Especialização em conservação e restauração de acervos de papel tem aula inaugural

28/06/2022 11:10

Na próxima quinta-feira, dia 30 de junho, às 19h, ocorre a aula inaugural do curso de especialização lato sensu em conservação e restauração de documentos em suporte de papel. O evento será ministrado pelo pesquisador Aloisio Arnaldo Nunes de Castro, restaurador de artes plásticas do Museu Murilo Mendes da Universidade Federal de Juiz de Fora, que dará enfoque nas origens e na construção da conservação e restauração de acervos em papel, notadamente por meio das práticas e narrativas preservacionistas demarcadas no contexto brasileiro. O evento será realizado no auditório do Espaço Físico Integrado 1.  

A aula inaugural intitulada A trajetória histórica da Conservação-Restauração de acervos em papel no Brasil, promovida pelo Laboratório de Conservação e Restauração (LABCON) da UFSC, tem como objetivo apresentar apontamentos históricos e instigar reflexões acerca da construção cultural do pensamento preservacionista brasileiro. Assim, por meio da análise documental, bibliográfica e do exercício da história oral, será debatida a Conservação-Restauração da memória de bens culturais móveis constituídos pelo suporte em papel no País, desde a primeira década do século XX até os anos 2000.

Tendo como referência a publicação do livro A trajetória histórica da Conservação-Restauração de acervos em papel no Brasil,  que dá nome a aula, publicado pela Editora da Universidade Federal de Juiz de Fora, o autor abordará pesquisas historiográficas que examinam os marcos teóricos, os paradigmas, as influências internacionais e as políticas públicas que ajudaram na inserção e na consolidação dessa disciplina.

A aula pretende contribuir para o estudo analítico de um passado relativamente novo na área da preservação de documentos gráficos, revelando, por consequência, expressivas demandas, bem como a potencialidade de se empreender pesquisas historiográficas que são fundamentais para a constituição do campo disciplinar da História da Conservação-Restauração no Brasil.

Tags: aula inauguralconservaçãoConservação e Restauração de Documentos em Suporte de PapelcursorestauraçãoUFSC

Biodiversidade catarinense: é possível equilibrar a utilização dos recursos naturais e a preservação da natureza?

27/05/2022 19:40

Para ler a reportagem especial em formato multimídia, clique aqui.

A  biodiversidade ou diversidade biológica está relacionada às riquezas naturais. No estado de Santa Catarina,  ela está ameaçada pela destruição de habitats, sobre exploração dos recursos naturais, invasão por espécies exóticas, além das mudanças no clima. Em meio a um cenário de perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, formas de preservação e mitigação de danos aos ecossistemas tornaram-se uma necessidade. Animais, plantas, fungos e microrganismos fornecem alimentos, medicamentos e subsídios indispensáveis para a sobrevivência da humanidade.

Diante desse cenário, as pesquisas científicas têm papel crucial. O Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) – Biodiversidade de Santa Catarina liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) faz parte de uma rede nacional de pesquisas e é apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc). Atualmente, o projeto “Biodiversidade de Santa Catarina: Investigando a ecologia histórica e os efeitos de manejo para restauração e conservação da Mata Atlântica do Sul do Brasil”, coordenado pelo professor Selvino Neckel de Oliveira, busca entender os efeitos de distúrbios na biodiversidade e encontrar formas de mediar e equilibrar o uso dos recursos naturais aliado à conservação da natureza.
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Pesquisadores identificam fungos ameaçados e alertam para a necessidade de políticas de conservação

09/11/2021 15:10

Um fungo que transforma insetos em zumbis no Vale do Itajaí e um líquen que só é encontrado entre as dunas de uma praia de Imbituba são algumas das, pelo menos, 21 novas espécies de fungos e liquens brasileiros que serão incluídas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), um dos principais inventários do mundo sobre estado de conservação de animais, fungos e plantas. A ação é resultado de um workshop organizado pelo grupo de pesquisa Mind.Funga, ligado ao Laboratório de Micologia (Micolab) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Comissão para a Sobrevivência de Espécies de Fungos da IUCN. Os encontros realizados ao longo de setembro e outubro reuniram, além das equipes do Mind.Funga e do Micolab, 18 pesquisadores de nove estados das cinco regiões do país. Até o fim do ano, o grupo segue em processo de avaliação para outras 30 propostas de inclusão de espécies na Lista Vermelha.

