
Organizador da obra, Cláudio Cruz empenhou-se para preservar a essência dos originais de um dos ícones da literatura regionalista
Próxima atração será o relançamento, em volume único, dia 17, do clássico O fantástico da Ilha de Santa Catarina, de Franklin Cascaes, que, assim como Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto, enriquece a Coleção Repertório da EdUFSC. A feira encerra com obra póstuma de Jacques Derrida.
Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, precisou de glossário? Não. A mesma linha de raciocínio o organizador Cláudio Celso Alano da Cruz deve ter aplicado ao clássico regionalista Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto, relançado quarta-feira, dia 10 de outubro, na Feira de Livros da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), que acontece no Campus da Trindade, em Florianópolis, até o dia 25 deste mês. A sessão de autógrafos contou com a presença de escritores, familiares do organizador e leitores.
A caprichada edição, que integra a Coleção Repertório da EdUFSC, é comemorativa ao centenário da obra, publicada pela primeira vez em 1912. O organizador empenhou-se ao máximo para preservar a essência dos originais de um dos ícones da literatura regionalista, reconhecido hoje no Brasil e nos países do Prata. Os 18 contos que compõem o livro dão voz a um dos personagens mais ricos e instigantes da literatura tupiniquim, o caipira Blau Nunes. O que se quer é resgatar em toda a plenitude, de forma radical, a impura fala desse velho campeiro sulino, responsável por todas as narrativas do livro, enfatiza Cláudio Cruz, acrescentando que, pela primeira vez, na literatura brasileira, um letrado passava a palavra, integralmente, para um não letrado.
Assim como acontece com Guimarães Rosa, os contos de Simões Lopes inserem-se justamente nessa zona de tensão entre o oral e o escrito. O organizador sublinha que, aqui, há que se levar em conta, e em nível de absoluta igualdade, tanto a expressão oral quanto a escrita. Os contos falam diretamente ao coração dos leitores, esbanjando criatividade, humor, ironia, alegria, amor, dor e esperança.
– Era Blau o guasca sadio, a um tempo leal e ingênuo, impulsivo na alegria e na temeridade, precavido, perspicaz, sóbrio e infatigável; e dotado de uma memória de rara nitidez brilhando através de imaginosa e encantadora loquacidade servida e floreada pelo vivo e pitoresco dialeto gauchesco.
Blau Nunes tinha 88 anos.
Somando vontades
João Simões Lopes Neto nasceu em Pelotas (RS) em 1865. Faleceu em 1916, quatro anos depois de lançar Contos Gauchescos. Sua obra vem sendo estudada há décadas dentro e fora da academia. Várias edições críticas já foram publicadas. O organizador é professor da Universidade Federal de Santa Catarina. O pesquisador, elogiando a qualidade da Coleção Repertório, frisou que, fiel à edição de 1912, juntou a vontade do autor com a vontade de leitor.
Próximas atrações
A Feira, que começou no dia 24 de setembro com o relançamento do clássico O detetive de Florianópolis, de Jair Hamms, apresenta sessões de autógrafos às quartas-feiras, das 16h30min às 20 horas. O evento, oferecendo descontos de 50 a 70%, funciona de segunda à sexta-feira.
Também dentro da Coleção Repertório, a EdUFSC lança, em volume único, no dia 17, a partir das 16h30min, com a presença do museólogo Gelci José Coelho (Peninha), O fantástico na Ilha de Santa Catarina, de Franklin Cascaes, obra fundamental no resgate e preservação da cultura ilhoa e açoriana, contando 24 estórias escritas em 70 anos pelo artista e folclorista.
Para encerrar em grande estilo, a Feira da EdUFSC apresenta no dia 24, a partir das 16h30min, em primeira edição póstuma mundial, o livro Pensar em não ver: escritos sobre a arte do visível, do filósofo francês Jacques Derrida.
Mais informações e contatos:
Sérgio Medeiros e Fernando Wolff
(48) 3721-9605 , 3721-9408 , 3721-9686 e 3721-8507
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sergio@editora.ufsc.br
Moacir Loth / Jornalista da Agecom / UFSC
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