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Oficinas em diferentes cidades prepararam profissionais e ampliam percepção de riscos da população
Mais de 900 mil pessoas foram atingidas pelas chuvas em Santa Catarina durante o início de setembro de 2011. Dados da Defesa Civil informam que as cheias desalojaram 153 mil pessoas e desabrigaram outras 14 mil, em 91 municípios. Sete cidades decretaram estado de calamidade pública e 37 em estado de emergência. Duas pessoas morreram.
Em novembro de 2008, as chuvas afetaram em torno de 60 cidades e mais de 1,5 milhões de pessoas em Santa Catarina. O número de mortos chegou a 135, 9.390 habitantes foram forçados a sair de suas casas e mais 5.617 ficaram desabrigados. Diferente de 2008, ocasião em que havia perplexidade no olhar das pessoas e pânico no ar, o Vale do Itajaí enfrentou a enchente em 2011 mais preparado, com auxílio do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Os meios de comunicação e o governo local divulgaram alguns dias antes a possibilidade de cheia dos principais rios que cortam a região – Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim – e possibilitaram a redução de perdas. Além disso, a conscientização da população, líderes comunitários e agentes da Defesa Civil foi maior devido ao diálogo promovido com treinamentos ocorridos desde 2008. Blumenau foi uma das cidades contempladas pelos cursos oferecidos pelo Ceped e que abordaram a prevenção e os conceitos da gestão e percepção de risco.
Parceria com a Defesa Civil
Potencializar a função de órgãos que atuam em situações de desastres e ampliar a percepção de riscos da população é o objetivo da equipe que integra o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. Desenvolvida em diversas cidades, a Promoção da Cultura de Risco de Desastres constitui um conjunto de ações que visam à formação de cidadãos preparados para participar das tomadas de decisão acerca de riscos de desastres. O projeto, que teve início em março de 2010 e encontra-se em fase de finalização, foi financiado pelo Ministério da Integração Social e é uma parceria entre o Ceped e a Defesa Civil Nacional e Estadual.
Segundo o professor do Departamento de Engenharia Civil da UFSC e coordenador do Ceped, Antônio Edésio Jungles, a preferência por políticas emergenciais é fruto de uma cultura própria de países em desenvolvimento. Edésio aponta dados que indicam o gasto de 7 a 8 dólares em ações estruturais de recuperação e apenas 1 dólar para prevenir.
Para ele, a gestão de riscos deve ser pensada em três níveis: estratégico, tático e operacional. “A difusão de informação de qualidade transforma os riscos de desastres em uma temática de preocupação social, o que resulta em pauta da agenda do governo, pesquisadores, acadêmicos, educadores e profissionais da comunicação”, explica o coordenador do Centro.
Na visão da equipe, a população ainda não tem informações e conhecimento suficientes que norteiem suas atitudes e decisões, principalmente em momentos de tragédias ambientais. A constatação é baseada em uma pesquisada realizada pelo Ministério do Meio Ambiente e a ONG Instituto de Estudos da Religião (ISER) e trata-se de um dos mais completos documento sobre a percepção dos cidadãos em relação às questões ambientais. O estudo foi realizado em 1992, 1997, 2001 e 2006 e demonstra a pouca percepção do brasileiro diante dos riscos ambientais.
Capacitação
As ações para promoção da cultura de risco de desastres possibilitou a capacitação de profissionais de Defesa Civil e de comunicação em 27 capitais brasileiras. A equipe do Ceped, formada por oito pesquisadores da área ambiental, tecnológica e de comunicação, uma psicóloga e uma agente social, definiu como objeto de trabalho a área de Comunicação e Percepção de Risco. Em cursos com duração de 12 horas/aula, foi estimulada a criação de ferramentas eficazes de difusão de informações, com ênfase na questão ambiental.
Os resultados parciais do projeto resultaram na publicação de um relatório técnico científico na revista Com Ciência Ambiental. A utilização de um espaço da área ambiental e científica foi o meio considerado mais apropriado para o desenvolvimento e divulgação de conteúdo sobre cultura de riscos e desastres. A seção intitulada “Percebendo Riscos, Reduzindo Perdas” tem oito páginas dedicadas oferecer fundamentação teórica para a Defesa Civil Nacional, em uma tiragem de 30 mil exemplares.
Outro produto é o 1° Relatório Nacional de Ocorrência de Desastres. Segundo a pesquisadora Sarah Cartagena, a disponibilização de dados de forma estruturada e com base metodológica é um dos fatores de informação que mais favorece a tomada de decisões. “Na falta de um fluxo de informação constante de uma fonte respeitável, os rumores vão preencher o vácuo e iniciar um ciclo de vida próprio”. A versão definitiva do relatório está em fase de acabamento.
Plano Diretor de Prevenção de Desastres
Os dados levantados pela equipe do Ceped serviram ainda de base para a produção e apresentação do Plano Diretor de Prevenção de Desastres na Bacia do Rio Itajaí-Açu. O Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Secretaria de Estado da Defesa Civil, recebeu a equipe responsável pela elaboração do estudo preparatório de mitigação de desastres, para discutir os resultados do Plano Diretor, um dos elementos do projeto estruturado em duas principais medidas: controle de enchentes e de escorregamentos.
O Ceped está também participando de um projeto pioneiro desenvolvido pelo Brasil na área de prevenção e recuperação de crises em El Salvador. Os profissionais selecionados pelo programa Voluntários das Nações Unidas (VNU) viajaram ao país com a missão de ajudar os salvadorenhos a se prevenir contra desastres naturais e promover a segurança alimentar e nutricional da população.
A equipe é formada pelo psicólogo Flávio Lopes Ribeiro (coordenador do grupo), pela especialista em gestão de risco e pesquisadora do CEPED Rita de Cássia Dutra, pela nutricionista Etel Matielo, pela pedagoga Mônica Alves Silva e pelo agrônomo Fábio Schwab. Esta é a primeira missão internacional de ajuda voluntária financiada pelo governo brasileiro.
Com seis milhões de habitantes, El Salvador é suscetível a vários fenômenos naturais que podem provocar desastres: conhecido como terra dos vulcões, enfrenta terremotos frequentes e é propenso a ter furacões. Segundo a ONU, quase 90% do território é área de risco. Nos últimos 40 anos, desastres naturais mataram quase 6.500 pessoas e provocaram prejuízo de US$ 16 bilhões no país, segundo o Banco Mundial.
Mais informações: www.ceped.ufsc.br / Telefones: Centro (48) 3223-5467 / (48) 3224-9088 / Santa Mônica (48) 3226-1704 / (48) 3235-2359
Por Gabriele Duarte / Bolsista de Jornalismo na Agecom