
Nilson Lage se aposentou em 2006, após 50 anos de atividade profissional. Foto: Acervo pessoal
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) comunica, com pesar, o falecimento do professor Nilson Lemos Lage, docente aposentado do Departamento de Jornalismo do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). Lage estava hospitalizado e faleceu em Florianópolis na noite da última segunda-feira, 23 de agosto, aos 84 anos, após quase dois anos de tratamento contra um câncer de pulmão.
Era considerado um ícone da pesquisa do Jornalismo brasileiro. Autor de extensa produção bibliográfica, tem no currículo livros como A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística, A linguagem jornalística, Teoria e técnica do texto jornalístico, Ideologia e técnica da notícia, O controle da opinião pública: um ensaio sobre a verdade conveniente e A estrutura da notícia. Antes da carreira acadêmica, foi jornalista em veículos como Diário Carioca, O Globo, Última Hora e Manchete.
Era graduado em Letras Português-Russo (1977), mestre em Comunicação (1978) e doutor em Linguística (1986) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi professor da UFF, e da UFRJ. Ingressou como docente na UFSC em 1992 e aposentou-se em 2006 como professor titular do Departamento de Jornalismo da Universidade, após 50 anos de atividade profissional. Depois disso, ainda trabalhou como voluntário em cursos de pós-graduação.

Sérgio Murillo de Andrade, Nilson Lage e Eduardo Meditsch durante aula magna de abertura do semestre 2019.1, marcada também pelas comemorações aos 40 anos do curso de Jornalismo da UFSC. (Foto: Comunica!)
Lage foi homenageado ao longo desta terça-feira por jornalistas, colegas, e ex-alunos em seu perfil no Facebook e em outras redes sociais (ver abaixo). Nas homenagens, foi lembrado como um professor que declamava poemas em russo, que ensinava as técnicas de jornalismo e reportagem com logaritmos e cálculos matemáticos.
O Departamento, o curso de Graduação e o programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC manifestaram pesar e consternação pela morte do professor. “Em 2007, foi um dos fundadores do PPGJOR/UFSC. Nas celebrações dos 40 anos do Departamento de Jornalismo da UFSC, em 2019, proferiu conferência e foi homenageado pela instituição. Com humor fino, inteligência, erudição e uma voz única, Nilson Lage vai permanecer como uma das grandes referências da área”, diz a nota publicada nesta terça-feira.
A Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) também se manifestou. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os Sindicatos dos Jornalistas de Santa Catarina e do Município do Rio de Janeiro se manifestaram em nota conjunta. “A FENAJ e seus Sindicatos reafirmam seu compromisso de honrar o legado do jornalista e professor Nilson Lage mantendo-se na luta e, neste momento de dor, solidarizam-se com os parentes, amigos, colegas de profissão, alunos e ex-alunos. Sua firmeza de caráter, compromisso com a democracia, sua grandeza e sua obra permanecerão vivos em nossas memórias.”
O Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (IACS/UFF), onde Lage lecionou entre 1970 e 1988 emitiu nota. A UFRJ também homenageou o professor, que foi docente do curso de Jornalismo na Escola de Comunicação (ECO), entre 1977 e 1991.
Em maio deste ano, Nilson Lage foi entrevistado para o portal Comunicolog e deixou um conselho aos jovens jornalistas:
“O que posso dizer e defender é o seguinte: o Brasil é como sempre foi. Tem grandes escolas para formar técnicos para a Alemanha, para a Suécia, para aqui, não, porque quando você rejeita sua própria personalidade, rejeitou tudo. Você quer ser outra coisa. Está brigando consigo mesmo. Um narciso perverso, atrás de um espelho inalcançável. Dentro desse contexto, quem está aqui só tem uma obrigação: lutar. Fazer o que, mal ou bem, a gente está fazendo e que eu fiz a vida toda: abrir a boca. Tentar profissionalmente fazer o melhor possível. Tentar dentro dessas empresas pervertidas promover o melhor produto possível. Deixar sempre presente a margem de dúvida necessária. Em suma: um trabalho de formiguinha, um trabalho pequeno, que a gente não conta que dê certo, mas a gente vai tentando.”
