Projeto MAArE lança livro e portal de dados que proporcionam um mergulho no fundo do mar

25/08/2017 13:02

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

De um lado, a beleza, a criatividade. De outro, o método, a produção de conhecimento. A aproximação e o diálogo entre arte e ciência — duas áreas geralmente distantes entre si — foi o caminho escolhido para a concepção do livro que o Projeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno (MAArE/UFSC) acaba de lançar. A obra, juntamente com um portal de dados, foram apresentados ao público em cerimônia realizada na quarta-feira, 23 de agosto, no Centro Integrado de Cultura (CIC) de Florianópolis.

Na solenidade, o biólogo João Paulo Krajewski, responsável pelas fotografias que ilustram o livro, ressaltou a qualidade e o ineditismo do projeto: “Foi a primeira vez que um projeto desse tipo solicitou a participação de um artista, um fotógrafo, desde o começo. Essa foi uma diferença muito grande. A arte pode trazer informações, pode trazer as belezas do fundo do mar.” Nesse caso, como se trata de uma reserva biológica, nem mesmo a mínima e restrita parcela da população que está apta a mergulhar pode ver “o que está lá em baixo”, como afirma João. As fotografias de altíssima qualidade, portanto, proporcionam uma oportunidade única de conhecer a rica biodiversidade presente neste pequeno trecho do litoral catarinense.

O livro, que está disponível para download no site do MAArE, foi elaborado com o intuito de difundir o conhecimento científico em uma linguagem leve e acessível, de forma a despertar o interesse da população e a valorização da vida marinha que ainda está preservada. A professora Bárbara Segal Ramos, coordenadora do projeto, ressaltou o esforço da equipe em traduzir a informação científica e torná-la mais agradável a todos: “O livro expressa nosso encantamento por esse ambiente da Rebio do Arvoredo. Está muito bem ilustrado. Espero que o público tenha a sensação de realmente mergulhar nessa reserva marinha ao folheá-lo.”

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Entre os milhares de registros que fez ao longo de três anos, João Paulo selecionou 1600 imagens que poderiam entrar no livro. Os registros foram feitos de forma muito cuidadosa, usando técnicas fotográficas especiais, com lentes pouquíssimo usadas em fotografias submarinas. Também foram utilizados drones, para imagens aéreas; montagem de fotos, para a composição de panorâmicas; lentes macro, para registrar mínimos detalhes, possibilitando fotografar organismos minúsculos e invisíveis a olho nu.

Em termos visuais, outro destaque da obra é uma montagem fotográfica que mostra como teria sido o fundo do mar da reserva na década de 1960. “Inserimos, em uma foto atual, animais que existiam naquela época e que não são mais visto hoje em dia, como os tubarões-mangona e os grandes meros. Das 140 pessoas que participaram do MAArE, nenhuma observou esses animais durante a vigência do projeto. Isso mostra claramente que há uma sobrepesca. O ambiente que vemos hoje é sem dúvida diferente do que era anos atrás. Por isso é tão importante o monitoramento ambiental. O projeto MAArE retrata em tabelas, gráficos, números, textos e imagens o que é a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo hoje.”  

Portal de dados

Para o desenvolvimento do portal de dados, o projeto MAArE contratou a empresa SKYmarket, especializada em informática para biodiversidade, cujo foco de atuação é a centralização, organização, integração e disponibilização de dados ambientais. No caso do MAArE, foram gerados mais de um milhão de dados biológicos e oceanográficos. “Foi um desafio grande, maior do que imaginávamos. Eram mais de 20 conjuntos diferentes de dados, de natureza diferente, formato diferente, metodologias de coletas diferentes. E nós tínhamos que unir tudo isso em um único sistema e armazenar, organizar, padronizar, validar, integrar, sincronizar, permitir controle e consultas”, explica Rafael Fonseca, representante da empresa.

O portal foi projetado de forma modular, para garantir maior flexibilidade na manutenção e expansão de suas funcionalidades, permitindo que novos módulos sejam desenvolvidos e facilmente acoplados. O processo de desenvolvimento do sistema seguiu  os princípios de software livre e adotou padrões internacionalmente reconhecidos. “Trabalho nessa área há 16 anos e não conheço nenhuma outra iniciativa que chegou a um resultado tão animador”, afirma Rafael. O link para portal de dados estará disponível em breve na página do MAArE.

