Nota de pesar: Falece Peninha, artista popular, museólogo e servidor aposentado da UFSC

16/03/2023 09:28

Um guardião da memória da cultura açoriana. Um entusiasta das histórias da Ilha de Santa Catarina. Um artista popular. Um pioneiro na introdução da museologia no estado. A biografia de Peninha – o Gelci Coelho -, que faleceu na madrugada desta quinta-feira, 16 de março, em São José, é daquelas que prendem qualquer leitor.

Na Universidade Federal de Santa Catarina, foi diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia Oswaldo Rodrigues Cabral (Marque), tendo cultivado uma história de amizade e de parceria com o artista Franklin Cascaes – cuja morte, coincidentemente, fez 40 anos nesta quarta-feira, 15 de março. O velório será em São José, na Igreja de Nossa Senhora dos Passos, das 11h até 15h30, quando saíra o cortejo para sepultamento, às 17h, no Cemitério Municipal de São José.

“Para nosso museu, Peninha foi um dos mais importantes e presentes pilares, ao longo de toda sua trajetória. Moldou, através de seu sempre comprometido e incansável trabalho, muito do que somos. Foi, mesmo depois de sua aposentadoria em 2008, figura central, sempre à disposição da instituição para colaborar, dividindo seu talento e seu conhecimento”, informa a nota de pesar elaborada pelos colegas do Marque, onde Peninha foi diretor por mais de uma década.

A historiadora Elizabeth Neves Pires relembra o pioneirismo do artista ao trabalhar pela capacitação dos trabalhadores de museus. “O curso de Museologia da UFSC também faz parte dessa história. Muitos dos trabalhadores de museus eram pessoas leigas e lutamos para a criação do curso”, recorda ela, que esteve com Peninha dias antes de seu falecimento.

“Aprendi muito com ele. A humildade que ele tinha e a vontade de repassar o conhecimento sempre foram exemplo. Na UFSC, a montagem dos presépios na frente do Museu fez parte dessa história”, conta a amiga. Ela também lembra que a trajetória do artista na cultura popular fez com que, em muitos momentos, fosse marginalizado na academia. “Ele dizia que doutor não carregava cadeira e ele sim”, narra.

Peninha era formado em História pela UFSC e especialista em Museu, Educação e Artes pela Universidade de São Paulo. Dedicava-se à extensão universitária com seu trabalho como museólogo. Trabalhava com oficinas nas quais ensinava a construir alegorias do folguedo folclórico do Boi de Mamão, promovia palestras sobre mapeamento cultural de base açoriana, entre outras coisas. Também criou e coordenou o Núcleo de Estudos Museológicos.

Em um trabalho de conclusão de curso de História, Peninha é citado como um dos principais responsáveis pela publicização dos trabalhos de Franklin Cascaes – cuja casa dos pais ele conhecia desde a infância. Além disso, foi graças à insistência dele que a UFSC recebeu todo o acervo produzido pelo artista. A aproximação entre eles, portanto, foi fundamental para a arte catarinense. “Cascaes retomou seu processo de trabalho, circulando de forma constante nos circuitos artísticos do estado e expondo individualmente em algumas cidades catarinenses. No meio cultural Cascaes começou a ter sua obra reconhecida e constantemente exposta para o público em geral”, sinaliza o texto de Alan Cristhian Michelmann.

 

Peninha (no canto à direita) na abertura de exposição da obra de Franklin Cascaes, em 1974. Foto: Acervo Agecom.

Manezinho raiz

Nascido em São Pedro de Alcântara, em 10 de agosto de 1949, Gelci José Coelho, o Peninha, foi um dos guardiões da história, memória, cultura e arte de Santa Catarina. Cresceu e viveu em São José e na Enseada de Brito, em Palhoça. Com formação em História e Museologia, trabalhou desde os 21 anos até a aposentadoria na UFSC junto ao MArquE. Nesta instituição, atuou em pesquisa, guarda de acervo, exposição, gestão em museologia e se tornou, em 1996, Diretor do Museu, cargo no qual permaneceu até se desvincular da instituição, em 2008. Trabalhou com o artista, folclorista e pesquisador Franklin Joaquim Cascaes por mais de uma década, sendo seu assistente e aprendiz.

Foi artista plástico, perfomer, ator, dramaturgo, produtor de instalações urbanas como o Presépio Natural e Artesanal da Praça XV de Novembro no centro de Florianópolis. Foi apoiador e consultor de atividades culturais ligadas à herança dos açorianos, dos descendentes das nações africanas e indígenas que habitam o litoral catarinense, sendo também um reconhecido contador de histórias.

