Pesquisador defende que acesso aberto ao conhecimento científico depende de visão política
“Acesso aberto não é apenas reduzir preços. É um modelo mais equitativo de troca do conhecimento. É uma dimensão filosófica”, defendeu na UFSC na manhã dessa terça-feira, 5 de junho, o professor Leslie Chan, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Toronto (Canadá). Doutor em Antropologia, pioneiro no uso da web para troca de conhecimento e aprendizagem, Chan é um dos convidados do 3º Simpósio Brasileiro de Comunicação Científica, que prossegue até esta quarta-feira no auditório da Reitoria. O objetivo é debater a disponibilização livre, gratuita e sem barreiras ou restrições financeiras e técnicas à literatura científica, assim como a preservação digital do conhecimento científico.
Falando em favor da ciência global e pública, o professor lembrou que diversos desafios da humanidade não respeitam fronteiras e dependem da pesquisa colaborativa e em rede. “Como vamos reduzir a pobreza, combater doenças, se não temos acesso aberto?”, questionou, enfatizando que a questão da produção científica é tão importante como outras que desafiam a humanidade, como o acesso à água.
Citando diferentes iniciativas de acesso livre ao conhecimento científico, Chan considerou também desafios e dilemas, como a necessidade de mais educação e maior consciência sobre como trabalhar com um conceito que leva em conta a troca global de conhecimentos. Em uma visão de futuro, disse que o periódico científico nos modelos atuais deve se tornar obsoleto. Segundo ele, as discussões avançam, países da Europa, os Estados Unidos e entidades como a Unesco discutem diretrizes para o acesso livre ao conhecimento científico – assim como o Brasil, que, destacou o professor, tem papel importante nessa discussão, na produção e disponibilização de estudos em áreas estratégicas, como a biodiversidade.
“Anos atrás essa era uma discussão ridícula”, lembrou Chan, complementando que atualmente o debate está além da vida acadêmica, é divulgado pela mídia e chega ao público geral. Em sua opinião, a sociedade que paga impostos e tem seus recursos usados para a pesquisa deve também ter acesso aos resultados que são obtidos e publicados pela comunidade científica.
“A Wikipedia é um instrumento que nos ajuda a pensar como trabalhar com a sabedoria”, considera o professor. “Deveríamos tirar vantagens desses ambientes colaborativos”, ressaltou, abordando também a necessidade de reflexões sobre critérios de uso de conteúdo, de que a comunidade científica repense suas métricas (que envolvem critérios como o número de citações de um artigo por outros estudiosos) e até sobre o impacto que mídias sociais podem ter na divulgação da pesquisa. “Os fatores de impacto da ciência estão cada vez mais sendo desafiados. Precisamos abrir nossas cabeças para mudar métodos tradicionais”, continuou o palestrante.
O 3º Simpósio Brasileiro de Comunicação Científica é uma promoção é do Departamento de Ciência da Informação (CIN) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PGCIN) da UFSC. Na tarde desta terça-feira será realizada mesa-redonda com a participação do professor Leslie Chan e da professora Elena Maceviciute, que leciona na Universidade de Boras, Suécia, e na Universidade da Lituânia, e tem entre suas áreas de pesquisa bibliotecas digitais, preservação digital e gestão da informação. A partir de 17h está prevista conferência sobre a Revista Encontros Bibli, periódico digital do Departamento de Ciência da Informação da UFSC, e a partir de 18h participação da Associação Catarinense de Bibliotecários (ACB). Amanhã, a partir de 9h, o encontro segue com o debate sobre acesso livre à informação, contando com o professor Hélio Kuramoto (IBICT), Solange Maria dos Santos (SciELO) e Nelson Pretto (UFBA/SBPC). A tarde será dedica à apresentação de trabalhos, no auditório da Reitoria e no auditório Elke Hering, na Biblioteca Universitária.
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
Fotos: Dayane Ros / Bolsista de Jornalismo na Agecom
Mais informações:
– Departamento de Ciência da Informação: (48) 3721-9304
– Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação: (48) 3721-8516