O impacto das mudanças climáticas e a importância da realização de pesquisas sobre a temática na universidade foi o destaque da mesa de encerramento da 19ª Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação da UFSC, que tem programação prevista até 18h desta sexta-feira, 11 de novembro. Os professores Marina Hirota, do departamento de Física, Regina Rodrigues, do departamento de Oceanografia, e Lindberg Nascimento Junior, de Geociências, falaram sobre a ocorrência de eventos extremos no mundo e na região e os seus impactos ambientais e sociais. A atividade foi mediada pela professora Suzana de Fátima Alcântara, do departamento de Botânica.
A professora Regina Rodrigues, que participou da conferência do clima da Organização das Nações Unidas na última quarta-feira, explicou de forma didática como o sistema climático está num equilíbrio delicado por conta da alta emissão de gases do efeito estufa e do aumento de 1,1 grau na temperatura da Terra desde o período pré-industrial. Embora pareça um aumento leve, destaca a professora, ele é histórico por ter ocorrido num curto intervalo de tempo, gerando problemas de adaptação das espécies à vida na Terra.
Um dos exemplos trazidos pela professora diz respeito ao embranquecimento dos corais. O aumento na temperatura terrestre aumenta também a taxa de aquecimento e de calor marinhas, além de levar à acidificação do Oceano. Esse processo impacta todo o ecossistema e, no caso dos corais, se agrava por serem estes organismos que servem de habitat a outros. “Nossas pesquisas constatam um aumento generalizado nas ondas de calor no Atlântico, um aumento também na acidificação e um stress na biodiversidade marinha”, explica. A previsão é de que, caso não haja soluções e medidas eficientes para frear o problema, a temperatura se eleve em cinco graus em um curto período de tempo. “É preciso pensar em políticas públicas de emissão líquida zero em 2050”, afirma, ressaltando que os países mais pobres são os que menos causam o aquecimento e mais sofrem com seus impactos.
O professor Lindberg Nascimento também trouxe a justiça climática e a qualidade ambiental como conceitos convergentes aos debates. Ao falar sobre a já conhecida distribuição de chuvas na região sul e fenômenos específicos dos extremos climáticos em Florianópolis, lembrou que é preciso superar os sentidos das alterações como excepcionalidade ou danação e tratá-los como “questão de qualidade ambiental e justiça climática”.
Nascimento apresentou imagens de distribuição de chuvas em um cenário que já é bem demarcado pela ciência há pelo menos 50 anos. “Nossa região é consequência do encontro de uma série de processos atmosféricos, com a umidade tendo uma participação na formação dessas paisagens”. Até mesmo a Amazônia tem impacto no clima que se apresenta localmente. Segundo ele, sabe-se que a maior parte das tempestades de Florianópolis vêm do Oeste, com vento altamente úmido. Ele também comenta que, apesar da variação na temperatura local ser considerada leve, os impactos nos organismos podem ser decisivos.
Os pontos de não retorno e os distúrbios, impactos e resiliências dos ecossistemas amazônicos foram abordados na fala da professora Marina Hirota, que falou em efeito dominó e efeito cascata que já são sentidos em áreas de floresta e savanas, comprometendo também uma série de espécies vegetais. Ela lembrou o papel central que a Amazônia têm no clima global, ressaltando que os desmatamentos, incêndios e mudanças no uso da terra geram impactos no ciclo hidrológico que agravam os processos.
“Está identificado que o clima tem mudado dentro dos limites da Amazônia, com os extremos de seca e de chuva aumentando. Mas qual o impacto disso?”, questiona. Uma das consequências é, por exemplo, o atraso em pelo menos 15 dias no início da estação chuvosa. “O aumento da intensidade da estação seca produz impactos no funcionamento da vegetação, por exemplo”, alertou.
A Sepex, que começou na segunda-feira, termina no fim da tarde desta sexta-feira. Ao longo dos últimos dias, a comunidade pode participar de minicursos, Feiras de Ciência, palestras e atividades culturais. Foi a primeira vez que o evento ocorreu presencialmente após a pandemia de Covid-19.
Mais informações no site da Sepex.
Fotos: Rafaella Whitaker/Agecom/UFSC