Documentário do cineasta Zeca Nunes Pires sobre a vida do escritor Salim Miguel é exibido no Teatro da UFSC
“Salim na Intimidade”, documentário do cineasta Zeca Nunes Pires sobre a vida do escritor Salim Miguel terá sua pré-estreia na programação da Semana de Arte do DAC, às 10h de sexta-feira, 7 de dezembro, no Teatro da UFSC. O trabalho foi desenvolvido no Núcleo de Documentário do DAC/SECULT/UFSC . O filme começou a ser gravado em 2004, quando o escritor completou 80 anos, e aborda o processo de criação, o Grupo Sul e os momentos íntimos da vida de Salim Miguel.
O projeto de Zeca Nunes Pires é uma homenagem ao escritor modernista, que foi melhor amigo de seu pai. No documentário, Salim narra as próprias histórias, com a participação de alguns amigos. A produção reuniu fotos antigas e depoimentos de familiares do artista e profissionais da área.
A equipe do documentário é composta por estagiários do Curso de Cinema da UFSC. Gustavo Remor Moritz e Anderson Brito estão neste trabalho desde 2009 nas áreas de filmagem e edição, além de Gustavo Triani, que iniciou neste ano na digitalização iconográfica do filme. A professora de tradução da UFSC, Luciana Rassier, tradutora do livro de Salim Miguel “Primeiro de Abril” para a língua francesa, colabora como pesquisadora.
O documentário é uma realização da Universidade Federal de Santa Catarina, por meio do Núcleo de Documentário do Departamento Artístico Cultural/Secretaria e TV UFSC, e da Academia Catarinense de Letras. A produção obteve apoio institucional da Academia Brasileira de Letras, Fundação Cultural Badesc e Cinemateca Brasileira.
A seguir o depoimento do cineasta sobre o trabalho:
Salim Miguel, um escritor diferenciado
Tudo que se possa fazer para homenagear o escritor Salim Miguel é pouco, pois não conseguirá dar a dimensão do ser humano que ele é. Com o melhor amigo do meu pai, ouvi dizer, por diversas vezes, que me conhecia antes mesmo de eu ter nascido. Ainda na barriga da minha mãe, ele já dizia me conhecer. Acho até que ele tem razão. Esse bruxo-líbano-biguaçuense foi encantando e incomodando a cidade pela palavra, pela escrita
e pelo humanismo. Até que o prenderam, ele e a Eglê, colocaram fogo na livraria dele e os expulsaram da Ilha. Com a mulher e os filhos, Salim foi tentar a vida na cidade maravilhosa. Vida difícil para quem só sabia escrever e falar sobre ideias e ideais. Como ele próprio fala, “Existe escritor que diz que não escreve para o leitor. Ninguém deve escrever para o leitor, mas ninguém deve esquecer o leitor, que é coisa diferente de escrever para o leitor. E eu escrevo por uma necessidade interior, eu escrevo porque não sei fazer outra coisa a não ser ler e escrever. Eu não sei trocar uma lâmpada. Eu só sei ler, escrever, ouvir música e conversar. Eu sou conversador impenitente que enche a cara do leitor, do meu ouvinte falando demais”.
Assim que a vida permitiu, ele voltou à Ilha. Agora com um batalhão de amigos. A Literatura, a palavra e a amizade foram suas armas. Um dia, o Aníbal Nunes Pires, de quem eu sempre ouvia maravilhas desse meu amigo invisível, nos deixou. Logo depois, minha vida se cruza com a do Salim, agora fora do ventre da minha mãe. No início, ouvia suas histórias com atenção e lamentava não ter uma câmera para gravar e dividir o prazer de
ouvi-lo com meus amigos. Fiz o contrário, levava meus companheiros de curso de Jornalismo na editora da UFSC, onde trabalhávamos, para escutá-lo: “outra coisa que eu repito sempre é que o autor escreve e o leitor reescreve. E quanto mais reescrevedores tem um autor, tanto melhor. É que a obra dele está atingindo um público maior e o leitor está ao mesmo tempo lendo aquilo que o autor escreveu, mas está também fazendo a sua própria versão daquilo que estava escrito”.
Salim me apresentou o que era simples e importante para a vida: amor, amigos, livros, arte, intuição, dedicação e estudo. Ele me mostrou que o cinema era possível mesmo em Santa Catarina e me revelou o humanismo como uma das melhores formas de encarar a vida. Sem nenhum sentimento de retribuição ou comparação, Salim Miguel fez o que meu pai, seu grande amigo, tentou praticar em outrora. Sobre o cinema também me disse: “Chega um dia em que as salas escuras não bastam. Há necessidade da pessoa que se interessa por cinema se experimentar, fazer também suas tentativas”. E ainda arrematou: “Uma coisa curiosa é que eu percebo nitidamente que há uma influência do cinema na minha literatura, mas os meus livros não são facilmente, nem sei se serão adaptáveis para o cinema, embora a influência do cinema seja visível na questão visual, eu procuro muito além do psicólogo e
social que tem na minha obra, ou que pelo menos eu imagino que tenha, há também o visual, há também cenas onde a pessoa estivesse mais vendo do que simplesmente percebendo aquilo que eu estou dizendo”.
Do escritor que se tornou quase um pai para mim, pensei como um desafio: ainda tenho que fazer um documentário sobre esse amigo especial! Não imaginava que teria que vencer tantos medos interiores para finalizar um documentário de uma pessoa tão próxima. Melhor seria mesmo correr da raia. Até que chegaram alguns colaboradores: Guga, meu principal assistente, Anderson e Gustavo. Os três alunos do Curso de Cinema da UFSC, além da professora e tradutora Luciana Rassier. E o documentário? Sempre adiado até hoje. Difícil muito difícil encontrar um FIM. Que as singelas imagens desse filme consigam transmitir um pouquinho da sede de viver e conviver que Salim Miguel esbanja nos quase 89 anos de vida.
Eu, meu pai e toda legião de amigos agradecem: Obrigado Salim Miguel!
Maktub!
Zeca Nunes Pires, cineasta.
Sobre a Semana de Arte do DAC
A Semana de Arte do DAC, que começou no último dia 2 e termina dia 7, tem como objetivo apresentar à comunidade boa parte do resultado de projetos culturais realizados pelo Departamento Artístico Cultural (DAC), da Secretaria de Cultura (Secult) da UFSC. Durante o ano, o DAC realiza diversos projetos culturais permanentes em Teatro, Música, Cinema e Artes Visuais, incluindo cursos e oficinas Livres de Arte. A coordenação desses trabalhos é realizada por profissionais do DAC, alguns com a atuação de artistas-instrutores da comunidade. As atividades são abertas aos integrantes da Universidade e ao público em geral, geralmente abrindo inscrições no início de cada semestre.
SERVIÇO
O QUÊ: Pré-estreia de “Salim na Intimidade”
QUANDO: na Semana de Arte do DAC, às 10h, sexta-feira (7/12)
ONDE: Teatro da UFSC (ao lado da Igrejinha) – Praça Santos Dumont, Trindade, Florianópolis
QUANTO: Gratuito
CONTATO: Departamento Artístico Cultural (DAC) / Igrejinha da UFSC, praça Santos Dumont,
Trindade, Florianópolis-SC (48) 3721-9348 e 3721-9447 – www.dac.ufsc.br
Fonte: Bruna Andrade – Acadêmica de Jornalismo, Estagiária no DAC: SECULT:UFSC