Rickiella edulis é uma espécie saprotrófica (absorve nutrientes de matéria orgânica em decomposição) que ocorre na Mata Atlântica, na Argentina e no Paraguai. É considerada em perigo pelos critérios da IUCN. Foto: Gerardo Robledo

O primeiro workshop brasileiro de avaliação de espécies de fungos para a Lista Vermelha Global da IUCN, além da formação de recursos humanos para a classificação das espécies nas categorias de ameaça e a aplicação dos critérios da IUCN, teve o intuito de engajar os pesquisadores no tema da conservação. As primeiras reuniões visaram à capacitação dos participantes na elaboração da documentação necessária. Posteriormente, as propostas elaboradas pelo grupo foram analisadas por dois avaliadores credenciados da IUCN: o cientista-chefe do Jardim Botânico de Chicago, Gregory M. Mueller, e a professora da Eastern Washington University Jessica Allen.

As 21 espécies já avaliadas são distribuídas em dois filos (Ascomycota e Basidiomycota) e oito ordens, e a maior parte está ameaçada de extinção em algum grau. São quatro criticamente em perigo (risco extremamente elevado de extinção na natureza); três em perigo (risco muito elevado de extinção na natureza); nove vulneráveis (risco elevado de extinção na natureza); quatro quase ameaçadas (categoria de baixo risco, mas com espécies perto de serem classificadas ou que provavelmente serão incluídas em uma das categorias de ameaça em um futuro próximo); e uma na categoria “Dados Deficientes” (faltam dados adequados sobre a sua distribuição e/ou abundância para fazer uma avaliação direta ou indireta do seu risco de extinção). 
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Uma ave inédita e muita riqueza: conheça a fauna do Distrito do Saí que deve ser protegida por Refúgio de Vida Silvestre

30/09/2021 10:00

Ave bordada com bico robusto, segundo o Wiki Aves, é o significado para a nomenclatura científica do Pachyramphus marginatus, ou apenas “Caneleiro-Bordado”. O pequeno animal, que mede até 14 cm e pesa não mais que 18 gramas, tinha sua distribuição registrada desde Pernambuco até o Paraná, mas em dezembro de 2019 foi visto pela primeira vez ainda mais ao Sul, especificamente na região do Distrito do Saí.

Os ornitólogos que o reconheceram são da equipe da Universidade Federal de Santa Catarina responsável pelo levantamento socioambiental para a criação de uma unidade de conservação em São Francisco do Sul, litoral Norte de Santa Catarina. Primeiro, a equipe identificou o macho. Alguns meses depois, uma fêmea também foi vista pela primeira vez, consolidando a hipótese de que a floresta tem muito a apresentar, inclusive em termos de turismo ecológico.

Caneleiro bordado no Distrito do Saí

De acordo com o professor Guilherme Renzo Rocha Brito, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, esses primeiros registros estendem a espécie por cerca de 40 km ao sul de sua área de distribuição conhecida, e embora não seja possível afirmar com toda certeza se outros exemplares já haviam voado mais ao Sul, trata-se de um dado relevante para a compreensão da avifauna do Saí. A equipe identificou pelo menos 252 espécies diferentes na região, de 59 famílias – dados que a elevam como uma das regiões mais ricas do estado.

“É uma das áreas mais ricas de aves da Mata Atlântica do Estado. Dali para baixo começa a diminuir um pouco, por questões climáticas, por conta do frio. Em termos comparativos, é possível que haja números semelhantes nas matas de araucárias, mas desconfio que não chegue muito perto da riqueza que encontramos ali”, explica.

O professor conta que aves são animais de ambientes muito específicos, ou seja, de acordo com o tipo de ambiente é possível encontrar uma comunidade que se adequa somente aquela região. “Num manguezal, por exemplo, você encontra aves que estão somente nesse ambiente. Já nas florestas vai encontrar uma comunidade um pouco diferente. Mas no caso do Distrito do Saí, naquela região há um mosaico de vários tipos”, comenta. Cercada por baía, manguezais, florestas e morros, a área tem pássaros de cores, tipos e padrões diferentes – um registro de biodiversidade e da urgência de conservação.”Pouco mais acima, na divisa do Paraná e de São Paulo, por exemplo, vai haver uma riqueza um pouco maior por ser um núcleo maior de florestas. O que vemos no Saí é um potencial bastante interessante”.

