Sábado marca 190 anos do nascimento de Fritz Müller
Nascido em uma pequena aldeia da Alemanha em 1822, aos 22 anos o jovem Johann Friedrich Theodor Müller obteve o título de Doutor em Filosofia pela Universidade de Berlim. Em 1849 concluiu o curso de Medicina na Universidade de Greifswald, mas não colou grau, por se negar a proferir as palavras cristãs contidas no juramento. Em 1852 emigrou com familiares para a recém-fundada Colônia de Blumenau, no Vale do Itajaí, e em 1856 partiu para Desterro (atual Florianópolis), naturalizando-se brasileiro para assumir cargo público de professor no Liceu Provincial (antigo Colégio Jesuíta, atualmente representado pelo Colégio Catarinense).
É nesse momento que inicia o período mais produtivo da obra científica de Fritz Müller. Em Desterro o naturalista tem seu reconhecimento internacional entre a comunidade científica. Ele mantém correspondência com eminências científicas da época, como Max Schultze, Herman von Ihering, August Weismann, Louis Agassiz, Ernst Haeckel e em especial com Charles Darwin (cuja extensa e contínua correspondência se estende por 17 anos, até a morte de Darwin). A história de Fritz Müller completa neste sábado, dia 31 de março, 190 anos, desde o nascimento na Alemanha.
“Este excepcional observador da natureza, que viveu em Santa Catarina por 45 anos, foi sem dúvida o mais importante naturalista do Brasil do século XIX. Deixou um legado naturalístico imenso que descreve a flora e fauna da região sul do Brasil. Identificou e descreveu com notável perfeição um número imenso de espécies animais (principalmente invertebrados) e de plantas do litoral catarinense e da Mata Atlantica, sempre enriquecendo suas descrições com magníficas ilustrações de incrível detalhamento”, descreve o site Fritz Müller, o príncipe dos observadores, que está sendo construído por um grupo de professores da UFSC envolvido com a divulgação da obra do naturalista.
O site organiza informações sobre a história, a vida, a obra, as principais homenagens póstumas e os escritos de Fritz Müller, cientista mundialmente conhecido pela concepção do fenômeno mimetismo mulleriano, estudado em todo o mundo.
Apoio a Darwin
Fritz Müller foi pioneiro ao publicar, em 1864, o primeiro livro no mundo em apoio à teoria evolutiva de Darwin, com provas factuais obtidas em estudos sobre crustáceos, realizados em Florianópolis. Este livro, que atuou decisivamente na consolidação da teoria da evolução das espécies proposta por Darwin, tornou-o mundialmente famoso e o levou a receber, em vida, duas vezes o título de Doutor Honoris Causa, emitido por universidades alemãs.
Diferentes datas têm sido aproveitadas para rememorar a vida e a trajetória do naturalista. Em 2009, ano do bicentenário do nascimento de Charles Darwin e dos 150 anos da publicação do seu revolucionário livro Origem das Espécies, a Universidade Federal de Santa Catarina reconheceu o valor da obra de Fritz Müller. Concedeu-lhe o título de Doutor Honoris Causa post-mortem, recebido pelo seu descendente Alberto Lindner, professor do Departamento de Ecologia e Zoologia.
Também em 2009 a Editora da UFSC lançou uma nova tradução do livro Para Darwin (Für Darwin, 1864), escrito por Fritz Müller. Elaborada por Luiz Roberto Fontes, médico legista e biólogo, e por Stefano Hagen, médico veterinário, biólogo e professor, a nova tradução se distingue das outras duas que a antecederam por usar como base a primeira edição do livro, em alemão. A publicação foi viabilizada com apoio financeiro da UFSC, Fapesc e Ministério da Ciência e Tecnologia.
De acordo com os autores, a tradução a partir da edição original recupera o estilo da escrita de Fritz Müller, além de alguns conceitos próprios do autor, que foram alterados na segunda edição.
“A tradução resgata para a memória da ciência brasileira o naturalista Fritz Müller, bastante esquecido no cenário científico nacional e mundial, mediante a publicação traduzida de seu único e importante livro, acrescida de resenhas de época, bem como de necrológios da época de sua morte”, explica Luiz Roberto Fontes. Segundo ele, a tradução integral do necrológio feito por Haeckel revela facetas do perfil psíquico desse controverso zoólogo alemão, por muitos considerado um falsário da ciência.
“Homenagear Fritz Muller no ano de 2012, quando completaria 190 anos de idade, representa resgatar para a memória nacional o nosso maior naturalista novecentista, brasileiro por opção e com grandes feitos para a história da ciência brasileira e mundial. Representa também homenagear o Estado de Santa Catarina, que em suas publicações tornou-se mundialmente conhecido, principalmente as localidades de Blumenau, Itajai e Desterro”, destaca Luiz Roberto Fontes.
Saiba Mais no site Fritz Müller, o príncipe dos observadores: http://fritzmuller.paginas.ufsc.br/
Mais informações na UFSC: Margherita Anna Barracco / barracco@mbox1.ufsc.br
Por Arley Reis / Jornalista da Agecom
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