Simpósio Hannah Arendt debate a existência humana e o ‘amor mundi’

03/06/2017 15:50

Professora Sônia Schio, na conferência de abertura. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC.

Com o tema “Amor mundi: política, educação e modernidade”, o I Simpósio Hannah Arendt da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ocorreu entre os dias 1 e 3 de junho, com a participação de cerca de 230 pesquisadores de diversos estados brasileiros, como Goiás, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina. O evento foi organizado por três estudantes do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil) – a doutoranda Kelly Janaína Souza da Silva, e os mestrandos Lara Emanuele da Luz e Gabriel Debatin –, sob a coordenação da professora Daiane Eccel, do Departamento de Estudos Especializados em Educação (EED/UFSC).

A ideia de “amor ao mundo” – o amor mundi – foi debatida em diversos momentos do encontro, assim como as tantas outras temáticas desenvolvidas na obra de Hannah Arendt: política, totalitarismo, educação, modernidade e a própria filosofia em si, a “atividade de pensar”. “O que Arendt diz sobre o amor mundi? Ela não é muito prolixa com relação a esse conceito. Mas podemos dizer que esse amor pelo mundo são atitudes de preservação do humano, de suas relações e da natureza”, afirmou a pesquisadora Sônia Maria Schio na conferência de abertura, cujo tema foi “Modernidade, ruptura da tradição e amor mundi: articulações a partir do pensamento de Arendt”.

Sônia é professora do departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel/RS), onde coordena o Grupo de Estudos Hannah Arendt (GEHAr). Autora do livro “Hannah Arendt – história e liberdade: da ação à reflexão” (Editora Clarinete, 2012), a pesquisadora estuda a obra da filósofa alemã há quase 30 anos. Durante toda sua trajetória acadêmica escreveu diversos artigos científicos, além de sua dissertação de mestrado e tese de doutorado, abordando os conceitos de estética, política, ação, reflexão, dignidade, educação, entre outros.

Professora Sônia Schio e o coordenador do Programa de Pós-graduação em Filosofia, Roberto Wu, na conferência de abertura. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC.

O tema central de sua palestra foi a relação do pensamento de Hannah Arendt com a noção de utopia desenvolvida nas obras de três autores dos séculos XVI e XVII: “Utopia”, de Thomas Morus; “A cidade do sol”, de Thommaso Campanella; e “Nova Atlântida”, de Francis Bacon. A pesquisadora descreveu brevemente a cidade ideal imaginada por cada um deles, para então partir para a indagação: “A pergunta que eu me fiz foi: por que diferentes pessoas, em diferentes países, quase na mesma época, escreveram sobre utopia? Será que o mundo no qual viviam não estava a contento? Os utopistas demonstram, em suas obras, essa instabilidade, essa mudança de mentalidade? Minha hipótese é que sim. E se eles sentiam o mundo em transformação, em crise, então me parece que Hannah Arendt tem razão em dizer que o século XVII é um século de virada, de ruptura.”

Esse cenário instável, “em crise”, teria criado as condições que tornaram possível a emergência do totalitarismo. “Por isso há consistência teórica na afirmação de Arendt de que o totalitarismo tem relação com esse período”, explica Sônia. A tradição, segundo ela, não tem só o aspecto negativo, que é o de tentar nos moldar a certas atitudes. Tem também o aspecto positivo de “ligar uma geração à outra”: “Quando não sei como agir, recorro à uma premissa maior, que vem por tradição, seja da educação formal ou informal, onde encontro uma regra geral para o meu agir. É nesse fio da navalha, entre o lado positivo e negativo da tradição, que sobrevivemos. E quando não há uma tradição? Quando não tenho uma referência para saber como devo me vestir ou educar meu filho? É quando não sabemos o que fazer que surge a crise e a ruptura” – e um ambiente propício para se instalar “um governo como o nazista, que perverte todas as regras”.

Natalidade e amor mundi

Professor Rodrigo Ribeiro Alves Neto, da Unirio. Foto: Daniela Caniçali/Agecom/UFSC.

