O Detetive de Florianópolis confirma presença na Feira da EdUFSC

20/09/2012 11:30

O evento atrasou um pouco com a greve das universidades, mas a comunidade  não perdeu por esperar. Este ano a tradicional Feira de Livros da EdUFSC, que começa no dia 24 de setembro, às 8h30min, na Praça da Cidadania, em frente ao prédio da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, não será uma iniciativa apenas para valorizar o livro e estimular a leitura. Com destaque para a reedição do clássico da literatura catarinense O detetive de Florianópolis, de Jair Francisco Hamms, a Editora da Universidade Federal promoverá lançamentos e diálogos com autores e visitantes. A feira funcionará de 24 de setembro a 24 de outubro. Nas segundas, terças, quintas e sextas-feiras o atendimento será das 8h30min às 19 horas. As quartas, das 8h30min às 20 horas 30min,  serão reservadas para sessões de autógrafo, conversas e atividades culturais.

Todos os títulos das diversas coleções consolidadas da EdUFSC poderão ser adquiridos com descontos de até 70% do preço de capa. Além das obras locais, regionais e nacionais, publicadas ao longo de 32 anos de existência, oferece clássicos da literatura universal, editados com capricho e criatividade. “Nossos livros, do miolo à capa, estão muito atrativos e impressos com esmero”, garante o diretor executivo Sérgio Luiz Rodrigues. “São títulos fundamentais, de excelentes autores e de interesse universal”, acrescenta o escritor e professor de literatura.

Publicando “livros para ler o mundo”, a feira da EdUFSC também reservou um espaço especial para editoras universitárias de ponta. A Liga das Editoras Universitárias  (LEU) ocupará 175m2 da tenda da feira colocando à disposição dos leitores títulos selecionados das Editoras da USP, Unicamp, UFMG, UnB, UFPA, entre outras. A Feira local, segundo o diretor administrativo e de marketing da EdUFSC, Fernando Wolff, vem enriquecida pela “exitosa participação” na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo e da recente Feira de Curitiba. “A lição não é tanto vender, mas aprender a arte de lidar com a matéria, o livro”, assinalou, sublinhando, ao mesmo tempo, a importância da “divulgação e da popularização da produção editorial universitária”.

Montada sob uma tenda branca, a feira, na visão de Sérgio Medeiros, desperta o olhar do leitor e chama “a atenção do extraordinário poder que a palavra impressa tem de despertar emoções e levar conhecimentos a todos os leitores”. O melhor exemplo disso é Códices –   os antigos livros do novo mundo, de Miguel León-Portilla, que resgata a memória e a cultura dos povos indígenas da Mesomérica, pioneiramente lançado no Brasil pela EdUFSC, ou ainda Negerplastik (Escultura Negra), de Carl Einstein, que mudou radicalmente a visão sobre a arte dos  povos africanos. Ou, então, Homo Academicus, obra-prima de Pierre Bourdieu, que põe a nu “o poder classificatório e autorregulador dos intelectuais”.

Ao lado dos títulos universais, que contemplam todos os gêneros literários, os leitores são brindados com o fortalecimento e a renovação estética da Coleção  Didática da EdUFSC. “São obras que percorrem todas as áreas do saber, da Matemática à Medicina, da Engenharia à Biologia”, sintetiza Sérgio Medeiros.

A Feira de Livros da EdUFSC, na sua nova edição, ganha vida e conquista movimento. A cada  quarta-feira, portanto, a partir das 16h30min, presenteará os leitores e visitantes com lançamentos e a presença de convidados para um bate-papo.

Será assim, por exemplo, no dia 26 de setembro, a partir das 16h30min, com o relançamento do livro O Detetive de Florianópolis, que contará com a presença da viúva do autor, Lúcia Rupp Hamms. Falecido em janeiro deste ano, Hamms, além de escritor consagrado, foi fundador e ocupou o cargo de secretário geral da UFSC. Escreveu, entre outros, A Cabra Azul, o Vendedor de Maravilhas e Samba no Céu, além de Batuque com tempero, em parceria com Flávio José Cardozo. Os episódios que marcam a carreira do detetive Mané Domingos Tertuliano Tive (D.T.TIVE), com escritório no Centro de Florianópolis, podem matar o leitor de emoção. Vítima de constantes trotes, entre um e outro, descobriu quem colocou a “merda no ventilador”. O leitor, diria o detetive, vai se mijar de tanto rir. Parecem histórias típicas de Mané, porém ampliadas pela lupa bem dotada do autor. Nos contos policiais, nem Rubem Fonseca faria melhor. Aliás, até conseguiria, mas sem a picardia e o humor de Hamms. A novidade, por conta da reedição, é que o detetive vai para o cinema. Fernanda de Conto, capista do livro, transformará em curta-metragem o conto “O detetive de Florianópolis e os dólares de Chapecó”.

O diretor da EdUFSC, Sérgio Medeiros, realça também o lançamento de Cage e a poética do silêncio (Letras Contemporâneas), de Alberto Heller, que, ao lado de Grece Torres e Lilian Nakahodo, autografarão o CD em comemoração ao centenário do compositor e poeta John Cage.

Além de Ecos do porão, de Silveira de Souza (Vol.2), que está na lista no Vestibular da UFSC, a EdUFSC destaca, na feira, obras de interesse coletivo e acadêmico. Sem desmerecer outros, a Feira da EdUFSC não esconde títulos como “Introdução à Engenharia: conceitos, ferramentas e comportamentos”, de Walter Bazzo e Luiz Teixeira; Estatística Aplicada às Ciências Sociais, de Pedro Alberto  Barbetta.

Na linha editorial de “livros para ler o mundo”, a EdUFSC alavancou todos os universos, sempre cumprindo as exigências do criterioso conselho editorial. Exemplos pululam. O diretor Sérgio Medeiros coloca em evidência inúmeros títulos: Últimos sonetos, de Cruz e Sousa; Poemas – Folias do Ornitorrinco e Espelho dos Melodramas, de Rodrigo de Haro; Seis décadas de poesia alemã, de Rosvitha Friesen Blume e Markus J. Weininger. Anatomia Sistêmica: Abordagem direta para o estudante, de Carla Gabrielli e Juliano Córdova Vargas, fecha a série de novidades da Feira da EdUFSC de 2012.

Por Moacir Loth – Jornalista Agecom

Mais informações e contatos:

Sérgio Medeiros e Fernando Wolff

(48) – 3721-9605 , 3721-9408 , 3721-9686  e  3721-8507

e-mails: Fernando@editora.ufsc.br

Sergio@editora.ufsc.br

Lançamento do livro "O detetive de Florianópolis"

Tags: detetiveEdUFSCfeiralivro

Escultura Negra é novidade brasileira na Bienal Internacional do Livro

20/08/2012 08:24

A obra integra a Coleção Visuais e é apoiada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC

A Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) está apresentando na 22ª  Bienal Internacional do Livro de São Paulo uma obra fundamental no campo da crítica de arte: Negerplastik (Escultura Negra), do alemão Carl Einstein, cuja obra, segundo Liliane Meffre, da Universidade de Bourgogne (França), “permanece mais atual do que nunca”. A obra integra a Coleção Visuais e é apoiada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC (PRPG). A bienal acontece até o dia 19 deste mês no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Publicado pela primeira vez em 1915, Negerplastik revoluciona a visão sobre a arte africana e desperta nos europeus o interesse e a valorização do patrimônio artístico daquele continente.
(mais…)

Tags: bienalEditora da UFSCEdUFSCUFSC

Códices é uma das estrelas da Bienal Internacional do livro

17/08/2012 08:22
.

O desafio dos pesquisadores é desvendar o conteúdo dos códices, missão que, como nunca antes, mobiliza seletos pesquisadores de várias partes do mundo

Uma obra essencial para a cultura e resgate da história e da memória dos povos indígenas da Mesomérica. Assim pode ser definido o clássico Códices – os antigos livros do Novo Mundo, do historiador mexicano Miguel León-Portilla, publicado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), com tradução de Carla Carbone,  da USP, e revisão técnica do pesquisador Eduardo Natalino dos Santos, que ressalta, na apresentação, a importância  do estudo dos livros e manuscritos pictóglifos em tempos pré-hispânico e coloniais, com destaque para os famosos códices maia, mixtecos e astecas. O lançamento da EdUFSC é uma das estrelas da 22ª Bienal Internacional do Livro, que acontece até o dia 19 deste mês no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.
(mais…)

Tags: Bienal do LivroEdUFSCUFSC

Códices é uma das estrelas da Bienal Internacional do livro

15/08/2012 16:50
.

O desafio dos pesquisadores é desvendar o conteúdo dos códices, missão que, como nunca antes, mobiliza seletos pesquisadores de várias partes do mundo

Livro da EdUFSC resgata escrita e memória dos ameríndios

Uma obra essencial para a cultura e resgate da história e da memória dos povos indígenas da Mesomérica. Assim pode ser definido o clássico Códices – os antigos livros do Novo Mundo, do historiador mexicano Miguel León-Portilla, publicado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), com tradução de Carla Carbone,  da USP, e revisão técnica do pesquisador Eduardo Natalino dos Santos, que ressalta, na apresentação, a importância  do estudo dos livros e manuscritos pictóglifos em tempos pré-hispânico e coloniais, com destaque para os famosos códices maia, mixtecos e astecas. O lançamento da EdUFSC é uma das estrelas da 22ª Bienal Internacional do Livro, que acontece até o dia 19 deste mês no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.

Miguel León-Portilla explica que os livros de pinturas e manuscritos mais antigos do Novo Mundo passaram a ser designados de códices. Códice, porém, do vocábulo codex, cujo significado é tronco, do qual esclarece o autor,  surgiu outra acepção: tábuas onde se escreve. Logo, segundo esclarece León-Portilla, “aplicar o vocábulo codex e códice aos livros manuscritos guarda estreita relação com o conceito original de tábua onde se escreve.

Esse conceito vulgarizou-se a partir do século XIX, principalmente após a  publicação,  no  México e na  Europa, de cuidadosas reproduções desses manuscritos, que passaram a ser conhecidos como “códices do México antigo”. Esses manuscritos datam do período clássico mesoamericano (“entre os séculos III e VIIII d.C”). A utilização dos códices prosseguiu após a Conquista do México. Muitos outros continuaram a ser produzidos no período colonial, dos quais mais de 500 permaneceram conservados.

O desafio dos pesquisadores é desvendar o conteúdo dos códices, missão que, como nunca antes, mobiliza seletos pesquisadores de várias partes do mundo. Miguel León-Portilla, através do livro e das suas pesquisas, dá uma singela contribuição à comunidade acadêmica, além de popularizar uma arte de expressão e comunicação que prestou  um  inestimável serviço à civilização. Ele dá conta do recado em cinco capítulos.

Começa apontando o valor do livro no tempo, na escola, no governo, na administração pública e na vida da “gente do povo”. Lembra que “houve quem destruiu os manuscritos nativos porque os consideravam inspirados pelo demônio”. O fato é que sábios nativos sobreviventes continuaram elaborando novos manuscritos. Também, acrescenta León-Portilla, “frades, portadores de humanismo renascentista adquirido  nas universidades,  não só lamentaram as perdas como também quiseram compensá-las, resgatando o que puderam do antigo legado  indígena.  Na sequência, enfatiza a relevância da relação existente entre a oralidade, isto é, a tradição comunicada de viva  voz, e o conteúdo dos códices. “Isso foi  fator-chave nas novas leituras de códices quando se quis transcrever o significado de suas pinturas e signos  gráficos a textos indígenas redigidos  com escritura alfabética”. No antepenúltimo capítulo, o intelectual  descreve e analisa, à exaustão, os grandes momentos que marcaram as pesquisas dos códices, que,  em  muito, ajudaram a decifrá-los, tornando públicos os  seus mistérios,mitos e segredos. No capítulo derradeiro, León-Portilla faz uma devassa dos  livros, tanto os pré-hispânicos como os escritos no  período colonial, oferecendo aos leitores uma  “leitura de algumas páginas de grande interesse em vários códices do altiplano central, do âmbito maia e de oaxaca”.

.

O povo tinha conhecimento, por diversas formas, de que aquilo que estava nos livros influenciava na própria existência

Apresentando uma abordagem plural e abrindo espaço para divulgação dos pontos de vista de uma variada gama de pesquisadores e instituições, o autor inclui ainda um apêndice que contempla os catálogos de códices mais representativos publicados até a atualidade. León-Portilla, ao produzir o clássico, confessa um desejo: “que os leitores valorizem também a  riqueza desses códices e cheguem a se sentir atraídos pelo que devemos qualificar de autêntico tesouro”.

Afinal, como escreve, são “milhares de inscrições em monumentos de pedra, em objetos da cerâmica, metal ou osso “que dão testemunho das várias formas de escrita que se desenvolveram na região. “Testemunhos que também vemos nos livros, hoje chamados de códices, que são portadores de imagens policromáticas e signos hieroglíficos, que falam de acontecimentos divinos e humanos”. E, ainda que seja difícil aproximar-se de um códice original e, menos  ainda,  tê-los  nas mãos e ir virando  suas páginas, sobra aos leitores a compensação de encontrá-los em modernas edições, algumas delas,  segundo atesta León-Portilla, “tão fiéis que quase parecem  falsificações”.

Os livros maias, salienta o autor, incluem textos hieroglíficos situados ao lado de diversas imagens, cujos significados são esclarecidos uma vez que “ as imagens são portadoras,  por  si mesmas, de  uma gama de significantes que abarcam uma linguagem iconográfica complexa, que inclui o simbolismo de suas cores”.

Os signos glíficos, afirma o autor, estão formados por imagens. “Em alguns casos, são rostos humanos ou distintos traços somáticos de seres divinos, humanos ou animais, flores e múltiplos objetos estilizados, além de elementos de desenhos geométricos muito variados”.

As figuras pintadas no livro forneciam as imagens. As relações e significações dessas imagens esclarecem o significado dos caracteres glíficos. A palavra de quem o instruía com os livros ampliava, de muitas maneiras, com sua linguagem rica em metáforas, o que se propunha transmitir.

Hoje não existem mais os sábios para decifrar as imagens coloridas acompanhadas por textos glíficos. A tarefa ficou para os estudiosos, as universidades, os museus e as editoras empenhadas e preocupadas com a leitura do mundo.

Miguel León-Portilla, que referencia na obra também suas próprias pesquisas, parafraseando o filósofo Heráclito (“ninguém pode se banhar duas vezes no mesmo rio”), conclui que não é possível tampouco ler duas vezes o mesmo  livro”.

O povo tinha conhecimento, por diversas formas, de que aquilo que estava nos livros influenciava na própria existência. A percepção era de que “o que se encerrava nos livros era tão precioso como as flores e os cantos”. Certamente, por isso, dedicaram a própria vida para salvar parte do tesouro das fogueiras promovidas pelos colonizadores.

Para o diretor executivo da EdUFSC, Sérgio Medeiros, Códices – os antigos livros do Novo Mundo, se não o principal, é “um dos textos fundamentais sobre as escritas ameríndias”. Cabe ao leitor conferir.

 

Moacir Loth /Jornalista da Agecom/UFSC
lothmoa@gmail.com

 

Códices – os antigos livros do Novo Mundo
Miguel León-Portilla
Tradução: Carla Cabone
Revisão técnica: Eduardo Natalino dos Santos
EdUFSC – 320 p. R$ 69,00
Informações: fone (48) 3721-9408; 3721-9605; 3721- 9686
Fax: (48) 3721-9680
editora@editora.ufsc.br

www.editora.ufsc.br

 

Leia também:

Escultura Negra, de Carl Eistein, é novidade brasileira na Bienal Internacional do Livro

Tags: EdUFSCMéxicoUFSC

Escultura Negra, de Carl Eistein, é novidade brasileira na Bienal Internacional do Livro

15/08/2012 16:28
.

A obra integra a Coleção Visuais e é apoiada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC

Tradução publicada pela EdUFSC, Negerplastik revoluciona a visão sobre a arte produzida pelos povos africanos

A Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) está apresentando na 22ª  Bienal Internacional do Livro de São Paulo uma obra fundamental no campo da crítica de arte: Negerplastik (Escultura Negra), do alemão Carl Einstein, cuja obra, segundo Liliane Meffre, da Universidade de Bourgogne (França), “permanece mais atual do que nunca”. A obra integra a Coleção Visuais e é apoiada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFSC (PRPG). A bienal acontece até o dia 19 deste mês no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Publicado pela primeira vez em 1915, Negerplastik revoluciona a visão sobre a arte africana e desperta nos europeus o interesse e a valorização do patrimônio artístico daquele continente.

 Obra Mestra
– Carl Einstein ficou na memória de seus contemporâneos como o autor de Negerplastik, e mesmo hoje em dia é a este título que se evoca seu nome. Esse texto denso e inovador, de algumas páginas apenas, foi uma revelação para muitos e permanece uma das obras mestras do século XX, sublinha Liliane Meffre na apresentação da obra traduzida pela EdUFSC e socializada, pela primeira vez, em língua portuguesa.

Carl Einstein elevou à condição definitiva de arte os objetos indecifráveis e indatáveis que os viajantes do Velho Continente “colecionavam” em suas excursões pela África subsaariana. O próprio autor mantinha uma pequena coleção que “vendeu” durante uma crise financeira. O ensaio “bombástico” do crítico alemão, que fez história também na França e na Espanha, e mudou a ideia e o conceito de arte primitiva, é acompanhado de 111 esculturas (cabeças, postes funenários, bustos, máscaras, relicários, estatuetas, entre outras representações).

Capa dura, miolo em papel de gramatura especial, o livro tem 302 páginas, com 220 exibindo figuras da arte africana. Com tradução de Inês de Araújo e Fernando Scheibe, Negerplastik é enriquecido pela apresentação da historiadora Liliane Meffre e por uma resenha do professor Roberto Conduru, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, inserida no livro como anexo. A orelha é assinada pelo professor da UFSC, Raul Antelo. E a capa tem a marca da designer Maria Lúcia Iaczinski, da equipe da EdUFSC.

Raul Antelo salienta que “a inovadora proposta teórica de Carl Einstein pretendia pensar a história da arte sob um ponto de vista bem mais amplo que o convencional, não só como simples dimensão antropológica, mas também com um enfoque concentrado nas singularidades formais que só uma análise visual específica permitiria detectar. Einstein ensaiou, assim, uma fenomenologia da aura em que o absoluto das formas nada deve à integração idealizadora de suas partes”.

Quebrando tabus
No seu texto, ao analisar “artefatos provenientes da África como obras de arte”, Carl Einstein alerta, de saída, que “não há, talvez, nenhuma outra arte que o europeu encare com tanta desconfiança quanto a arte africana”.

Assinala que o negro infelizmente “sempre foi considerado ser inferior que poderia ser discriminado, e tudo por ele proposto era imediatamente considerado como insuficiente”, acrescentando que “a maior parte das opiniões expostas sobre os africanos repousa sobre preconceitos”. O diagnóstico é definitivo: “finalmente, nossa ausência de consideração pelo negro corresponde apenas à ausência de conhecimento ao seu respeito, o que só serve para oprimi-lo injustamente”.

Na época, lembra Carl Einstein, “os conhecimentos sobre a arte africana” eram, no seu conjunto, “parcos e imprecisos”. O ensaio foi um divisor de águas. “O que antes parecia desprovido de sentido, encontrou sua significação nos mais recentes esforços dos artistas plásticos “. Advertiu que “é preciso desfazer-se do preconceito de supor que os processos psíquicos podem ser afetados por signos contrários e que a reflexão sobre a arte é oposta à que se refere à criação artística”. Freud concordou com a assertiva.

Carl Einstein, que depois da publicação virou referência na área, lança uma reflexão aos leitores. “A incompreensão habitual do europeu pela arte africana está à altura da força estilística desta última: essa arte, entretanto, não representaria um caso notável de visão plástica”?

 

.

O autor defende a indissociabilidade entre arte, crítica e história

“Deus
A arte negra, na opinião do autor, é, antes de tudo, determinada pela religião. “As obras esculpidas são veneradas tal como foram por todos os povos da Antiguidade. O executante realiza sua obra como se ela fosse a divindade ou seu guardião”, atesta Carl Einstein.

A lição da arte negra, ao contrário da europeia, por razões formais e também religiosas, só tem uma interpretação possível. “Ela nada significa e não é um símbolo; ela é o deus que conserva sua realidade mítica fechada, na qual ele inclui o adorador, transformando-o também em ser mítico e abolindo sua existência humana”. Enfim, “a obra de arte europeia tornou-se justamente a metáfora do efeito, que incita o espectador à indolente liberdade. A obra de arte negra religiosa é categórica e possui essência penetrante que exclui toda limitação”. A escultura negra, conclui Carl Einstein, representa clara fixação pela visão plástica pura. Eis, a “lição da arte negra”…

Defesa intransigente
O professor Roberto Conduru faz a defesa da publicação e da difusão do pensamento de Carl Einstein em português, enfatizando que ele produziu “textos ora classificados como crítica, ora como História, e também poemas, romance, peça teatral e roteiro cinematográfico”. Destaca ainda o seu trabalho como jornalista, editor e tradutor.

Os cubistas corroboram, de forma decisiva, para mudança de opinião sobre a arte africana. Conduru recorre ao autor: “certos problemas que se colocam para a arte moderna provocaram uma abordagem mais escrupulosa da arte dos povos africanos”.

Carl Einstein articula crítica, história e teoria da arte em suas reflexões. Pois, frisa Conduru, “Negerplastik é um livro de teoria da arte, especialmente da teoria da escultura, assim como é o problema da forma nas artes plásticas”. O autor defende a indissociabilidade entre arte, crítica e história.

 

Palatável
Marco nos estudos de arte da África, o livro difundiu novos valores e conceitos. Com a colaboração de etnólogos e historiadores, defendida e adotada pelo próprio autor, Negerplastik ficou mais acessível e palatável para leigos e iniciados. Embora sucesso de crítica, a primeira edição foi pouco compreendida.

Roberto Conduru, elogiando a iniciativa da EdUFSC, garante que a obra é oportuna e de grande interesse para a sociedade brasileira. “O entrelaçamento das reflexões artísticas com a ação política de Einstein pode encontrar ressonâncias no Brasil”. Negerplastik, sublinha, “pode ajudar a tornar mais complexo e nítido o fraco debate existente no Brasil sobre a questão da forma na arte, contra a qual vigora um sentimento difuso, pouco refletido e monótono, porém potente”.

Adverte, finalmente, que a opção da EdUFSC também deve “contribuir para os estudos de certas manifestações e obras da cultura brasileira, assim como das relações com a África no Brasil, onde perdura um mal contido desinteresse e, muitas vezes, um verdadeiro horror pelo que é africano e afrodescendente”.
Mais clássico
Carl Einstein é um ícone da cultura universal. Daí a EdUFSC não frustrar os leitores brasileiros. Em breve, editará outro clássico do intelectual alemão: Die Kunst des 20 (A Arte do Século XX), publicado originalmente em 1926 e considerado como um dos primeiros livros de história da arte moderna.

Moacir Loth /Jornalista da Agecom/UFSC
lothmoa@gmail.com

Negerplastik (Escultura Negra)
Carl Einstein
Organização: Liliane Meffre
Tradução: Fernando Scheibe e Inês de Araújo
EdUFSC- 304 p. R$ 61,00
Informações:
Fones (48) 3721-9408 e 3721-9686
Fax (48) 3721-9680
site:www.editora.ufsc.br
e-mail: editora@editora.ufsc.br

 

Leia também:

Códices é uma das estrelas da Bienal Internacional do livro

Tags: ÁfricaEdUFSCnegrosUFSC

UFSC será destaque na 22ª Bienal Internacional

07/08/2012 15:45
.

Na lista das obras estão A ética do uso e da seleção de embriões, de Lincoln Frias;Códices – os antigos livros do Novo Mundo, de Miguel León-Portilla; Negerplastik (Escultura Negra) de Carl  Einstein e Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa

Editora vai a São Paulo e oferece, com desconto de até 30%, mais de 90 “títulos para ler o mundo”

 

A Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) volta a marcar presença no maior e melhor evento do livro e da leitura da América Latina. Apresentando títulos de todas as suas séries e coleções, incluindo os últimos lançamentos, a editora universitária estará na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que acontece, de 9 a 19 deste mês, no Pavilhão de Exposição do Anhembi.

Exibindo o emblema “títulos para ler o mundo”, a EdUFSC comparece à Bienal com 93 títulos e 1.390 exemplares, que,  visando facilitar  o acesso e estimular  o hábito da leitura, serão oferecidos com descontos de até 30 por cento.

A EdUFSC dividirá espaço com editoras de ponta. Seus livros serão oferecidos no estande montado pela Liga de Editoras Universitárias (LEU), que inclui,  entre  outras, as editoras da USP, Unicamp, UnB e UFMG.

Dirigida pelo professor Sérgio Luiz Rodrigues Medeiros, reconduzido pela reitora Roselane Neckel, a EdUFSC é uma referência entre as editoras universitárias. Com mais de mil títulos lançados, difunde e democratiza o conhecimento há três décadas.

As coleções da editora receberam o reforço de títulos de interesse universal. Sem desmerecer outras obras do Catálogo, já que todas passam pelo rigoroso crivo do  Conselho Editorial,  alguns exemplos de “títulos para ler o mundo” dão uma ideia do papel da EdUFSC na bienal.

Na lista de autores e obras nacionais aparecem Riverão Sussuarana, de Glauber Rocha; Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa; A ética do uso e da seleção de embriões, de Lincoln Frias; Poemas – Folias do ornitorrinco e Espelho dos melodramas, de Rodrigo de Haro; e Ecos no porão (I e II), de Silveira de Souza. Entre os títulos internacionais aparecem clássicos como: Homo academicus, de Pierre  Bordieu; Negerplastik (Escultura Negra) de Carl  Einstein; Códices – os antigos livros do Novo Mundo, de Miguel León-Portilla; Seis décadas de poesia alemã, de Rosvitha Friesen Blume e Markus J. Weininger.

O diretor administrativo e responsável pelo marketing da EdUFSC, Fernando Wolff, enxerga a bienal como “uma  oportunidade ímpar para divulgar nossos livros no mercado nacional e  internacional”, e entende que o evento proporciona a troca de experiências entre as editoras.  “Vamos à bienal para aprender”, observou.

 

Breve entrevista – Sérgio Luiz Rodrigues Medeiros, diretor da EdUFSC

1. Qual a importância da EdUFSC na Bienal?
R.: Atualmente, a EdUFSC possui um catálogo bastante diversificado, que inclui autores de renome nacional e internacional, em diversas áreas do saber. A sua participação na Bienal de São Paulo, um dos maiores eventos do gênero em escala mundial, é muito importante para divulgar esse catálogo,  e também para chamar a atenção do leitor para a qualidade gráfica das nossas edições. Assim, consideramos essa Bienal uma grande vitrine global, que permitirá à EdUFSC mostrar para o Brasil e o mundo sua excelência em matéria de publicação de livros didáticos, científicos, literários etc. Além disso, estaremos expondo ao lado de grandes editoras universitárias, como as da USP, da Unicamp e da UFMG, com as quais temos uma parceria desde 2010, quando a EdUFSC participou, ao lado dessas editoras, da fundação da Liga de Editoras Universitárias (LEU).

2. Com que “roupa” a EdUFSC vai?
R.: Alcançamos um nível de produção de livros que considero bastante satisfatório, sobretudo nos últimos dois anos. Também temos investido muito na criatividade, de modo que nossos livros, do miolo à capa, estão muito atrativos e impressos com esmero. Assim, a qualidade gráfica é a nossa “roupa” mais visível, a capa do nosso traje de passeio, por assim dizer. Mas sob essa capa temos excelentes textos e excelentes autores, como, só para citar um livro recentemente publicado pela EdUFSC, o renomado estudo do mexicano Miguel León-Portilla, “Códices”, um dos textos fundamentais sobre as escritas ameríndias. Mas, ao lado desse autor, numerosos outros estarão à disposição do público durante a Bienal, revelando a riqueza do nosso catálogo.

 

A bienal funcionará no Pavilhão de Exposições do Anhembi, das 10  às 20 horas. A programação completa pode ser acessada no site www.bienaldolivrosp.com.br

Mais informações com  Sérgio Medeiros e Fernando Wolff pelo fone de  EdUFSC,  48-3721-9686 ou pelo  e-mail fernando@editora.ufsc.br

 

Moacir Loth / Jornalista da Agecom / UFSC
lothmoa@gmail.com

 

 

 

Tags: bienalEdUFSCUFSC

Cotidiano, desafios e utopias do serviço social em livro

03/08/2012 16:29
.

A obra procura engajar a Universidade e a comunidade científica no diagnóstico e na busca de soluções capazes de melhorar a vida das pessoas

Obra interdisciplinar publicada pela Editora mobiliza 20 autores, 11 artigos, distribuídos em três grandes áreas temáticas

 

Os direitos, a justiça, o trabalho, a ética, a formação profissional, os avanços da ciência e as políticas públicas são algumas preocupações centrais do livro Serviço Social – Questões Contemporâneas, publicado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) e organizado pelo pesquisador Hélder Boska de Moraes Sarmento, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFSC, que está completando 11 anos de funcionamento. Reunindo 20 autores e 11 artigos, distribuídos em três grandes áreas temáticas, a obra discute e contextualiza dilemas e desafios da sociedade contemporânea na cidade, no Estado, no País e na América Latina, procurando envolver e engajar a Universidade e a comunidade científica no diagnóstico e na busca de soluções capazes de melhorar a vida das pessoas.

Os conteúdos apresentados são um pouco espelho e reflexo da própria produção interdisciplinar do Programa de Pós-Graduação, construído e consolidado, segundo o seu coordenador, de forma coletiva e solidária por professores, alunos e profissionais mobilizados em torno de uma “sociedade de direitos”, orientada pela “justiça social e a democracia”. Para dar consequência às “questões” do Serviço Social, o Programa de Pós-Graduação pauta as suas ações e prioridades em três grandes linhas de pesquisa. A primeira trata de “direitos, sociedade civil e políticas sociais na América Latina”; a segunda contempla “serviço social, ética e formação profissional”; e a terceira enfoca “questão social, trabalho e emancipação humana”.

A abertura da obra permite, de acordo com o seu coordenador, “identificar a afirmação teórica e política para a interpretação da sociedade de classes, a política social na América Latina e as particularidades em que se expressam as políticas de assistência e saúde na família”. Aqui o leitor é brindado com seis artigos: “Classes subalternas, lutas de classe e hegemonia: uma abordagem gramsciana”, de Ivete Simionatto; “O prisma latino-americano e a política de assistência social: uma síntese contemporânea”, de Beatriz Augusto de Paiva, Mirella Rocha e Dilceane Carraro; “Sistemas de saúde em linha de fronteira: aproximações iniciais”, de Helenara Silveira Fagundes, Rosér Pérez Giménez e Vera Maria Ribeiro Nogueira; “Programa Bolsa Família em Florianópolis: velhas questões, outros olhares”, de Rosana de C. Martinelli Freitas, Mara Coelho de Souza Lago e Elizabeth Farias da Silva; “Política de Convivência Familiar e comunitária; os caminhos e (des)caminhos da proteção social pública no Brasil”, de Izabella Régis da Silva e Marli Palma Souza; e “Processos de responsabilização das famílias no contexto dos serviços públicos: notas introdutórias”, de Regina Célia Tamaso Mioto.

Em seguida aborda demandas criadas pelos avanços tecnológicos e a sua interpretação no campo da Bioética, o acesso à justiça e questões como criminalidade e violência urbana. O capítulo reúne três artigos: “Serviço Social e bioética: novas competências teórico-práticas e ético-políticas”, de Hélder Boska de Moraes Sarmento; “Acesso à justiça e serviço social”, de Maria del Carmen Cortizo; e “Violência Urbana e Criminalidade no Brasil: abordagens e perspectivas no campo do Serviço Social”, de Myriam Mitjavila e Priscilla Gomes Mathes. O livro fecha com dois artigos e um breve currículo dos 20 autores. Ricardo Lara assina o ensaio “Ontologia, trabalho e serviço social” e Simone Sobral Sampaio disseca “Pobreza: trabalho”.

 

Prazer da política

O organizador da obra, Hélder Boska de Moraes Sarmento, é doutor em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele esclarece que a intenção da publicação “não é reforçar a ideia de crise ou perda de sentido da história, e nem de longe uma inércia diante de um mundo que inexoravelmente nos consome”. Ao contrário, enfatiza, o objetivo “é exatamente demonstrar que a contemporaneidade foi fecundada pela crítica, e esta tem possibilitado o exercício do pensamento crítico, o movimento de prazer por compreender o tempo e a história, e também de interferir nela, transformá-la, pelo prazer da política”.

Síntese da trajetória de mais de uma década da Pós-Graduação em Serviço Social da UFSC, retrata a vitalidade e dita o ritmo das atividades dos diversos núcleos de pesquisa do curso. Mostra também a sua abertura externa e a integração com as demais áreas de conhecimento e atuação da Universidade. Um exemplo são as pesquisas desenvolvidas em conjunto com o Instituto de Estudos Latino-americanos (IELA/UFSC).

 

Utopia e cotidiano

Além das questões que mexem com a globalização, as ideologias e as revoluções tecnológicas e científicas, o livro, ao mesmo tempo em que recupera as utopias mais caras da humanidade, coloca o pé na realidade e no cotidiano das famílias. O acesso à justiça e aos serviços públicos, o Programa Bolsa Família, o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária são lapidares nas questões contemporâneas do Serviço Social.

Parágrafo do artigo sobre a política de assistência social na América Latina revela, mesmo que de forma indireta, uma face do conjunto da obra: “trata-se de desvendar os vieses da luta política cotidiana dos indivíduos, grupos sociais e movimentos organizados no acesso aos bens e direitos sociais, numa combinação entre a regência das necessidades humanas, ou como diz Marx, do estômago ou da fantasia – com a satisfação ética, coletiva e justa destas necessidades. Há que se propor e debater uma nova práxis de luta, em que a política social deixe de ser instrumento exclusivo ou mecanicamente subordinado ao capital.

O Serviço Social, pelo visto no livro, tem rumo definido e asas para voar. A inspiração na canção “Somos pássaros livres”, de Victor Jara, que aparece num dos artigos, pode apontar um bom caminho. O poeta chileno foi torturado e morto pela ditadura de Pinochet. Lição apreendida, o Serviço Social parece não abrir mão do fazer político para tentar transformar o mundo.

 

Serviço
Serviço Social – Questões contemporâneas
Hélder Boska de Moraes Sarmento
(Org. – 20 autores)
EdUFSC
228 p. R$ 39,00
www.editora.ufsc.br

Contatos  com o organizador: (48) 3721-9297 e 3721-9540 e hboska@yahoo.com.br

 

Moacir Loth / Jornalista da Agecom/UFSC
lothmoa@gmail.com

Tags: EdUFSCServiço SocialUFSC

Livro da EdUFSC sobre seleção de embriões é a melhor tese do País

27/07/2012 16:16
.

Lincoln: "a questão é saber se as obrigações devidas a fetos, crianças e adultos também são devidas a embriões"

Pesquisa sobre uso e seleção de embriões, publicada em livro pela EdUFSC, venceu Grande Prêmio Capes de Teses

O embrião humano não é um de nós, portanto, pode ser criteriosamente usado para pesquisas, finalidades terapêuticas ou simplesmente ser eliminado.  A tese do pesquisador Lincoln Frias, defendida na Universidade Federal de Minais Gerais (UFMG), foi transformada no polêmico livro A ética do uso e da seleção de embriões, lançado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), dentro da Série Ethica. A obra, viabilizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), agregou novo valor aos leitores: além de vencer o “Grande Prêmio UFMG de Teses de 2011”, a pesquisa que concebeu o livro acaba de ser anunciada como ganhadora do “Grande Prêmio Capes de Teses 2010”, o que significa que a prestigiada Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento do Ministério da Educação (MECV), considerou o trabalho de Lincoln a melhor tese de toda a área das ciências humanas, sociais e artes do País.

O autor, atualmente professor da Universidade de Alfenas (MG), trata, sem rodeios, de temas caros para a sociedade e a comunidade científica: as pesquisas com células-tronco embrionárias humanas (CTEHs) e com o diagnóstico genético pré-implantação (DGPI), que acontecem no começo da vida humana, ou seja, com o próprio embrião.

– Poucos defenderiam que é aceitável matar seres humanos adultos para beneficiar outros ou que não é imoral matar crianças com problemas de saúde para que apenas os saudáveis sobrevivam. O que une os dois temas, portanto, é que tratam do embrião humano em laboratório, surgido da fertilização artificial, que tem menos de 14 dias e que nunca esteve em um útero. O que interessa saber é que obrigações morais existem em relação a ele. Dito de outra forma, a questão é saber se as obrigações devidas a fetos, crianças e adultos também são devidas a embriões.

O livro analisa, de forma contextualizada, os principais argumentos empregados no debate, superando as opiniões sólidas das supostamente insustentáveis. Ao contrário dos “concepcionistas”, que acreditam que o embrião é um de nós, o pesquisador pensa que, “por reduzir significativamente a incidência de doenças hereditárias e anomalias cromossômicas”, a seleção de embriões é boa para todos (“pais, filhos, e sociedade em geral”). Embora deixe o debate na roda, Lincoln Frias não enxerga nenhuma razão consistente para acreditar que um embrião de até 14 dias goze do direito à vida. A tese confronta aqueles que defendem que embriões humanos adquirem “situação moral (status) igual aos seres humanos adultos”. O cientista reforça a sua tese lembrando que os embriões depois de 14 dias “não são de grande utilidade nem para a derivação de células-tronco nem para fertilização in vitro”.

O livro, contudo, parte do pressuposto de que o respeito à pessoa precisa prevalecer diante da maximização da utilidade. “A morte de embriões não deve ser vista como uma ofensa a um direito porque o embrião, assim como o esperma e o óvulo, não pode ser considerado um sujeito de direito, um de nós, mas sim uma condição para que um de nós exista e, embora seja errado matar um de nós, não é errado impedir que um de nós exista”.

.

Lincoln (branco) conversando com leitores durante a Feira de Livros da UFSC, ocorrida em março deste ano

A tese, em resumo, mostra que a seleção de embriões é moralmente aceitável, cientificamente defensável e humanamente desejável. Tudo, segundo o autor, respeitando critérios, princípios e limites éticos.

A capacidade de autocontrole, a racionalidade e autoconsciência são características que definem uma pessoa. “O problema é que o embrião está incrivelmente longe de possuía-las. Afinal de contas, ele não possui um único neurônio que seja”.Para validar sua tese, Lincoln apresentou, em artigo recente, um dilema aos leitores:

-Se há um incêndio em uma clínica de fertilização e você precisa decidir entre salvar dois embriões ou uma criança de três anos, quem você escolheria? Nunca encontrei alguém que salvasse os embriões, mesmo que fossem cem ou mil. Se você também pensa assim, o leitor não acredita realmente que eles tenham direito à vida.

Faltou perguntar, talvez, ao concepcionista!.

Doutor em Filosofia pela UFMG e docente da Universidade de Alfenas (Unifenas), Lincoln Frias integra o Grupo de Trabalho de Ética da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof). Especialista em ética prática (aborto, genética, direitos dos animais) o autor esclarece que o seu livro “não é exaustivo nem definitivo; seu objetivo foi apenas dar uma contribuição para a discussão sobre o uso e a seleção de embriões”, um debate controverso e certamente, interminável. Lincoln, embora convicto e convincente, não quer parecer o dono da verdade.

 

Moacir Loth / Jornalista da Agecom / UFSC
lothmoa@gmail.com

 

Obra: A ética do uso e da seleção de embriões
Autor:
Lincoln Frias
Editora:
EdUFSC – Fapemig
Série
Ethica
266 p.
R$ 36,00

Contatos: editora@editora.ufsc.br, www.editora.ufsc.br ou (48) 3721-9408.
Contato com o autor: lincolnfrias@gmail.com

Tags: células-troncoEdUFSCéticaGrande Prêmio Capes de Teses

Livro aponta que práticas ambientais provocam mudança de valores no Brasil

04/06/2012 08:40

O autor: “Não existe mais fronteira artificial entre preservação e desenvolvimento econômico”

As práticas ambientais ou práticas de vida que consideram a relação ética do homem com a natureza estão provocando transformações na sociedade brasileira. Essa conclusão otimista, às vésperas da realização da Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento Sustentável (RIO+20) e da Cúpula dos Povos, desmente a visão clássica de que a sociedade brasileira, inautêntica por excelência, é incapaz de entender uma lógica da sustentabilidade e da preservação da natureza. Resultado de uma longa pesquisa do sociólogo político e professor de ciências ambientais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) Agripa Alexandre, essa tese sustenta que há um aprendizado político para a incorporação crescente de valores ecológicos. “Mostra disso é a expressiva votação da candidata Marina Silva nas últimas eleições presidenciais”.

O assunto é tema do livro Práticas ambientais no Brasildefinições e trajetórias, publicado pela Editora da UFSC, que será lançado em junho no Rio de Janeiro, onde o autor leciona, e no final de julho, em Florianópolis, ainda sem data definida. Por práticas ambientais a obra entende as atitudes de vida implicadas diretamente com conflitos socioambientais, a participação em movimentos ecológicos, atitudes em defesa de direitos dos animais ou contra o desmatamento, o consumo de produtos sustentáveis, a educação dos filhos para a consciência ecológica, entre outros exemplos.

Em vez de apenas reafirmar o antagonismo excludente entre ecologia e desenvolvimento econômico, que pode resultar em um efeito paralisante, Agripa enfatiza como as práticas ambientais mantêm relações com o modo de vida do brasileiro. Mostra o envolvimento dos verdes com as comunidades onde atuam, com o mercado e com o Estado, capaz de fazê-los  incorporar os valores ambientalistas. O aprendizado político que essa articulação gera resultaria, segundo o livro, na inserção efetiva desses valores pela legislação e pelas normas. Não há aqui nenhum rastro de ingenuidade: o autor deixa claro que as mudanças só ocorrem em grande parte porque os ambientalistas se valem da relação entre ecologia, cultura e economia para legitimar processos de intervenção social com o apoio financeiro do mercado e dos órgãos do governo.

Os dados apresentados são fruto de uma investigação do autor sobre mudanças no comportamento político relacionadas com a definição de papéis sociais motivada pela reorientação da política brasileira nacional e internacional. Apoiam-se, em grande medida, na pesquisa junto aos professores do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação de Ciências Humanas da UFSC, que deu origem a sua tese de doutoramento em 2003, intitulada “Ambientalismo político, seletivo e diferencial no Brasil”.

Na tese, Agripa mostra que em sua ligação com o modo de vida dos brasileiros, as práticas ambientais estão articuladas em espaços sociais diferentes culturalmente e são também seletivas, no sentido de que encontram sustentação no mercado e nas políticas de financiamento do governo. “Infelizmente ainda é o mercado que tem o maior controle de definir o que é e o que não é sustentável”, pontua o teórico e ativista, envolvido em movimentos sociais que vão participar de forma paralela do evento oficial da Rio + 20.

A abordagem privilegia a explicação sobre o caráter social e antropológico das práticas ambientais brasileiras, desde o início da redemocratização, a partir da normatização de uma política ambiental. Discute as mudanças da vida democrática brasileira a partir da incorporação da ideia de sustentabilidade. Mostra como se articulam os ambientalistas na cena política, quais os principais projetos que defendem e como se posicionam ideologicamente, embora nem sempre de forma clara e direta.

Sobre o autor
Natural de Florianópolis, Agripa Alexandre doutorou-se no Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC em 2003. Foi professor da UFSC, Furb e Udesc. Desde 2010 é professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Suas pesquisas e publicações discutem temas relacionados às teorias e práticas do ambientalismo, às teorias da democracia, à epistemologia das Ciências Sociais e ambientais e à educação. Publicou inúmeros artigos em revistas científicas. Atualmente está também vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Unirio, e é responsável pela pesquisa A constituição da memória social da ecologia política no Brasil: empoderamento, democratização cultural e mudança das concepções de esfera pública. Sobre a questão ambiental publicou: A perda da radicalidade do movimento ambientalista brasileiro (2000) e Políticas de resolução de conflitos socioambientais no Brasil (2004), ambos pela Editora da UFSC.

Leia também:

ENTREVISTA:

“Não existe mais fronteira artificial entre preservação e desenvolvimento econômico”

Raquel Wandelli – Que repercussão o senhor espera para essa obra, publicada nas vésperas da Rio+20 junho (13 a 24 de junho,  Rio de Janeiro)?
Agripa – Fui convidado para uma entrevista ao vivo no Canal Futura, nos dias 13 e 14 de junho, no período da tarde. Além disso, ambientalistas do Rio estão divulgando o livro, em sites como o da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Academia Brasileira de Ciências, jornais como O Globo. A Rio+20 é um evento muito plural, com redes de discussão interessadas na problematização do discurso da sustentabilidade e sobre a repercussão social e cultural das práticas ambientais, que são temas do livro.

R.W. – Sua pesquisa aponta que as práticas ambientais no Brasil têm um potencial transformador e ilustram mudanças de valores na sociedade brasileira. Mas na sua avaliação há uma mudança efetiva na política brasileira, tradicionalmente conservadora e antropocêntrica do ponto de vista dos direitos ambientais?
Agripa – Sim, há mudanças em curso, todavia devemos ter cuidado em avaliá-las. A tese central de meu livro é a de que existe um ambientalismo político, seletivo e diferencial no Brasil. Essas características são perceptíveis em termos bem práticos, basta ver o resultado político de Marina Silva na última eleição, com 20 milhões de votos. Isso indica mais do que uma simpatia por ela, carisma ou aceitação de sua plataforma política. Por detrás, há a incorporação de valores, assimilados seletivamente, com o mercado definindo, é claro, o que é sustentável, o que é questionável. Isso ocorre de diferentes formas, dependendo das regiões geográficas do apoio estruturante das políticas de governo e de empresas, fatores que o livro discute profundamente.

R.W. – Em 2000 o senhor publicou a obra A perda da radicalidade do movimento ambientalista brasileiro, em que aponta justamente um processo de cooptação desses movimentos pelo capital. Como avalia hoje o movimento ambientalista
Agripa – A atuação dos verdes é menos independente hoje, o que não quer dizer que abandonou a lógica de denúncia e protesto, pois ambientalismo compreende a tensão dos conflitos socioambientais – agronegócio versus agroecologia; desflorestamento para ocupação de pastagem versus defesa de terras indígenas, quilombolas e sociedades tradicionais etc. Todavia, a articulação que os ecologistas têm com as agências de governo, com o mercado e com comunidades precisa ser entendida de forma particular, caso a caso, pois não existe um único discurso ambiental, mas vários: preservacionistas, ecossocialistas, ecocapitalistas, econarquistas, ecoconservacionistas, definindo um universo de práticas ambientais com um potencial de interferência muito grande. Ou seja, não existe mais uma fronteira artificial entre preservação da natureza e desenvolvimento econômico a qualquer custo.

Existem sim vários aspectos diferenciais da política ambiental: para as cidades, saúde alimentar, preservação de áreas verdes, agricultura familiar, todas elas com aspectos locais, regionais e globais distintivos e complexos, mais ou menos utópicos, mais ou menos ideológicos (no sentido marxista desses termos).

R.W. E os responsáveis por essa transformação são os movimentos ecológicos?
Agripa – Sim, no sentido de que abalaram essa oposição entre preservação e desenvolvimento, os verdes mudaram realmente a forma de definir políticas públicas no país desde que estabeleceram marcos normativos na constituinte, fizeram-se representar politicamente, passaram a implementar políticas e ações estruturantes. O fato é que há, sim, uma clivagem política profunda na forma de conceber a vida no planeta, antes e depois dos verdes, e esse fato não deixa de ser um propósito articulador de práticas de vida também no Brasil.

Serviço:
Livro: Práticas ambientais no Brasil; definições e trajetórias
Autor: Agripa Faria Alexandre
Editora UFSC
105 páginas

Por: Raquel Wandelli / Jornalista da UFSC / 9911-0524 / 3721-9459  / raquelwandelli@yahoo.com.br / www.editora.ufsc.br

Contatos com o autor: agripa.alexandre@gmail.com

 

Tags: EdUFSCmeio ambienteUFSC

Diretor da EdUFSC é indicado ao prêmio Portugal Telecom de Literatura

01/06/2012 14:31

O diretor executivo da Editora da UFSC, Sérgio Medeiros, foi indicado ao prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2012 pelo livro de poemas “Figurantes”, publicado pela editora Iluminuras. Poeta, tradutor e professor, ele está entre os 60 finalistas do prêmio, anunciados esta semana no Rio de Janeiro. Há 20 concorrentes por área – romance, conto/crônica e poesia – e os 12 finalistas serão conhecidos em setembro. Os vencedores vão ser anunciados em novembro e levarão R$ 50 mil (por categoria).

Em 2009, Medeiros já havia sido indicado ao mesmo prêmio e também ao Jabuti com o livro “Sexo vegetal”, da Iluminuras. Natural do Mato Grosso do Sul, ele jé profesor dos cursos de pós-graduação em Literatura, Cinema e Artes Cênicas, do Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina, e foi mantido no cargo de diretor da EdUFSC pela nova reitora da instituição, Roselane Neckel.

A romancista catarinense Adirana Lunardi, nascida em Xaxim e radicada no Rio de Janeiro, também foi indicada ao prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, com o livro “A vendedora de fósforos”, da editora Rocco.

Mais informações com Sérgio Medeiros: 3721-8507, 3721-9686 ou sergio@editora.ufsc.br.

Tags: EdUFSCliteratura

Glauber Rocha volta à cena com reinvenção do romance

18/04/2012 09:36
.

O diretor da EdUFSC, Sérgio Medeiros, também é o editor da obra

No aniversário de 30 anos da morte de Glauber Rocha, a Editora da UFSC resgata a dívida do Brasil com a obra literária de um dos seus mais inovadores e criativos artistas e intelectuais, que revolucionou o cinema e reinventou a língua portuguesa. Riverão Sussuarana, o único e definitivo romance do mentor do Cinema Novo, esgotado há mais de três décadas, ganha uma nova edição, publicada pela EdUFSC em parceria com o Instituto Itaú Cultural.O lançamento da obra ocorrerá em Florianópolis, no dia 18 de abril, às 19h, na Fundação Cultural Badesc, junto com a divulgação do resultado do Concurso Rogério Sganzerla: Roteiros (Cinema e Dramaturgia), promovido pela Secretaria de Cultura e Arte e Editora da UFSC em 2011.

Polêmico, vociferante, ousado, erudito e transgressor, Glauber sempre será um marco na cultura brasileira. Para dar visibilidade a esse acontecimento de repercussão nacional, a Editora programou três atividades culturais no mesmo dia em homenagem ao artista, além do lançamento do livro. O evento começa com uma mesa redonda sobre a importância de Riverão Sussuarana.Os professores Jair Fonseca, do Curso de Literatura da UFSC, e a professora Dirce Waltrick do Amarante, do Curso de Artes Cênicas, vão apresentar seus estudos sobre as relações do cinema e da literatura de Glauber com James Joyce e Guimarães Rosa. Fonseca mostra a influência de Rosa sobre os “filmes sertanejos” de Glauber, a exemplo de Deus e o diabo na Terra do Sol, de 1964, enquanto Dirce fala principalmente sobre as aproximações de linguagem com Joyce.
Na sequência, um grupo de alunos de diversas disciplinas do Curso de Artes Cênicas coordenados pela professora Dirce fará a leitura da peça teatral que integra o romance da página 119 a 137, interrompendo a narrativa épica com o que o autor chama de “teatrinho sertanejo”. Como a obra de Joyce, o livro mistura narrativa, teatro, poesia, jornalismo, explica a professora de teatro e crítica teatral. Glauber extrapola as classificações de gênero, como o próprio autor explica em entrevista em 1981: “O livro é ao mesmo tempo um manifesto literário e estético. A teoria e a prática daquele livro são transferidas para a música, para o cinema, qualquer tipo de arte. […] Incorpora uma espécie de renovela, de desnovela, de recordel”. Vão compor a leitura os alunos Jacqueline Kremer, Marina Vershagem, Angélica Mahfuz, Márcio Cabral, Lourenço Lombardi, Robson Walkowski e Eduardo Stahelin.
Por fim, serão conhecidos os nomes dos dois vencedores do Concurso de Roteiros promovido pela EdUFSC, que busca incentivar o surgimento de talentos como o de Glauber e Rogério Sganzerla em Santa Catarina, conforme o diretor da Editora, Sérgio Medeiros. A presidente da Comissão Julgadora, Clélia Mello, professora do Curso de Cinema, vai divulgar os dois roteiros que, num total de 15 inscritos, receberão como prêmio a publicação de suas criações em livro.  O catarinense Sganzerla, que pertenceu ao grupo de jovens cinemanovistas liderados por Glauber e Júlio Bressane, também teve sua obra ensaística publicada pela EdUFSC e Itaú Cultural em 2010, com Edifício Rogério.
Ao seu modo tropicalista e antropofágico de criação, Glauber processa as diversas contribuições dos grandes nomes da cultura moderna e pós-moderna com gênio crítico e inventivo, inovando na trama e na linguagem, crivada de neologismos e palavras-valise (onde vários vocábulos compõem um só). A obra teve um impacto estético e cultural silencioso, mas profundo, alcançando, como o cinema premiado de Glauber, admiradores no exterior. Além de uma espécie de alucinado making off sobre o romance feito pelo próprio autor, a edição traz duas resenhas analíticas assinadas por Jair Fonseca e o crítico Mário Câmara. Em seu ensaio, Fonseca afirma que Riverão Sussuarana é marcado pelo memorialismo, pela autobiografia e pela autoficção.
Assim, a “desnovela” de Glauber chega primeiramente para o público de Santa Catarina, depois para o resto do Brasil, a partir do lançamento, em São Paulo, na sede do Itaú Cultural, em data ainda não confirmada. Depois de dois anos de negociação com a família do cineasta, Riverão… sai publicado com duas capas sobrepostas: a original, desenhada pela viúva Paula Gaettan, na publicação da Record de 1978, e a atual sobreposta, da artista gráfica catarinense Lúcia Iaczinski, de modo que é possível ler nesse palimpsesto as tendências estéticas e políticas dos dois períodos históricos da cultura brasileira.

.

.

SERVIÇO:

Riverão Sussuarana, Glauber Rocha
Editora da UFSC
Lançamento: 18 de abril, às 19h
Local: Fundação Cultural Badesc, Centro de Florianópolis
De R$ 39,00, por R$ 28,00 – com desconto de 30% (no lançamento)

Por Raquel Wandelli/Jornalista na SeCarte – (48) 9911-0524 – 3721-9459 – raquelwandelli@yahoo.com.brraquelwandelli@reitoria.ufsc.brwww.secarte.ufsc.br

Tags: EdUFSCGlauber Rocha

Glauber Rocha volta à cena com reinvenção do romance

16/04/2012 07:00
.

