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O VII Cinedebate Jaguatirica exibiu na terça-feira, 28 de junho, o documentário Corrida contra a extinção (Racing Extinction, EUA, 2015). A projeção foi seguida de debate, com a participação da professora do curso de Filosofia, Maria Alice da Silva, e do mestrando em Direito, Rafael Speck. O filme é dirigido pelo cineasta norte-americano Louie Psihoyos, vencedor do Oscar de melhor documentário em 2010 pelo filme A Enseada (The Cove, EUA, 2009). Sua obra mais recente denuncia mercados clandestinos de animais ameaçados de extinção e expõe o ritmo acelerado do desaparecimento de milhares de espécies. O filme argumenta que o ser humano contribui direta e indiretamente para esse processo de extinção em massa. O Antropoceno, “época dos humanos”, seria o período mais recente e mais devastador da história do planeta — as sucessivas e intensas interferências na natureza terão consequências irreversíveis.
Para além de denunciar, Corrida contra a Extinção também propõe soluções. A divulgação de informações e sensibilização da população seria um caminho para a transformação. O próprio documentário, inclusive, tem o propósito de ser um instrumento de mobilização. Um dos entrevistados argumenta: “O mundo hoje é altamente visual. A imagem é transformadora, atinge milhares de pessoas e provoca a mudança.” Diversos ambientalistas, ativistas e pesquisadores participam do filme. Entre eles, destacam-se a primatóloga inglesa Jane Goodall; a escritora Elizabeth Kolbert, autora de A sexta extinção: uma história não natural; o fotógrafo da National Geographic Joel Sartore, idealizador do projeto Photo Ark, que tem por objetivo documentar o maior número possível de espécies antes de serem extintas.
Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC
Durante o debate, Rafael destacou a importância das saídas alternativas, das “linhas de fuga”, apresentadas no documentário. “Não é apenas um documentário, é um movimento. Existe uma crise de percepção, que é sistêmica. A violência contra os animais é estrutural e envolve todos os indivíduos. É preciso romper com esse olhar dicotômico e disseminar um olhar mais inclusivo. Como a Jane Goodall diz no filme: devemos buscar esperança na desesperança. A sensibilização é um caminho e ações pontuais podem se multiplicar.”
Maria Alice ponderou alguns dos aspectos apresentados no documentário. Para a professora, um animal não deve ser considerado valioso apenas por pertencer a uma espécie ameaçada. “O problema central é o antropocentrismo. E considerar uma espécie mais valiosa do que outra é ainda um olhar antropocêntrico. Todas as espécies são dignas, independentemente de estarem em extinção ou não. A luta pelos direitos animais não é uma luta pelas espécies, mas sim uma luta por cada indivíduo. Cada um tem um valor intrínseco, insubstituível.” Maria Alice explicou que a ética tem uma função muito importante na sociedade, que é regular nossa convivência, oferecer regras sobre como agir. Entretanto, nossa ética sempre foi em função de uma vida harmoniosa para os humanos. “É necessário incluir os animais em nossa esfera de consideração moral. Não devemos nos preocupar apenas com algumas espécies, mas sim com todos os animais. Não são as espécies que são vulneráveis, mas sim os indivíduos que estão dentro dela.”
Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC
Os debatedores reforçaram a importância do investimento em uma educação ambiental e moral, além da aproximação do conhecimento produzido na universidade com o poder público — considerando que o poder público nem sempre tem o conhecimento técnico necessário para promover a mudança. Além de estudantes da graduação e pós-graduação, estiveram presentes no Cinedebate representantes da comunidade civil e das ONGs Ama Garopaba e Sea Shepherd. A atividade foi promovida pelo Observatório da Justiça Ecológica (OJE), grupo de pesquisa interdisciplinar coordenado pelas professoras Letícia Albuquerque e Paula Brügger. A próxima edição do Cinedebate está prevista para agosto.
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Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC
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