Preservação

O chefe da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, Ricardo Castelli Vieira, ressaltou a relevância do MAArE para a gestão da unidade de conservação: “A Reserva do Arvoredo é a segunda reserva biológica marinha que temos no país. Só há mais uma outra, que é a Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas. O Brasil hoje, em termos de áreas marinhas protegidas, está totalmente deficiente. Estamos aquém dos compromissos internacionais. Precisamos muito ampliar nossas áreas marinhas, consolidá-las e valorizar o que elas têm hoje. Daí a importância desses projetos para preservarmos os ambientes marinhos. O MAArE foi um divisor de águas, pois levou para a gestão da unidade, a gestão do conhecimento.”

O pró-reitor de pesquisa, professor Sebastião Roberto Soares, elogiou o trabalho dos pesquisadores — “o livro e o portal demonstram a pujança do que foi feito nesses três anos” — e também discursou sobre a importância da preservação ambiental: “Nossas reservas biológicas são ainda uma porção de terra e de mar tão insignificante em relação a todo o território nacional, que é difícil entender como não despertam a sensibilidade de alguns dos nossos dirigentes. Precisamos garantir o respeito dessas áreas.”

Mais informações na página do MAArE.

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC

Tags: CCBDepartamento de Ecologia e ZoologiaProjeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e EntornoProjeto MaareUFSC

Pesquisadores da UFSC lançam livro de divulgação científica sobre a Reserva do Arvoredo

21/08/2017 23:08

Foto: João Paulo Krajewski/Divulgação

Três anos de pesquisa; cerca de 130 expedições ao mar; mais de 140 pessoas de diferentes campos do conhecimento trabalhando em uma área com biodiversidade única. Estes números sintetizam a amplitude do Projeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno (MAArE/UFSC), que mapeou dados biológicos e oceanográficos deste patrimônio natural catarinense. Parte dos resultados, incluindo o alerta para os riscos da ação humana, pode ser conferido no livro que será lançado nesta quarta-feira e estará disponível para download na página do projeto.

O MAArE é resultado de uma condicionante ambiental do Processo de  Licenciamento dos Campos Petrolíferos de Baúna e Piracaba, na Bacia de Santos, a cerca de 300 quilômetros da costa de Santa Catarina. O Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio) solicitou que a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (Rebio Arvoredo), localizada entre Florianópolis e Bombinhas, fosse estudada como subsídio à gestão da Unidade de Conservação que possui uma área de 17.600  hectares − aproximadamente 40% do tamanho da Ilha de Santa Catarina. O projeto foi coordenado por pesquisadoras do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC.

Foto: João Paulo Krajewski/Divulgação

Os dados foram coletados entre 2014 e 2016 e compilados em relatórios técnicos e científicos, que geraram diversos trabalhos acadêmicos, como artigos, dissertações e teses. O livro, no entanto, foi planejado para ser acessível ao público mais amplo, que possa se interessar pelo monitoramento ambiental e pela conservação da natureza. A linguagem é simples e inclui gráficos, aquarelas e muitas fotografias. “Este livro resume o estado atual da Rebio Arvoredo como uma ‘fotografia’ científica e artística do patrimônio que estas ilhas guardam”, afirma João Paulo Krajewski, biólogo e doutor em ecologia de peixes marinhos, que viaja pelo mundo fotografando e filmando a natureza. Ele é responsável por grande parte das fotografias e por um capítulo do livro.

Segundo a professora Bárbara Segal, coordenadora do projeto e responsável pela parte biológica do MAArE, a pesquisa mostra a importância da unidade de conservação. De forma geral, há muito mais biodiversidade dentro da Rebio Arvoredo que no seu entorno. No caso de peixes como as garoupas, por exemplo, dentro da reserva eles são encontrados em maior número e tamanho, muitas vezes passando de 50 centímetros. “Esse status de conservação gera um panorama onde os peixes possuem um tamanho maior e consequentemente produzem mais ovos do que no entorno onde ocorre a pesca. Isso mostra claramente a importância de ter áreas reservadas para poder contribuir com as áreas que estão sendo pescadas no entorno”, avalia a pesquisadora.

