Publicação na Revista Science defende a restauração da biodiversidade no mundo. (Imagem: Divulgação)
A professora Michele de Sá Dechoum, do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da UFSC é coautora de uma carta publicada nesta quinta-feira, 25 de janeiro, na Revista Science. A carta, publicada na seção Letters, é assinada por pesquisadores do Centro de Conhecimento em Biodiversidade, um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) baseado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que chamam a atenção para a necessidade de uma restauração heterogênea.
Embasados por pesquisas recentes, os autores defendem que a restauração precisa considerar as características de cada área a ser restaurada e priorizar uma maior diversidade de espécies de plantas. Os cientistas ressaltam a importância de criar cadeias de produção de sementes, assim como conhecimento científico sólido sobre as espécies que compõem cada um dos ecossistemas que formam nossos campos e florestas.
A seção Letters da Revista Science reúne textos de cientistas, com o objetivo de promover debates sobre assuntos que estão sendo pesquisados na atualidade. Os textos não são editados, revisados ou indexados pela Revista, porém devem fornecer comentários com referências acadêmicas relevantes sobre o artigo em discussão.
“Nosso futuro depende da restauração de áreas naturais em escala global,” salienta a professora Michele. Ela frisa que estamos na Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030), assim denominada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ela, diversos países se comprometeram a restaurar uma área de cerca de 1 bilhão de hectares, o que equivale ao tamanho do Canadá.
Conceito recente
O conceito de restauração ecológica ainda é muito recente, conforme explicam os pesquisadores no artigo publicado pela Revista Science. “Antes da década de 1980 pouco ou nada se falava a respeito. Com isso, ainda existem grandes lacunas de conhecimento sobre como restaurar áreas com tamanha biodiversidade, como é o caso do Cerrado, dos campos e florestas tropicais”, ressaltam.
A carta alerta, ainda, para a necessidade de restauração com maior diversidade, não apenas o “esverdeamento de uma área”. Segundo os pesquisadores, no Brasil atualmente há a perda de ecossistemas com a adoção de projetos de restauração utilizando um padrão com pouca diversidade de espécies. Com isso, não há a reprodução de condições próximas das que existiam nessas áreas antes da degradação, tornando homogêneas regiões que antes eram biodiversas.
“As espécies escolhidas para restaurar costumam ser aquelas que germinam rápido, contribuem para a fertilidade do solo e, sobretudo, estão disponíveis em viveiros e supermercados. Como resultado, estamos de fato criando ecossistemas homogêneos e com baixa diversidade, o que compromete a produção de serviços ecossistêmicos importantes, como água, polinização, etc.”, reforçam.
Ecossistemas de referência
Uma das estratégias apontadas pelos pesquisadores são os “ecossistemas de referência”, que consistem em áreas nativas, próximas aos locais que se pretende restaurar, que podem fornecer informações importantes para guiar a restauração das áreas degradadas. Quando restauradas corretamente, essas áreas contribuem mais rapidamente e eficientemente para a conectividade entre os ecossistemas. “Elas funcionam como espelhos para guiar todo o processo e, ainda, fornecem sementes, polinizadores e dispersores de sementes durante a restauração”, defendem.
“Somente a restauração com espécies nativas pode promover mais rapidamente a conectividade do ambiente e promover a correta recomposição de nascentes, espécies de animais e plantas e os benefícios que os ecossistemas podem fornecer para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável”, concluem.
Acesse a publicação completa na Revista Science.