Como as aves são bastante sensíveis a alterações no seu ambiente e muito dependentes de habitat florestal, a riqueza na área também é um indicativo de que as florestas da região do Distrito do Saí sustentam uma comunidade relativamente saudável, inclusive com alto número de endemismos e espécies raras e ameaçadas. Além do Caneleiro-Bordado, a equipe identificou também espécies como o Jaó-do-Sul, da família dos macucos, um animal relativamente grande, que parece uma galinha e é muito caçado, buscado para servir de alimento. Um Curió de vida livre também foi identificado, uma espécie mais rara muito procurada por gaioleiros no passado só encontrada em áreas de vida selvagem preservada e pouco perturbada.

Curió Sporophila é ameaçado de extinção

“O recado é que é uma comunidade muito complexa, com muitos agentes e muitos exemplos. E quanto mais complexa a comunidade, mais complexas são as interações, pois para sustentar uma comunidade dessas é preciso um ambiente muito saudável, com muitos recursos. Mais de 50% dessas aves são insetívoras, por exemplo, dependentes de insetos”, ilustra.

Um desdobramento efetivo dessa análise sobre a avifauna foi bastante comentado junto à comunidade do Distrito do Saí, já que essa característica pode levar à criação de projetos turísticos relacionados à observação de pássaros. “O Distrito do Saí é uma das únicas áreas no estado de Santa Catarina com a possibilidade de observação e registro de muitas espécies. Essa beleza cênica fomenta o turismo de natureza”, indica o relatório da UFSC. “A recepção da comunidade quanto a essa possibilidade foi muito boa. Proprietários de pousada, por exemplo, ficaram empolgados com essa questão, pois apareceu como um novo potencial”, reforça o professor.

Exemplo de biodiversidade
A região, segundo o levantamento de fauna, tem uma importância ecológica inegável. De acordo com o professor Selvino Neckel de Oliveira, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, que coordenou o estudo, o primeiro passo para a conservação é o conhecimento da área e do que ela tem de biodiversidade, pois assim é possível avaliar cada espécie e suas características determinadas. “A partir desse dado você consegue ter uma dimensão do estado de conservação, por exemplo, se você está diante de uma espécie que tem distribuição restrita naquela área ou se ela nunca foi registrada naquele ambiente”.

Piaya cayana

 

No caso da Mata Atlântica, que foi reduzida a cerca de 7% do que ela já foi originalmente no passado, sua posterior recuperação ocasionou uma paisagem com habitats fragmentados, ou seja, manchas de áreas florestais separadas por cidades ou sistemas agrícolas que isolaram determinadas espécies que, como consequência, podem ser extintas. “Num contexto de fragmentação, mesmo as espécies que conseguem permanecer se tornam inviáveis, pois as populações vão diminuindo, já que não há troca de material genético entre as populações”, explica.

 

Haematopus palliatus

 

Oliveira explica que é necessário estudar o ambiente, saber o que ele dispõe e avaliar o seu estado de conservação. “Nosso levantamento de fauna mostrou que o Distrito do Saí é um dos lugares mais ricos de espécies da nossa Mata Atlântica, com uma quantidade de espécies muito alta, comparado à unidade de área”, pontua.”E por que esse ambiente é rico? Porque a parte Norte de Santa Catarina é uma região de conexão de fauna e flora que vem do Sudeste/Nordeste brasileiro e da parte Sul do Brasil. Então, temos elementos da fauna e flora do Sul se encontrando com elementos das regiões Sudeste e Nordeste do Brasil.

Um exemplo que a equipe incluiu nas suas análises é o do Veado Bororo, espécie registrada na mata do Distrito do Saí há cerca de dois anos e cuja ocorrência era mais comum na porção da Mata Atlântica da região de São Paulo e dali para o Nordeste. Espécies de anfíbios observadas na floresta também são exemplos de uma região com uma fauna heterogênea, com elementos que tiveram suas origens mais ao sul ou mais ao norte do Saí. “O que ocorre é que o limite de distribuição dessa inúmeras espécies ocorre aqui na na região do Saí”.

Eira: exemplar da mastofauna no Distrito do Saí

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O professor lembra que aquilo que a equipe levantou na região é uma pequena amostra, fruto de cerca de 20 dias de campo, por conta do contexto pandêmico. Mesmo assim, observou-se uma grande diversidade. “Imagina se tivesse uma estação de estudo nesse local há 20, 30 anos e a importância que teriam estes registros a longo prazo. Ficamos impressionados, pois em pouco tempo conseguimos comprovar essa biodiversidade”, completa.