Outra atividade de destaque no simpósio foi o minicurso “Mundo e Desmundanização em Hannah Arendt”, ministrado por Rodrigo Ribeiro Alves Neto, professor do departamento de Filosofia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e autor da obra “Alienações do Mundo: uma interpretação da obra de Hannah Arendt” (Edições Loyola, 2009). Durante duas tardes, o pesquisador expôs o conteúdo de seu livro, refletindo também sobre o próprio ato de pensar, sobre o papel da filosofia.

Rodrigo explica que é no caráter comum, compartilhado do mundo que está a principal preocupação filosófica de Hannah Arendt. “Procuro explicitar, no livro, como a existência humana, para Arendt, só realiza a plenitude do seu vigor por um cultivado amor ao mundo. Ou seja, por meio de uma implicação corajosa, um engajamento responsável, um pertencimento ativo dos homens ao mundo.” Os laços que ligam o homem ao mundo comum estão, portanto, no cerne do pensamento da filósofa. Entretanto, adverte o professor, “muito mais do que simplesmente compreender a obra de Hannah Arendt, nosso esforço deve ser o de compreender a nós mesmos. Compreender o que somos e não somos, o que fazemos e não fazemos, o que pensamos e não pensamos, na situação atual da nossa existência.”

Professor Adriano Correia, da UFG. Foto: Daniela Caniçali/Agecom/UFSC.

O simpósio também contou com a presença do presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof), Adriano Correia Silva, da Universidade Federal de Goiás (UFG). O professor, que proferiu a conferência “Política, formação, república: o amor mundi como sentimento político fundamental”, foi o responsável pela apresentação e revisão da última edição da tradução brasileira da obra “A condição humana”, de Hannah Arendt. Em sua palestra, Alexandre abordou, sobretudo, o tema da natalidade, a que Arendt se dedicou “desde suas primeiras incursões juvenis pela filosofia”.

“A natalidade não é idêntica ao nascimento e consiste nessa condição inaugural fundamental. Enquanto o nascimento é um acontecimento, um evento, por meio do qual somos recebidos na terra em condições em geral adequadas ao nosso crescimento enquanto membros da espécie, a natalidade é uma possibilidade sempre presente de atualizarmos, por meio da ação, a singularidade da qual o nascimento de cada indivíduo é uma promessa. É a possibilidade de assumirmos a responsabilidade por termos nascido e de nascermos assim também para o mundo; possibilidade, enfim, de que nos tornemos mundanos, amantes do mundo”, explicou o pesquisador. Esse “nascer para o mundo” seria o engajamento na vida política por meio da ação e do discurso.

Livro do professor da USP, José Sérgio Fonseca de Carvalho, lançado durante o Simpósio.

Além das conferências e do minicurso, a programação do simpósio incluiu a apresentação de 42 trabalhos e o lançamento de dois livros: “Educação, uma herança sem testamento: diálogo com Hannah Arendt“, de José Sérgio Fonseca de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da Universidade de São Paulo (USP); e a coletânea “Hannah Arendt: a educação e a crise no mundo moderno”.

Mais informações pelo e-mail: simposiohannaharendt@gmail.com ou pelo Facebook.

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC

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Aula Inaugural do Programa de Pós em Educação da UFSC aborda Modernidade, Pós-Modernidade e Educação dia 13

09/03/2017 10:45

A Aula Inaugural do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFSC, vinculado ao Centro de Ciências da Educação (CED), será ministrada pelo coordenador do Grupo de Pesquisa em Currículo e Contemporaneidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alfredo Veiga-Neto, com o tema “Modernidade, Pós-Modernidade e Educação: Deslocamentos e Continuidades”. O evento será realizado no dia 13 de março, às 9h, no Auditório do Colégio de Aplicação, em Florianópolis.

Mais informações pelo telefone (48) 3721-2251 e no site do PPGE.

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Livro ‘O duplo estado da poesia’ será lançado nesta quinta

03/11/2015 12:25

convite_duplo_wdefO livro O duplo estado da poesia: modernidade e contemporaneidade, será lançado nesta quinta-feira, 5 de novembro, às 17h. A professora Susana Scramim, do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas (DLLV) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é uma das organizadoras da obra.

