No dia 20 de novembro, a partir das 14h, um grupo de alunos do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) fará um tributo a Marina Abramović, a mais importante perfomer contemporânea. As performances ocorrerão no prédio redondo do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da UFSC. Na ocasião, os alunos recriarão algumas performances clássicas da artista sérvia, como “Imponderabilia” (1977), “Nightsea Crossing” (19821-1987), “The Lovers” (1988) e “The Artist is Present” (2010). A ideia de homenagear Marina Abramović surgiu da necessidade de o grupo vivenciar na prática conceitos como arte, corpo e espectador, propostos pela própria artista. Em 2007, numa entrevista a Hans Ulrich Obrist, Marina afirmou que, neste início do século XXI, “tudo se tornou mais e mais eletrônico e mais e mais imaterial em todas as formas de comunicação e na maneira como vivemos nossas vidas. O corpo é quase um obstáculo”.
O corpo é a matéria-prima da obra de Marina Abramović. Em “Imponderabilia”, por exemplo, a artista e Ulay (seu marido na época) modificaram a entrada do Museu de Arte Moderna de Bolonha. Ela e seu parceiro ficaram então nus, um de cada lado da estreita porta do Museu, de modo que o público, ao entrar na instituição, teve que passar entre eles e encarar ou um ou outro. O corpo, nessa performance, é um obstáculo que incitaria e aproximaria o artista do espectador. Segundo Marina, “Ainda hoje (2007), o público tem sido muito passivo, ele é somente um voyeur da obra de arte: num museu […] você não toca, você nunca interage realmente […]. Eu acho que isso tem que mudar. O público tem que ter uma posição mais interativa, tem que se tornar um experimento e, junto com o artista, tem que desenvolver um estado de iluminação […] onde o objeto não deveria mais ser necessário entre o artista e o público”. O que importa para a artista é a “transmissão da energia pura”, que ela vai trabalhar intensamente em performances como “The Artist is Present”. O museu deveria ser, portanto, um lugar de experimento, um tipo de laboratório e não apenas mostrar ao público um produto acabado que ninguém pode tocar. A proposta dessas performances na UFSC é justamente criar um mundo experimental dentro dos corredores do curso de Artes Cênicas.
Em “Nightsea Crossing”, uma série de 22 performances, Marina e Ulay sentavam-se um de frente para o outro, havendo entre eles apenas uma mesa, e ficavam parados dessa forma por horas, um dos objetivos da performance era criar um tableau vivant (quadro vivo) e discutir um comportamento corrente na época entre os performers, que abandonavam essa forma artística e passavam a se dedicar à pintura, já que sentiam necessidade de inserir objetos na arte. Em “The Lovers”, Marina e Ulay, depois de longa caminhada pela Muralha da China, finalmente se encontram. Na releitura dessa performance na UFSC, o artista seguirá “sozinho”, propondo uma reflexão sobre a solidão do artista experimental no mundo da arte ainda hoje.
Como afirmou Marina Abramović, mesmo quando uma performance se repete, ela é uma “nova peça, porque a personalidade das outras pessoas e a maneira como elas interpretam a obra fazem dela uma nova peça”.
Os alunos de Artes Cênicas da UFSC quiseram, parece, seguir o conselho de Marina Abramović: “Se você quer tocar violino, tem que saber como tocar violino; se você quer tocar piano, tem que saber como tocar piano. É a mesma coisa com a performance: não basta ter instruções […]”, deve-se também mergulhar numa experiência pessoal, principalmente em peças de longa duração, como essas propostas pelos alunos de Artes Cênicas, que durarão 8 horas.
Por Dirce Waltrick do Amarante, professora do curso de Artes Cênicas da UFSC.