Foto: João Paulo Krajewski/Divulgação

O projeto também ajudou a identificar o coral-sol, uma espécie invasora que, por não ter um predador natural, prolifera-se rapidamente e ocupa o espaço das populações locais. Além de identificar o invasor e informar ao ICMBio, os pesquisadores-mergulhadores ajudaram a removê-lo. “A gente detectou, mapeou, e a ação foi feita em um momento em que as populações ainda não estavam muito espalhadas. Há ainda um foco em uma fenda pouco acessível, mas o ICMBio está fazendo o  manejo. Não conseguiu erradicar, mas está com um controle relativamente bom”, afirmou Bárbara.

Foto: João Paulo Krajewski/Divulgação

A região corre outros riscos. Um deles é em relação às mudanças climáticas. De acordo com a professora Andrea Santarosa Freire, vice-coordenadora e responsável pela parte oceanográficado projeto, com o  forte El Niño de 2015/2016, que aquece o Oceano Pacífico, as águas catarinenses ficaram muito frias. “O fato é que não necessariamente as mudanças globais vão fazer com que as temperaturas fiquem mais quentes. Aqui pode ficar até mais frio, como aconteceu em 2016. E se ficar mais frio, esta fauna da Rebio vai sofrer porque é tropical e pode não resistir a baixas temperaturas”, explicou.

Há outros perigos mais próximos. O projeto detectou altos índices de poluição em dois locais da região: na baía norte, em Florianópolis, e na baía de Tijucas, em Tijucas. Esses espaços apresentam baixo índice de biodiversidade e podem, no futuro, afetar a Rebio. “Qual a tendência? Se não cuidarmos do entorno, essa poluição e essa baixa diversidade vão ocorrer dentro da reserva. O MAArE serve como um alerta. Os municípios no entorno precisam cuidar, todos têm uma responsabilidade em relação à reserva”, afirmou Andrea.

Foto: João Paulo Krajewski/Divulgação

Além do livro, que estará disponível na página do projeto, também será lançado um banco de dados considerado de vanguarda no Brasil, que armazenará informações sobre os indicadores monitorados. Os gestores da Rebio Arvoredo e o público em geral terão acesso aos dados, que poderão ser usados tanto no presente, como no futuro. Outras Unidades de Conservação e outros projetos também poderão usar o sistema para armazenar e utilizar dados de monitoramentos ambientais.

Mais informações sobre o projeto MAArE podem ser solicitadas pelo e-mail gerenciamento.maare@gmail.com ou pelo telefone (48) 3721-6160.

Confira outra reportagem sobre o projeto MAArE.

Tags: banco de dadosecologiaMAArEMonitoramento ambientalProejto MAArEProjeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e EntornoUFSCZoologia

Projeto de monitoramento ambiental da UFSC conclui três anos de coleta de dados

16/03/2017 19:24
Integrantes do projeto MAArE durante última expedição oceanográfica.
Integrantes do projeto MAArE durante última expedição oceanográfica

O Projeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno (MAArE/UFSC) está concluindo suas atividades e em breve disponibilizará um banco de dados e um livro com os resultados de todo o trabalho de campo desenvolvido ao longo de três anos. Coordenado pelas professoras Bárbara Segal Ramos e Andrea Santarosa Freire, do Departamento de Ecologia e Zoologia (ECZ/UFSC), o projeto teve início em junho de 2013 e contou com uma equipe de cerca de 80 pessoas (entre pesquisadores, técnicos, bolsistas e pessoal de apoio).

A Reserva Biológica Marinha do Arvoredo é uma área de 17.600 hectares de superfície, situada ao norte da Ilha de Santa Catarina, entre Florianópolis e Bombinhas. A região abrange as Ilhas do Arvoredo, Deserta, Galé, Calhau de São Pedro e a área marinha que circunda esse arquipélago. Por ser considerado um espaço de grande importância biológica, em 12 de março de 1990 a reserva foi decretada unidade de conservação federal, de proteção integral. Nesse contexto, o MAArE foi criado com o objetivo de realizar o monitoramento ambiental da região, através da amostragem de diferentes indicadores biológicos para a avaliação da conservação do ecossistema marinho. Entre esses indicadores estão peixes, algas, crustáceos, invertebrados e plâncton. Outra finalidade era verificar a ocorrência de espécies invasoras, como o coral sol, que pode gerar danos no ecossistema.
(mais…)

Tags: biologiaCCBICMBioMAArEoceanografiaProjeto de Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entornoreserva biológica marinha do arvoredoUFSC