As más condutas na publicação de pesquisas científicas – principalmente plágio, manipulação e falsificação de resultados – são também mau uso de recursos públicos, e, ao colocarem em questão a veracidade do processo, corroem também a base da atividade, alerta o professor Ronaldo Aloise Pilli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Uma das razões para esse tipo de comportamento, diz, é a necessidade de que os pesquisadores apresentem – a fim de obterem vantagens em contratações, efetivações, promoções, financiamentos ou prestígio pessoal – uma quantidade volumosa de publicações. “Para solucionar isso, e não é fácil, a gente tem que criar a cultura de valorizar a qualidade, não a quantidade. As agências norte-americanas não pedem seu currículo, pedem para conhecer suas cinco publicações mais importantes. É isso que vale”, observa.
Pilli falou do assunto durante sua palestra “Integridade Científica: fraudes, plágios e manipulação de resultados”, na quarta-feira, 17 de junho, parte da IV Semana da Pós-Graduação em Química da UFSC. Além da destinação incorreta de verbas públicas – uma vez que elas são a principal fonte de recursos para a pesquisa científica –, ele alerta que a disseminação da prática de fraudes pode pôr em risco a credibilidade de toda a pesquisa dos últimos vinte anos, com graves prejuízos ao conhecimento. “Erros acontecem, é normal. A má conduta se estabelece quando há a intencionalidade de fraudar, a intenção deliberada de enganar a comunidade científica”, diferencia. Ele cita também os créditos de autor concedidos a quem não participou de fato do trabalho; como resultado, multiplica-se o número de artigos atribuídos a cada um. Pilli explica que é comum isso ocorrer como troca de favores, e cita, também como conduta inadequada, a fragmentação excessiva de um trabalho, para dividi-lo em vários outros e fazê-lo render mais publicações.
Além da mercantilização das editoras especializadas em publicações científicas e da própria atividade, o professor acredita que a ausência de padrões de ética também é responsável pelas fraudes que acabam atentando contra a credibilidade da própria pesquisa. É fundamental, defende, que os orientadores deem o bom exemplo. “Esse tipo de coisa deve ser conversado desde a graduação. Colar em provas, por exemplo, é plágio, falsidade ideológica; não é uma coisa inocente. Em algumas universidades estrangeiras, o aluno pode ser expulso, dependendo do código de conduta da instituição”, ressalta.
Pilli também relatou casos de fraude que ficaram famosos na comunidade científica, e observou que, habitualmente, a punição para o aluno é maior que para o orientador – quando essas ocorrências são comprovadas.
A pesquisa na UFSC

Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC
Na mesma tarde, o professor Jamil Assreuy, pró-reitor de Pesquisa da UFSC, proferiu a palestra “Iniciação científica e fazer Ciência”, para estudantes que fazem parte de programas de iniciação científica. “Estou na função de pró-reitor, mas o que eu faço, gosto de fazer e me divirto fazendo, como vocês, é pesquisa”, explicou, logo no início. Também falou dos diferentes programas, mostrou números e estatísticas da pesquisa na UFSC, e explicou os fatores de proteção criados pela Universidade para os pesquisadores jovens e para os campi de fora de Florianópolis.
Fábio Bianchini/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC
Revisão: Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC
Fotografia: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC