Direito da UFSC forma primeiro mestre indígena a ingressar com ações afirmativas

28/07/2025 14:45

Jafé Sateré-Mawé e o professor Diego Nunes (Fotos: Gustavo Diehl)

O estudante Jafé Ferreira de Souza, conhecido como Jafé Sateré-Mawé, tornou-se mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina nesta segunda-feira, 28 de julho, após defesa pública e aprovação da dissertação Sehay Koro: O pluralismo jurídico e as normas costumeiras penais do Povo Sateré-Mawé (Amazonas) enquanto ordenamento jurídico não estatal. A banca contou com a avaliação do secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Luiz Henrique Eloy Amado, conhecido como Eloy Terena, indígena do povo Terena em Aquidauana (MS), doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, dos professores Antonio Carlos Wolkmer e Arno Dal Ri Junior e da professora Camila Damasceno de Andrade. A orientação foi do professor Diego Nunes.

Jafé é o primeiro estudante indígena do Programa de Pós-Graduação em Direito a ingressar no mestrado por meio de ações afirmativas para indígenas. A dissertação é um aprofundamento do estudo desenvolvido pelo estudante no trabalho de conclusão do curso de Direito, apresentado na UFSC em dezembro de 2022. Ele também tem protagonismo na articulação da Associação dos Estudantes Indígenas da Universidade, sendo um dos fundadores desse coletivo.

Agora Mestre, pesquisador também é liderança indígena

O mestrado teve como tema o Direito Penal, investigando subjetividade e historicismo. “O trabalho discorre sobre como funciona o sistema penal indígena do povo Sateré-Mawé e também abre uma margem para os demais povos indígenas do Brasil”, explicou, fazendo menção ao fato de a conquista ser parte de um esforço coletivo. “A dinâmica da pesquisa traz à tona o conhecimento tradicional indígena do povo originário do Amazonas, do Brasil, para a academia. Na academia, encontra respaldo com outros autores e teóricos”, resume.

Segundo o pesquisador, a ideia foi dialogar com os sistemas penais iluministas do ponto de vista do direito ocidental. “A gente constrói balizas específicas para a administração de justiça, que pode ser usada nos tribunais, nas decisões, nas sentenças”, reforça. Além disso, o estudo também trabalha com o reconhecimento do pluralismo jurídico, aspecto reforçado pelo orientador. “Foi muito rico porque ele conseguiu trazer para nós não apenas as diferenças, as quais a gente já esperaria, mas também os possíveis pontos de contato, na perspectiva de diálogo”.

Graduado em Direito também pela UFSC, Jafé considera que a Universidade é, em sua trajetória, mais que uma instituição de ensino: “Ela é um território de luta, de resistência e de construção coletiva. Foi aqui que encontrei espaços para refletir criticamente sobre minha identidade, minha comunidade e os desafios que enfrentamos como povo indígena. Ao mesmo tempo, foi na UFSC que compreendi a potência do diálogo entre diferentes saberes, a importância de ocupar os espaços institucionais sem abrir mão daquilo que somos”, ressalta.

Agora mestre, mas já pensando na continuidade dos estudos, Jafé enfatiza também que a Universidade lhe proporcionou oportunidades concretas de formação, mas sobretudo a chance de “sonhar junto com outros parentes, indígenas de diferentes etnias, com histórias distintas, mas com o mesmo desejo de transformar a realidade. É nesse chão acadêmico que pude desenvolver uma pesquisa que fala de nós, para nós, e por nós, e que contribui para o fortalecimento das nossas lutas em defesa da vida, do território e da justiça”.

Confira a galeria de imagens

Tags: ações afirmativasCCJdefesa de dissertaçãoDireitodissertaçãoMestrado em Direitopovos indígenasPrograma de Pós-Graduação em DireitoSateré-MawéUFSC

Pesquisa da UFSC desenvolve método que utiliza IA para identificar fraudes em licitações

23/06/2025 14:52

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) propõe o uso de soluções baseadas em Inteligência Artificial (IA) na identificação de fraudes em licitações públicas, o que deverá contribuir para aprimorar investigações pelas Promotorias de Justiça. O estudo foi desenvolvido pelo mestrando Fernando Schmitz, pesquisador do Projeto Céos e servidor do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), com orientação do professor Jônata Tyska. A apresentação à banca avaliadora será nesta quarta-feira, 25 de junho de 2025, a partir das 10h, no Departamento de Informática e Estatística do Centro Tecnológico (veja detalhes abaixo).

A dissertação, intitulada “Detecção de fraudes em licitações públicas: uma abordagem semissupervisionada de agrupamento com Modelos de Mistura Gaussiana”, apresenta um método que avalia a similaridade entre licitações não rotuladas e casos confirmados de fraude em diferentes subespaços de variáveis. Isso gera um indicador de risco que combina medidas de proximidade com fraudes conhecidas. Esse indicador considera o número de subespaços em que cada licitação foi considerada suspeita e valida o desempenho do modelo com base em dados rotulados. A partir das métricas de similaridade, é construído um ranking de suspeição para cada licitação analisada. Os resultados mostraram que a metodologia teve melhores índices de detecção de risco de fraudes na comparação com outras já existentes.

De acordo com Schmitz, a ideia da pesquisa surgiu da necessidade de aprimoramento de mecanismos de combate à fraude e à corrupção no MPSC e, em seu desenvolvimento, tirou proveito do grande volume de dados públicos disponíveis. “Como servidor do MPSC há 14 anos, é gratificante ver as necessidades do MPSC e da sociedade catarinense encontrando soluções por meio da ciência e da pesquisa. Ao longo do projeto, utilizamos métodos inovadores que permitiram obter resultados relevantes e práticos, confirmando a importância de unir ciência de dados ao contexto jurídico-administrativo”, salienta.

A pesquisa de Fernando Schmitz será a primeira dissertação resultante da parceria entre Céos e a Universidade. “Trata-se de um marco importante para o projeto Céos e para a sociedade catarinense como um todo. Estamos diante do primeiro método de Inteligência Artificial para detecção de favoritismo em compras públicas desenvolvido por um servidor do MPSC, no contexto do projeto de Pesquisa Céos, um convênio entre UFSC e MPSC, e usando dados de fraudes obtidos por meio de uma operação realizada pelo próprio MPSC. Este resultado expressivo do projeto, após as últimas validações estatísticas, será integrado no Painel Integrado Inteligente Céos”, ressalta o professor Jônata Tyska, coordenador do Projeto Céos e orientador da pesquisa.

O projeto Céos tem o objetivo de estudar, desenvolver e implementar fluxos de trabalho para coleta, integração, organização, processamento e análise de dados voltados à extração de conhecimento de forma automatizada ou semi-automatizada, visando apoiar a tomada de decisão no âmbito do MPSC.

Serviço

O quê: Defesa da dissertação “Detecção de fraudes em licitações públicas: uma abordagem semissupervisionada de agrupamento com Modelos de Mistura Gaussiana”, de autoria de Fernando Schmitz, sob orientação de Jônata Tyska, pesquisadores do Projeto Céos
Quando: 25 de junho de 2025, às 10h
Onde: Departamento de Informática e Estatística (INE) da UFSC, Sala 306 (Lisa/Lapesd)
Link: https://meet.google.com/oih-ivjk-vvs

 

Tags: combate à corrupçãocombate a fraudesdefesa de dissertaçãoDepartamento de Informática e Estatística (INE)inteligência artificialInteligência Artificial (IA)licitaçõesMinistério Público de Santa Catarina (MPSC)MPSCprimeira defesa de dissertaçãoProjeto Céos