
O encontro com Celso Vicenzi será realizado nesta quinta-feira, dia 29, às 18h, na Sala Harry Laus da Biblioteca Universitária
O jornalista Celso Vicenzi é o convidado da edição de setembro do Círculo de Leitura de Florianópolis, marcada para quinta-feira, dia 29, às 18h, na Sala Harry Laus da Biblioteca Universitária da UFSC. Ali, ele falará de suas leituras, de sua relação com os livros, da profissão e dos novos suportes e tecnologias que trazem o conhecimento para as novas gerações.
Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Celso ganhou o Prêmio Esso Nacional de Ciência e Tecnologia e teve atuação em rádio, TV, jornal, revista e assessoria de imprensa. Lançou em 2010 o livro “Gol é orgasmo”, com ilustrações de Paulo Caruso, pela editora Unisul. No momento assessora uma cooperativa de crédito (Sicoob) e um sindicato de trabalhadores (Sintrafesc), publica artigos em vários sites e escreve humor no Jornal de Barreiros e no twitter @celso_vicenzi.
Criado pelo poeta Alcides Buss, o Círculo de Leitura é um projeto que permite ao convidado e aos presentes discutirem informalmente sobre os livros que estejam lendo, as leituras do passado e as influências de outros autores sobre o seu trabalho. Escritores e jornalistas como Salim Miguel, Oldemar Olsen Jr., Fábio Brüggemann, Inês Mafra, Mário Pereira, Maicon Tenfen, Cleber Teixeira, Dennis Radünz, Rubens da Cunha, Renato Tapado, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Marco Vasques, Zahidé Muzart, João Carlos Mosimann, Mário Prata, Rogério Pereira, Celso Martins, Rosana Bond, Silveira de Souza, Tabajara Ruas e Moacir Pereira foram alguns dos participantes das etapas anteriores do projeto.
Breve Entrevista
Como foram suas primeiras experiências em relação à leitura?
Celso Vicenzi – Meu pai era contador. Lia mais jornais e revistas do que livros. Comprava, às vezes, alguma enciclopédia, para ajudar nos estudos. Minha mãe tinha o curso primário e lia somente revistas. O primeiro livro que li, fascinado pelo relato do meu irmão mais velho, Odone (já falecido), foi “Eram os deuses astronautas?”, de Erich von Däniken, uma polêmica que, à época, parecia bem interessante para um garoto como eu. Na infância li muito histórias em quadrinhos, de Walt Disney. Ou seja, um currículo do qual não dá para se orgulhar.
Que leituras foram mais marcantes na sua adolescência e juventude?
Celso – Acho que a partir dos 14 anos comecei a frequentar a Biblioteca Fritz Muller, em Blumenau. Lia de tudo, até do que não entendia muito bem, como “O banquete”, de Platão. Li Hemingway, Hesse, Steinbeck, Tolstoi, Dostoievski, Orwel, Goethe, Kafka, Stendal, Wilde, Borges, Becket, Shakespeare, Gabriel García Márquez, Drummond, Millôr, Quintana, Fernando Pessoa – de tudo um pouco. Impossível não esquecer nomes… Mas não sou especialista em nada. E tenho péssima memória. Gosto muito da poesia de Manoel de Barros, que renomeia o mundo com suas coisas “desimportantes”.
Você também escreve e já publicou. Ainda se considera um escritor ativo, ou está mais voltado ao jornalismo?
Celso – Não me considero um escritor. Ainda adolescente, estimulado por amigos escritores, cheguei a publicar algumas poesias e participar de coletâneas, mas até o meu ego não se deixou enganar. Desisti, envergonhado. Publiquei “Não me levem a sério – dicionário de humor”, pela editora Insular, e “Gol é orgasmo”, pela Unisul. Hoje escrevo textos curtos de humor, mas não tenho a paixão e a disciplina do escritor. Sou um diletante. Colaboro com artigos em vários sites, entre eles o “acontecendoaqui”, e envio frases diárias de humor pelo twitter @celso_vicenzi.
