
Festa dedicada ao folclorista Doralécio Soares continua domingo com Missa do Encontro das Bandeiras, Folias do Divino Espírito Santo e gastronomia. Quem participa do Açor vivencia a história e a cultura do litoral catarinense
Dança, cantorias, artesanato, desfiles, missa festiva. Estandes culturais, folguedos do boi, folias do divino, shows musicais todas as noites. Sardinha recheada, pão com bifeta, comida do Alentejo. Tradição, cultura e alegria: São Francisco do Sul é a capital da cultura açoriana neste final de semana. O 19º Açor, maior festa do gênero do Brasil, abriu na sexta à noite no centro histórico de São Francisco do Sul (SC), dando início a uma intensa e diversificada programação em tributo à herança cultural dos colonizadores das nove ilhas de Açores. Até as 18 horas deste domingo, representantes de 55 instituições de 22 municípios catarinenses estarão na cidade mostrando o que esse legado deixou de melhor do litoral catarinense.
Na abertura do evento, a 19ª Festa Açoriana de Santa Catarina foi dedicada ao folclorista Doralécio Soares, um dedicado pesquisador da cultura popular catarinense, falecido na tarde de sexta-feira. Um comitê de representantes de entidades municipais, estaduais e federais deu início à programação oficial da festa, realizada pelo Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) da Secretaria de Cultura da UFSC, em parceria com a prefeitura do município, Governo dos Açores e Santur. No palco do grande pavilhão coberto e montado em pleno centro histórico, os grupos banda de São Francisco Guarani, Grupo Folclórico Açor Sul, de Sombrio, Grupo Folclórico Mistura, de Bombinhas encheram os olhos do público com uma sequência de atrações. O local foi todo decorado com motivos folclóricos por um pequeno pelotão de mulheres da casa da Cultura e da Associação das Mulheres Pescadoras do Iperoba.
Na sexta-feira, a banda Gente da Terra, de Florianópolis, encerrou a programação e, no sábado, o show coube à banda Tarrafa Elétrica, de Itajaí. Depois da meia noite, quando o grande pavilhão à beira da Baía da Babitonga encerrou as atividades do dia, a folia continuou em frente, no barracão do Engenho de Farinha do “Seu Zico”, no Mercado Público, onde a música se estendeu até as duas da madrugada. Na manhã seguinte, todas as entidades já estavam de pé para o grande Desfile do Açor, na rua Babitonga.
Um total de 46 apresentações folclóricas com danças açorianas, pau de fitas, Folias do Divino, folguedos do boi de mamão e Mastro de São Sebastião arrebatam o público com o colorido e o significado dessas manifestações artísticas. No domingo, a Missa do Encontro das Bandeiras e Folias do Divino Espírito Santo começa às 10 horas, na Igreja Matriz. Às 11h30min ocorre a apresentação do Mastro de São Sebastião pelo Grupo Itapocoroy, do município de Penha.
Ao abrir o evento na sexta-feira, o coordenador da Festa e do NEA, Joi Cletison, convidou toda a gente do litoral de Santa Catarina que ama e valoriza sua cultura a participar da 19º Açor. “Neste final de semana São Francisco do Sul é só Açores!”. Representando a reitora Roselane Neckel, o secretário da Cultura da UFSC, Paulo Ricardo Berton, acentuou a importância do evento para a universidade: “O Açor coroa um dos princípios da secretaria que é o de abrir as portas para inserir a universidade na vida da comunidade e na valorização da cultura que faz o mosaico de Santa Catarina”. Acrescentou que a festa promove o casamento entre a preservação material e imaterial do patrimônio cultural. “Investimos em um evento que está preservando o aspecto imaterial de uma cultura no espaço de uma cidade que mantém a sua herança arquitetônica cultural de forma impressionante”.
Logo na entrada do pavilhão, na Praça da Gastronomia, seis entidades oferecem almoço e janta com os pratos típicos da gastronomia açoriana: salgados recheados com frutos do mar, pratos portugueses, café colonial, pirão com guisado de linguiça e marisco. Uma das maiores atrações da festa é a cozinha alentejana, em especial um prato à base de carne de porco e camarão acompanhado de arroz e feijão cozidos juntos. A receita é preparada pelo casal Paulo e Cristina Moraes, que há cinco anos vieram de Lisboa para São Francisco estabelecer um negócio de Gourmet e se sentiram em casa. “O segredo do prato”, revela Cristina, “é o modo como se temperam as carnes”.
A ala dos estandes culturais é um mostruário vivo dessa cultura, onde artesãos e oleiros produzem e comercializam suas peças de tapeçaria, vestuário, utensílios, e ornamentos. Os artesãos do Projeto Saber Fazer, mantido pelo NEA, mostram sua produção de crivo, tecelagem, cerâmica figurativa, cestaria, renda de bilro e de crivo. Os 39 estandes reúnem um pouco das práticas culturais dos municípios presentes: Araquari, Barra Velha, Barra do Sul, Bombinhas, Criciúma, Florianópolis, Garopaba, Gravatal, Governador Celso Ramos, Içara, Itajaí, Imbituba, Itapema, Jaguaruna, Laguna, Palhoça, Penha, Porto Belo, São Francisco do Sul, São José e Sombrio.
