
Registro de Fernando Crocomo em 5 de junho de 2019.
Tudo começou com três paredes em branco. Elas estavam lá, faziam parte da paisagem do centro histórico de Florianópolis e passavam desapercebidas. De junho para cá elas assumiram forma, cor, identidade e despertaram o interesse do cidadão, do fotógrafo, do transeunte. A transformação dos “rabiscos” em arte foi registrada pelo professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fernando Crocomo, pela primeira vez em 5 de junho deste ano. Era um retrato de João da Cruz e Sousa nascendo próximo à Catedral Metropolitana e ocupando as paredes alvas do edifício João Moritz.
Ao lado do Palácio (Museu Histórico de Santa Catarina), local que leva o mesmo nome do poeta, Rodrigo Rizo pintou a obra, em preto e branco, que soma 900 metros quadrados chamada de ‘Mural Cisne Negro’, compreendendo uma imagem do poeta, um cisne negro estilizado (que remete a alcunha do poeta de Dante Negro ou Cisne Negro) e o poema ‘Enlevo’.
O lançamento do mural será realizado nesta quinta-feira, 11 de julho, a partir das 18 horas, no jardim do Palácio Cruz e Sousa. A entrada é gratuita e haverá performance e leitura de poemas de Cruz e Sousa (1861 – 1898), ícone da literatura catarinense e precursor da poesia simbolista no Brasil.
Zilma Gesser Nunes, professora do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas (LLV/UFSC), explica que a obra despertará a curiosidade da população pelo poeta, dadas as proporções e a localização da pintura. “Colocar Cruz e Sousa em um painel na Praça XV, é dar visibilidade para o poeta de maior expressão da literatura catarinense e um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos. É uma dívida que se paga a Cruz e Sousa, que precisou, em 1889, transferir-se para o Rio de Janeiro, em busca de inserção literária. Homenagem tardia, mas merecida e necessária”.
Na UFSC, a obra de Cruz e Sousa é abordada pelo curso de Letras por meio da disciplina optativa “Literatura em Santa Catarina”, procurada por um número expressivo de estudantes interessados pelo tema. Para Nunes, tratar de Cruz e Sousa no curso é fundamental para a formação de futuros professores de Literatura. “Estamos formando propagadores, que poderão levar o nome do poeta e a boa literatura ao jovem estudante”.

Mural Cisne Negro começa a ganhar cores.
Nascido em 24 de novembro de 1861, em Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis/SC), Cruz e Sousa é um clássico da literatura brasileira. Poeta, jornalista, professor, o filho de ex-escravos enfrentou o preconceito racial, sendo recusado para o cargo de promotor público de Laguna (SC) por ser negro. Passou um período no Rio Grande do Sul e, após sofrer represálias, fixa residência no Rio de Janeiro. Em 1893 publica as obras ‘Missal’ (poemas em prosa) e ‘Broquéis’ (poesias), consideradas o marco inicial do Simbolismo no Brasil que perduraria até 1922 com a Semana de Arte Moderna. Cruz e Sousa falece em 19 de março de 1898, em Antônio Carlos, Minas Gerais.
“Rastreando a fortuna crítica de Cruz e Sousa, de 1893, data da sua primeira publicação, até hoje, percebe-se que muito se tem escrito sobre o poeta, especialmente a partir de 1961 com a edição da Obra completa, organizada por Andrade Muricy. Cruz e Sousa representa, para Santa Catarina, o orgulho de ser catarinense o maior poeta simbolista brasileiro, ao lado de grandes nomes como dos franceses Mallarmé e Baudelaire. Para a literatura brasileira, o movimento estético do Simbolismo, deu o passo significativo para a inauguração do Modernismo literário, que ganha expressão com grandes nomes posteriormente”, explica a professora Zilma, estudiosa das obras de Cruz e Sousa.
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