Num tempo de tantos apelos (na mídia, na internet), como vê a relação dos jovens com os livros e a leitura?
Celso – Uma boa história, bem contada, sempre irá fascinar o ser humano. A plataforma é que está em fase de transição. Não sabemos se o livro, como é hoje, sobreviverá ou será um luxo para poucos – como já foi no passado. Porque será muito mais fácil acessar qualquer tipo de texto e imagens pela internet. E as novas gerações usam com muita facilidade essas ferramentas virtuais – isso se já não nascerem, algum dia, com um chip no cérebro!
De que forma seleciona suas leituras, diante de tantas possibilidades e da avalanche de edições de livros no Brasil?
Celso – Ler ajuda a fazer escolhas. Todo leitor se aprimora no ato de ler. E descobre logo que a qualidade é que importa, mais do que a quantidade. Como jornalista, além de literatura, leio obras de não-ficção, nos campos da educação, da ciência, da comunicação, da política, da economia, da antropologia, da psicologia, da sociologia, da filosofia, o vasto universo das ciências humanas, sobretudo. Apesar de toda a tecnologia, há coisas que não mudam com o tempo. Nossas angústias, nossos medos, nossas fraquezas, nossas perguntas vitais continuam todas por aí, passando de geração para geração. E como não estou satisfeito com a condição humana e as injustiças que vejo, leio para me capacitar, de alguma forma, e ajudar a construir relações sociais baseadas na igualdade, no respeito à diversidade, na liberdade e na solidariedade. Como disse o escritor uruguaio Eduardo Galeano, “a primeira condição para transformar a realidade consiste em conhecê-la”. A leitura é uma das formas de conhecimento. De desalienar-se do que oprime.
Com a possibilidade de acessar a leitura por meio de outros suportes, estaria o livro, de alguma forma, ameaçado?
Celso – O livro é uma tecnologia como outra qualquer. Foi um suporte que revolucionou a propagação de ideias. Ajudou a perpetuar aquilo que apenas a tradição oral mantinha vivo. Se outro suporte tornar-se uma solução melhor, como o livro em relação a outras que a precederam, qual o problema? Claro que tenho uma experiência emocional com o livro, pela sua forma, seu cheiro, seu volume, os tipos de papéis etc., que não me farão abandoná-lo até o fim dos meus dias. Mas o que posso dizer da minha neta, recém vinda a este mundo? Suas experiências sensoriais com a palavra, provavelmente, serão outras. A plataforma sempre será menos importante do que o testemunho que as pessoas deixaram sobre a sua passagem pelo planeta. São essas histórias que continuarão a sustentar as nossas crenças, nossas esperanças, a suportar as dores do mundo. Mas suspeito que, do ponto de vista da invenção, o livro não será fácil de ser suplantado, por suas qualidades intrínsecas. Mais ou menos como a roda, o garfo, a tesoura, o botão, e outros que, por mais que se aprimore o design, suas utilidades permanecem as mesmas ao longo dos séculos. A ponto de ainda não terem inventado nada que faça melhor aquilo para o qual foram criados.
Que tipo de leitura prefere hoje e o que está lendo no momento?
Celso – Leio de tudo, ficção e não-ficção, poesia e prosa. A palavra me fascina. O conhecimento me arrebata. As histórias me encantam. A vida das pessoas, das mais simples e anônimas às mais famosas e geniais, todos os seres vivos e toda a matéria do universo, seus mistérios, estão no meu campo de interesse. Não sei escolher. Leio menos do que gostaria porque sou preguiçoso e, durante muito tempo outra paixão, que foi jogar futebol, roubou-me preciosos minutos de leituras. Em síntese, sou um autoignorante!
Mais informações com Celso Vicenzi pelo fone (48) 9961-9221 e pelo e-mail vicenzi@newsite.com.br, e com o coordenador do Círculo de Leitura, Alcides Buss, pelo fone (48) 9972-3045.