O diretor da EdUFSC, Sérgio Medeiros, também é o editor da obra

No aniversário de 30 anos da morte de Glauber Rocha, a Editora da UFSC resgata a dívida do Brasil com a obra literária de um dos seus mais inovadores e criativos artistas e intelectuais, que revolucionou o cinema e reinventou a língua portuguesa. Riverão Sussuarana, o único e definitivo romance do mentor do Cinema Novo, esgotado há mais de três décadas, ganha uma nova edição, publicada pela EdUFSC em parceria com o Instituto Itaú Cultural.O lançamento da obra ocorrerá em Florianópolis, no dia 18 de abril, às 19h, na Fundação Cultural Badesc, junto com a divulgação do resultado do Concurso Rogério Sganzerla: Roteiros (Cinema e Dramaturgia), promovido pela Secretaria de Cultura e Arte e Editora da UFSC em 2011.

Polêmico, vociferante, ousado, erudito e transgressor, Glauber sempre será um marco na cultura brasileira. Para dar visibilidade a esse acontecimento de repercussão nacional, a Editora programou três atividades culturais no mesmo dia em homenagem ao artista, além do lançamento do livro. O evento começa com uma mesa redonda sobre a importância de Riverão Sussuarana.Os professores Jair Fonseca, do Curso de Literatura da UFSC, e a professora Dirce Waltrick do Amarante, do Curso de Artes Cênicas, vão apresentar seus estudos sobre as relações do cinema e da literatura de Glauber com James Joyce e Guimarães Rosa. Fonseca mostra a influência de Rosa sobre os “filmes sertanejos” de Glauber, a exemplo de Deus e o diabo na Terra do Sol, de 1964, enquanto Dirce fala principalmente sobre as aproximações de linguagem com Joyce.
Na sequência, um grupo de alunos de diversas disciplinas do Curso de Artes Cênicas coordenados pela professora Dirce fará a leitura da peça teatral que integra o romance da página 119 a 137, interrompendo a narrativa épica com o que o autor chama de “teatrinho sertanejo”. Como a obra de Joyce, o livro mistura narrativa, teatro, poesia, jornalismo, explica a professora de teatro e crítica teatral. Glauber extrapola as classificações de gênero, como o próprio autor explica em entrevista em 1981: “O livro é ao mesmo tempo um manifesto literário e estético. A teoria e a prática daquele livro são transferidas para a música, para o cinema, qualquer tipo de arte. […] Incorpora uma espécie de renovela, de desnovela, de recordel”. Vão compor a leitura os alunos Jacqueline Kremer, Marina Vershagem, Angélica Mahfuz, Márcio Cabral, Lourenço Lombardi, Robson Walkowski e Eduardo Stahelin.
Por fim, serão conhecidos os nomes dos dois vencedores do Concurso de Roteiros promovido pela EdUFSC, que busca incentivar o surgimento de talentos como o de Glauber e Rogério Sganzerla em Santa Catarina, conforme o diretor da Editora, Sérgio Medeiros. A presidente da Comissão Julgadora, Clélia Mello, professora do Curso de Cinema, vai divulgar os dois roteiros que, num total de 15 inscritos, receberão como prêmio a publicação de suas criações em livro.  O catarinense Sganzerla, que pertenceu ao grupo de jovens cinemanovistas liderados por Glauber e Júlio Bressane, também teve sua obra ensaística publicada pela EdUFSC e Itaú Cultural em 2010, com Edifício Rogério.
Ao seu modo tropicalista e antropofágico de criação, Glauber processa as diversas contribuições dos grandes nomes da cultura moderna e pós-moderna com gênio crítico e inventivo, inovando na trama e na linguagem, crivada de neologismos e palavras-valise (onde vários vocábulos compõem um só). A obra teve um impacto estético e cultural silencioso, mas profundo, alcançando, como o cinema premiado de Glauber, admiradores no exterior. Além de uma espécie de alucinado making off sobre o romance feito pelo próprio autor, a edição traz duas resenhas analíticas assinadas por Jair Fonseca e o crítico Mário Câmara. Em seu ensaio, Fonseca afirma que Riverão Sussuarana é marcado pelo memorialismo, pela autobiografia e pela autoficção.
Assim, a “desnovela” de Glauber chega primeiramente para o público de Santa Catarina, depois para o resto do Brasil, a partir do lançamento, em São Paulo, na sede do Itaú Cultural, em data ainda não confirmada. Depois de dois anos de negociação com a família do cineasta, Riverão… sai publicado com duas capas sobrepostas: a original, desenhada pela viúva Paula Gaettan, na publicação da Record de 1978, e a atual sobreposta, da artista gráfica catarinense Lúcia Iaczinski, de modo que é possível ler nesse palimpsesto as tendências estéticas e políticas dos dois períodos históricos da cultura brasileira.
 

.

(clique para ampliar)

SERVIÇO:

Riverão Sussuarana, Glauber Rocha
Editora da UFSC
Lançamento: 18 de abril, às 19h
Local: Fundação Cultural Badesc, Centro de Florianópolis
De R$ 39,00, por R$ 28,00 – com desconto de 30% (no lançamento)
 
Por Raquel Wandelli/Jornalista na SeCarte – (48) 9911-0524 – 3721-9459raquelwandelli@yahoo.com.brraquelwandelli@reitoria.ufsc.brwww.secarte.ufsc.br
Tags: EdUFSCGlauber Rocha

Silveira de Souza atrai vestibulandos na Feira do Livro nesta quarta

28/03/2012 12:50
.

Ecos no Porão 2, de Silveira de Souza, faz parte da lista de livros do próximo vestibular da UFSC

 Autor de Ecos no Porão II vai conversar com estudantes de ensino médio durante a Feira de Livros da Editora da UFSC. Lincoln Frias, autor de obra sobre a ética no uso de células-tronco também participa nesta quarta (28) da Tarde de Encontro com Leitores.

Dois autores vão participar, nesta quarta-feira (28), da Tarde de Encontro com Autores da Feira de Livros da Editora da UFSC, na Praça da Cidadania. Um deles é o consagrado escritor catarinense Silveira de Souza, autor do livro de contos Ecos no Porão 2, publicado pela Editora da UFSC  no ano passado e selecionado para o Vestibular da UFSC 2013. O outro é Lincoln Frias, que virá de Minas Gerais para conversar sobre o livro A ética no uso e na seleção de embriões, vencedor do Grande Prêmio Melhor Tese da UFMG 2011, que discute questões polêmicas na área da Bioética. Os encontros começam às 17 horas, na Tenda dos Autores, junto à Feira, e encerram às 19 horas com uma apresentação musical do Duo arirambacom Adriana Cardoso (voz) e Trovão Rocha (contrabaixo).

 

Segundo volume de uma série de livros de contos, Ecos no Porão já está à disposição para leitura on-line de acesso gratuito no site da Editora UFSC (www.editora.ufsc.br), que também providenciou uma segunda impressão com três mil exemplares. Silveira de Souza vai autografar a obra e conversar com os leitores no seu relançamento na Praça da Cidadania, Com base no interesse demonstrado pelas escolas em participar do evento, a Editora da UFSC acredita que a presença do autor atrairá grande número de vestibulandos e estudantes de ensino médio. Dependendo do volume de público, poderá promover uma conversa do escritor em um auditório maior próximo à feira, a ser anunciado no local, conforme informa o coordenador do evento, Fernando Wolff.Até o final da Feira, no dia 4 de abril, o volume solicitado no Vestibular será vendido com 50% de desconto, a R$ 15,00.

Em Ecos no Porão 2, Florianópolis é o cenário para uma legião de homenzinhos bizarros fazendo cooper com calções esdrúxulos, velhinhos trovadores, desempregados, avozinhas, solteironas, aposentados, enfim, habitantes da vizinhança da Ilha onde pulsa um coração decrépito, murchando para a vida, que pode ser acordado de súbito por um pequeno incidente, a fuga de um canário ou uma rajada de vento. Mas Florianópolis não é mero pretexto para o quase octogenário escritor Silveira de Souza descrever o local onde nasceu e viveu. Mais do que isso, a Ilha é o “mundinho” onde se constituem essas “figurinhas ridículas” e apaixonantes do grotesco que vão ganhar dramaticidade e lirismo no segundo volume da antologia de contos de Silveira.

Esses habitantes ao mesmo tempo ordinários e excêntricos dos porões da ficção de Silveira, que podem estar no café, na Beira-Mar, na Praça XV, no Calçadão ou em quarto de hotel, carregam um traço em comum: todos experimentam o vazio da existência. Mas ao longo das 137 páginas são surpreendidos no automatismo banal do seu dia a dia urbano por sutis acontecimentos que anunciam possibilidades de conhecerem uma dimensão mais sublime da vida. E o que produz esse acesso ao “mundão”? Uma sinfonia de Bethoven, um sonho ou um pesadelo, uma emoção inesperada, uma cena da memória, um abalroamento de carro, enfim, interferências mais ou menos perceptíveis que alteram o estado de coisas e, como em um poema haikai, sugerem uma revelação.

Considerado o melhor da obra de Silveira, o livro reúne três seleções do próprio autor dos livros Canário de assobio (1985), Relatos escolhidos (1988), Contas de vidro (2002) e ainda cinco contos inéditos, entre eles a narrativa metalinguística “Ecos no porão”, que dá nome à obra e traduz uma metáfora de Silveira para as interferências da leitura dos escritores clássicos que inundam seu imaginário desde os dez anos de idade. Com linguagem habilidosa, uma dose do humor e outra da ironia que lhe são características e ainda um olhar lírico para o grotesco, Silveira parece rir-se baixinho ao final de cada um dos 28 contos, onde reside uma possibilidade de descoberta que nunca se entrega sem esforço do leitor.

 
SERVIÇO:

Ecos no Porão 2

Autor: Silveira de Souza

Editora UFSC

Preço do catálogo: R$ 29,00

e a R$ 15,00 na Feira de Livros da UFSC

 

Ética no uso e na seleção de embriões

Autor: Lincoln Frias

R$ 36,00

 

Lançamentos na Feira – Tardes de autógrafos e conversa com autores

Data: 28 de março, a partir das 17 horas

Local: Tenda dos autores junto à Feira

Silveira de Souza, autor da coletânea de contosEcos no porão 2

Lincoln Frias, doutor em filosofia, autor de A ética do uso e da seleção de embriões, de (vencedor do Grande Prêmio Tese do Ano da UFMG 2011)

 

Texto: Raquel Wandelli

raquelwandelli@yahoo.com.br

Jornalista – SeCArte – UFSC

Fones: 37218729, 37218910 e 99110524

Tags: EdUFSCFeira de Livros

Quando a ciência abala o código moral

27/03/2012 14:46

Obra busca os pontos de convergência e discordância entre ciência e filosofia ao longo da história

O avanço das ciências incide de forma avassaladora sobre a conduta humana, afetando e modificando progressivamente valores, crenças e critérios tradicionais que regem as relações dos indivíduos e sociedades. A tal ponto que a Bioética tornou-se uma área estratégica e emergente nesses tempos de manipulação de células tronco que colocam em crise os parâmetros éticos, culturais e religiosos da humanidade. Termos jurídicos como o Pensamento Vital ou Diretrizes antecipadas, que garantem o direito do indivíduo de solicitarpreviamente medidas como a eutanásia,em caso de vida vegetativa, reivindicam mudanças no código penal que respeitem a vontade e autonomia do indivíduo sobre concepções preestabelecidas acerca da vida.

No próximo ano, um grande fórum terá lugar em Florianópolis com a realização do X Congresso Brasileiro de Bioética, que será presidido de 24 a 27 de setembro pelo médico e ex-reitor da UFSC Bruno Schlemper. Questões muito controversas, como o direito ao aborto até o três meses de gravidez vão entrar em debate. Adiantando-se a essa temática, a Editora da UFSC lança em sua Feira de Livros a obra Bioética: autopreservação, enigmas eresponsabilidade, do filósofo do direito José Heck, que facilita a discussão ética buscando os pontos de convergência e discordância entre ciência e filosofia ao longo da história, desde Platão e Aristóteles até os dias atuais.

Pesquisador de reconhecido fôlego, Heck se diferencia por tratar a Bioética de forma transdisciplinar, bem como inserir a discussão no contexto dos desafios ambientais. Professor do doutorado em Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás, Heck integrou entre 1978 e 1979 o Departamento de Filosofia da UFSC, logo após defender tese de doutorado na Universidade de Munique sobre “saúde e doença” à luz da filosofia de Platão e da psicanálise freudiana.

Nesse estudo, o autor compreende a Bioética dentro de uma visão não-antropocêntrica do mundo, que abarca os humanos, os animais e a natureza enquanto um conjunto com valor interdependente, que sobrepõe sua existência à revelia da vontade ou mesmo da permanência do homem no planeta. “Nada indica, e muito menos assegura, que o notório ser senhor do animal racional sobre outras criaturas implique um primado da conservação dos humanos sobre o restante do Universo”, escreve o autor, que é também pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Católica de Goiás.

Ao explicitar contrapontos cruciais entre os dogmas cristãos e os princípios filosóficos, em uma rede de disputas que remetem à origem da Modernidade, a obra expõe o aspecto explosivo e complexo da Bioética, muito mais marcada por acirradas polêmicas do que por consensos. Dada a persistência cotidiana dos conflitos morais nas práticas biomédicas, a figura dos profissionais em saúde, ainda cercada de uma aura simbólica sacra, não pode atuar à revelia das diretrizes bioéticas. De modo semelhante, os supostos colapsos da natureza, anunciados pela ciência, estão colocando em xeque consolidadas doutrinas religiosas sobre a supremacia do homem na terra e sobre a origem da vida.

O filósofo José Heck

O livro mostra que o conhecimento da bioética se produz e desenvolve no contexto das descobertas científicas de diversos saberes e repercute as concepções acerca da saúde, da liberdade do indivíduo, da dignidade da pessoa humana. Heck, que defendeu tese de doutorado na Universidade de Munique sobre “saúde e doença” à luz da filosofia de Platão e da psicanálise freudiana, critica os modelos convencionais das disciplinassegmentadas e advoga a multidisciplinaridade dos saberes científicos com os não científicos.

Com profundidade científica de um filósofo e a eloquência de um jurista, Heck lança o foco bioético em uma rede de interações multidisciplinares. Nessa nova perspectiva examina, à luz das descobertas científicas e das novas habilidades técnicas, questões cruciais como a dignidade da pessoa, a fragilidade dos seres humanos e a necessária cumplicidade dos variados saberes com as condições de saúde e do direito dos indivíduos à fruição de um meio ambiente sadio.

Por Raquel Wandelli, jornalista, doutoranda em literatura e professora universitária.


Livro: Bioética, autopreservação, enigmas e responsabilidade
Autor:  José Heck
Editora da UFSC
Preço na Feira de Livros: de R$ 26,00 por R$ 13,00 (até o dia 4 de abril, na Praça da Cidadania).

Tags: BioéticaEdUFSCFeira de LivrosUFSC

Embriões humanos têm direito à vida?

27/03/2012 14:30

Se você é um brasileiro típico, você discorda de mim: você acredita que embriões humanos têm direito à vida, que essa é uma afirmação óbvia e provavelmente pensa que devo ser uma pessoa má, que não se preocupa com seres indefesos e que estou disposto a usar outras pessoas para satisfazer meus interesses.

Os embriões humanos que costumam ser o assunto desse tipo de discussão são aqueles que têm menos de 14 dias, pois depois desse prazo eles não são de grande utilidade nem para a derivação de células-tronco nem para a fertilização in vitro. Esse embrião é um conjunto de apenas algumas dezenas de células, as quais são todas iguais. Ele não só ainda não tem órgãos, como não é possível nem mesmo saber quais células formarão o feto e quais formarão a placenta. Ele ainda pode se dividir em dois ou mais embriões (é assim que se formam os gêmeos univitelinos) e também pode ser que ele se funda naturalmente com outro embrião que esteja sendo gestado com ele. E mais incrivelmente, usando técnicas laboratoriais sofisticadas, pode ser possível criar um novo embrião a partir de cada uma das suas células.

Mesmo assim há quem considere que esse tipo de organismo mereça ser considerado em pé de igualdade com seres humanos adultos, que ele tem direito à vida e que destruí-lo para derivar células-tronco ou para realizar fertilização in vitro é tão errado quanto assassinar uma pessoa, mesmo que isso seja feito paracurar outras pessoas ou garantir que os pais tenham um filho saudável.

Não é surpreendente que as pessoas pensem assim. Na falta de alternativas, é melhor que se defenda seres indefesos. O que surpreende é que os argumentos para justificar essa opinião sejam incrivelmente fracos e que o assunto seja tratado como uma questão de tudo ou nada. A questão é a seguinte: todos concordamos com que (a) espermatozóides e óvulos podem ser mortos (p. ex., na masturbação ou na menstruação) e com que (b) recém-nascidos não podem ser mortos. O problema é descobrir em que momento entre (a) e (b) o direito à vida é adquirido.

Você provavelmente acha que é quando acontece a fecundação. Uma primeira justificativa que você pode oferecer é de que ali já se estabelece a individualidade genética, se cria um genoma inédito. O problema é que há outros seres vivos que também têm essa individualidade genética (plantas, animais etc.) e não estamos dispostos a atribuir direito à vida a todos eles. E mais preocupante ainda, há seres humanos sem essa individualidade, os gêmeos. Teríamos então que considerar que eles não têm direito à vida.

Não sei como você vai lidar com os gêmeos, mas você pode desconsiderar os outros seres vivos dizendo que o que importa é pertencer à espécie humana. Só que o risco ao dizer isso é cair no especismo, cometendo o mesmo tipo de erro dos machistas, dos racistas e dos bairristas, a preferência por um certo grupo só porque ele é o seu grupo. Para evitar isso seria preciso indicar algo que os seres humanos possuem e que faz com que mereçam direito à vida.

Os candidatos mais promissores são a capacidade de autocontrole, a racionalidade e a autoconsciência, as características que definem uma pessoa. O problema é que o embrião está incrivelmente longe de possuí-las. Afinal de contas, ele não possui um único neurônio que seja.

Diante desse problema, o esperado é que você diga que o importante é que o embrião tenha o potencial para se tornar se tornar ser humano. Esse é o argumento mais resistente, não porque seja o mais sólido, mas porque é o que está mais entranhado em nossa maneira instintiva de pensar. Nunca consegui convencer minha avó, minhas tias e meus amigos do futebol de que esse argumento é ruim. Minha hipótese é que isso acontece porque quando dizemos que o embrião tem o potencial para ser uma pessoa, imaginamos instintivamente que essa pessoa em potencial já está lá no meio daquelas células, sentindo e sofrendo. Supomos que, assim como eu agora não gostaria que tivessem me matado quando eu era um embrião, o embrião também não vai gostar se o matarmos.

Essa suposição é falsa. Não há alguém em meio àquelas células, pois nada ali é capaz de sentir e sofrer. É consenso científico que o feto só será capaz de sentir dor depois da 24ª semana de gestação – 22 semanas depois do estágio que estamos discutindo – pois apenas então haverá as estruturas cerebrais mínimas para haver qualquer tipo de consciência. Mas durante a evolução de nossa espécie foi imprescindível para nossa sobrevivência viver em grupo e para fazer isso é preciso ser capaz de pensar sobre o que os outros estão pensando e se preocupar com a dor deles (a capacidade de empatia). Essas capacidades nossas são tão ativas que tratamos bichinhos de pelúcia como se eles tivessem sentimentos. A ficção (de quadrinhos a novelas) é toda baseada no fato de que dá para enganar essa nossa capacidade de tratar coisas (p. ex., rabiscos no papel) como agentes (organismos com sentimentos e intenções). Muita gente chorou com o destino dos personagens de Avatar como se eles realmente estivessem sofrendo.

Esse mecanismo de se preocupar com os sofrimentos de outros organismos, principalmente se eles parecem ter planos, objetivos e intenções é algo que fazemos automaticamente e minha hipótese é que esse tipo de processo é que incentiva nosso apego à ideia de que o potencial do embrião já coloca ele no mesmo patamar das pessoas desenvolvidas. Pense comigo, em nenhuma outra situação valorizamos o que apenas tem o potencial da mesma maneira com que valorizamos o que já está realizado: uma semente que pode dar origem a uma árvore de mil anos não é tão admirável quanto a própria árvore quanto ela tiver mil anos, o fato de que a Argentina tem o potencial para ganhar a Copa de 2014 não justifica já escrever seu nome na taça etc. Da mesma maneira, o fato de que o embrião pode se tornar uma pessoa e que uma pessoa tem direito à vida, não justifica dar a ele as proteções de uma pessoa. Ainda não há uma pessoa lá. A não ser que você acredite em almas. Aí o seu problema é o de provar que elas existem. Apenas no final do século XIX os católicos escolheram a fecundação como o momento em que a alma entra no corpo. Antes disso acreditavam que a alma encarnava apenas aos 40 dias – a posição de Aristóteles, Tomás de Aquino, dos judeus, dos muçulmanos e de alguns protestantes.

Um sério problema para o Argumento da Potencialidade é que a maioria dos embriões não tem potencial nem para chegar ao fim da gestação, muito menos para se tornar uma pessoa. Estima-seque impressionantes 63% dos embriões que são formados através da reprodução natural não têm esse potencial – aproximadamente metade por falta de ambiente adequado e metade porque são incapazes de se desenvolver mesmo no ambiente mais adequado, pois têm problemas fisiológicos. Além disso, nem todo ser humano tem potencial de se tornar uma pessoa, como é o caso dos fetos anencéfalos ou com outras deficiências mentais graves. Outro problema é o fato de ser possível que o embrião se divida em dois ou que ele se funda com outro embrião, de maneira queele não só tem o potencial para se tornar uma pessoa, como tem também o potencial para se tornar mais de uma pessoa ou menos de uma pessoa.

Por fim, pense no seguinte: se há um incêndio em uma clínica de fertilização e você precisa decidir entre salvar dois embriões ou uma criança de três anos, quem você escolheria? Nunca encontrei alguém que salvasse os embriões, mesmo que fossem cem ou mil. Se você também pensa assim, você não acredita realmente que eles tenham direito à vida. Mas como minha avó e meus amigos do futebol estão aí para me lembrar, esses argumentos não são suficientes para impedir o processo automático de pensar que o embrião já é alguém, principalmente porque não queremos ser o tipo de pessoa que aceita que seres indefesos sejam mortos (apesar de fazermos churrasco de tantos animais cognitivamente muito mais desenvolvidos que os embriões).

Nada disso quer dizer que os embriões não tenham valor e que possamos fazer qualquer coisa com eles. Quer dizer apenas que a pesquisa com células-tronco embrionárias e a fertilização in vitro não devem ser proibidas por provocarem a morte de embriões e que quem defende essa posição não é necessariamente uma pessoa má, que não se preocupa com seres indefesos e que está disposta a usar outras pessoas para satisfazerem meus interesses.


Por Lincoln Frias, doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autor de A Ética no uso e na seleção de embriões (EdUFSC – Fapemig). O autor participa nesta quarta-feira, 28 de março, da Tarde de Encontro com Autores da Feira de Livros da Editora da UFSC, na Praça da Cidadania.

Tags: ArtigoEdUFSCFeira de LivrosSeCArteUFSC

Feira de Livros tem público diário de duas mil pessoas

27/03/2012 09:00

Mostra de livros com 30 a 70% de desconto é palco de 21 lançamentos

A Feira de Livros da Editora da UFSC entra em sua quarta e penúltima semana com um público diário de duas mil pessoas e o lançamento de 21 livros inéditos com até 70% de desconto. Poesia, conto, romance, filosofia, bioética, história, sociologia e literatura, além de obras didáticas de engenharia, física e matemática estão entre as novidades preparadas pela Editora especialmente para esta mostra. Aberta ao público, a mostra de volta às aulas funciona em uma grande tenda coberta e climatizada na Praça da Cidadania, de segunda a sexta, das 8h30min às 19h.

Até o dia 4 de abril, a Editora vai expor com descontos que variam de 30 a 70% 1.800 títulos e cerca de 20 mil exemplares, entre lançamentos do seu catálogo, das instituições livreiras que integram a Liga de Editoras Universitárias e de outras editoras reconhecidas no mercado. Vários livros estão sendo lançados na presença dos autores, que também estão participando de tardes de autógrafos e conversa com os leitores em uma tenda preparada especialmente para esse encontro junto à feira, sempre às quartas-feiras, a partir das 17h e com prorrogação do horário de atendimento para até às 20h30min.

Na tarde desta quarta-feira, 28de março, o contista catarinense Silveira de Souza, autor de Ecos no Porão II, livro incluído pela Coperve na Lista do Vestibular 2013 da UFSC, conversará sobre essa obra. A EdUFSC lança na presença do escritor a segunda edição da coletânea, toda ambientada em Florianópolis. Várias escolas e estudantes de ensino médio estão se movimentando para esse bate-papo com autor.

Dependendo da procura, a Editora poderá organizar um debate com Silveira em um auditório próximo à feira, a ser divulgado no local. Pela EdUFSC Silveira lançou também 28 Aforismos, tradução inédita em língua portuguesa de seleção de pensamentos de Franz Kafka.

 

 

Lançamento: obra traz discussão filosófica sobre questões morais e sociais em torno dos avanços da genéticaA ética do uso e da seleção de embriões
No mesmo dia, Lincoln Frias virá de Belo Horizonte para o lançamento de A ética do uso e da seleção de embriões. Editado com apoio da Fapemig, o livro traz uma discussão filosófica emergente sobre as questões morais e sociais em torno dos avanços da ciência na área da genética. Vencedor do Grande Prêmio UFMG de Teses de 2011, de cuja banca fez parte o diretor da EdUFSC, Sérgio Medeiros, o livro enfoca do ponto de vista filosófico a polêmica sobre o pretenso direito a vida dos embriões que circunda os debates sobre o uso de células-tronco. Além deste livro, a Editora lança Bioética; autopreservação, enigmas e responsabilidade, do filósofo José Heck, outra obra integrante da coleção Ethica, coordenada pelo professor Darley Dall´Agnol.

A EdUFSC preparou outros lançamentos inéditos especialmente para a feira, como O Espelho da América: de Thomas More a Jorge Luis Borges, de Rafael Ruiz, que desbrava a história da primeira modernidade da América através da literatura clássica. Estão na lista dos novos livros também Ongs e políticas neoliberais no Brasil, de Joana Aparecida Coutinho e Percursos em teoria da Gramática, de Roberta Pires de Oliveira e Carlos Mioto.

Além de promover os lançamentos, a editora vai oferecer com descontos obras que tiveram grande repercussão no ano passado, como Homo academicus, do sociólogo francês Pierre Bourdieu, traduzido pela professora do curso de Pedagogia da UFSC Ione Valle. Ligação direta, ensaio inédito do filósofo italiano Mario Perniola sobre as relações entre estética e política também se destaca na mostra.

Os livros Seis décadas de poesia alemã, organizado por Rosvitha Blume e Markus Weininger e O liberalismo de Ralf Dahrendorf, de Antônio Carlos Dias Júnior, também saíram direto da gráfica para a feira. Mais uma novidade: Riverão Sussuarana, o grande romance do cineasta Glauber Rocha, co-editado com o Itaú Cultural, deverá ficar pronto para a última semana da feira.

Lançamentos na Feira – Tardes de encontro com leitores:
Horário: a partir das 17h
Local: Tenda dos autores junto à Feira
Data: 28 de março, a partir das 17h

• Silveira de Souza, autor da coletânea de contos Ecos no porão 2,
• Lincoln Frias, doutor em filosofia, autor de A ética do uso e da seleção de embriões, de (vencedor do Grande Prêmio UFMG de Teses de 2011)

Outros lançamentos na Feira:
• O Espelho da América: de Thomas More a Jorge Luis Borges, história da modernidade latino-americana através da literatura clássica, de Rafael Ruiz.
• Ecos no Porão II, coletânea de contos de Silveira de Souza que faz parte da lista do Vestibular 2013;
• Percursos em teoria da Gramática, de Roberta Pires de Oliveira e Carlos Mioto;
• Ongs e políticas neoliberais no Brasil, de Joana Aparecida Coutinho;
• Bioética, do filósofo José Heck;
• Matrizes e sistemas de equações lineares, de Nilo Kühlkamp (Série Didática, nova edição)
• Introdução à engenharia; conceitos, ferramentas e comportamentos, de Walter Antonio Bazzo e Luiz Teixeira do Valle Pereira (Série Didática, nova edição)
• Tecnologia da fabricação de revestimentos cerâmicos, de Antônio Pedro

 Outros lançamentos para o primeiro trimestre:
• O liberalismo de Ralf Dahrendorf, de Antônio Carlos Dias Júnior;
• Seis décadas de poesia alemã, organizado por Rositha Blume e Markus Weininger;
• Códices, do historiador e pesquisador mexicano Miguel León-Portilla, maior especialista em escritas ameríndias (maia e inca) da atualidade;
• Riverão Sussuaruna, romance do cineasta Glauber Rocha, em co-edição EdUFSC e Fundação Itaú Cultural

Preços de livros na Feira:

Poemas, de Rodrigo de Haro, com os volumes “Folias do Ornitorrinco” e “Espelho dos Melodramas” (de R$ 58,00 por R$ 40,00)

Homo Academicus, de Pierre Bourdieu (de R$ 56,00 por R$ 40,00);

O Espelho da América: de Thomas More a Jorge Luis Borges, de Rafael Ruiz (de R$ 31,00 por R$ 16,00);

Ecos no Porão II, coletânea de contos Silveira de Souza (relacionado na lista do Vestibular 2013 da UFSC) (R$ 15,00);

Filosofia da Tecnologia, de Alberto Cupani (de R$ 34,00 por R$ 17,00);

Gralha azul; nas asas da esperança, poemas de Leonilda Antunes Pereira (de R$ 12,00 por R$ 5,00)

Ao que minha vida veio, de Alckmar dos Santos, vencedor do Concurso Romance Salim Miguel (de R$ 29,00 por R$ 15,00);

Ongs e políticas neoliberais no Brasil, de Joana Aparecida Coutinho (de R$ 26,00 por R$ 13,00);

Bioética, do filósofo José Heck (Série Ethica de R$ 26,00 por R$ 13,00);

A ética do uso e da seleção de embriões – Lincoln Frias (Série Ethica, de R$ 36,00)

Percursos em teoria da Gramática, de Roberta Pires de Oliveira e Carlos Mioto; (de R$ 29,00 por R$ 15,00)

Matrizes e sistemas de equações lineares, de Nilo Kühlkamp (Série Didática – de R$ 26,00 por R$ 13,00);

Introdução à engenharia; conceitos, ferramentas e comportamentos, de Walter Antonio Bazzo e Luiz Teixeira do Valle Pereira (Série Didática – de R$ 26,00 por R$ 13,00);

Tecnologia da fabricação de revestimentos cerâmicos – Antônio Pedro (de R$ 22,00 por R$ 11,00)

Por Raquel Wandelli / Assessora de Comunicação da SeCArte / raquelwandelli@yaho.com.br / www.secarte.ufsc.br / 3721-8729 / 9911-0524

 

Tags: EdUFSCFeira de LivrosUFSC

Na Mídia: Obra organizada por professores da UFSC ganha repercussão nacional

14/03/2012 11:10

O caderno Sabático, do Estado de S. Paulo, publicou neste final de semana resenha sobre De Santos e Sábios, obra inédita que reúne os ensaios do escritor irlandês James Joyce. Recém lançado pela Iluminuras, o livro foi organizado pelos professores de Literatura Sérgio Medeiros (diretor da Editora da UFSC), Dirce Waltrick do Amarante, do Curso de Artes Cênicas.

Além deles, participaram da tradução André Cechinel, doutor em Literatura pela UFSC e Caetano Galindo, professor de Literatura da UFPR, que também assinam artigos analisando a obra ensaística de James Joyce, que tem um enfoque estético e surpreendentemente político.

Acompanhe o material:

O outro lado de James Joyce De Santos e Sábios, livro de ensaios do escritor irlandês, surpreende pela diversidade de temas e por sua politização
Sábado, 10 de Março de 2012, 03h10

Antonio Gonçalves Filho

A reunião dos textos estéticos e políticos do irlandês James Joyce (1882 -1941) no livro De Santos e Sábios revela mais sobre o escritor do que talvez gostasse o autor de Ulysses. Há nesses ensaios tanto um homem generoso, capaz de fazer justiça ao visionário poeta e pintor William Blake, como um iconoclasta disposto a arrasar a reputação de contemporâneos como o dramaturgo irlandês Arnold F. Graves. Quatro tradutores se debruçaram sobre o livro The Critical Writings (1959), editado por Ellsworth Mason e Richard Ellman, buscando ainda apoio em outro livro, Occasional, Critical an Political Writing, para discutir as relações entre os ensaios de Joyce e sua obra ficcional, escrevendo cada um deles uma pequena introdução crítica a meia centena de textos produzidos entre 1896, quando o escritor tinha apenas 14 anos, e 1937.

A ordem cronológica, nesse caso, comprova a evolução tanto da sintaxe como do pensamento de Joyce. No primeiro texto que se conhece do irlandês, o futuro escritor refere-se ao olho como capaz de definir o caráter de um homem, ao revelar culpa e inocência, vício e virtude. Seria, segundo Joyce, a única exceção ao provérbio “não se deve confiar nas aparências”, parodiado por Oscar Wilde no seu mais célebre aforismo (“só os tolos não julgam pela aparência”). Sobre o compatriota, Joyce escreve um comovente ensaio no livro (relatando o fim do poeta e dramaturgo). Já no último texto, de 1937, Joyce não precisa olhar nos olhos do pirata Samuel Roth, primeiro editor americano de Ulysses, para acusá-lo de inescrupuloso – ele lançou uma edição truncada e, claro, o autor não recebeu seus direitos.

Como se sabe, o épico modernista foi banido nos EUA, em 1922, mesmo ano de sua publicação, na França.  Acusado de blasfêmia e obscenidade, só foi liberado em 1933.

Boa parte da literatura ocidental, observa um dos tradutores do livro, Caetano Galindo, continua a ignorar esse “vulcão” literário, passando ao largo de Ulysses, traduzido também por Galindo – a nova versão será lançada pela Companhia das Letras em abril. Já os que reconhecem o papel revolucionário de Joyce como ficcionista podem se surpreender com esses ensaios – alguns bem convencionais e escritos para jornais.

Surpreendentemente, Joyce se considerava um jornalista nato, apesar da constrangedora entrevista que fez, em 1903, com o piloto de corridas Henri Fournier. É certo que precisava de dinheiro para viver em Paris, mas a conversa com o francês, publicada no Irish Times, nada acrescenta à trajetória de Joyce.

Nesse mesmo ano, ele tentou começar uma carreira de crítico, ajudado por Lady Gregory, que o recomendou ao editor do Daily Express, segundo o tradutor André Cechinel. Provavelmente para impressionar o editor Longworth e afirmar sua autonomia, Joyce foi bastante cruel com a autora do livro Poets and Dreamers (ele classifica de “pitoresca” a obra de Lady Gregory, que não gostou da resenha). Talvez por precaução, no ano seguinte, 1904, Joyce assinou seu primeiro conto publicado, As Irmãs (incluído depois em Os Dublinenses), com o pseudônimo de Stephen Dedalus, nome que figuraria como um dos personagens de Ulysses. Detalhe: Joyce condena o uso de pseudônimos no texto Um Inútil (1903), publicado no mesmo Daily Express, sobre um livro de Valentine Caryl (aliás, Valentine Hawtrey, escritora de romances protofeministas como Suzanne, de 1906).

São sobre política (principalmente o eterno conflito entre ingleses e irlandeses) e o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) os melhores ensaios do livro De Santos e Sábios, organizado por Sérgio Medeiros e sua mulher Dirce Waltrick do Amarante, ambos tradutores de Joyce. Sobre artes visuais, Joyce parece um neófito perdido ao descrever o realismo do pintor húngaro Michael Munkácsy. Sobre filosofia, chega a canonizar Giordano Bruno como o pai da filosofia moderna, rebaixando Bacon e Descartes. Finalmente, sobre literatura, ele parece um tanto desconfiado dela na virada do século (ver o ensaio Drama e Vida, de 1900), a ponto de não poupar nem mesmo a tragédia grega – Joyce dizia que ela já cumprira seu papel. Mais tarde, ele mudaria de opinião, ao definir a literatura como “a arte mais elevada e espiritual”.

