relação da estética com a formação humana. “Abordamos as categorias estéticas que marcam cada momento da História. Passamos pela Grécia, Roma, Idade Média, Renascimento, séculos XVIII, XIX, XX. Para cada período, escolhemos um pensador que tratou, de alguma forma, de filosofia da educação”, explica Marlene. Montaigne, Jean-Jacques Rousseau e Hegel foram alguns dos autores escolhidos.
Um aspecto positivo do seminário, segundo a coordenadora, foi a oportunidade de valorizar as pesquisas de professores da própria universidade. “Os conferencistas convidados eram todos da UFSC. Foi possível conhecer a riqueza de seus trabalhos, os talentos que temos aqui e o quanto cada um tem a contribuir em diferentes campos de saber.” Cerca de 40 estudantes participaram do evento, oriundos da graduação e pós-graduação de diversos departamentos da UFSC: Filosofia, Letras, Sociologia, Pedagogia, Direito, Biologia, entre outros.
Nesta sexta-feira, 15 de julho, às 18h30, ocorre a última atividade do seminário. Integrantes do grupo de estudos “Estética e Educação” apresentarão suas pesquisas na sala 618 do PPGE, 2º andar do Centro de Ciências da Educação (CED). Confira os trabalhos:
Título |
Autora |
“A noção de uma cultura da juventude romântica em Walter Benjamin” |
Priscilla Stuart da Silva |
“A força da linguagem nos ‘Devaneios’ de Rousseau” |
Luana Aversa |
“Arte de educar e conexão razão-sentimento e pensamento-arte na obra de Rousseau: uma formação estética na infância” |
Lia Presgrave |
Interessados no conteúdo das conferências podem acessar toda a bibliografia indicada pelos professores na xerox do CFH, na pasta com o título “Dimensões Estéticas da formação humana”. A segunda edição do seminário está prevista para o primeiro semestre de 2017.
Grupo de estudos
“Nosso grupo tem um perfil plural, aberto em termos de perspectivas e pensadores. Essa é nossa marca registrada”, afirma Marlene. O grupo de estudos “Estética e Educação” está aberto a novos integrantes interessados na área. As reuniões são quinzenais e a agenda de estudos e pesquisa é definida a cada início de semestre. São escolhidas obras que estabeleçam um diálogo da filosofia da educação com outras áreas, como a literatura, pintura, música.
“Nos encontros, há um amadurecimento de ideias que, muitas vezes, resultam em publicações. Também aproveitamos para aprimorar a produção textual, promovendo oficinas de escrita científica”, afirma Marlene. Os principais autores que vêm sendo estudados são Hannah Arendt, Jean-Jacques Rousseau e Walter Benjamin.
Mais informações sobre o grupo:
Professora Marlene de Souza Dozol: lena.dozol@uol.com.br
Professora Daiane Eccel: daianeeccel@hotmail.com
Doutoranda Priscilla Stuart da Silva: priscillastuart.di@gmail.com
Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC