Filósofo Alberto Cupani, autor de Filosofia da Tecnologia, um convite, lançado pela Editora da UFSC, estará na Feira de Livros a partir das 17 horas de quinta-feira para conversa com leitores
O tipo de sociedade e de ser humano que se produz com a intensificação das relações com a tecnologia só recentemente tornou-se disciplina acadêmica. Há muito as questões éticas implicadas no uso das novas tecnologias, sobretudo da comunicação, fizeram com que o assunto migrasse do campo das engenharias para a filosofia. Em Filosofia da Tecnologia, obra que a Editora da UFSC lança nesta semana em sua Feira de Livros, o filósofo Alberto Cupani investe todo seu reconhecido fôlego e rigor como pesquisador para fazer um convite à chamada sociedade do conhecimento: pensar uma nova perspectiva em favor de uma relação libertadora, que escape à tecnocracia, ao determinismo tecnológico ou ao uso da máquina para dominação da natureza e do próprio homem.
Para discutir esse assunto que afeta e desafia todos os estudiosos, qualquer que seja a atividade, Cupani estará a partir das 17 horas desta quinta-feira (15/03) conversando com os leitores da Feira de Livros da Editora da UFSC, localizada em um pavilhão coberto na Praça da Cidadania, em frente à Reitoria. “Temos o desafio ético de fazer com que as tecnologias estimulem a nossa liberdade e nos ajudem a tomar decisões moralmente corretas, e não recursos que diminuam ou entravem nossa ação, responsabilidade ou senso moral”, adianta Cupani. O professor de filosofia da UFSC dividirá o espaço da Tenda dos Autores com o multiartista Rodrigo de Haro, que conversará sobre seus livros Folias do Ornitorrinco e Espelho dos Melodramas, também lançados pela EdUFSC. Esses encontros fazem parte da programação da Tarde com Autores, que a Editora promove todas as quartas, a partir das 17 horas, desde o início da Feria, em 5 de março, até o final do evento, em 4 de abril.
Na obra, que chama a atenção pelo seu caráter histórico, o autor faz uma ampla revisão crítica das mais destacadas teorias do conhecimento relacionadas à questão da tecnologia, a maioria ainda sem tradução para a língua portuguesa. Antes de imprimir um percurso próprio, o filósofo revisita os clássicos José Ortega y Gasset; Martin Heidegger, Arold Gehlen e Gilbert Simondon acerca da pretensa correspondência entre progresso e tecnologia e sobre a crítica de Heidegger a um humanismo que justifica na competência tecnológica a posição central do homem no mundo à custa da dominação das outras formas de vida. Passeia por Lewis Mumford e o “mito da máquina”, a fenomenologia de Don Ihde, a contribuição de Mario Bunge, a crítica da razão artificial de Hubert Dreyfus e o paradigma da modernidade, de Albert Borgmann. “Nesse sentido, o livro se insere nas grandes questões contemporâneas, que é a crise do humanismo no século XXI, buscando uma nova conceituação para tecnologia”, avalia o editor Sérgio Medeiros. No oitavo capítulo, o autor se detém a discutir as relações entre tecnologia e poder, examinando os perigos da tecnocracia, que usa a máquina para impor a dominação política e econômica.
Depois dessa revisão bibliográfica, a discussão se atualiza com o exame do impacto da tecnologia nas culturas. Cupani aborda questões éticas e antropológicas fundamentais sobre as conseqüências do culto excessivo à tecnologia, como a afirmação dos meios sobre o fim, a valoração da vida artificial, a mudança na percepção do tempo, o conhecimento reduzido à informação, a alteração da personalidade, a perturbação da cultura e a supressão de alternativas de vida não mediadas por técnicas dominantes. Isso ocorre, por exemplo, com pessoas que são praticamente coagidas a usar certas tecnologias com as quais não se identificam, como celular, leptop, redes sociais etc. “Que a adesão aos recursos tecnológicos não equivalha à entrega da nossa vida, personalidade ou criatividade”, alerta Cupani. Esse risco se evidencia, segundo ele, quando se pensa, por exemplo, na fascinação hipnótica e na passividade normalmente encontrada em usuários das telecomunicações.