A defesa que faz da literatura como forma de combate à opressão – ele escreve sobre a censura às peças de Bernard Shaw, Ibsen e Oscar Wilde – comprova a observação da tradutora Dirce Waltrick do Amarante sobre a posição política de Joyce, visível, segundo ela, tanto na sua ficção como nos ensaios críticos. A “Grande Fome” (1845-8) que matou mais de metade dos irlandeses, fez com que os sobreviventes se voltassem contra o governo britânico, sempre acusado de uma política assassina por Joyce. Embora raramente mencione o fato histórico em suas obras de ficção, é o tema do ensaio Irlanda, Ilha de Santos e Sábios (1907), petardo contra o colonialismo inglês. Uma separação moral, escreve Joyce, existe entre os dois países: os ingleses desprezam os irlandeses por serem pobres, católicos – e, portanto, reacionários, acrescenta o escritor. Mas foram as leis inglesas que arruinaram as indústrias do país e o levaram à bancarrota, conclui.

“O Estado de São Paulo”, caderno Sabático

Tags: EdUFSCliteraturaUFSC

Feira de Livros da UFSC começa na segunda com 21 lançamentos

02/03/2012 18:40
Foto: Camila Peixer/bolsista de Jornalismo na Agecom

Foto: Camila Peixer/bolsista de Jornalismo na Agecom

Tem início nesta segunda-feira, 5, na volta às aulas da UFSC, grande mostra de livros com até 70% de desconto. Autores como Rodrigo de Haro, Silveira de Souza, Alckmar dos Santos, Alberto Cupani e Lula Pereira farão conversa com leitores

Poesia, conto, romance, filosofia, bioética, história, sociologia e literatura, além de obras didáticas de engenharia, física e matemática estão entre os 21 lançamentos programados para a Feira de Livros da Editora UFSC. Aberta ao público, a mostra começa na segunda-feira (5), marcando a volta às aulas na UFSC e vai funcionar de segunda a sexta, das 8:30 às 19 horas, com extensão do horário nas quartas-feiras até as 20h30min. De 5 de março a 4 de abril, em uma grande tenda coberta na Praça da Cidadania, a Editora vai expor com até 70% de desconto 1.800 títulos e cerca de 20 mil exemplares, entre lançamentos do seu catálogo, das instituições livreiras que integram a Liga de Editoras Universitárias e de outras editoras reconhecidas no mercado.

Nessa edição, vários livros serão lançados na presença dos autores e haverá tarde de autógrafos e conversa com os leitores em uma tenda preparada especialmente para isso junto à feira, sempre às quartas-feiras, às 17 horas. “Queremos promover não apenas a comercialização de livros, mas patrocinar o encontro entre escritores e seu público”, diz o editor Sérgio Medeiros. Na véspera do Dia Internacional da Mulher, 7 de março, Leonilda Antunes Pereira, agricultora e agente voluntária em projetos sociais de saúde e meio ambiente, vai lançar o livro de poemas Gralha azul; nas asas da esperança. Como vem de Fraiburgo, a agricultora estará desde as 14 horas na Feira, à disposição dos leitores.

O multiartista Rodrigo de Haro, que está lançando a caixa Poemas, com os volumes “Folias do Ornitorrinco” e “Espelho dos Melodramas”, estará na Feira no dia 14 para conversar sobre sua obra e fazer a leitura de seus poemas. Ele dividirá o espaço com o professor Alberto Cupani, que lançará Filosofia da Tecnologia, importante ensaio rastreando a questão ética no uso das tecnologias. Rodrigo terá ainda um lançamento à parte no dia 15, no Espaço Cultural Coisas de Maria João, em Santo Antônio de Lisboa. Alckmar dos Santos, vencedor do Concurso Romance Salim Miguel com o romance épico Ao que Minha vida veio, estará na Tenda dos Autores no dia 21. E na tarde do dia 28, Silveira de Souza, autor da coletânea de contos Ecos no Porão II, livro incluído pela Coperve na Lista do Vestibular 2013 da UFSC, conversará sobre a coletânea, que terá o lançamento de sua segunda edição pela EdUFSC.

A EdUFSC preparou outros lançamentos inéditos especialmente para a feira, como O Espelho da América: de Thomas More a Jorge Luis Borges, de Rafael Ruiz, que desbrava a história da primeira modernidade da América  através da literatura clássica. Estão na lista dos novos livros também Ongs e políticas neoliberais no Brasil, de Joana Aparecida Coutinho, Bioética, do filósofo José Heck e Percursos em teoria da Gramática, de Roberta Pires de Oliveira e Carlos Mioto. Além de promover os lançamentos, a editora vai oferecer com descontos obras que tiveram grande repercussão no ano passado, como Homo academicus, do sociólogo francês Pierre Bourdieu, traduzido pela professora do curso de Pedagogia da UFSC Ione Valle. Ligação direta, ensaio inédito do filósofo italiano Mario Perniola sobre as relações entre estética e política também se destacam na mostra.

Os livros Seis décadas de poesia alemã, organizado por Rositha Blume e Markus Weininger; O liberalismo de Ralf Dahrendorf, de Antônio Carlos Dias Júnior, e o aguardado A ética do uso e da seleção de embriões, de Lincoln Frias (prêmio melhor tese de doutorado pela UFMG) deverão sair direto da gráfica para a feira antes do término do evento. Mais uma novidade: o editor Sérgio Medeiros terá uma reunião ainda nesta semana com a família de Glauber Rocha para ultimar a edição de Riverão Sussuarana, o grande romance do cineasta, co-editado com o Itaú Cultural, que também poderá ficar pronto para a feira, assim como Códices, do historiador e pesquisador mexicano Miguel León-Portilla, considerado o maior especialista em escritas ameríndias (maia e asteca) da atualidade.

Feira de livros da Editora UFSC/ Liga de Editoras Universitárias

Data: 5 de março a 4 de abril

Local: Praça da Cidadania da UFSC

Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 8:30 às 19 horas

(quartas-feiras, das 8:30 às 20h30min)

Lançamentos na Feira – Tardes de autógrafos e conversa com autores

Horário: a partir das 17 horas.

Local: Tenda dos autores junto à Feira

Leonilda Antunes Pereira, líder dos trabalhadores rurais e autora do livro de poemas Gralha azul; nas asas da esperança

Data: 7 de março (como atividade do Dia Internacional da Mulher, a partir das 14 horas)

Rodrigo de Haro, autor de Poemas, caixa-livro com os volumes “Folias do Ornitorrinco” e “Espelho dos Melodramas”.

Alberto Cupani, autor de Filosofia da Tecnologia

Data: 14 de março, a partir das 17 horas

Alckmar dos Santos, vencedor do I Concurso Romance Salim Miguel com Ao que minha veio

Data: 21 de março, a partir das 17 horas

Silveira de Souza, autor da coletânea de contos Ecos no porão 2,

Data: 28 de março, a partir das 17 horas

Outros lançamentos na Feira:

  • O Espelho da América: de Thomas More a Jorge Luis Borges, história da modernidade latino-americana através da literatura clássica, de Rafael Ruiz.
  • Ecos no Porão II, coletânea de contos de Silveira de Souza que faz parte da lista do Vestibular 2013;
  • Percursos em teoria da Gramática, de Roberta Pires de Oliveira e Carlos Mioto;
  • Ongs e políticas neoliberais no Brasil, de Joana Aparecida Coutinho;
  • Bioética, do filósofo José Heck;
  • Matrizes e sistemas de equações lineares, de Nilo Kühlkamp (Série Didática, nova edição)
  • Introdução à engenharia; conceitos, ferramentas e comportamentos, de Walter Antonio Bazzo e Luiz Teixeira do Valle Pereira (Série Didática, nova edição)
  • Tecnologia da fabricação de revestimentos cerâmicos, de Antônio Pedro

Outros lançamentos para o primeiro trimestre:

  • O liberalismo de Ralf Dahrendorf, de Antônio Carlos Dias Júnior;
  • Seis décadas de poesia alemã, organizado por Rositha Blume e Markus Weininger;
  • Códices, do historiador e pesquisador mexicano Miguel León-Portilla, maior especialista em escritas ameríndias (maia e inca) da atualidade;
  • A ética do uso e da seleção de embriões, de Lincoln Frias (prêmio melhor tese de doutorado pela UFMG)
  • Riverão Sussuaruna, romance do cineasta Glauber Rocha,em co-edição EdUFSC e Fundação Itaú Cultural

Preços de livros na Feira:

Poemas, de Rodrigo de Haro, com os volumes “Folias do Ornitorrinco” e “Espelho dos Melodramas” (de R$ 58,00 por R$ 40,00)

Homo Academicus, de Pierre Bourdieu (de R$ 56,00 por R$ 40,00);

O Espelho da América: de Thomas More a Jorge Luis Borges, de Rafael Ruiz (de R$ 31,00 por R$ 16,00);

Ecos no Porão II, coletânea de contos Silveira de Souza (relacionado na lista do Vestibular 2013 da UFSC) (R$ 15,00);

Filosofia da Tecnologia, de Alberto Cupani (de R$ 34,00 por R$ 17,00);

Gralha azul; nas asas da esperança, poemas de Leonilda Antunes Pereira (de R$ 12,00 por R$ 5,00)

Ao que minha vida veio, de Alckmar dos Santos, vencedor do Concurso Romance Salim Miguel (de R$ 29,00 por R$ 15,00);

Ongs e políticas neoliberais no Brasil, de Joana Aparecida Coutinho (de R$ 26,00 por R$ 13,00);

Bioética, do filósofo José Heck (de R$ 26,00 por R$ 13,00);

Percursos em teoria da Gramática, de Roberta Pires de Oliveira e Carlos Mioto; (de R$ 29,00 por R$ 15,00)

Matrizes e sistemas de equações lineares, de Nilo Kühlkamp (Série Didática – de R$ 26,00 por R$ 13,00);

Introdução à engenharia; conceitos, ferramentas e comportamentos, de Walter Antonio Bazzo e Luiz Teixeira do Valle Pereira (Série Didática – de R$ 26,00 por R$ 13,00);

Tecnologia da fabricação de revestimentos cerâmicos – Antônio Pedro (de R$ 22,00 por R$ 11,00)

Por Raquel Wandelli/Assessora de Comunicação da SeCArte

raquelwandelli@yaho..com.br

www.secarte.ufsc.br

www.ufsc.br

Informações: (48) 37218729 e 99110524

SERVIÇO:

Tags: EdUFSCFeira de Livros

Silveira de Souza e Guido Sassi são leituras obrigatórias no vestibular da UFSC

10/02/2012 12:12

Dois autores catarinenses constam da relação de livros que vão cair no Concurso Vestibular 2013 da UFSC. Um deles é o livro de contos “Ecos no Porão 2”, do consagrado escritor catarinense Silveira de Souza,  publicado pela Editora UFSC  no ano passado. O outro é Geração do Deserto, romance histórico de Guido Wilmar Sassi, de 1964.

Segundo volume da série de livros de contos, Ecos no Porão já está à disposição para leitura on-line no site da Editora UFSC, que também providenciou uma segunda impressão com três mil exemplares. Silveira de Souza irá autografar a obra e conversar com os leitores no seu relançamento na Praça da Cidadania, durante a Feira de Livros da UFSC, que inicia com a volta às aulas, em 5 de março e se estenderá até 4 de abril, quando o volume será vendido com 50% de desconto.

Em Ecos no Porão 2, Florianópolis é o cenário para uma legião de homenzinhos bizarros fazendo cooper com calções esdrúxulos, velhinhos trovadores, desempregados, avozinhas, solteironas, aposentados, enfim, habitantes da vizinhança da Ilha onde pulsa um coração decrépito, murchando para a vida, que pode ser acordado de súbito por um pequeno incidente, a fuga de um canário ou uma rajada de vento. Mas Florianópolis não é mero pretexto para o quase octogenário escritor Silveira de Souza descrever o local onde nasceu e viveu. Mais do que isso, a Ilha é o “mundinho” onde se constituem essas “figurinhas ridículas” e apaixonantes do grotesco que vão ganhar dramaticidade e lirismo no segundo volume da antologia de contos de Silveira.

Esses habitantes ao mesmo tempo ordinários e excêntricos dos porões da ficção de Silveira, que podem estar no café, na Beira-Mar, na Praça XV, no Calçadão ou em quarto de hotel, carregam um traço em comum: todos experimentam o vazio da existência. Mas ao longo das 137 páginas são surpreendidos no automatismo banal do seu dia a dia urbano por sutis acontecimentos que anunciam possibilidades de conhecerem uma dimensão mais sublime da vida. E o que produz esse acesso ao “mundão”? Uma sinfonia de Bethoven, um sonho ou um pesadelo, uma emoção inesperada, uma cena da memória, um abalroamento de carro, enfim, interferências mais ou menos perceptíveis que alteram o estado de coisas e, como em um poema hai kai, sugerem uma revelação.

Considerado o melhor da obra de Silveira, o livro reúne três seleções do próprio autor dos livros Canário de assobio (1985), Relatos escolhidos (1988), Contas de vidro (2002) e ainda cinco contos inéditos, entre eles a narrativa metalinguística “Ecos no porão”, que dá nome à obra e traduz uma metáfora de Silveira para as interferências da leitura dos escritores clássicos que inundam seu imaginário desde os dez anos de idade. Com linguagem habilidosa, uma dose do humor e outra da ironia que lhe são características e ainda um olhar lírico para o grotesco, Silveira parece rir-se baixinho ao final de cada um dos 28 contos, onde reside uma possibilidade de descoberta que nunca se entrega sem esforço do leitor.

Ecos no porão 2 e Geração do Deserto  constam da relação divulgada no dia 7 de fevereiro pela Comissão Permanente do Vestibular, entre oito livros que incluem Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade; Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues; Capitães de Areia, de Jorge Amado; Memórias de um sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida (também publicado pela Livraria Digital do Núcleo de Pesquisa Informática Linguística e Literatura da UFSC); Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade e Poesia Marginal, de diversos autores.

Os livros são selecionados por professores representantes do ensino médio, do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Literatura da UFSC e pesquisa em escolas. De acordo com a coordenadora pedagógica da Coperve, Maria Luíza Ferraro, o conhecimento dessas obras supõe capacidade de análise e interpretação de textos, assim como o reconhecimento de aspectos próprios aos diferentes gêneros. Além da leitura integral dos textos, a UFSC recomenda que os candidatos compreendam o contexto histórico, social, cultural e estético dessas obras.

Escolhido como marco das comemorações dos cem anos da Guerra do Contestado, Geração do Deserto inspirou em 1970 o filme Guerra dos pelados, de Sylvio Back. Reeditado três vezes pela Movimento, de Porto Alegre, o livro oferece uma importante reconstituição histórica e literária da vida, da cultura da época e dos personagens dessa guerra que envolveu camponeses, peões, jagunços e coronéis nas disputas territoriais dos estados de Santa Catarina e Paraná.

 Serviço:

Ecos no Porão 2
Autor:  Silveira de Souza
Editora UFSC
Preço do catálogo: R$ 29,00 e a R$ 15,00 na Feira de Livros da UFSC

Por Raquel Wandelli / Jornalista Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte) / raquelwandelli@yahoo.com.br / Fones: 3721-8729, 3721-8910 e 9911-0524

Tags: EdUFSCLivrosVestibular

Rodrigo de Haro recebe leitores com sarau de poemas em lançamento de obra poética

22/12/2011 10:37
.

Fotos: Gláucia Pimentel, Carolina Coral e Raquel Wandelli

De folias e melodramas, de festa e de luto. Disso é feito a arte e a vida. A nossa vida e a dos poetas, que fazem da tragédia e da celebração a matéria-prima da epifania poética, como Rodrigo de Haro, que lançou na terça-feira à noite, na Fundação Cultural Badesc, dois livros de poemas em uma única edição pela Editora UFSC. Juntas, as duas obras, Folias do Ornitorrinco e Espelho dos Melodramas, costuram a unidade antagônica representada pela imagem dessa espécie meio ovípara, meio mamífera que o autor homenageia no título e no poema “Ornitorrinco”.

Dando vazão à nova obra poética do multiartista ou pan-artista Rodrigo de Haro, a Editora UFSC brindou seus leitores com uma concorrida noite de vinho, poesia e virtude integrada as comemorações do aniversário de 51 anos da universidade. Depois de ouvir a secretária de Cultura e Arte, Maria de Lourdes Borges e o diretor da Editora Sérgio Medeiros discursarem sobre a importância de sua obra, o poeta falou ele próprio do seu ímpeto criativo. Em seguida, vestido de terno branco, com um cravo na lapela e o indefectível chapéu panamá, retribuiu a acolhida dos leitores realizando um sarau na varanda do prédio histórico do Badesc. Em meio a uma grande roda de amigos e admiradores, na maior parte artistas e intelectuais como ele, leu, com um fundo sussurrante de guitarras, versos escolhidos, entre Folias e Melodramas, o primeiro, composto de poemas mais reflexivos e o segundo, mais narrativos. 

A imagem do ornitorrinco bem representa esse poeta-pintor, filho do artista plástico Martinho de Haro e de Maria Palma, uma dona de casa de notória sensibilidade. “Elaborado, como todos nós, de partes antagônicas para maior triunfo da unidade”, o ornitorrico é, como escreve o poeta, “animal sonhador que fecunda e brota de si mesmo”. Nascido em 1939 em Paris, por peripécias do destino, Rodrigo foi o fruto da lua de mel parisiense dos pais, que gozavam uma viagem de estudos recebida como prêmio pelo famoso pintor modernista.

Resgatado às pressas da maternidade quando os nazistas invadiram a França, o recém-nascido fugiu nos braços dos pais da capital mundial da arte, e retornou para a instância da São Joaquim no planalto catarinense, a quem dedica com grande afeto suas melhores elaborações surrealistas em conto e poesia. Sobre essa história, diz ainda o poema: “Celebremos as núpcias do ornitorrinco/ gentil e pertinaz. Brindemos/ a natura folgazã, que – /por incansável amor/ao paradoxo – cheia de/ recursos, concebeu/este jardim de todas as delícias/ com a torre inclinada e/o tarot de Marselha./– Mas sobretudo/criou o ornitorrinco solidário”.

