Bosque do CFH, em Florianópolis, é um dos lugares da Universidade onde haverá remoção de árvores exóticas e plantio de árvores nativas. (Foto: Jair Quint/Agecom/UFSC)
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) irá substituir a partir de fevereiro árvores exóticas não-nativas (eucaliptos, casuarinas e pinheiros) de três locais do campus de Florianópolis: no Bosque do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), na Fazenda Experimental da Ressacada e na Estação de Maricultura Elpídio Beltrame, na Barra da Lagoa. Entre os motivos estão questões ambientais, de segurança e o cumprimento da Lei Municipal n° 9.097/2012, que determina a remoção e a substituição de árvores exóticas por espécies nativas até 2022. Nas áreas de retirada das árvores será realizado reflorestamento gradual com vegetação nativa.
A administradora Gabriela Zampieri, da Coordenadoria de Gestão Ambiental, explica o processo, que pode gerar um estranhamento inicial, mas garante que a medida é necessária e ambientalmente correta. “Embora, por um tempo, a retirada das árvores gere um aspecto visual que não estamos acostumados, em poucos anos a área estará recuperada. Infelizmente a retirada das árvores faz parte do processo de requalificação. No futuro ficará melhor do que está”, explica Gabriela. Para realizar o trabalho, a UFSC promoverá um leilão, com um lote para cada local, a ser realizado em fevereiro.
Zampieri afirma que “o plano de recuperação da área está sendo pensado com a ajuda de agrônomos, biólogos e arquitetos da Universidade, e sua execução deve começar logo”. A recuperação da área também inclui o auxílio do grupo de permacultura, que já atua por meio do Projeto “Recuperação e Educação Ambiental no Bosque do CFH” utilizando sistemas agroflorestais. “Hoje o solo perto dos eucaliptos encontra-se compactado e com baixa disponibilidade de nutrientes. Com a retirada dessas árvores a área será recuperada mais rapidamente” afirma Allisson Castro, biólogo da Coordenadoria de Gestão Ambiental e um dos membros do projeto.
Bosque do CFH
Entre os motivos para a remoção estão questões ambientais, de segurança e o cumprimento da lei municipal 9.097/2012, que determina a remoção e substituição de árvores exóticas por espécies nativas até 2022. (Foto: Jair Quint/Agecom/UFSC)
No Bosque do CFH serão retirados 78 exemplares de eucaliptos, além de 11 casuarinas, situados em área de preservação permanente e de mata ciliar. São árvores que impedem o desenvolvimento das mais de 60 mudas nativas plantadas nos últimos três anos. O biólogo da Coordenadoria de Gestão Ambiental, Allisson Castro, comenta que “na situação do bosque hoje, se queremos plantar árvores nativas, os eucaliptos sugam água do solo e prejudicam o restabelecimento destas espécies vegetais. Tentaram plantar mudas embaixo, mas não cresceu nada”.
O local também é um espaço de compensação ambiental da UFSC: em virtude da construção dos novos blocos do CFH, a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram) exigiu como compensação ambiental a recuperação da área, incluindo a remoção das plantas exóticas com substituição pelas nativas.
De acordo com o coordenador de Gestão Ambiental, Rogério Portanova, “esta é uma ação conjunta da Coordenadoria de Gestão Ambiental e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, além de outros colaboradores de diversos setores da UFSC. A ideia é reflorestar com nativas e, em longo prazo, transformar o local numa espécie de parque para utilização da comunidade. A UFSC já tem uma comissão, coordenada pelo CFH , que estuda a ocupação deste espaço”.
Vice-diretor do CFH, Rogério Luiz de Souza diz que um estudo preliminar, realizado com a equipe do professor Sergio Moraes (Departamento de Arquitetura) a convite da professora Miriam Hartung, diretora do CFH, já existe. Agora é preciso “coletar opiniões e informações para dar sequência a um projeto conceitual. A ideia é preparar uma apresentação para ser exibida na semana de início do primeiro semestre de 2018, no CFH. O professor Sérgio, com a professora Miriam estão vendo a possibilidade de uma nova etapa do projeto em 2018, para a elaboração de um projeto físico-estrutural e de paisagem para dinamizar o espaço juntamente com a Comissão do Bosque do CFH”.
Professor do departamento de Botânica, João de Deus Medeiros elaborou um laudo técnico sobre as condições das árvores do Bosque do CFH. No documento, ele aponta sete exemplares com algum grau de comprometimento, mas a preocupação se dá com todas as árvores. “Ressaltei que essa espécie de eucaliptos tem uma degradação dos ramos laterais, ou seja, a queda de ramos. Nesta área, de uso público com circulação de crianças, é preocupante. Não é a condição adequada termos esta espécie pela maneira como a área é utilizada, com pessoas deitando e descansando no local”.
Medeiros lembra que houve um caso similar nos anos 1980: ao lado do Centro Socioeconômico, à direita da entrada da UFSC pela Trindade, havia um bosque de uma espécie diferente de eucalipto, que precisava ser retirado. Na época, houve resistência da comunidade universitária, mas com o diálogo, os ânimos foram acalmados. “Era muito mais denso, tinha até conotação de floresta. O solo lá é instável, lodoso, e aquela espécie de eucalipto tem problemas de estabilidade, sem uma ancoragem suficiente. Nós fizemos uma intervenção na época porque as pessoas viram o corte e tentaram brecar, mas explicamos que era a pior espécie para aquela condição e haveria árvores mais adaptadas”. Hoje ele vê a situação “mais tranquila”. “Vários setores já estão se envolvendo com a renovação do bosque para recuperação com nativas. A reação mais enfática, hoje, se dá pela derrubada para ocupação pelo setor imobiliário”.
O professor José Afonso Voltolini, do Centro de Ciências Agrárias (CCA) que também atua no Grupo Escoteiro que reúne cerca de 120 famílias no Bosque do CFH aos fins de semana acrescenta que o ganho que a área terá com a retirada das árvores exóticas será muito mais significativo que a perda inicial. “O Bosque ganha a possibilidade de investir numa arborização com espécies que irão atrair a fauna nativa, que darão frutos como o araçá, o ingá. Frutos que atraem pássaros. Por mais que ao longo dos anos tivessem iniciativas de plantio dessas espécies nativas, a concorrência delas com essas árvores exóticas é desleal. A única possibilidade é com a retirada, para que as plantas nativas possam crescer com exuberância”, reforça.
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