Por fim, Cupani adentra o debate emergente sobre o determinismo tecnológico, discutindo a questão da tecnologia como aposta da modernidade, presente na obra de Jacques Ellul, e da técnica fora do controle, em Langdon Winner. O autor critica o argumento do evolucionismo tecnológico, concluindo que, mediante as novas tecnologias, o homem simultaneamente se comunica mais, em certo sentido, e menos em outros, como, por exemplo, diminuindo seus contatos pessoais e físicos. Condena uma sorte de determinismo prático que “empurra” cada vez mais as pessoas a possuir e usar um aparelho celular, na medida em que não encontra mais telefones públicos. Mas não acredita que se possa “escapar” a esse cerco individualmente. “Pode-se, sim, buscar formar um movimento de opinião para pressionar, pedir, exigir, etc., aquilo que você quer preservar na cultura”, convida.

Filósofo Alberto Cupani, autor da obra "Filosofia da Tecnologia, um convite"
Entrevista com Alberto Cupani:
Por que só agora essa área que pensa as questões éticas na relação com as novas tecnologias está sendo valorizadas pela Filosofia?
CUPANI: Bem, antes de mais nada, essa nova área já tem em torno de 50 anos, e não trata apenas das questões éticas suscitadas pela tecnologia, mas de diversas questões (epistemológicas, políticas, metafísicas, etc.). Hoje Filosofia da Tecnologia é uma disciplina optativa do currículo da Graduação em Filosofia e uma disciplina da Pós-Graduação.
Segundo a sua pesquisa, quais os grandes desafios éticos na relação com as novas tecnologias? E que cuidados precisamos ter na adesão à chamada “era da tecnologia”?
CUPANI: Os desafios éticos têm a ver com o fato de que as tecnologias venham a ser elementos que estimulem a nossa liberdade e nos ajudem a tomar decisões certas em matéria de problemas morais, e não recursos que diminuam ou entravem, seja nossa ação livre, seja nossa responsabilidade, seja até nosso senso moral.
Quanto a cuidados: os acima aludidos, e também: que a adesão não equivalha à entrega da nossa vida, personalidade ou criatividade, aos recursos tecnológicos (um risco já óbvio quando se pensa, por exemplo, na fascinação hipnótica da televisão e na passividade que induz no espectador).
Daniel Cabrera diz que as novas tecnologias não são um instrumento que o homem utiliza para se comunicar , mas uma linguagem onde a sociedade contemporânea expressa e constitui seus sonhos, anseios, imaginário, subjetividades, historicidades, modos de ser etc. Afinal, como o senhor designaria as novas tecnologias da comunicação e como, segundo seu livro, se pode escapar ao determinismo tecnológico?
CUPANI: Como toda generalização, essa também é objetável. Eu diria que, mediante as novas tecnologias o homem, simultaneamente, se comunica mais, em certo sentido, e menos em outros (p.e., a diminuição dos contatos pessoais, físicos), e ao mesmo tempo expressa seus sonhos, desejos, etc.
Quanto a escapar ao determinismo tecnológico, para isso temos primeiro que pensar que o mesmo existe, o que é discutível. Há uma sorte de determinismo na prática, no sentido, por exemplo, em que você é “empurrado” cada vez mais a possuir e usar um aparelho celular, na medida em que não encontra mais telefones públicos. Não acredito que se possa “escapar” a isso, individualmente. Pode-se, sim, buscar formar um movimento de opinião para pressionar a fim de pedir, exigir, etc., aquilo que você quer preservar.
O seu estudo é marcado pela amplitude na conceituação da tecnologia. Em geral, se confunde tecnologia com técnica e se esquece de que o próprio modo do conhecimento é uma tecnologia. Por que nós temos tanta dificuldade em reconhecer o aspecto tecnológico das ações humanas e que implicações isso traz no campo ético e filosófico?
