Estudo da UFSC aponta áreas de preservação ameaçadas por espécie invasora

Pesquisadores fazendo o manejo do coral-sol na REBIO Arvoredo – Ilha do Arvoredo – Santa Catarina (Foto: Marcelo Crivellaro – Acervo PACS Arvoredo)
Um estudo inédito publicado na revista Marine Pollution Bulletin utiliza a modelagem para prever a potencial distribuição e avaliar o risco de invasão do coral-sol (Tubastraea spp.) em Áreas Marinhas Protegidas federais brasileiras.A pesquisa revela quais dessas áreas estão mais ameaçadas e aponta a indústria de petróleo e gás como um fator chave no alastramento da espécie invasora. O artigo é fruto do trabalho de conclusão de curso da acadêmica de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina, Millene Ohanna, e foi orientado pelo pesquisador Thiago Silveira no Laboratório de Ecologia de Ambientes Recifais, e coordenado pela professora Bárbara Segal, do departamento de Ecologia e Zoologia.
Os resultados destacam que a variável mais importante para a distribuição do coral-sol nos modelos foi a extração de petróleo e gás. As estruturas associadas a esta indústria servem como habitats favoráveis e vetores de dispersão. Ao avaliar o risco de invasão para as áreas federais, o estudo classificou as com maior vulnerabilidade, considerando a adequabilidade de habitat indicada pelo modelo e o nível de proteção. A Reserva Extrativista Arapiranga-Tromaí (MA), o Monumento Natural das Ilhas de Trindade e Martim Vaz (ES) e Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (PE) foram identificadas como as mais ameaçadas pela invasão do coral-sol.
A pesquisa também aponta para o alto risco de invasão na região próxima à foz do Rio Amazonas, uma área de grande relevância biológica e que tem sido alvo de discussões sobre planos de exploração de petróleo. O modelo prevê que esta área possui habitat adequado e está sob risco devido à proximidade potencial com atividades da indústria de petróleo e gás.
O coral-sol (Tubastraea coccinea e Tubastraea tagusensis), espécie invasora na costa brasileira, pode alterar habitats e comunidades nativas. Sua introdução no Brasil ocorreu no final da década de 1980 na Bacia de Campos, Rio de Janeiro, principalmente por conta da bioincrustação em estruturas artificiais da indústria de petróleo e gás, como plataformas e navios de perfuração. Desde então, ele se espalhou por mais de 3000 quilômetros da costa brasileira, colonizando tanto estruturas artificiais quanto recifes naturais.
Diferentemente do que ocorria até então, esta pesquisa incluiu variáveis ambientais – como temperatura, salinidade e batimetria – e antropogênicas, relacionadas a atividades humanas, como a proximidade a áreas de extração de petróleo e gás, portos e naufrágios. A inclusão de fatores humanos foi importante pois a introdução e dispersão do coral-sol estão frequentemente ligadas a essas atividades.
Controlar espécies invasoras é um dos maiores desafios para a conservação da biodiversidade. Os pesquisadores explicam que a modelagem de distribuição espacial, como a utilizada no estudo, é uma ferramenta decisiva para prever onde espécies invasoras podem se estabelecer.
A precisão da modelagem, particularmente com a inclusão de preditores antropogênicos, oferece uma base científica robusta para o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Coral-Sol. O estudo enfatiza que confiar apenas em preditores ambientais pode levar a uma alocação menos eficaz de recursos.
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