Consumo de proteína animal pode ter relação com obesidade, indica pesquisa da UFSC
Uma nova revisão liderada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina com colaboradores indicou uma possível relação entre a ingestão de proteína animal e a obesidade e identificou uma associação significativa entre os dois fatores. O artigo Association between animal protein intake and overweight/obesity: A systematic review and meta-analysis of observational studies, publicado no periódico internacional Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases, faz parte do pós-doutorado recém concluído da pesquisadora Liliana Paula Bricarello, do Programa de Pós-Graduação em Nutrição, com supervisão do professor Francisco de Assis Guedes.
“Apesar da multicausalidade da obesidade, esses achados sugerem que a diminuição na ingestão de proteínas animais pode diminuir a chance de sobrepeso/obesidade nessas faixas etárias estudadas, que variam de oito a 89 anos de idade”, comenta Liliana, que acrescenta que as evidências também se estendem para o grupo específico dos adolescentes. “A ingestão de proteína animal, associada ao aumento do consumo de proteína vegetal pode estar relacionada a uma menor chance de obesidade e obesidade abdominal entre adolescentes”, explica a pesquisadora.
A associação entre o consumo de proteínas de origem animal e vegetal e a ocorrência de obesidade em adolescentes foi o objeto de estudo do pós-doutorado de Liliana, com financiamento da Fundação de Amparo a Pesquisa de Santa Catarina (Fapesc). O estudo consistiu em uma análise transversal com base nos dados do Estudo de Risco Cardiovascular em Adolescentes, conhecido como Erica, pesquisa multicêntrica de base escolar realizada em 2013/2014, com amostra probabilística e representativa de 74.589 adolescentes de 12 a 17 anos de idade de 231 municípios de todas as regiões geográficas do Brasil.
A pesquisadora reforça que os achados do estudo se alinham à literatura científica atual, que recomenda padrões alimentares com ênfase em alimentos de origem vegetal e ingestão limitada de produtos de origem animal, considerando impactos tanto para a saúde humana quanto para a sustentabilidade planetária.
Evidências reunidas
De acordo com Liliana, a principal motivação para este estudo recém-publicado foi o consumo de excesso de proteínas em diferentes faixas etárias. “Nosso grupo de pesquisa já tinha tomado conhecimento de alguns estudos que indicavam que o consumo de proteína animal parecia estar relacionado a obesidade. Assim, desenvolvemos a revisão sistemática com metanálise para verificar essa questão”. Este tipo de revisão é elaborado para sintetizar evidências existentes sobre uma questão específica.
A pergunta geral deste artigo foi “Qual a associação entre ingestão de proteína animal e sobrepeso/obesidade nas diferentes faixas etárias?”. No trabalho, a equipe avaliou 14 pesquisas sobre o tema e analisou os resultados de oito estudos transversais e seis de coorte. “Os estudos foram publicados entre 2006 e 2022, provenientes de 17 países diferentes, nos continentes europeu, norte-americano, asiático e africano. No total fizeram parte dos estudos 167.973 sujeitos, sendo 93.142 (55.5%) do sexo feminino”, explica a pesquisadora. A faixa de idade dos sujeitos que compuseram a revisão variou de oito a 89 anos de idade.
Liliana reforça que, para uma saúde humana e planetária ideal, a Comissão EAT Lancet, estudo que propõe diretrizes para promover dietas saudáveis e sustentáveis para a população mundial, recomendou a adoção de uma dieta de referência global consistindo principalmente de alimentos de origem vegetal (vegetais, frutas, grãos integrais, legumes e nozes) e quantidades limitadas ou modestas de alimentos de origem animal (como carne vermelha ou processada).
“Apesar de seus impactos ambientais, os alimentos de origem animal são uma fonte valiosa de proteínas, aminoácidos e micronutrientes. Fornecer alguns alimentos de origem animal saudáveis ao lado de alimentos de origem vegetal pode oferecer benefícios adicionais à saúde”, explica a pesquisadora. Além do artigo, o estudo de Liliana resultou na apresentação de dois resumos em congressos nacionais. Um segundo artigo encontra-se atualmente em avaliação na revista Clinical Nutrition.