
Professores da UFSC, Unisul e Udesc debateram a temática "Gargalos socioambientais na economia catarinense"
A professora e bióloga Alessandra Larissa D’Oliveira Fonseca, do Departamento de Geociências da UFSC, está convencida de que o desenvolvimento está afetando a qualidade da água nas áreas costeiras de Santa Catarina. Ela foi uma das palestrantes da manhã desta terça-feira na XXXIII Semana de Geografia (SEMAGeo), que vem sendo realizada no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da universidade. Uma das provas dessa interferência são os impactos da rizicultura na foz do rio da Madre, no sul do Estado, onde a pesca foi fortemente prejudicada pelos produtos químicos utilizados por plantadores de arroz de vários municípios da região.
Também os metais pesados depositados na baía da Babitonga, no norte catarinense (problema que se agravou após o fechamento do canal do Linguado), vêm atingindo muitas famílias que vivem da pesca. As águas dos rios dos municípios da Grande Florianópolis são um fator de poluição do mar, provocando fenômenos como a maré vermelha, por causa das toxinas trazidas das lavouras. “O único rio que se salva é o Massiambu, em Palhoça, onde a ocupação humana é pequena e não pesam os fatores do desenvolvimento”, afirma a professora.
Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), Alessandra Fonseca e sua equipe desenvolvem uma pesquisa para avaliar a qualidade da água nas lagoas costeiras do Estado. Pelos dados já recolhidos, ela diz que a situação é preocupante, porque em muitos casos há a deposição de resíduos industriais, esgoto doméstico e substâncias que aumentam os índices de nitrogênio na água. “Estamos realizando um trabalho com os professores da rede pública para alertar os alunos e suas famílias sobre as formas de reverter esse quadro”, diz ela. “Precisamos saber qual é a nossa vocação para o crescimento econômico, porque estamos perdendo a nossa biodiversidade”.
Situação dos portos – Em outra palestra, dentro do tema geral “Gargalos socioambientais na economia catarinense”, a professora Márcia Fernandes Rosa Neu, da Unisul, fez uma análise da situação dos portos de Santa Catarina e em que medida eles facilitam ou dificultam as atividades econômicas no Estado. O litoral catarinense é bem servido neste campo, porque há os portos de São Francisco do Sul (estadual), Itajaí (municipal), Itapoá, Navegantes e Imbituba (privados), além do terminal pesqueiro de Laguna.
O maior problema, segundo Márcia Neu, é de ordem logística, porque o transporte até os portos se dá quase que exclusivamente pela via rodoviária, o que encarece as operações. “Temos dificuldades de interconexão de modais”, diz ela. Além disso, há a necessidade de investir no desassoreamento e na ampliação dos molhes da maioria dos terminais.
A boa notícia é que Santa Catarina tem atraído a atenção de investidores de fora por causa dos espaços que surgem nos portos privados, abrindo a possibilidade de o Estado se transformar num pólo logístico importante no transporte marítimo. Já o fim da extração de carvão na região sul prejudicou o terminal de Imbituba, que, em compensação, tem a maior possibilidade de expansão em vista do bom calado e de uma grande retroárea, maior que as existentes em Itajaí e São Francisco do Sul.
Drama no manguezal – A outra palestra da manhã foi feita pelo professor Ricardo ad’Vincula Veado, da Udesc, que analisou o comprometimento do manguezal do Itacorubi pela expansão urbana de Florianópolis. Ele diz que também o impacto do lixão que funcionou durante 20 anos próximo ao mangue, do cemitério São Francisco de Assis e dos resíduos produzidos pela Universidade Federal e pela Universidade do Estado interfere na saúde da área, que deveria ser um criadouro natural de peixes e camarões.
Também a construção da Avenida Beira-mar Norte, que interrompeu o fluxo de água dos morros para o manguezal, desequilibrou a vida na região. “Como em outras partes da Ilha, os drenos secaram parte do mangue”, denuncia o professor. “Apesar da algumas ações da Comcap, não há um plano de manejo e de zoneamento próprio para o Itacorubi”.
Sobre a SEMAGeo
A Universidade Federal de Santa Catarina, através do Departamento de Geociências, realiza anualmente a Semana de Geografia – SEMAGeo –, contando com a presença de conferencistas de renome nacional e internacional na área de Geociências.
Este ano, a XXXIII SEMAGeo está sendo realizada no período de 18 a 22 de junho, e tem como tema central “Santa Catarina e sua inserção na economia internacional: dilemas e desafios”.
Programação da Semana da Geografia
Outras informações pelo endereço http://semageo2012.wordpress.com/.
Por Paulo Clóvis Schmitz/Jornalista na Agecom – Foto: Wagner Behr