Escolas do município também expõem os trabalhos desenvolvidos pelos alunos durante o ano com o objetivo de valorizar a identidade cultural açoriana. Cultura, artesanato, folclore, religião, gastronomia, exposições, mostra de vídeos. Quem participa se encanta e quer voltar: “É uma linda festa que nos faz ter consciência viva da riqueza singela da cultura da nossa gente”, diz emocionada Ondina Doin Vieira, 74 anos, que visitou no ano passado o 18º Açor, em Sombrio.
DEPOIMENTOS:
Joi Cletison, coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos da Secretaria de Cultura da UFSC: “Estamos há 19 anos correndo o litoral de Santa Catarina. Durante o ano, fizemos cursos de motivação para professores em 20 cidades do litoral, mostrando e valorizando a riqueza da cultura popular muito presente no dia a dia dessas cidades. Temos um grande encontro de gente que vem do sul a norte do Estado: são 22 cidades e 55 instituições, cada uma dando a sua contribuição e pagando as suas despesas. Em São Francisco, conseguimos organizar 20 escolas do município e 12 delas estão apresentando seus trabalhos. Isso é fruto do trabalho do Núcleo, que em seus 24 anos de história sempre foi incentivado pela instituição e nos permite trabalhar para valorizar essa identidade cultural. E também precisamos agradecer ao Conselho do NEA, que se reúne uma vez por mês para trabalhar pela cultura popular. Nossos agradecimentos ainda à Fundação Cultural Ilha de São Francisco do Sul estendido a casa da cultura.”
Paulo Ricardo Berton, secretário de Cultura da UFSC: A UFSC tem grande satisfação em promover este evento, e em estar aqui em uma cidade com uma preservação arquitetônica tão impressionante, que guarda a memória de uma cultura que parece estar bem viva na comunidade. Nos tempos de hoje a gente tem contato com formas culturais muito velozes efêmeras e temos medo de que a tradição não se mantenha. Este evento mostra que a gente pode preservar a tradição com qualidade e paixão. A Festa Açoriana coloca em prática o princípio da universidade, que é atuar no fora da instituição, junto com a comunidade.
Margarete Moraes, representante do Ministério da Cultura na Região Sul: O Nea, que há muitos anos já compreendeu a importância da arte e da cultura açoriana, vem fazendo trabalho fundamental pela pesquisa de preservação e conhecimento desse patrimônio histórico material e imaterial. Quero cumprimentar a prefeitura de São Francisco pelas políticas culturais que vem exercendo. Queremos saudar a todas as pessoas, professores gestores, produtores, mulheres da Casa de Cultura. Cada instituição e cada um, do seu jeito e da sua forma, contribuiu para que este evento ocorresse da melhor maneira possível. A cidade de São Chico compreendeu que o que tem de diferente é o seu patrimônio, além do seu povo alegre que acolhe também as edificações arquitetônicas magnifica. Não existe um sítio arquitetônico tão impressionante. Desde a inscrição no projeto Monumenta esse patrimônio tem sido recuperado e valorizado. Isso mostra que a cultura pode trazer dividendos, pode ser geradora de emprego e renda.
Professor Aldair Nascimento Carvalho, presidente da Fundação Cultural Ilha de São Francisco: A identidade cultural açoriana é um dos elementos importantes nesse cenário. São Francisco do sul é para além do centro histórico. Nossa identidade está no povo. Se Floripa é a 10ª ilha de Açores nós somos indiscutivelmente a 11º ilha porque aqui preservamos a identidade cultural. Vamos usar o magnifico centro histórico para mostrar a cara da nossa gente. Apreciem a festa, ela é linda e foi construída por todos nós e para todos nós.
João Lupi, cônsul de Portugal em Santa Catarina: A UFSC, através de Joi Cletison, do NEA, deu continuidade a esta festa começada por Vilson Ramos. Colocar-se à disposição da cultura popular há 19 anos é uma das ações mais importantes da universidade, pois não adianta ter curso de mestrado e doutorado e ignorar essa cultura. Essa obra não existe em outro lugar. Quando vejo essas pessoas humildes se apresentando nos desfiles, nos grupos de dança e folclore, percebo o seu orgulho de se sentirem reconhecidas por uma instituição como a UFSC, que está entre as melhores do país.
Promoção
Universidade Federal de Santa Catarina (Secretaria de Cultura da UFSC)
Realização
Núcleo de Estudos Açorianos da Secretaria de Cultura da UFSC
Apoio Cultural
Direção Regional das Comunidades/Governo dos Açores/Santur/
Agecom/UFSC.
A programação Completa do 19º AÇOR: www.nea.ufsc.br
Fotografias para divulgação: http://ftp.identidade.ufsc.br/Fotos_Divulgacao_19ACOR_SFranciscodoSul_2012.zip
Mais informações:
Núcleo de estudos Açorianos/UFSC (48) 3721.8605
Fundação Cultural Ilha de são Francisco do Sul (47) 3444.6161 www.nea.ufsc.br
Raquel Wandelli / Jornalista da UFSC na SeCult
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