Conforme sua vontade, a família não realizará velório. O corpo será cremado nesta terça-feira, 24 de agosto, às 15h, no Crematório Catarinense, em Palhoça.
A comunidade universitária expressa suas condolências à família, aos amigos e alunos de Nilson Lage neste momento de dor.
Homenagens
“De uma geração de resistência, anterior ao golpe de 64, e de uma sabedoria infinita. Firmeza, seriedade, erudição. Uma clareza na leitura do que estamos vivendo. Um orgulho para o Jornalismo da UFSC e um farol que se apaga na denúncia a toda forma de opressão e mentira”
– Aureo Moraes, chefe de Gabinete da Reitoria e professor do Departamento de Jornalismo da UFSC, em nota publicada na coluna de Dagmara Spautz, NSC Total e no Jornal do Almoço, da NSCTV
“O jornalismo brasileiro perde uma de suas principais referências, e eu perco um grande mestre e amigo.”
– Eduardo Meditsch, professor aposentado do Departamento de Jornalismo da UFSC, via Facebook
“O jornalismo brasileiro perdeu um de seus maiores autores. Ficamos mais pobres, nos campos de estudos em jornalismo, em geral. Nilson legou uma vasta obra, muito usada no ensino da profissão, em todo o país. Mais que meu professor, convivi com ele como orientador da minha pesquisa de doutorado (UFSC, 2000/2005). Desde aí, a convivência foi sempre marcada por um profundo afeto, trocas e de intenso aprendizado para mim. Gratidão imensa por tudo, e tanto, meu querido amigo, eterno orientador!!! Vá em paz! Seu legado permanecerá conosco, para sempre!!!”
– Samuel Pantoja Lima, coordenador do Curso de Jornalismo da UFSC, via Facebook.
“Morreu Nilson Lage, um dos mais importantes professores de jornalismo que o Brasil conheceu. Tive a imensa sorte de ter sido seu aluno na Escola de Comunicação da UFRJ. Além de lições inesquecíveis sobre a nossa profissão, Nilson deixa o exemplo de jornalista e homem digno.”
– Mario Magalhães, jornalista e escritor, via Twitter
“Uma imensa perda pro Brasil. Uma das primeiras entrevistas que fiz na vida foi com o professor Nilson Lage. Ele estava sendo homenageado e a caloura aqui com a responsa de ouvi-lo com toda sua sinceridade. Vai em paz professor. Obrigada por tudo.”
– Juliana Dal Piva, jornalista e egressa da UFSC, via Twitter
“Nilson Lage me deu as primeiras notas baixas que tirei na vida e me botou para pesquisar ‘reportagem assistida pelo computador’ pelo CNPq quando ninguém falava disso no Brasil. Foi uma honra aprender com ele na universidade e também nas redes nos últimos anos. Obrigada, professor.”
Adriana Küchler, jornalista e egressa da UFSC, via Twitter
“Refletiu e teorizou sobre a prática da profissão de jornalista, elevando o jornalismo a um objeto nobre de atenção da academia, o que elucidou especifidades do ofício que não eram compreendidas pelos comunicólogos de então. Com tristeza, presto minha homenagem a este grande jornalista e grande intelectual brasileiro.”
– Marcelo Canellas, jornalista, via Instagram
“Nilson Lage foi meu professor, foi um dos que me fizeram permanecer na universidade, eu cheguei a pensar em desistir. Ele era um professor considerado muito exigente, e uma nota 8 dele, na época em que era assim, uma nota muito boa, fez com que eu, que estava muito desestimulada na época, continuasse na Faculdade. Tive a oportunidade de dizer isso para ele, que realmente foi importantíssimo.
– Fátima Bernardes, jornalista e apresentadora, Programa Encontro com Fátima Bernardes
Leia Nilson Lage
O Diarinho, último jornal onde o Nilson Lage manteve uma colaboração regular abriu nesta terça-feira, para acesso público, todas as colunas dele, publicada nas edições de fim de semana, entre 2017 e 2019 (e mais uma, avulsa, publicada em 2020). https://diarinho.net/colunista/14
Ao mestre Nilson Lage, com amor e gratidão, por Samuel Pantoja Lima
Entrevista à Revista Entrevista, no Repositório da UFC
Nilsonlage.com.br