Especial Jogos Educacionais: Vencer de maneira sustentável

21/09/2012 07:27

As ciências podem ser das mais variadas – humanas, exatas, da saúde – mas os professores em sala de aula têm a mesma preocupação: atrair a atenção e facilitar o entendimento dos conteúdos ministrados. Para isso, muitos deles se desdobram lançando mão da criatividade e, não raro, buscam no lúdico a alternativa para estimular a imaginação dos estudantes e auxiliar na fixação das matérias. A UFSC tem desenvolvido pesquisas sobre jogos educacionais e o Jornal Universitário n°429 trouxe algumas das tantas iniciativas desenvolvidas por seus professores e estudantes. As cinco matérias resumidas no JU estão sendo publicadas na íntegra no site da UFSC durante esta semana.

 

Vencer de maneira sustentável

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O professor Dalvio mantém ranking dos alunos que alcançam a maior pontuação nos jogos

Passar o semestre gerenciando uma fábrica com o objetivo de obter o maior lucro é o principal desafio dos alunos da disciplina Planejamento e Controle da Produção. O professor do Departamento de Engenharia de Produção Dalvio Ferrari Tubino vem buscando, em seus 30 anos de UFSC, maneiras de fazer com que os conteúdos se tornem mais atrativos e facilmente entendidos. Para a disciplina, ele criou um jogo que simula os softwares utilizados em fábricas para administrar materiais que entram e saem, maquinários, fornecedores e mais 14 itens que também figuram no dia a dia do profissional. “Os programas de mercado incluem até 20 mil itens, e o meu, por ter apenas 17, é mais espaçoso e amigável”, destaca.

O apelo do programa – que o professor prefere chamar de simulação empresarial ou mesmo jogo de empresa – não está no layout, e sim nas atividades que os estudantes precisam desenvolver. Durante o semestre, cada um deve completar três jogos, sempre com tarefas realizadas dentro da mesma fábrica virtual. “Os dados de entrada são diferentes para cada estudante. Eles utilizam as aulas para tirar dúvidas e fazem a simulação em casa. A forma que utilizo para avaliá-los é o lucro que geram ao fim da disciplina”, esclarece o professor.

A pedagogia adotada por Dalvio não se resume aos jogos; se o objetivo é fazer com que o aluno entenda porque aperta determinado botão e o que acontece na sequência, o aprendizado começa na teoria, tendo como base o livro “Planejamento e Controle de Produção – Teoria e Prática” de autoria do próprio professor. A obra, que vende dois mil exemplares por ano e é aplicada também em outras universidades em todo o Brasil, traz o jogo como a parte prática do conhecimento.

O game foi feito inicialmente em Excel e hoje está disponível em Access, na página do Laboratório de Simulação de Sistemas de Produção (do qual o professor é coordenador), junto com o ranking dos estudantes que já alcançaram a maior pontuação desde 2008. Para figurar entre os melhores – e também para passar na disciplina – o aluno deve sim gerar lucro em sua fábrica, mas de forma sustentável. “Já tive quem vendesse todo o maquinário ao final. Para o resultado ser validado, é necessário ‘entregar a fábrica’ em condições de funcionamento”, explica Dalvio, já no início das aulas.

Podem participar do ranking alunos de qualquer universidade. E a lista dos melhores pontuados, que não dá direito a prêmio de qualquer espécie, já tentou ser fraudada. “Recebi o jogo de um aluno de outro estado, e depois me contataram dizendo que o resultado não foi obtido individualmente”, relembra.

Dalvio entende que com o auxílio do simulador os alunos têm a possibilidade de despertar outras percepções, que também contribuem para a assimilação do conteúdo. “Durante os jogos as pessoas revelam facetas de seu caráter que normalmente não exibem por recear sanções. Devido ao ambiente permissivo, as vivências são espontâneas e surgem comportamentos assertivos e não assertivos, trabalhados por meio de análise posterior ao jogo. As conclusões servem de base para reformulações ou reforço de atitudes e comportamentos”.

O professor ensina que, ao se pensar na confecção dos jogos, deve-se atentar a duas perguntas: “quais habilidades serão exploradas?” e “quais decisões serão tomadas?”. E é fundamental que se apresente uma complexidade equilibrada, a fim de evitar “por um lado, a perda da motivação ao se deparar com algo muito simples, com procedimentos óbvios, e por outro, um jogo muito complexo, de difícil entendimento, com número excessivo de variáveis, o que também leva a essa perda”.

O simulador concebido por Dalvio pode servir também para os engenheiros profissionais reavaliarem as decisões que estão tomando em seu cotidiano.  O professor, porém, ressalta que, apesar de se reproduzir o dia a dia encontrado nas fábricas, o jogo “sempre será uma grosseira simplificação da realidade”. E completa: “não existem evidências de que um bom jogador seja um bom administrador e vice-versa”.

Mais informações com o professor Dalvio: dtubino@uol.com.br e www.deps.ufsc.br/lssp.

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Por Cláudia Schaun Reis / Jornalista da Agecom
Infográfico: Marcella Rojas Barbosa / Estagiária da Agecom

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