
Obra reúne “pipocas” que Drummond publicava no Jornal do Brasil com ilustrações de Ziraldo. Foto: Isabela Freire Braga
Para comemorar os 90 anos do cartunista, chargista e escritor Ziraldo, a Edições Filmes de Minas, de Tarcísio Vidigal, produtor de Menino maluquinho: o filme (dirigido por Helvécio Ratton, 1995), acaba de reeditar em versão comemorativa o livro O pipoqueiro da esquina, uma parceria entre Carlos Drummond de Andrade e Ziraldo, originalmente lançado em 1981. O livro reúne frases (chamadas de “pipocas”) que Drummond publicava em sua coluna de crônicas no Jornal do Brasil, aqui especialmente ilustradas por Ziraldo. “Eu descobri que as pipocas de Drummond são charges em estado de dicionário”, disse à época o chargista.
A participação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) nesse livro comemorativo entra por meio de pesquisa realizada pela professora Valentina da Silva Nunes para o mestrado em Literatura Brasileira. Hoje, ela é doutora em Literatura também pela UFSC e coordenadora do curso de Jornalismo da universidade. Sua dissertação, intitulada A produção jornalística de Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil (1969-1984), produziu uma catalogação das cerca de 2.300 crônicas que Drummond escreveu para o jornal carioca. O cronista mantinha coluna fixa no “Caderno B”, em que publicava seus textos três vezes por semana, ao longo dos últimos 15 anos de sua produção em jornais, que se estendeu por mais de seis décadas.
Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) durante o mestrado, Valentina defendeu sua dissertação em 1995. Um exemplar do trabalho foi doado à Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, instituição que reúne acervo de vários escritores brasileiros, entre eles o de Drummond. Foi lá que a equipe da Edições Filmes de Minas teve acesso ao estudo.
“Durante minha pesquisa, viajei ao Rio e pude consultar os originais de Drummond na Casa de Rui Barbosa. Era antes da internet, tudo precisava ser feito in loco. Na época, fiquei encantada de ver as anotações que ele fazia nas próprias crônicas que recortava dos jornais e arquivava. Havia observações e correções de próprio punho.” Valentina também realizou pesquisas no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo (USP), onde há material doado à instituição por sua orientadora, a professora Rita de Cássia Barbosa, hoje aposentada da UFSC, que conheceu o escritor pessoalmente. A tese de doutorado dela foi defendida na USP, também sobre as crônicas de Drummond, mas anteriores a 1969.
A dissertação de mestrado de Valentina, disponível no repositório da UFSC, identifica datas e títulos do textos, faz descrição de conteúdo e da apresentação deles na página do jornal e ainda indica quais foram para os livros que Drummond publicou posteriormente. Cabe lembrar que todos os livros de prosa de Drummond são oriundos de crônicas publicadas primeiramente em jornais – daí ele ter repetido em várias entrevistas que era “mais jornalista do que poeta”.
Na reedição comemorativa de O pipoqueiro da esquina, de 240 páginas, livro de capa dura em formato conhecido por coffee book (cerca de 28 x 28 cm), na parte dos agradecimentos, lê-se: “[à] Profa. Dra. Valentina da Silva Nunes, pelas informações fundamentais contidas na dissertação de mestrado (UFSC, 1995)”. No expediente do livro, um exemplo de como a pesquisa foi útil está na lista indicando em que dia e seção do Jornal do Brasil foram originalmente publicadas as “pipocas” de Drummond ilustradas por Ziraldo usadas na obra. O livro traz ainda textos de Drummond e Ziraldo falando da parceria, fotos dos dois, dedicatórias e fac-símile de cartas de um para outro, um ensaio de Eucanaã Ferraz e um texto de Millor Fernandes, além de fac-símile com anotações da obra original de 1981.
Fotos: Isabela Freire Braga