Dentre as lendas de sua autoria, a mais famosa é a do Baile das Bruxas em Itaguaçu. As icônicas pedras da praia no bairro de Coqueiros, na parte continental de Florianópolis, seriam bruxas que foram petrificadas por não terem convidado o diabo para a grande festa que promoveram ali. A lenda já faz parte do repertório cultural da região e foi devidamente reconhecida pelo poder público municipal, que a registrou em uma placa de ferro fixada no local. As ‘Pedras de Itaguaçu’ foram tombadas como Patrimônio Natural, Paisagístico e Cultural do Município em 2014.

Em 2019, lançou o livro Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso, em que mescla sua história de vida com lendas, contos e casos raros do litoral de Santa Catarina, narrando sua trajetória desde as primeiras lembranças. A comunidade universitária, enlutada,  solidariza-se com a família e os amigos de Peninha.

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Autobiografia do ‘Peninha’, artista e servidor aposentado da UFSC, será lançada dia 30

24/07/2019 11:05

O livro “Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso”,  de Gelci José Coelho, conhecido também como “Peninha”, servidor aposentado da UFSC junto ao Museu de Arqueologia e Etnologia Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE), será lançado na terça-feira, 30 de julho, a partir das 19 horas, no Museu Histórico Municipal de São Jose.

Em “Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso”, o artista, pesquisador e museólogo traz um texto que mescla sua história de vida com lendas, contos e casos raros do litoral de Santa Catarina, narrando sua trajetória desde as primeiras lembranças até os dias atuais. Por mais de uma década, Peninha colaborou com o artista, folclorista e professor Franklin Joaquim Cascaes, que se dedicou a registrar as lendas, histórias e costumes dos descendentes açorianos na ilha de Florianópolis. Tornando-se admirador, incentivador e amigo de Franklin Cascaes, Peninha é responsável pela difusão das obras do artista, que se encontram no Museu da UFSC.
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Autobiografia do artista e servidor aposentado da UFSC, ‘Peninha’, é lançada nesta quinta

20/03/2019 17:06

O livro “Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso”, do servidor aposentado da UFSC junto ao Museu de Arqueologia e Etnologia Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE), Gelci José Coelho, conhecido também como “Peninha”, será lançado nesta quinta-feira, dia 21 de março, às 19h, no Museu da Escola Catarinense (MESC). O evento contará com sessão de autógrafos, performances artísticas e a abertura da exposição “Um boitatá em dois tempos”, com registros fotográficos de Biah Schmidt. O livro será comercializado a R$ 45 no local de lançamento.

Em “Narrativas absurdas: verdades contadas por um mentiroso”, o artista, pesquisador e museólogo traz um texto que mescla sua história de vida com lendas, contos e casos raros do litoral de Santa Catarina, narrando sua trajetória desde as primeiras lembranças até os dias atuais. Por mais de uma década, Peninha colaborou com o artista, folclorista e professor Franklin Joaquim Cascaes, que se dedicou a registrar as lendas, histórias e costumes dos descendentes açorianos na ilha de Florianópolis. Tornando-se admirador, incentivador e amigo de Franklin Cascaes, Peninha é responsável pela difusão das obras do artista, que se encontram no Museu da UFSC.
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Museólogo Peninha anima relançamento de “O fantástico na Ilha de Santa Catarina”

18/10/2012 11:06

Peninha no lançamento do livro sobre Cascaes   Discípulo e continuador da obra do artista, o museólogo Gelci José Coelho (Peninha) estava radiante ontem, 17, no relançamento, em volume único, do clássico da cultura popular O fantástico da Ilha de Santa Catarina, de Franklin Cascaes. Publicado dentro da Coleção Repertório, da EdUFSC, o livro foi apresentado na tradicional feira de livros que a editora organiza todos os anos no Campus da Trindade, em Florianópolis. A feira estimula o hábito da leitura e valoriza a literatura, oferecendo descontos de 50 a 70% do preço de capa. O evento prossegue até o dia 25 de outubro. O ponto alto será no dia 24, quarta-feira, a partir das 16h30min,  com o lançamento da primeira edição mundial póstuma de mais título da literatura universal: Pensar em não ver: escritos sobre a arte do visível, do filósofo Jacques Derrida.

Numa homenagem à cultura ilhoa e um presente ao próprio Cascaes que nasceu no dia 16 de outubro de 1908, o relançamento e a nova coleção da EdUFSC resgatam obras consideradas essenciais para os leitores e bibliotecas. Na mesma linha, foi reeditado o clássico caipira sulista Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto.