Na transgressão da dualidade entre o universal e o local, o sagrado e o profano, o clássico e o maldito, o político e o surreal se constrói o universo imagético desse delicado e erudito artista que deixou a escola ainda adolescente para construir um caminho próprio de formação. O paradoxo Rodrigo de Haro tem 14 livros publicados e pelo menos outros seis manuscritos (de contos, poemas, novelas) esperando edição. Sua marca como artista plástico – o único catarinense que consta nos catálogos internacionais como pintor e poeta surrealista – está em vários cantos de Florianópolis, onde se criou entre artistas e intelectuais e se confunde com a própria paisagem da Ilha. A mais notória cobre as paredes externas do prédio da Reitoria da UFSC, onde construiu o maior mosaico em extensão do país, com 430 metros quadrados.

SHAKESPEARE E A DITADURA

Dos tempos da Ditadura Militar guarda uma história incrível. Ele a conta em tom baixo e com reserva – não quando lhe pedem, mas quando quer demonstrar o quanto a arte e a erudição, ao contrário do que prega o senso comum, podem elevar o espírito, não importa a classe social. Anos 60, integrante do grupo dos poetas surrealistas brasileiros (Cláudio Willer, Roberto Piva), foi preso perambulando à noite pelas ruas de São Paulo. Jogado em uma cadeia paulista com presos comuns, teve que se apresentar.

Quando os líderes da população carcerária souberam que o novo companheiro era um poeta, exigiram-lhe uma prova: que recitasse seus versos. Emparedado, Rodrigo só se lembrou de Hamlet, de Shakespeare, do qual sabia algumas falas de cor. Começou a declamá-lo e ao chegar à célebre passagem “A vida não passa de uma história cheia de som e fúria contada por um louco significando nada”, todos estavam a sua volta, aplaudindo-o, alguns mudos, outros em pranto. Os 20 dias de prisão passaram depressa para o novo líder-poeta, que comandou longas noites de sarau e leituras compartilhadas. Dessa história, quase uma epifania, ficou a certeza de que a literatura não precisa – nem deve – ser facilitada para se tornar acessível, pois como o ornitorrinco, a arte é feita de uma matéria que brota dentro das mentes e corações.

 

 

 

 

Por Raquel Wandelli / Jornalista na SeCArte/UFSC

Fones: 37218729 e 99110524

raquelwandelli@yahoo.com.br

www.secarte.ufsc.br

www.agecom.ufsc.br

Tags: EdUFSCRodrigo de Haro

Editora da UFSC lança obras inéditas de Rodrigo de Haro

15/12/2011 12:30

Esqueça-se a Teia.
Observe-se a aranha,
suas pernas concêntricas
de estrela. A vetustez
enorme da surda
aranha na parede.

Esqueça-se a vã
literatura que a
persegue com patas
ligeiras. Traz muita
fortuna a filha
de Saturno.

(Rodrigo de Haro, “Inseto”, de Folias do Ornitorrinco)

 

.

.

Aos 72 anos, Rodrigo Antônio de Haro trabalha com paixão e afinco entre a palavra e a imagem. Empoleirado desde cedo em um andaime de alumínio no atelier de sua casa na Lagoa da Conceição, o multiartista executa uma grande tela de quatro metros quadrados para o altar-mor de uma Igreja em Curitiba depois de ter entrado a madrugada revisando os originais de seus dois novos livros de poesia. E assim o artista sai do cavalete e volta para a escrivaninha, criando, criando… “Dizem que nunca o artista é inteiramente humano”, bem fala o próprio Rodrigo no poema Invenção do olfato”. O verso integra os dois volumes inéditos de poemas que o artista lança pela Editora UFSC no dia 20 de dezembro, às 19h30min, na Fundação Cultural Badesc, na rua Visconde de Ouro Preto, em uma noite de festa para a arte e a literatura.

Espelho dos Melodramas e Folias do Ornitorrinco integram uma única e primorosa edição, embalados como um presente para o público desta fase de jorro criativo de Rodrigo -, que tem mais cinco livros na gaveta. São obras manuscritas em folhas de papel amarelo onde o autor desenha e lapida poemas, contos, novelas, ensaios, que vão compor cadernos ilustrados com desenhos, envoltos na beleza e raridade de um pergaminho. Além da compreensão cada vez mais plural e aberta da vida e da arte, o peso dos anos só deu mais urgência a esse monge da arte, consagrado além das fronteiras do estado e do país pela palavra, pela pintura e pela erudição. Com o “álbum duplo” de poesia, a Editora UFSC encerra um ano de grandes lançamentos e comemora o aniversário de 51 anos da universidade.

O menino artista de São Joaquim deixou a escola aos 16 anos para formar-se por conta própria aproveitando os estímulos dos pais, sempre mergulhados no mundo da sensibilidade e do conhecimento. Difícil encontrar uma expressão artística que ele não tenha experimentado: roteiro para cinema, novela, conto, poesia, aquarela, mosaico, pintura — até adaptações de literatura para rádio-novela ele fez. Integrante transgressor do grupo Litoral que atuou em Santa Catarina no final dos anos 50 e do grupo de poetas (Roberto Piva, Cláudio Viller, Antônio Fernandes Franceschi) que consolidou o surrealismo no Brasil a partir dos anos 60 e se confrontou com a Ditadura Militar. Como uma das maiores expressões contemporâneas da arte brasileira, na avaliação do Editor Sérgio Medeiros, seus poemas guardam uma musicalidade poética serena e trágica ao mesmo tempo: “Primeiro amar os dados,/tutores das moradas. Sempre/com malícia atirá-los/sobre a mesa sem ocupar-se/de outras faces – Onde vais?/ Agito o copo,/atiro as pedras./Tantos tactos sono- /rosos trato – dados por/vertigem lado a lado./Furtar sem felonia,/abrir última porta.” (Folias do Ornitorrinco)

Retornando eternamente ao lar e ao mistério sagrado da vida, o filho do pintor Martinho de Haro e de Maria Palma, produz sua arte de uma concepção sempre transversal sobre os seres e as coisas. O maldito e o sublime, o sagrado e o profano compõem uma única dimensão do presente, que busca sua força ontológica na tradição. Nesse tempo anacrônico do poeta, a ousadia estética se alicerça no legado clássico. “Sim, abre as janelas, as janelas cegas./Deixa cair a chuva misturada ao vinho/sabático da Beladona. Espia. Ouve/os fatigados rios do mundo e saúda/Dona Urraca, a intrépida, girando/a chave do abismo”. (Espelhos do Melodrama).

Conforme rezam as escrituras sobre a cena bíblica, onde o apóstolo S. Pedro recebe de Cristo as chaves da Igreja, a mesma cena que inspirou artistas célebres como Velásquez: “…com estas chaves aquilo que ligares na Terra, será ligado nos céus; aquilo que desligares na Terra será desligado nos céus…”. Enquanto dá ao ramo de oliveira a última pincelada, Rodrigo fala sobre sua obra poética:

1. Que motivações éticas e estéticas têm movido a sua poesia?
Rodrigo de Haro: Todo poeta almeja cativar a matéria, dominar, fazer cantar a energia adormecida nas coisas. Precipitar a metamorfose das coisas é missão do poeta, conferir asas ao inanimado. A poesia, disse Balthazar Gracian, consiste em preservar o espanto: – o caderno alado que voa…

2. Como um multiartista, você desafia a manifestação mais recorrente entre os criadores, que é dominar bem apenas uma ou no máximo duas modalidades literárias e mesmo artísticas. E você transita pela poesia, conto, ensaio, novela e também por várias expressões das artes plásticas. Como é esse trânsito da literatura para as artes plásticas?
Rodrigo de Haro: Não acho que desafie. Acontece simplesmente que o mundo é um laboratório mágico, uma gruta de ressonâncias e apelos, onde se entremostram tentações e miragens. Nada é impossível para esta arte combinatória – a poesia – capaz de acordar (sim…) os mortos. Literatura, conto, ensaio e novela? É tudo poesia, se for de – fato coisa real.

Sim, sou também pintor – logo desenhista. Apenas pintor e desenhista.  Às vezes me aventuro no conto, é verdade. Tenho mesmo participado de algumas antologias até fora do País. O som, a palavra, começa na alma. Pois só a poesia é familiar do sagrado.

3. Que autores têm mais inspirado sua obra poética?
Rodrigo de Haro:  Acima das divergências (só aparentes) está a unidade da inspiração e da busca. Na verdade ouso me aproximar de uma ilustre família, aquela de Michelangelo, Blake que se manifestaram no desenho e na pintura e na escrita e na pintura e tantos outros. A criação desconhece fidelidade partidária. O preconceito difuso (que de fato existe) contra a multiplicidade é uma inovação recente, desconhecida na China e no Japão, por exemplo. Utamaro sentia-se tanto poeta quanto aquarelista. E gostaria de reconhecer minha dívida com Rilke e o poeta expressionista alemão Georg Trackl e o grande G. Sarcer de la Cruz.

4. O sagrado sempre esteve presente na sua pintura e na sua obra literária, mas você também é normalmente discutido em relação aos poetas malditos. Como você vê essa relação entre o sagrado e o profano – ou maldito – no seu trabalho poético?
Rodrigo de Haro:  Malditos? Quem são? Maldito é título de nobreza, é ser politicamente incorreto? É possível. No mundo midiático, mecânico, em que vivemos é uma grande honra: Dante, Villon, os místicos, foram malditos também em seus dias, não é verdade?

5. O mito, o sagrado, o inumano, a tradição, a memória… De uma certa forma esses elementos são sempre recorrentes na sua poesia… Você acredita que eles ainda ajudam a compreender o mundo hoje?
Rodrigo de Haro:  A verdadeira poesia aproxima-se demais do ominoso para não provocar arrepios em alguns momentos. “Aqueles que levantam o véu….”. O sagrado, que nos ultrapassa está na essência da ordenação poética. Meu trabalho é aquilo que é. Sou apenas o servidor de uma força maior que, de um modo ou de outro, com esforço e trabalho tento dominar, ordenar, logo que sou tomado por esta visitação dos espaços exteriores ao pragmatismo. A pulsação do sangue, a respiração e a dança são parte integrante das forças ativas da memória e da nostalgia operante. A poesia solicita liturgia, algo que o surrealismo intuiu (e também explorou) com bastante inteligência. Breton-Hudini, por exemplo, foi um agente muito perspicaz…

6. E sua obra poética e pictórica é também sempre classificada ao lado do grupo de poetas surrealistas, com quem de fato você escreveu uma trajetória. Você se identifica com esse rótulo?
Rodrigo de Haro: Sou irredutível a grupos, exceto socialmente. As escolas são sempre provisórias e o surrealismo me parece como estética ter perdido a inocência: Frida Kahlo, por exemplo, riu-se do movimento quando em Paris. Sua realidade, o seu entorno, o México coberto de caveiras de Jaguar em obsidiana, colocou o surrealismo. Dentro de medidas bastante discretas. O fantástico de Buñuel é sempre maior quando ele se afasta do surrealismo. Viridiana, Nazarin, Los olvidados. Mas… naturalmente agrada-me o discurso surrealista.

7. O mito, o sagrado, o inumano, a tradição, a memória… Esses elementos estão sempre gerando sua poesia e sendo gerados por ela… Você acredita que essas dimensões clássicas ainda ajudam a compreender a vida no mundo em que vivemos?
Rodrigo de Haro: Sim, uma certa tradição hermética me fecunda. Acredito que os valores do sagrado e só eles poderão salvar o mundo. Este mundo em que vivemos.  É preciso reencantar o mundo através do apelo ao silêncio e também a outros ritmos compatíveis com a expansão do ser. O ético e o social devem expandir-se sem coerção, sem decretos, mas segundo o desabrochar da consciência de cada homem: pois todos sabemos de nossos deveres, todos podemos comunicar da mesma alegria. Basta abrir a porta.

 8. Vejo que sua obra é povoada por esposas vegetais, animais contemporâneos ou míticos, seres heterogêneos. Nos originais do livro Folias do Ornitorrinco que estão no prelo da Editora da UFSC, vi alguns versos que evocam o caráter trans-humano da arte, como em “Invenção do olfato: “Dizem que nunca o artista é inteiramente humano/ seu rosto modelado por visível piedade/ Fala também com os répteis do lobo e sonha”. O filósofo francês François Lyotard cita em O inumano uma frase de Apollinaire segundo a qual “a Arte mantém-se fiel aos homens unicamente por sua inumanidade para com eles”. O que você pensa dessa relação entre a arte e o não humano?
Rodrigo de Haro: Devemos acreditar na comunhão dos seres, das coisas. O olhar da criança é um olhar cúmplice dos anjos, logo fala com as coisas e os bichos. “O olho da flor da arnica amarela à minha porta, piscou-me esta manhã. Toda poesia de verdade será trans-humana por definição, pois cabe a ela restabelecer uma corrente rompida na queda, o antigo elo solidário entre as coisas e as criaturas.

9. Espelho dos Melodramas e Folias do ornitorrinco: como se pode falar dessas obras que você lançar pela Editora da UFSC?
Rodrigo de Haro:
E esses dois volumes de poesia acompanham Voz, Idílios vagabundos e Lanterna mágica, outros inéditos que produzi nos últimos tempos, neste voluntário recolhimento do Morro do Assopro. O primeiro deles representa minha adesão ao campo lírico, ao drama – pois trata (por vezes) do excesso, dos movimentos violentos ou dolorosos do espírito, mas com humor. Já Folias do Ornitorrinco obedece a um caráter sintético. São dois livros diferentes, mas compostos pelo mesmo homem. Estão próximos.

10.Quais são os grandes autores da literatura brasileira e qual a melhor contribuição que deram, no seu ponto de vista, à renovação literária?
Rodrigo de Haro: Guimarães Rosa, Lúcio Cardoso.

 11.   Na convivência com o multiartista Rodrigo de Haro, percebe-se que estamos diante de um homem de 72 anos com uma rotina de trabalho diria até rigorosa, obstinada. Como é essa rotina e o que o move dessa forma ao trabalho artístico? Você se sente tomado por um sentimento de urgência de criação?
Rodrigo de Haro: Trabalho artístico ou simplesmente trabalho… Com o tempo, estabelecida a rotina, torna-se impossível fugir a ela. O trabalho de um atelier-escritório é riquíssimo. É tudo a fazer o tempo todo. Os quadros te arrastam para o cavalete, os cadernos sussurram nos ouvidos. Impossível aproximar-se do material sem ser de novo absorvido pelo visgo da invenção, do retoque, de alguma nova sugestão.

12. Que outros projetos ainda estão saindo do atelier multiartístico de Rodrigo de Haro? A propósito, qual a importância do ambiente de trabalho no seu processo de criação?
Rodrigo de Haro: Sempre são muitos os projetos, pois o hábito contínuo da reflexão se resolve em sonhos de realização urgentíssimos. Nada é mais importante do que sonhar para materializar.

Texto e entrevista a Raquel Wandelli

Lançamento: Livro-embalagem “Poemas”

(Folias do Ornitorrinco e Espelho dos Melodramas)

Autor: Rodrigo de Haro
Editora UFSC
Quando: 20 de dezembro, às 19h30min
Onde: Fundação Cultural Badesc
Entrada aberta ao público

Texto: Raquel Wandelli, Jornalista na SeCArte/UFSC – Fones: 37218729 e 99110524 – raquelwandelli@yahoo.com.br – www.secarte.ufsc.br – www.agecom.ufsc.br

 

Tags: EdUFSCRodrigo de Haro

Edufsc apresenta lançamentos na 26ª Feira do Livro de Florianópolis

15/12/2011 08:40

A editora da UFSC está presente na 26ª Feira do Livro de Florianópolis, no Largo da Alfândega, com promoções que chegam a 50% de desconto. Além dos lançamentos de final de ano, como Ao que minha vida veio, de Alckmar dos Santos, e Homo Academicus, de Pierre Bourdieu, quase duzentos títulos estão à venda no estande da EdUFSC.

O livro Homo Academicus  é um dos títulos disponíveis no estande. Recém-lançado, com projeto gráfico novo, desenvolvido na universidade, reflete sobre a violência do poder simbólico do “universo universitário”. O sociólogo Pierre Bourdieu é reconhecido pela densidade e coerência de seu pensamento, e Homo Academicus é leitura obrigatória para compreender os mecanismos pelos quais as instituições culturais e políticas operam.

A obra Ao que minha vida veio…, de Alckmar Luiz dos Santos, relata a busca do narrador para reconstituir sua trajetória, descobrir quem são seus pais e definir sua própria identidade. Uma característica marcante é a linguagem utilizada na obra, que evoca a oralidade dos contadores de causos do interior, com passagens repletas de detalhes.

O livro-embalagem Poemas, dividido em duas partes: Espelho dos Melodramas e Folias do Ornitorrinco, ambos inéditos, escritos pelo poeta e artista plástico catarinense Rodrigo de Haro é, na avaliação do editor Sérgio Medeiros, uma das maiores expressões contemporâneas da arte brasileira.

Informações: (48) 3721-8729

Por Matheus Moreira Moraes / Estagiário de Jornalismo na SeCArte / matheus.moreira.moraes@gmail.com / http://www.secarte.ufsc.br

Tags: EdUFSC

A urgência poética de Rodrigo de Haro: multiartista lança livros de poesias

13/12/2011 16:04

Esqueça-se a Teia.
Observe-se a aranha,
suas pernas concêntricas
de estrela. A vetustez
enorme da surda
aranha na parede.

Esqueça-se a vã
literatura que a
persegue com patas
ligeiras. Traz muita
fortuna a filha
de Saturno.

(Rodrigo de Haro, “Inseto”, de Folias do Ornitorrinco)

 

.

Os dois volumes serão lançados no dia 20/12, às 19h30, na Fundação Cultural Badesc

Aos 72 anos, Rodrigo Antônio de Haro trabalha com paixão e afinco entre a palavra e a imagem. Empoleirado desde cedo em um andaime de alumínio no atelier de sua casa na Lagoa da Conceição, o multiartista executa uma grande tela de quatro metros quadrados para o altar-mor de uma Igreja em Curitiba depois de ter entrado a madrugada revisando os originais de seus dois novos livros de poesia. E assim o artista sai do cavalete e volta para a escrivaninha, criando, criando… “Dizem que nunca o artista é inteiramente humano”, bem fala o próprio Rodrigo no poema Invenção do olfato”. O verso integra os dois volumes inéditos de poemas que o artista lança pela Editora UFSC no dia 20 de dezembro, às 19h30min, na Fundação Cultural Badesc, na rua Visconde de Ouro Preto, em uma noite de festa para a arte e a literatura.