CUPANI: Temos essa dificuldade como temos dificuldade para reconhecer tudo quanto em uma cultura (a nossa, no caso), se torna trivial, quotidiano, usual. “Comunicar-se” hoje é sinônimo de falar mediante o celular e não, PPR exemplo, enviar uma carta. “Viajar” é sinônimo de usar um carro ou um avião etcétera. Mais interessante – e sutil – é perceber que a tecnologia consiste também em modos de pensar e agir, marcados pelo desejo (e até a obsessão) da eficiência. Dar-se conta de que a ação humana não tem por que ser, necessariamente, eficiente (ou mais eficiente que antigamente), para ser correta, boa, bela, eticamente justificada, etc. exige tomar distância de um critério (o de eficiência), próprio de um mundo tecnológico. (Embora eu não pense que essa característica provenha apenas da tecnologia. Como não acredito que ela seja autônoma, a sua influência em nossas vidas decorre do sistema sócio-cultural que a promove).
Qual a diferença, em poucas palavras, entre Filosofia da Tecnologia e Teoria do conhecimento?
CUPANI: A Teoria do Conhecimento (ou Epistemologia) trata do conhecimento humano, em geral. A Filosofia da Tecnologia trata, entre outras coisas, do conhecimento implicado ou produzido pela tecnologia.
Texto e entevista:
Raquel Wandelli
Assessora de Comunicação da SeCArte
raquelwandelli@yaho..com.br
www.secarte.ufsc.br
www.ufsc.br
Informações: 37218729 e 99110524
SERVIÇOS:
Lançamentos na Feira – Tardes com Autores (conversa com leitores)
Horário: a partir das 17 horas.
Local: Tenda dos autores junto à Feira
Autores: Alberto Cupani, autor de Filosofia da Tecnologia; um convite (de R$ 34,00 por R$ 17,00 na Feira de Livros);
Rodrigo de Haro, autor de Poemas, caixa-livro com os volumes “Folias do Ornitorrinco” e “Espelho dos Melodramas”. (de R$ 58,00 por R$ 40,00).
Data: 14 de março, a partir das 17 horas
Próximos participantes das Tardes com Autores:
Alckmar dos Santos, vencedor do I Concurso Romance Salim Miguel com Ao que minha veio
Data: 21 de março, a partir das 17 horas
Silveira de Souza, autor da coletânea de contos Ecos no porão 2,
Data: 28 de março, a partir das 17 horas
Lincoln Frias, doutor em filosofia, autor de A ética do uso e da seleção de embriões, de (vencedor do Grande Prêmio UFMG de Teses de 2011)
Feira de livros da Editora UFSC/ Liga de Editoras Universitárias
Data: 5 de março a 4 de abril
Local: Praça da Cidadania da UFSC
Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 8:30 às 19 horas
(quartas-feiras, das 8:30 às 20h30min)
Outros lançamentos na Feira:
- O Espelho da América: de Thomas More a Jorge Luis Borges, história da modernidade latino-americana através da literatura clássica, de Rafael Ruiz.
- Ecos no Porão II, coletânea de contos de Silveira de Souza que faz parte da lista do Vestibular 2013;
- Percursos em teoria da Gramática, de Roberta Pires de Oliveira e Carlos Mioto;
- Ongs e políticas neoliberais no Brasil, de Joana Aparecida Coutinho;
- Bioética, do filósofo José Heck;
- Matrizes e sistemas de equações lineares, de Nilo Kühlkamp (Série Didática, nova edição)
- Introdução à engenharia; conceitos, ferramentas e comportamentos, de Walter Antonio Bazzo e Luiz Teixeira do Valle Pereira (Série Didática, nova edição)
- Tecnologia da fabricação de revestimentos cerâmicos, de Antônio Pedro
- O liberalismo de Ralf Dahrendorf, de Antônio Carlos Dias Júnior;
- Seis décadas de poesia alemã, organizado por Rositha Blume e Markus Weininger;