Os dados – que no relatório são divididos por grupos (peixes, anfíbios, reptéis, mamíferos, avese insetos dipteros) – não permitem que a equipe lance hipóteses sobre a possível perda de biodiversidade ocasionada pela ação humana, por exemplo. Mas o pesquisador observa que a região tem perdido áreas de floresta, além de ser ameaçada constantemente por obras, como as de ampliação portuária. “O veado, por exemplo, a gente registrou um indivíduo apenas. Será que não havia mais há dez ou cem anos atrás? Ou mesmo o macaco Bugio, que antes era visto com certa frequência e agora praticamente não se vê mais nessa região”.

Para ele, o que mais chama a atenção na fauna do Distrito do Saí é o conjunto da obra, identificado por meio da observação dos elementos da floresta atlântica que estão bem representados em diversos pontos do polígono e que são essenciais para a justificativa de uma unidade de conservação. “São muitos componentes da biodiversidade: o meio físico, com as nascentes com água de boa qualidade, o componente biótico, como árvores imensas; poucas, mas existem, e árvores que produzem muitos frutos para fauna. Os componentes da biodiversidade da Mata Atlântica estão todos ali”.

 

Releia a série acessando a tag ‘Nascentes do Saí’ ou clicando aqui

Amanda Miranda/Jornalista da Agecom

Tags: conservaçãoecologiaMata Atlânticameio ambienteNascentes do SaíProjeto Nascentes do SaíRefúgio de Vida Silvestre

Água abundante e floresta regenerada serão preservadas com criação de Refúgio de Vida Silvestre em São Chico

29/09/2021 10:00


A abundância hídrica e a riqueza de espécies na floresta do Distrito do Saí reforçam aquilo que os pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina já reconheciam a partir da literatura e de outros trabalhos na localidade: é necessário promover a conservação da biodiversidade e potencializar o turismo sustentável na região. A criação de um Refúgio de Vida Silvestre irá possibilitar que a Mata Atlântica permaneça protegida, o que garante, também, água de qualidade e outros benefícios às comunidades.

“A garantia da preservação da floresta confere um papel importante de conexão das pessoas com a natureza, de entrarem na mata e se sentirem confortáveis. A mata promove uma sensação muito agradável: sensação térmica, estética, de andar numa floresta e conseguir enxergar flores, aves, insetos. Para esse turismo mais voltado para o desfrute do meio ambiente é importante que a mata esteja muito bem preservada”, explica o professor Pedro Fiaschi, do departamento de Botânica.

Euterpe edulis, popularmente conhecida como ‘juçara'(Foto: acervo do projeto Nascentes do Saí)

A mata do Distrito do Saí, segundo Fiaschi, tem características que chamam a atenção. A área é coberta por Mata Atlântica em estágio avançado de regeneração. “Temos nesta região árvores altas e com diâmetro grande, além de estruturação em vários níveis: desde as árvores muito grandes, até as camadas inferiores. São vários extratos de floresta com indício de que estão em estado avançado de regeneração”, explica. Além disso, há também trechos que podem ser matas primárias – ou seja, que nunca sofreram impacto e preservam suas características originais desde antes mesmo da chegada da espécie humana.

Segundo o relatório de 2020 da SOS Mata Atlântica, esse bioma abrange cerca de 15% do território do Brasil, o que equivale a 17 estados. Além disso, é o lar de 72% da população, abrigando três dos maiores centros urbanos do continente sul-americano. Os dados sobre seu desmatamento também chamam a atenção: de 2018 para 2019, foram 14.502 hectares – ou 14 mil campos de futebol suprimidos, ameaçando sua rica biodiversidade.

No Distrito do Saí, no entanto, o relatório dos pesquisadores da UFSC indica uma área relativamente preservada, o que aumenta a relevância de medidas de conservação. De acordo com o professor, muitas áreas da Mata Atlântica sofreram impacto da ação humana ao longo do processo de ocupação urbana, o que é menos evidente na região do Saí. “Tudo isso sugere que essa região deva ser preservada. Uma floresta muito bem conservada vai ter uma quantidade de espécies muito maior e vai abrigar também muitas espécies de animais. Quanto mais espécies houver na flora, mais rica será a fauna associada”.

