Exposição do laboratório Quimidex traz curiosidades sobre o mundo das fragrâncias
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Material de trabalho de um perfumista. Foto: Crizan Izauro.
Letra imortalizada pelo grupo de axé É O Tchan, a famosa “mistura do Brasil com Egito”, se resultasse em um insumo, não seria outro senão o perfume. Isso porque Cleópatra e a população brasileira compartilham da mesma paixão. O apreço por aromas tornou o país o segundo maior mercado consumidor de fragrâncias, atrás apenas dos Estados Unidos, conforme divulgado pela empresa de consultoria Euromonitor International. Já a rainha, conhecida pelo fascínio por essências aromáticas, elegeu o perfume mendesiano como um de seus preferidos – o nome remete à cidade de Mendes, no Antigo Egito.
Mais de 3 mil anos depois, cientistas alemães recriaram e divulgaram os ingredientes da loção de Cleópatra. Composta por canela, óleo de balanos, resinas e mirra, a fórmula também foi replicada pela equipe do laboratório Quimidex, grupo de extensão e pesquisa vinculado ao Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O perfume da rainha do Egito é apenas uma das curiosidades que você pode conhecer (e sentir!) na exposição permanente “A química dos perfumes”, localizada no térreo do bloco Espaço Físico Integrado (EFI) e aberta à comunidade acadêmica e geral. Na visita interativa, integrantes do laboratório explicam desde a história das fragrâncias até processos químicos que levam à extração de óleos essenciais. E prepare-se para sair de lá com o olfato aguçado: visitantes são convidados a experimentar os diversos odores que compõem as famílias aromáticas.
Para agendar a sua visita, entre em contato com o Quimidex pelo e-mail quimidex.visitas@gmail.com ou no telefone (48) 3271-4460. O laboratório também oferta oficinas temporárias sobre tingimento, história do fogo e ensino de química, entre outros temas. Mais informações no site.
A seguir, você conhece um pouco sobre os cinco módulos da exposição.
De Cleópatra a inteligência artificial
Com origem no latim, a palavra perfume significa fumaça e está associada à descoberta do fogo, quando deuses eram homenageados através da queima de vegetais perfumados. No entanto, os aromas não ficaram restritos aos rituais religiosos. Já no Egito, há cerca de 3 mil anos antes de Cristo, fragrâncias se popularizaram para uso pessoal na forma de águas perfumadas, óleos essenciais e incensos.
Aperfeiçoada por novas técnicas de extração desde os gregos, a arte da perfumaria chega aos dias atuais contando até mesmo com o uso de inteligência artificial. “Empresas têm usado essa ferramenta para encontrar tendências e novas combinações de notas que perfumistas às vezes não pensam”, explica Anelise Regiani, professora do curso de Química da UFSC e uma das coordenadoras do Quimidex. Mas, embora seja de uso constante nas casas de perfumaria, a inteligência artificial não substitui o trabalho humano. “No final, tudo passa pelo nariz do perfumista”.
Paixão nacional
O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de perfumes em termos de valores monetários, afirma Regiani. “Mas quem é da área acredita que, em termos de unidade comercializada, a gente bate o primeiro lugar”. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, o setor movimentou US$ 1,5 bilhão em 2022, com alta nas importações e exportações.
Diversidade de fragrâncias brasileiras são reflexo de um mercado em expansão. Foto: Dairan Paul
É a formação cultural do país que explica tamanha paixão pelos aromas. O hábito do banho, por exemplo, é uma herança dos povos originários indígenas, detentores de amplo conhecimento sobre o uso de ervas na higiene pessoal. Já a cultura africana advinda dos negros escravizados utilizava plantas aromáticas em ritos religiosos, com fins de purificação e cura de doenças.
Desse cruzamento histórico resulta o fascínio brasileiro por borrifar o corpo, a roupa e a casa com os mais diversos aromas. “Gostamos de pôr perfume em tudo, até no inseticida”, ri a coordenadora do Quimidex. O costume mantém pujante a indústria, já que 90% dos consumidores brasileiros compram perfumes nacionais, indica o Sebrae.
Quem se aventurar pela exposição do Quimidex também poderá sentir o cheiro de diferentes matérias-primas da Amazônia. Que tal provar a fragrância amadeirada da priprioca? O adocicado do cumaru, conhecida como a baunilha brasileira? Ou então o óleo essencial de pau-rosa, que serve de ingrediente para o famoso perfume francês Chanel Nº 5?
Cheiro de vó
Além de conhecer a história do perfume no Brasil, visitantes serão apresentados a fragrâncias internacionais e vão ter uma prova das notas que compõem nossas famílias olfativas – como a cítrica e a floral. Também entenderão de que forma a gordura pode ser utilizada para extrair os óleos essenciais de pétalas de rosa, a partir da técnica de enfleurage.
Outro módulo dedica-se a explicar os processos bioquímicos do olfato. Quem nunca ouviu que certos odores têm “cheiro de vó”? Alguns aromas trazem lembranças de pessoas ou lugares por conta da memória olfativa, resultado da poderosa conexão entre cérebro e olfato.
Sobre o Quimidex
A equipe do Quimidex está pronta para receber visitantes e contar a história dos perfumes. Foto: Crizan Izauro.
Em atividade há mais de 20 anos, o Quimidex atua como um laboratório de divulgação científica. Alunos de graduação do curso de Química da UFSC, entre bolsistas e voluntários, são responsáveis por conduzir visitantes durante a exposição “A química dos perfumes”. O projeto também oferece oficinas e exposições temporárias, todas abertas a qualquer pessoa interessada, com visitas agendadas.
Contato:
Universidade Federal de Santa Catarina,
Espaço Físico Integrado,
Trindade, Florianópolis, SC, CEP 88040-900.
quimidex.visitas@gmail.com
Tel: (48) 3271-4460
Dairan Paul | Estagiário de jornalismo / Núcleo de Apoio à Divulgação Científica
Edição: Denise Becker / Núcleo de Apoio à Divulgação Científica