O lançamento ocorrerá no hall do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) – Bloco B.

 

Sobre o livro

A inquietude diante das questões da poesia moderna e contemporânea é a órbita em torno da qual giram os ensaios reunidos neste livro. Foi justamente essa disposição, interessada simultaneamente nos aspectos intrínsecos da poesia e na posição que ela ocupa no mundo, que reuniu os colaboradores deste volume para refletir sobre a criação poética.

Uma das inquietações que se destaca entre as preocupações desse grupo de pesquisadores é da relação entre poesia e prosa que não se restringe a um levantamento da história do poema em prosa, nem revela seus aspectos mais decisivos por meio dela; tampouco estaria acomodada à mera inversão da hierarquia, pela exposição de casos em que a prosa poética promoveria a apropriação da “poesia” em uma tradição de prosa.

Evitando pensar em termos de distinção e de hierarquia de gêneros, a abordagem comum a alguns dos textos aqui publicados entrevê a possibilidade de um hibridismo entre a poesia e a prosa.

Outra inquietação relevante entre os textos do grupo é a do pensamento relacional entre o corpo e a poesia. Nele destaca-se a experiência do contato do corpo e para o corpo na qual o trânsito das palavras dizíveis pode mostrar-se interrompido, fazendo com que a ponte entre a linguagem e o corpo pareça estar partida. Compreende-se, com essas reflexões, que a vida que o corpo resguarda é exatamente a que, desde o corpo, não se pode dizer, colocando-os numa zona de mutismo nunca passível de ser completamente ultrapassada nem totalizada, apenas sutilmente entrevista e somente ouvida como um murmúrio balbuciante.

O caráter ambivalente da poesia frente aos reclames de sua especificidade como discurso poético e o seu desejado abandono à abertura ao mundo é uma questão que igualmente reaparece em vários textos.  Em alguns momentos retoma-se o estudo sobre a imagem dialética de Benjamin, para considerar que ali reside um movimento produtor de deformações, já que ela implica a ambivalência.  Nesse sentido, negar essa ambivalência, ainda que isso seja algo difícil de ser pensado no contemporâneo, produz o efeito de devolver a literatura àquela idealidade de sua autonomia.

A vitalidade demonstrada pelas inquietações acima destacadas é a marca comum mais visível entre os textos reunidos nesse livro. Ele é resultado de dois anos de trabalho no grupo composto por importantes pesquisadores da poesia no Brasil. É a partir dessa vitalidade que se pode constatar a dimensão ética e política da literatura, tornando mais uma vez pública a potência reflexiva e crítica que vem acompanhando a poesia moderna e contemporânea.

Mais informações no site da editora.

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Maffesoli fala na UFSC sobre modernidade e pós-modernidade

08/04/2014 15:59

Conferência A emergência de valores pós-modernos. Foto Wagner Behr/Agecom/ UFSC

Na segunda-feira, 7 de abril, o sociólogo francês Michel Maffesoli ministrou, no Auditório Garapuvu, do Centro de Cultura e Eventos  da UFSC, a conferência “A emergência dos valores pós-modernos”, em comemoração aos 20 anos do Nupequis-Fam-SC (Núcleo de Pesquisa e Estudos em Enfermagem, Quotidiano, Imaginário, Saúde e Família de Santa Catarina, LEIFAMS), que promoveu e organizou o evento, juntamente com o Projeto Ninho e o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC.

Maffesoli explicou quase todos os conceitos a partir da etimologia grega ou latina da palavra;  falou sobre duas épocas: a moderna – que se está fechando – e a pós-moderna – que se está abrindo, para ele de uma forma reemergente, em espiral, de modo que “o fim de um mundo não é o fim do mundo”.

Para contrapor as diferenças entre o moderno e o pós-moderno, o sociólogo caracterizou cada época com cinco palavras-chave, aplicáveis ao mundo ocidental.

 

 

 

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