Esses indícios, entretanto, não sugerem que não tenha havido impactos da ação humana na floresta nativa. De acordo com o pesquisador, é possível que tenha existido, na localidade, um histórico de corte raso em alguns trechos, com a remoção da floresta, e também a remoção seletiva de algumas espécies, tais como jequetibá e canela-preta. Assim, ainda que a floresta seja considerada em estágio avançado de regeneração e seja rica em espécies, há outras regiões, mesmo em Santa Catarina, que se encontram em melhor estado de conservação, especialmente aquelas localizadas em regiões mais íngremes, cujo acesso à ação humana é dificultado.

Riqueza florística

O jequetibá é uma árvore de tronco largo, grande e vistosa, dessas que são impossíveis de não se reparar. Por isso, é difícil que passem despercebidas mesmo por olhos leigos. No trabalho de campo da UFSC, um aluno do professor Pedro Fiaschi identificou um indivíduo jovem. “Ele coletou um ramo e nos mostrou. É possível que haja mais pela floresta, mas esse que identificamos é um indivíduo jovem”, explica. A espécie é considerada ameaçada de extinção, mas pode ser encontrada no Distrito do Saí.

Segundo o professor, essa espécie não é encontrada em outras regiões do estado. Em Florianópolis, por exemplo, não há registro de jequetibás. Isso ocorre porque as florestas mais ao norte, no caso da Mata Atlântica, costumam ter registros de espécies que não ocorrem em áreas mais ao sul do estado. O Distrito do Saí, portanto, tem mais esse diferencial: por estar no Litoral Norte, vai apresentar algumas espécies características de uma região com chuvas mais abundantes e clima um pouco menos sazonal que o de Florianópolis, por exemplo. Este foi um ponto destacado pela equipe que fez o levantamento no relatório do projeto: as florestas do Distrito do Saí caracterizam- se como importantes componentes florísticos do estado por conta dessa característica, “contribuindo para a riqueza biológica de Santa Catarina e proporcionando habitat para uma fauna silvestre igualmente biodiversa”, tal como consta no relatório.

Rudgea jasminoides: registro de uma espécie que ocorre no interior de florestas bem conservadas

Para os pesquisadores, a existência de muitas espécies de bromélias, samambaias e outras epífitas na região do Distrito do Saí não surpreende. Essas espécies são comuns na Mata Atlântica e muitas não são encontradas em outros biomas brasileiros.”Sobre as bromélias, quando você vai a uma floresta e olha para cima das árvores, observa muitas espécies crescendo sobre o tronco das árvores, o que não surpreende em florestas bem estruturadas situadas em morros, com árvores de grande porte e penetração de luz sob vários ângulos”, resume.

De acordo com o professor, a beleza dessas plantas pode ser um atrativo para os turistas, já que elas atraem também muitas espécies de aves e outros polinizadores. “Como muitas outras plantas, as bromélias têm muita interação com polinizadores, que são muito importantes para sua reprodução, enquanto outras plantas dependem de animais para a dispersão das suas sementes, o que é essencial para a manutenção da floresta, já que permite o repovoamento de outras áreas”.

Já as samambaias também aparecem como parte do relatório do projeto. Algumas espécies são mais raras e conhecidas em poucas localidades. “No Distrito do Saí identificamos muitas espécies de samambaias, muito mais do que acharíamos em Florianópolis, por exemplo. Elas são um grupo que está associados a florestas úmidas e geralmente ocorrem onde há muitos corpos de água e chuvas bem distribuídas ao longo do ano”, explica.

A formação florestal, portanto, destaca-se na paisagem do Distrito do Saí. De acordo com o levantamento da equipe do professor Orlando Ferretti, mais de 90% do solo da região estudada tem essa composição – e apenas 1,14% seria floresta exótica, plantada. “A gente já imaginava que o Distrito é uma região importantíssima do ponto de vista da biodiversidade. Claro que dentro dele há áreas que sofreram modificação recente, por conta de ocupações que estão mais a margem. Inclusive, a área de entorno da unidade de conservação registra que a ocupação urbana está encostando no polígono”, explica.

Essa biodiversidade, segundo aponta o professor, é tributária também das formações da Serra do Mar, cadeia montanhosa composta por inúmeras reservas. A vegetação da região, explica ele, foi transformada pelo menos há cerca de 50 anos, com o corte seletivo em alguns lugares. “Mesmo assim, a gente percebe que está no estado de regeneração bem interessante, com topos de morro e encostas bastante recuperadas, o que também dá qualidade para a água da região, em mais de 150 pontos de nascente”.

