Sérgio Rezende na UFSC: incrementar citações e formar mais engenheiros são desafios para o Brasil

“O decréscimo do número de formados nos cursos de Engenharia é preocupante para o desenvolvimento baseado no conhecimento”. Fotos: Wagner Behr / Agecom
No Brasil a atividade científica teve um começo tardio. Entre as primeiras instituições estão o Observatório Nacional e o Instituto Nacional de Tecnologia, implantados na década de 1920. Somente em 1934 surgiu a primeira instituição de ensino superior brasileira, a Universidade São Paulo – 300 anos depois de Harvard, fundada nos Estados Unidos. Na década de 1950 o país ainda tinha um parque industrial incipiente, era uma nação com poucos cientistas e pesquisadores, não havia um ambiente de pesquisa nas universidades ou preocupação com a inovação nas empresas.
Com estes e muitos outros dados o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, ministrou no dia 7 de março na UFSC a palestra “Ciência e Tecnologia no Brasil: nunca é tarde demais para começar”. Rezende foi um dos convidados do encontro “Desafios e Oportunidades para a Pós-Graduação em Engenharia”, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFSC.
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1977, presidente da Finep entre 2003 e 2005, professor de Física da Universidade Federal de Pernambuco, Rezende agradeceu o convite para falar aos integrantes da Pós-Graduação em Mecânica da UFSC, programa que, ressaltou, é referência no país. “Muitos estudantes não têm essa imagem, mas há 40 anos a ciência no país era quase nada. Foi um desenvolvimento muito rápido”, lembrou o ex-ministro, ressaltando que falar de ciência e tecnologia é falar de riqueza.
Seu panorama ilustrou o início tardio do Brasil no desenvolvimento da C&T, mostrou avanços recentes, oportunidades e desafios nesse campo. Rezende salientou que há uma relação direta entre PIB per capta e investimentos em ciência e tecnologia. Em países como Estados Unidos e Japão, exemplificou, a divisão entre PIB e habitantes resulta em 30 a 40 mil dólares por ano – e 70% dessa riqueza é gerada na economia do conhecimento.
A Coreia, país que tem 3% da área do Brasil, equivalente ao tamanho do estado de Pernambuco, foi citada como um exemplo positivo de determinação no campo da ciência e tecnologia. Na década de 1940 esse país adotou políticas de C&T e indústria articuladas. Na década de 1990 já tinha um sistema de inovação imbricado com o setor produtivo, marcas reconhecidas em produtos eletrônicos, automóveis, navios.
Sérgio Rezende avaliou que apesar de um início difícil e tardio, o Brasil também acumula avanços em sua caminhada científica. A criação do CNPq e da Capes, na década de 1950, são fatos marcantes. A partir de 1962 o país criou um fundo para apoio aos primeiros programas de pós-graduação modernos e em 1968 a Reforma Universitária possibilitou o tempo integral para professores, consolidando a institucionalização da pós-graduação. Na década de 1970, Rezende destacou a implantação do FNDTC, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Atualmente o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia conta com 235 universidades, 77 mil doutores nas universidades, 8 mil doutores em outros centros de pesquisa e desenvolvimento (esse um dado que, destacou Rezende, deve ser alterado para que o país tenha maior presença da pesquisa no setor industrial).
Entre quase dois mil programas de pós-graduação, 320 são classificados com os conceitos 6 e 7, que representam excelência e nível internacional – como é o caso do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFSC, destacou Sérgio Rezende. Há, no entanto, muitos desafios, como o pequeno número de pesquisadores (são 0,8 por mil habitantes) e o gargalo no setor industrial. “Em um quadro de 70 mil empresas, apenas duas mil têm com atividade de inovação.
“Esse cenário não ocorre em países desenvolvidos, onde muitos doutores atuam nas empresas e não nas universidades”, salientou. Petrobras, Embraer, Embrapa e Embraco foram também citadas por Rezende como exemplos. “A Embraco tem 15 laboratórios e uma história de 28 anos de parceria ininterrupta com a UFSC, onde também participa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Refrigeração e Termofísica”, disse mais uma vez reportando-se à Universidade Federal de Santa Catarina.
Sérgio Rezende destacou que no período de 2003 a 2006 o Brasil adotou uma política de ciência e tecnologia integrada à política industrial e considerou que nas últimas décadas houve um notável avanço orçamentário e do ambiente de inovação. Ressaltou a importância do investimento no programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e da Lei da Inovação.“Nas últimas semanas tivemos a notícia do corte no orçamento para ciência e tecnologia, mas espero que possamos superar esse corte”, disse o ex-ministro.
Outro desafio a ser vencido é o decréscimo do número de formados nos cursos de Engenharia, preocupante para o desenvolvimento baseado no conhecimento. E, alertou, ainda que o país ocupe o 13º lugar no mundo em número de publicações científicas, com 40 mil artigos (Estados Unidos lideram o ranking com 435 mil artigos científicos, seguido da China, com 306 mil), somente 40% dos trabalhos brasileiros têm citação (são mencionados em outros artigos ). “O Brasil precisa de um esforço para melhorar a qualidade de sua produção e dar a devida divulgação à pesquisa. O sistema arrisca pouco. Para de fato contribuirmos com a produção do conhecimento precisamos assumir problemas mais complexos”, avaliou Sérgio Rezende.
O encontro organizado pela Pós-Graduação em Engenharia Mecânica foi prestigiado por professores e estudantes do Centro Tecnológico da UFSC e também de outras unidades de ensino. A agenda iniciou com apresentação do programa pelo coordenador, o professor Júlio César Passos, e seguiu com palestras de Sérgio Rezende, do diretor-presidente da Refinaria Abreu e Lima S.A. da Petrobras, Marcelino Guedes Gomes (que falou sobre os desafios do profissional global) e do reitor da UFSC, professor Alvaro Toubes Prata (que abordou o desafio de internacionalização das universidades brasileiras).
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
Mais informações: posmec.ufsc.br/portal/(48) 3721 9277