
Para o professor Tito Cardoso e Cunha, o silêncio não deve ser entendido como o contrário da comunicação. Foto: Henrique Almeida / Agecom / UFSC
O Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (Posjor) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) promoveu, no dia 7 de outubro, a conferência “O silêncio na comunicação”, ministrada pelo professor Tito Cardoso e Cunha, da Universidade de Beira Interior (UBI), de Portugal. Para o professor, o silêncio não deve ser entendido como o contrário da comunicação, de forma a caracterizá-lo como censura ou ocultação daquilo que é oprimido, uma vez que ele faz parte do diálogo e é necessário para que este se estabeleça. “Na ausência do silêncio, a comunicação deixa de existir”, isto é, o silêncio pode assumir diversas leituras, que darão significação e sentido a uma determinada palavra.
Entre as muitas possíveis maneiras de lê-lo, Tito Cardoso destacou quatro. A primeira é o silêncio como dimensão informativa, a base para a comunicação, responsável pela separação dos momentos de fala e escuta, constituindo-se como única possibilidade do desvendamento do diálogo e da compreensão. O silêncio também pode ser lido como viabilizador de ritmos – integradas à música ou à palavra poética, por exemplo, as pausas são fundamentais para construir a significação, compreensão e assimilação do todo, de forma harmonizada e coerente.
A terceira forma é o silêncio como instrumento da psicanálise, quando assume uma imposição que, embora não sonora, transmite a significação do que não conseguia ser dito, exprimindo, assim, a manifestação de um segredo, e, muitas vezes, a pausa na interlocução comunica ainda mais do que palavras ou um grito de dor. Por último, o silêncio pode ser lido como reflexão, em que a ocultação também pode ser uma maneira de pensar sobre o próprio ser.
“Há significações que só pelo silêncio encontram a sua melhor expressão. Precisamos do silêncio para nos comunicarmos, e é com o seu resgate que a palavra se torna visível”, afirmou Tito Cardoso. Segundo o pesquisador, na realidade o silêncio nunca é total, há sempre sons “desorganizados” ao redor, que são os ruídos, criados pela própria sociedade contemporânea e utilizados como fuga da angústia gerada na solidão, supostamente imposta pelo silêncio. Esses sim seriam o oposto do silêncio, e não a comunicação. O ruído seria, portanto, a ausência do sentido, e o silêncio um modo de discurso que se articula à convivência transparente.
Sobre o palestrante
Tito Cardoso e Cunha estudou Filosofia nas universidades de Lisboa, Coimbra, Bruxelas e Louvain. Lecionou no Departamento de Filosofia da Universidade de Coimbra e nos de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa e da Beira Interior, além de ter sido professor visitante no Instituto de Estudos Europeus da Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA).
Atualmente, tem se dedicado ao estudo de retórica e teoria da argumentação, e é autor de diversos livros, entre os quais “Argumentação e crítica” (Minerva, 2004) e “O silêncio na comunicação” (Livros Horizonte, 2005). Entre outras atividades, já foi orientador de doutorado do professor do curso de Jornalismo da UFSC, Eduardo Meditsch, em Portugal, e ainda é um pesquisador da língua hebraica – à qual se dedica há alguns anos.
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Anaíra Sarmento/ Estagiária de jornalismo da Agecom/ UFSC/ Com informações do Posjor
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Claudio Borrelli / Revisor de Textos / Agecom / UFSC
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