Água

A relação da floresta com a água também diz muito sobre a qualidade de uma e de outra. De acordo com o relatório 2020 da ONG SOS Mata Atlântica, o bioma fornece água para mais de 60% da população brasileira. Não é diferente no Litoral Norte de Santa Catarina e particularmente em São Francisco do Sul. O próprio nome do projeto da UFSC, Nascentes do Saí, remete à característica hidrológica da região.

De acordo com o professor Nei Kavaguichi Leite, do Departamento de Ecologia e Zoologia, é possível recorrer ao ciclo da água para entender o papel da floresta com relação a esse aspecto. Uma das imagens ilustrativas do fenômeno é quando parte da água da chuva fica retida na copa das árvores, o que faz com que o solo a absorva de uma forma mais lenta, recarregando aquíferos que alimentam os rios. A falta de cobertura florestal, por outro lado, acelera este processo e faz com que o solo fique rapidamente saturado de água. “Isso gera um alto escoamento superficial que pode acarretar em um rápido aumento do nível dos rios e riachos, com consequente inundação, ou mesmo resultar em assoreamento devido ao aporte de grande quantidade de sedimento nos cursos d`água”.

Conservar a floresta garante qualidade da água

 

O estudo da equipe de hidrologia do projeto abrangeu nove bacias hidrográficas, com o interesse em compreender a disponibilidade hídrica nessas áreas, verificando também sua distribuição e abundância. Outro ponto importante a ser considerado é que essas águas são responsáveis por parte do abastecimento dos municípios de São Francisco do Sul e Itapoá, garantindo qualidade de vida à população. Cinco dos oito pontos de captação da empresa Águas de São Francisco estão na região.

Conforme o relatório, as bacias hidrográficas analisadas têm área de aproximadamente 26,7 km2, com monitoramento realizado pela equipe de hidrologia cobrindo cerca de 77% da área de estudo, em um total aproximado de 57 nascentes. As nascentes são o ponto por onde começa um curso de água e estão localizadas nas regiões mais altas.

A abundância hídrica do Distrito do Saí também foi corroborada pelo alto índice de chuvas, com uma média anual de 2.363 mm, acima da que é registrada em Santa Catarina, que é de 1.506 mm. Também se destacaram, na análise, a extensa cobertura de mata nativa, o que assegura a urgência de medidas de conservação. “Tem riachos que estão em regiões com certo grau de antropização, mas um aspecto bastante relevante é a manutenção das matas ciliares, que margeiam os rios. São matas que servem de refúgio para a biodiversidade, garantem a estabilidade dos barrancos e controlam a água que chega nos riachos. Em muitos desses riachos que estudamos, as matas ciliares disponibilizam alimentos para muitas espécies e servem também de recreação”, pontua Nei.

O professor lembra, ainda, que a manutenção dessas matas e da floresta, de um modo geral, também são medidas preventivas para deslizamentos ocasionados pelo forte índice pluviométrico. “A falta de cobertura vegetal pode acarretar em erosão e até mesmo assoreamento de riachos. Em locais com pequenas modificações, como a queda de uma árvore, em algum momento, já se detecta esse fenômeno. Mudar completamente as características da região pode gerar um impacto bem grande”, pondera.

O alerta também surge do professor Orlando Ferretti. Segundo ele, apesar da grande biodiversidade e da grande quantidade de florestas, a área apresenta riscos de deslizamento caso a floresta não seja conservada e não se torne alvo de políticas ambientais. “Quando se percebe o tipo de solo que existe lá, suscetível a riscos geológicos, e também a quantidade de chuva, pode-se falar até em um risco mais imediato, já que a área urbana está crescendo”.

Leia mais nesta quinta-feira, 30/09

Amanda Miranda/Jornalista da Agecom

Tags: conservaçãoDistrito do SaíecologiaNascentes do SaíProjeto Nascentes do SaíRefúgio de Vida Silvestre

Trabalho da UFSC recomenda a criação de unidade de conservação no Norte de SC; leia a série ‘Nascentes do Saí’

27/09/2021 10:00

 

Uma Mata Atlântica ameaçada, uma equipe de pesquisadores e pesquisadoras e uma comunidade interessada em compartilhar seus saberes e em debater a conservação da região. O projeto Nascentes do Saí, formalmente intitulado Diagnóstico Socioambiental para Criação de Unidade de Conservação na Vila da Glória, município de São Francisco do Sul/SC, deu origem a um relatório de mais de 700 páginas que destaca uma recomendação ao poder público: é preciso conservar legalmente o polígono que envolve florestas, morros, nascentes de rio e centenas de espécies antes que ele seja destruído.