Espelho dos Melodramas e Folias do Ornitorrinco integram uma única e primorosa edição, embalados como um presente para o público desta fase de jorro criativo de Rodrigo -, que tem mais cinco livros na gaveta. São obras manuscritas em folhas de papel amarelo onde o autor desenha e lapida poemas, contos, novelas, ensaios, que vão compor cadernos ilustrados com desenhos, envoltos na beleza e raridade de um pergaminho. Além da compreensão cada vez mais plural e aberta da vida e da arte, o peso dos anos só deu mais urgência a esse monge da arte, consagrado além das fronteiras do estado e do país pela palavra, pela pintura e pela erudição. Com o “álbum duplo” de poesia, a Editora UFSC encerra um ano de grandes lançamentos e comemora o aniversário de 51 anos da universidade.

O menino artista de São Joaquim deixou a escola aos 16 anos para formar-se por conta própria aproveitando os estímulos dos pais, sempre mergulhados no mundo da sensibilidade e do conhecimento. Difícil encontrar uma expressão artística que ele não tenha experimentado: roteiro para cinema, novela, conto, poesia, aquarela, mosaico, pintura — até adaptações de literatura para rádio-novela ele fez. Integrante transgressor do grupo Litoral que atuou em Santa Catarina no final dos anos 50 e do grupo de poetas (Roberto Piva, Cláudio Viller, Antônio Fernandes Franceschi) que consolidou o surrealismo no Brasil a partir dos anos 60 e se confrontou com a Ditadura Militar. Como uma das maiores expressões contemporâneas da arte brasileira, na avaliação do Editor Sérgio Medeiros, seus poemas guardam uma musicalidade poética serena e trágica ao mesmo tempo: “Primeiro amar os dados,/tutores das moradas. Sempre/com malícia atirá-los/sobre a mesa sem ocupar-se/de outras faces – Onde vais?/ Agito o copo,/atiro as pedras./Tantos tactos sono- /rosos trato – dados por/vertigem lado a lado./Furtar sem felonia,/abrir última porta.” (Folias do Ornitorrinco)

Retornando eternamente ao lar e ao mistério sagrado da vida, o filho do pintor Martinho de Haro e de Maria Palma, produz sua arte de uma concepção sempre transversal sobre os seres e as coisas. O maldito e o sublime, o sagrado e o profano compõem uma única dimensão do presente, que busca sua força ontológica na tradição. Nesse tempo anacrônico do poeta, a ousadia estética se alicerça no legado clássico. “Sim, abre as janelas, as janelas cegas./Deixa cair a chuva misturada ao vinho/sabático da Beladona. Espia. Ouve/os fatigados rios do mundo e saúda/Dona Urraca, a intrépida, girando/a chave do abismo”. (Espelhos do Melodrama).

Conforme rezam as escrituras sobre a cena bíblica, onde o apóstolo S. Pedro recebe de Cristo as chaves da Igreja, a mesma cena que inspirou artistas célebres como Velásquez: “…com estas chaves aquilo que ligares na Terra, será ligado nos céus; aquilo que desligares na Terra será desligado nos céus…”. Enquanto dá ao ramo de oliveira a última pincelada, Rodrigo fala sobre sua obra poética:

1. Que motivações éticas e estéticas têm movido a sua poesia?
Rodrigo de Haro: Todo poeta almeja cativar a matéria, dominar, fazer cantar a energia adormecida nas coisas. Precipitar a metamorfose das coisas é missão do poeta, conferir asas ao inanimado. A poesia, disse Balthazar Gracian, consiste em preservar o espanto: – o caderno alado que voa…

2. Como um multiartista, você desafia a manifestação mais recorrente entre os criadores, que é dominar bem apenas uma ou no máximo duas modalidades literárias e mesmo artísticas. E você transita pela poesia, conto, ensaio, novela e também por várias expressões das artes plásticas. Como é esse trânsito da literatura para as artes plásticas?
Rodrigo de Haro: Não acho que desafie. Acontece simplesmente que o mundo é um laboratório mágico, uma gruta de ressonâncias e apelos, onde se entremostram tentações e miragens. Nada é impossível para esta arte combinatória – a poesia – capaz de acordar (sim…) os mortos. Literatura, conto, ensaio e novela? É tudo poesia, se for de – fato coisa real. Sim, sou também pintor – logo desenhista. Apenas pintor e desenhista.  Às vezes me aventuro no conto, é verdade. Tenho mesmo participado de algumas antologias até fora do País. O som, a palavra, começa na alma. Pois só a poesia é familiar do sagrado.

3. Que autores têm mais inspirado sua obra poética?
Rodrigo de Haro:  Acima das divergências (só aparentes) está a unidade da inspiração e da busca. Na verdade ouso me aproximar de uma ilustre família, aquela de Michelangelo, Blake que se manifestaram no desenho e na pintura e na escrita e na pintura e tantos outros. A criação desconhece fidelidade partidária. O preconceito difuso (que de fato existe) contra a multiplicidade é uma inovação recente, desconhecida na China e no Japão, por exemplo. Utamaro sentia-se tanto poeta quanto aquarelista. E gostaria de reconhecer minha dívida com Rilke e o poeta expressionista alemão Georg Trackl e o grande G. Sarcer de la Cruz.

4. O sagrado sempre esteve presente na sua pintura e na sua obra literária, mas você também é normalmente discutido em relação aos poetas malditos. Como você vê essa relação entre o sagrado e o profano – ou maldito – no seu trabalho poético?
Rodrigo de Haro:  Malditos? Quem são? Maldito é título de nobreza, é ser politicamente incorreto? É possível. No mundo midiático, mecânico, em que vivemos é uma grande honra: Dante, Villon, os místicos, foram malditos também em seus dias, não é verdade?

5. O mito, o sagrado, o inumano, a tradição, a memória… De uma certa forma esses elementos são sempre recorrentes na sua poesia… Você acredita que eles ainda ajudam a compreender o mundo hoje?
Rodrigo de Haro:  A verdadeira poesia aproxima-se demais do ominoso para não provocar arrepios em alguns momentos. “Aqueles que levantam o véu….”. O sagrado, que nos ultrapassa está na essência da ordenação poética. Meu trabalho é aquilo que é. Sou apenas o servidor de uma força maior que, de um modo ou de outro, com esforço e trabalho tento dominar, ordenar, logo que sou tomado por esta visitação dos espaços exteriores ao pragmatismo. A pulsação do sangue, a respiração e a dança são parte integrante das forças ativas da memória e da nostalgia operante. A poesia solicita liturgia, algo que o surrealismo intuiu (e também explorou) com bastante inteligência. Breton-Hudini, por exemplo, foi um agente muito perspicaz…

6. E sua obra poética e pictórica é também sempre classificada ao lado do grupo de poetas surrealistas, com quem de fato você escreveu uma trajetória. Você se identifica com esse rótulo?
Rodrigo de Haro: Sou irredutível a grupos, exceto socialmente. As escolas são sempre provisórias e o surrealismo me parece como estética ter perdido a inocência: Frida Kahlo, por exemplo, riu-se do movimento quando em Paris. Sua realidade, o seu entorno, o México coberto de caveiras de Jaguar em obsidiana, colocou o surrealismo. Dentro de medidas bastante discretas. O fantástico de Buñuel é sempre maior quando ele se afasta do surrealismo. Viridiana, Nazarin, Los olvidados. Mas… naturalmente agrada-me o discurso surrealista.

7. O mito, o sagrado, o inumano, a tradição, a memória… Esses elementos estão sempre gerando sua poesia e sendo gerados por ela… Você acredita que essas dimensões clássicas ainda ajudam a compreender a vida no mundo em que vivemos?
Rodrigo de Haro: Sim, uma certa tradição hermética me fecunda. Acredito que os valores do sagrado e só eles poderão salvar o mundo. Este mundo em que vivemos.  É preciso reencantar o mundo através do apelo ao silêncio e também a outros ritmos compatíveis com a expansão do ser. O ético e o social devem expandir-se sem coerção, sem decretos, mas segundo o desabrochar da consciência de cada homem: pois todos sabemos de nossos deveres, todos podemos comunicar da mesma alegria. Basta abrir a porta.

 8. Vejo que sua obra é povoada por esposas vegetais, animais contemporâneos ou míticos, seres heterogêneos. Nos originais do livro Folias do Ornitorrinco que estão no prelo da Editora da UFSC, vi alguns versos que evocam o caráter trans-humano da arte, como em “Invenção do olfato: “Dizem que nunca o artista é inteiramente humano/ seu rosto modelado por visível piedade/ Fala também com os répteis do lobo e sonha”. O filósofo francês François Lyotard cita em O inumano uma frase de Apollinaire segundo a qual “a Arte mantém-se fiel aos homens unicamente por sua inumanidade para com eles”. O que você pensa dessa relação entre a arte e o não humano?
Rodrigo de Haro: Devemos acreditar na comunhão dos seres, das coisas. O olhar da criança é um olhar cúmplice dos anjos, logo fala com as coisas e os bichos. “O olho da flor da arnica amarela à minha porta, piscou-me esta manhã. Toda poesia de verdade será trans-humana por definição, pois cabe a ela restabelecer uma corrente rompida na queda, o antigo elo solidário entre as coisas e as criaturas.

9. Espelho dos Melodramas e Folias do ornitorrinco: como se pode falar dessas obras que você lançar pela Editora da UFSC?
Rodrigo de Haro:
E esses dois volumes de poesia acompanham Voz, Idílios vagabundos e Lanterna mágica, outros inéditos que produzi nos últimos tempos, neste voluntário recolhimento do Morro do Assopro. O primeiro deles representa minha adesão ao campo lírico, ao drama – pois trata (por vezes) do excesso, dos movimentos violentos ou dolorosos do espírito, mas com humor. Já Folias do Ornitorrinco obedece a um caráter sintético. São dois livros diferentes, mas compostos pelo mesmo homem. Estão próximos.

10.Quais são os grandes autores da literatura brasileira e qual a melhor contribuição que deram, no seu ponto de vista, à renovação literária?
Rodrigo de Haro: Guimarães Rosa, Lúcio Cardoso.

 11.   Na convivência com o multiartista Rodrigo de Haro, percebe-se que estamos diante de um homem de 72 anos com uma rotina de trabalho diria até rigorosa, obstinada. Como é essa rotina e o que o move dessa forma ao trabalho artístico? Você se sente tomado por um sentimento de urgência de criação?
Rodrigo de Haro: Trabalho artístico ou simplesmente trabalho… Com o tempo, estabelecida a rotina, torna-se impossível fugir a ela. O trabalho de um atelier-escritório é riquíssimo. É tudo a fazer o tempo todo. Os quadros te arrastam para o cavalete, os cadernos sussurram nos ouvidos. Impossível aproximar-se do material sem ser de novo absorvido pelo visgo da invenção, do retoque, de alguma nova sugestão.

12. Que outros projetos ainda estão saindo do atelier multiartístico de Rodrigo de Haro? A propósito, qual a importância do ambiente de trabalho no seu processo de criação?
Rodrigo de Haro: Sempre são muitos os projetos, pois o hábito contínuo da reflexão se resolve em sonhos de realização urgentíssimos. Nada é mais importante do que sonhar para materializar.

Texto e entrevista a Raquel Wandelli

Lançamento: Livro-embalagem “Poemas”

(Folias do Ornitorrinco e Espelho dos Melodramas)

Autor: Rodrigo de Haro
Editora UFSC
Quando: 20 de dezembro, às 19h30min
Onde: Fundação Cultural Badesc
Entrada aberta ao público

Texto: Raquel Wandelli, Jornalista na SeCArte/UFSC – Fones: 37218729 e 99110524 – raquelwandelli@yahoo.com.br – www.secarte.ufsc.br – www.agecom.ufsc.br

 

Tags: EdUFSC

Editora UFSC encerra 2011 com três lançamentos

11/12/2011 16:11

A Editora UFSC chega a dezembro com três grandes lançamentos encerrando o ano. Um deles é o aguardado livro Homo Academicus, de Pierre Bourdieu, um dos maiores intelectuais do século XX, que se notabilizou ao se debruçar sobre as estruturas do pensamento do próprio campo intelectual.

O segundo livro é o ensaio Linha direta: estética e política, de Mario Perniola, um dos filósofos italianos mais referenciados na atualidade, também traduzido pela primeira vez em língua portuguesa. Ao lado desses dois pensadores de repercussão internacional, a Editora lança, no dia 20, o livro-embalagem Poemas, com dois volumes de poesias do multiartista catarinense Rodrigo de Haro.

Primando pela expressividade autoral e pela qualidade gráfica, as três edições consolidam o novo projeto editorial da EdUFSC, iniciado em 2010, e cumprem dois objetivos, segundo o editor Sérgio Medeiros. Um deles é o de ampliar seu catálogo, incluindo nomes internacionais cujas obras sejam essenciais para a formação dos alunos desta universidade. O outro é o de pesquisar e experimentar novas texturas, cores, formatos de capa, de papel e de livros, a fim de oferecer aos leitores livros com altíssimo acabamento, comparável aos melhores publicados pelas grandes editoras universitárias do país.

Essa trajetória de inovação do livro culmina no dia 20 de dezembro, às 19h30min, na Fundação Cultural Badesc, na rua Vitor Konder, com uma festa de lançamento da nova obra poética de Rodrigo de Haro. A caixa-presente Poemas traz Espelho dos Melodramas  e Folias do Ornitorrinco,dois livros inéditos do poeta e artista plástico catarinense que é, na avaliação
de Medeiros, uma das maiores expressões contemporâneas da arte brasileira. Aos 72 anos, Rodrigo está em sua fase mais produtiva, alternando-se no talhe da palavra e da pintura.

Mais informações: www.vestibular2012.ufsc.br / (48) 3721-9200

Texto: Raquel Wandelli / Jornalista na SeCArte / UFSC
Fones: 3721-8729 /  9911-0524 / raquelwandelli@yahoo.com.br / www.secarte.ufsc.br

Tags: EdUFSC

Editora da UFSC lança Homo Academicus

08/12/2011 09:51

Considerado um teórico pessimista das instituições sociais, o sociólogo Pierre Bourdieu nem por isso é menos essencial. Reconhecido também pela densidade e coerência de seu pensamento, oferece uma leitura obrigatória para compreender os mecanismos pelos quais as instituições culturais e políticas operam a exclusão dos não eleitos, sobretudo a instituição da qual faz parte como crítico ferrenho e lúcido: a academia.

Homo academicus, que a Editora UFSC acaba de lançar com tradução para língua portuguesa pela primeira vez, está sendo aguardado como a obra que mais exerce a reflexão sobre a violência do poder simbólico do “universo universitário”.

Traduzido do francês pelos professores do Centro de Ciências da Educação da UFSC Ione Ribeiro Valle e Nilton Valle, pela primeira vez em língua portuguesa, Homo academicus é considerado por esses especialistas a obra-prima de Bourdieu. Nela, o sociólogo e filósofo francês questiona profundamente o poder classificatório e autorregulador dos intelectuais, expresso no título do capítulo: “O hit parade dos intelectuais franceses ou quem julgará a legitimidade dos examinadores?”.

Crítico consistente das estruturas capitalistas de poder, Bourdieu faleceu em 2002, deixando uma
vasta obra com pelo menos 25 livros publicados no Brasil. A maior parte desses livros é leitura obrigatória na área de humanas. Entre eles foram traduzidos para o português os famosos O poder simbólico (1992) e O que falar quer dizer: a economia das trocas simbólicas (1998), que tratam sobre como o uso da linguagem e da retórica sustenta fronteiras hierárquicas e estratificações sociais.

O teórico também abordou a questão do poder entre os gêneros na aclamada obra A dominação masculina (1999). Em Sobre a Televisão (1997),muito citado nos cursos de comunicação e ciência política, o teórico analisa a autocensura e a simplificação do conhecimento pela sua própria classe de intelectuais, que pactuam com os veículos de massa para que possa acontecer a divulgação do saber científico de um modo controlado e banalizado.

Mas é desnudando a opressão dos sistemas de ensino e sua face mais perversa na eliminação das classes desfavorecidas que Bourdieu alcança ampla e imediata repercussão no Brasil. Lançado na França em 1984, Homo academicus integra uma série de quatro livros em que o sociólogo elabora sua complexa teoria sobre os mecanismos escolares de exclusão dos desfavorecidos e eleição dos que ele chama de “herdeiros da academia”, impondo uma “aristocracia de méritos” dissimulada. Processo que Homo academicus demonstra não apenas com argumentos teóricos, mas com amplas pesquisas estatísticas e quadros baseados no cruzamento de indicadores como capital de notoriedade intelectual, de prestígio científico e de poder universitário com indicadores de poder político, social e econômico herdado ou adquirido.

A obra compõe uma importante tetralogia sobre a dominação escolar ao lado de Les héritiers (Os herdeiros, publicado na França em 1964); A reprodução (1974), escrita em parceria com Jean-Claude Passeron e única da série com tradução no Brasil antes de Homo academicus, e La noblesse d´Êtat (A nobreza do Estado, 1989). Nesse edifício teórico que disseca o pensamento científico como um campo de poder, a educação aparece como
instauradora de uma cultura escolar que inculca nos indivíduos um pensamento discriminatório com fortes implicações nas sociedades contemporâneas.
Melhor se compreende a radicalidade do pensamento de Bourdieu inserindo-a no calor das tensões que resultaram nos grandes movimentos estudantis contra o autoritarismo das universidades francesas dos anos 60, contexto no qual e contra o qual a obra se insurge.

Bourdieu põe a nu os mecanismos pedagógicos pelos quais a escola efetua um verdadeiro regime de exceção onde o pertencimento a instituições universitárias de grande prestígio social instaura uma superioridade metafísica do indivíduo acadêmico que ele chama de “milagre da eficácia simbólica”. Mostra ainda que a escola é o lugar por excelência da transmissão de uma “lógica secreta”, marcada pela violência simbólica que disfarça seu fundamento “profano” e sua finalidade real de reprodução da sociedade de classes, como esclarece a pedagoga e tradutora Ione Valle, no alentado prefácio a Homo academicus.

– Assim como a “nobreza militar”, a “nobreza escolar” aparece como um conjunto de indivíduos de essência superior, pois, ao selecionar aqueles que a escola designa como mais bem dotados, estabelece-se uma hierarquia no interior das classes juridicamente instituída pelo veredicto escolar, que legitima uma espécie de “racismo da inteligência”, explica a prefaciadora.

Por Raquel Wandelli / Jornalista na SeCArte/UFSC
Fones: 3721-8729 / 9911-0524 / raquelwandelli@yahoo.com.br / www.secarte.ufsc.br

Tags: EdUFSCHomo Academicus