Peninha, que desencadeou originalmente a recuperação e publicação dos originais de Cascaes,  deu entrevistas e conversou animadamente com o público presente.

O universo açoriano, o imaginário ilhéu, o retrato do inconsciente, e o falar açoriano-catarinense são os ingredientes que compõem esse caldeirão bruxólico.

No cardápio aparecem eleições, congressos, balanços e vassouras bruxólicas, bruxas ladras de baleeiras, baile de bruxas dentro de uma tarrafa de pescaria…

Cascaes escreve com a convicção de quem acredita piamente no que ouviu nas comunidades pesqueiras. Os causos chegaram com os antigos colonos açorianos, que trouxeram histórias contadas por gregos, romanos, mouros africanos, árabes e outros povos. “Os gestos culturais são repetidos no litoral catarinense e foram ainda enriquecidos ainda mais com os misteriosos espíritos revelados pelos povos indígenas”, revela o museólogo Gelci José Coelho (Peninha), principal discípulo e continuador da obra de Cascaes.

São 24 narrativas ilustradas com a pena do próprio autor que,  segundo observa o pesquisador Oswaldo Antônio Furlan, responsável pelo glossário,  reproduzem “traços do inconsciente popular na área da fantasmagoria, relatando casos dramáticos de crenças em boitatás, lobisomens, negrinho do pastoreiro e saci-pererê, mas sobretudo bruxas, a cujos malefícios os grupos sociais incultos de muitas gerações debitaram a agressividade de fenômenos naturais, deficiências na área da saúde e anomalias hereditárias”. As estórias, escritas entre 1946 e 1975, revelam Cascaes como “observador atento da cultura popular” e preocupado com a preservação da memória açoriana.

Franklin Joaquim Cascaes nasceu em São José (SC) em 16 de outubro de 1908 e faleceu em Florianópolis em 15 de março de 1983. Desenhista, escultor, artesão, ceramista, escritor, folclorista e ex-professor da antiga Escola de Aprendizes Artífices, antes de falecer, doou todo o seu acervo, em 1981, ao Museu Universitário da UFSC, onde estão guardados 925 desenhos, 1250 esculturas e acessórios cenográficos, além de 286 cadernos com anotações de campo, de onde saíram, por exemplo, as estórias de O fantástico da Ilha de Santa Catarina, incluído na  Coleção Repertório, criada pela editora universitária para a difusão de clássicos da arte e do pensamento.

Quando fez a doação, Cascaes agradeceu a dezenas de pessoas e instituições, mas fez uma deferência toda especial ao museólogo Gelci José Coelho (Peninha).

_ O meu braço direito para a continuação desta obra que levamos a bom termo.

Peninha fez justiça à homenagem do velho bruxo!

 

Homenagem à Ilha da Magia

            O museólogo lembra que Cascaes dizia que as suas anotações “se prestavam para fazer livros, teatro e até filmes” e que sua obra é “o ponto de partida para infinitas pesquisas e trabalhos”.

No final de cada estória, Franklin Cascaes faz uma singela homenagem à Ilha de Santa Catarina.

Em Armadilha para apanhar bruxas, feita com pilão de chumbar café, escrita em 1952, Cascaes declara: “minha querida Ilha do Desterro, o real e o irreal encontram em ti vida fictícia, harmoniosa e criadora”. E em A bruxa mamãe, concebida em 1964, observa que “a bruxaria é um problema muito estranho para os humanos, que adoram vivê-lo fantasiosamente em seus pensamentos irriquietos”. A grande procura pela obra prova que o mitólogo estava  coberto de razão.

Em Eleição bruxólica não acrescenta nenhum pensamento. Nem precisava…

Lançamento do livro sobre Franklin Cascaes

Créditos devidos

 

Além da presença fundamental de Peninha na organização das narrativas, é preciso destacar a participação de Dulce Maria Halfpap e Bebel Orofino Schaefer. Em síntese, nas palavras de Peninha, “é uma obra feita por estudiosos que têm o prazer de aprender no oceano de informações contidas nas fabulosas estórias contadas, de geração para geração, pelo povo de ascendência açoriana que  habita a Ilha de ocasos e de casos muito raros”.

Bebel Orofino acrescenta que, “se pensarmos, ainda, que, além do conjunto de escritos, temos as coleções de desenhos e de esculturas feitas por Cascaes, quem ainda tem dúvida de que a sua obra representa o maior trabalho de pesquisa da cultura popular da Ilha de Santa Catarina já realizado”?

Por Moacir Loth – jornalista na Agecom/UFSC

Fotos: Dayane Ros/estagiária de Jornalismo na Agecom

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Veja também a reportagem da TV UFSC:

 

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