Para cumprir o objetivo de traçar um diagnóstico socioambiental da região, o projeto de caráter multidisciplinar contou com uma equipe de professores e estudantes de diversos centros da Universidade Federal de Santa Catarina e também da Univille para realizar estudos sobre fauna, flora, geologia e geomorfologia, socioantropologia, levantamento fundiário e caracterização geográfica.  Suas diretrizes envolviam desde a preservação dos recursos hídricos até disponibilização de recursos naturais à pesquisa científica, passando também pela criação de programas de educação ambiental e pela proposição de um plano para construção da Política de Conservação e Gestão Territorial da unidade.

A partir desta terça-feira, a Agência de Comunicação da UFSC irá apresentar três reportagens que sintetizam a importância da parceria entre a universidade, a ciência e a sociedade e ajudam a apresentar uma das regiões mais ricas do Estado, em que as chuvas abundantes e as condições geográficas geram um “combo” que pode beneficiar a comunidade com iniciativas de turismo ecológico.

A série está dividida em três blocos de assuntos, que serão apresentados entre terça e quinta-feira: na primeira reportagem há uma apresentação geral de como se deu o projeto e do envolvimento da comunidade em todas as suas etapas; na segunda, o foco é a apresentação da floresta, suas matas e nascentes e, por fim, a fauna ganha destaque, reforçando-se a importância da correlação desta com a conservação.


Acompanhe pelo calendário

Terça-feira (28/09) – UFSC e comunidade de São Francisco do Sul sugerem criação de Refúgio de Vida Silvestre no Distrito do Saí

Quarta-feira (29/09) – Água abundante e floresta regenerada serão preservadas com criação de Refúgio da Vida Silvestre em São Chico

Quinta-feira (30/09) – Uma ave inédita e muita riqueza: conheça a fauna do Distrito do Saí que deve ser protegida por Refúgio da Vida Silvestre


Mais sobre o Projeto Nascentes do Saí:

Textos: Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC
Artes: Coordenadoria de Design e Programação Visual / Agecom
Fotos: Acervo do Projeto Nascentes do Saí

Tags: BiodiversidadeconservaçãoDistrito do SaíecologiaMata AtlânticaNascentes do SaíProjeto Nascentes do Saí

Departamento de Licitações inova no pregão para serviços de limpeza e conservação

07/11/2018 15:57

Com uma proposta diferenciada, o Departamento de Licitações (DPL/UFSC) consolidou no último dia 29 de outubro a homologação do pregão nº 419/2018, cujo objeto se destaca por ser um dos serviços mais essenciais para a instituição, a limpeza e conservação de suas dependências.
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Biblioteca Universitária promove palestra ‘Conservação de acervo pessoal – suporte papel’

18/10/2017 17:09

A Biblioteca Universitária (BU) da UFSC promove a palestra “Conservação de acervo pessoal – suporte papel”, com o objetivo de despertar os cuidados necessários para a conservação de acervos pessoais em suporte papel, prolongando a sua vida útil dentro de possibilidades domésticas. A atividade será ministrada por Giliard de Souza, estudante de Museologia e conservador-restaurador de bens culturais com ênfase em suporte papel.

A palestra ocorrerá Auditório Elke Hering da BU, em dois dias: na segunda-feira, 23 de outubro, das 20h às 21h30, e na quarta-feira, 25 de outubro, das 9h às 10h30.  Os participantes receberão certificados.

Mais informações na página da BU ou pelo telefone (48) 3721-2465.

Tags: acervoBiblioteca UniversitáriaBUconservaçãopalestraUFSC

Pesquisa da Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais ganha Prêmio Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina

03/12/2010 10:56

Agricultores do oeste catarinense estão perdendo o conhecimento tradicional sobre as espécies nativas da região. Esse é um dos alertas de uma pesquisa que será reconhecida na próxima terça-feira, 7 de dezembro, com o Prêmio Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina, promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

O estudo foi desenvolvido por Elaine Zuchiwschi durante seu mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais da UFSC. Elaine é a vencedora na categoria Roberto Miguel Klein, como estudante de pós-graduação, e receberá o prêmio na abertura do I Seminário de Valorização da Biodiversidade Vegetal de Santa Catarina. O encontro inicia nesta terça-feira, 7 de dezembro, às 9h, no auditório da Epagri.

No trabalho Elaine avaliou o conhecimento e o uso efetivo, atual e passado de espécies vegetais das florestas Estacional Decidual e Ombrófila Mista por agricultores familiares da região Oeste de Santa Catarina. Com a participação de 42 produtores rurais da cidade de  Anchieta, o estudo levantou o conhecimento e o uso de plantas nativas da região. Além de realizar entrevistas, Elaine foi a campo com os agricultores, identificando espécies e seus usos.

A pesquisadora percebeu que os participantes acima de 40 anos têm um maior conhecimento das espécies do que os mais jovens. “Os dados sugerem que existe um processo gradual de perda das condições de transmissão do conhecimento tradicional, com risco de erosão do conhecimento acumulado”, chama atenção Elaine. Segundo ela, esse cenário está relacionado ao abandono do uso das espécies nativas. As causas são os custos elevados e a burocracia para utilização legal da vegetação.

Legislação em Santa Catarina
Para retirar 20 árvores nativas da floresta, ou 15m³ de galhada de árvore para obter lenha, o agricultor catarinense com até 30 hectares de terra precisa apresentar, entre outros documentos, um projeto elaborado por um técnico, uma averbação de Reserva Legal na escritura do imóvel e uma planta topográfica que mostre a localização desse imóvel. O estudo premiado ressalta que estas obrigações fazem com que as comunidades substituam o uso de árvores nativas pelo plantio e utilização de espécies florestais exóticas.

O trabalho de Elaine reforça o que outras pesquisas sobre as florestais secundárias no estado já haviam diagnosticado: a limitação ao uso e manejo dos recursos naturais como estratégia para a preservação ambiental tem resultados contrários ao pretendido. Isso porque a restrição passa a ser vista como inconveniente pelos agricultores, comprometendo a transmissão oral dos conhecimentos sobre as espécies.

Consequências
O uso da madeira em construção e de lenha como combustível são as atividades mais atingidas com a redução do uso das 132 espécies nativas identificadas na região. Entre os agricultores entrevistados, apenas sete utilizam madeiras de espécies nativas em construções e 21 deles estão substituindo estas plantas por exóticas. “O resultado contrário à preservação é visível nesses casos. As árvores exóticas são plantadas em áreas abandonadas de agricultura para evitar a regeneração da floresta nativa, que traz aos agricultores restrições para o futuro uso da terra e dos recursos”, descreve a pesquisadora em relatos de seu estudo.

Segundo ela, os entrevistados continuam usando plantas nativas para lenha, ainda que a variedade dessas espécies seja menor. Em Anchieta, o fogão a base de lenha é usado por 92% dos entrevistados, que empregam nele madeira nativa.

Para que o conhecimento e o uso das espécies tradicionais da região não se percam, Eliane sugere uma revisão das políticas ambientais, para simplificar o acesso legalizado às espécies nativas mais utilizadas no dia a dia dos agricultores. Recomenda também o desenvolvimento de estratégias de conservação e uso das florestas a partir da união entre conhecimento científico, tradicional e local. “O envolvimento das comunidades rurais é fundamental nas etapas de planejamento e implementação dos projetos”, salienta a pesquisadora, engenheira da Fundação do Meio Ambiente (Fatma).

Mais informações sobre o trabalho com Elaine Zuchiwschi, telefone (48) 3232-5450 / (48) 3232-4067, e-mail: elainez@fatma.sc.gov.br

Por  Claudia Mebs Nunes / Bolsista de Jornalismo na Agecom

Saiba Mais:

– O trabalho premiado tem como título ´Limitações ao uso de espécies Florestais nativas pode contribuir com a erosão do conhecimento ecológico tradicional e local de agricultores familiares`.

– Resultado do mestrado desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em recursos Genéticos Vetais, o artigo foi publicado na revista científica Acta Botanica Brasilica, editada pela Sociedade Botânica do Brasil

– Tem como co-autores os professores do Centro de Ciências Agrárias da UFSC Alfredo Celso Fantini, Antônio Carlos Alves e Nivaldo Peroni, que orientaram o estudo

– Outras premiações na UFSC: Arley Reis (categoria Roberto Miguel Klein – jornalista), Karine Louise dos Santos (Categoria Roberto M. Klein – pesquisadora)

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