Dissertação de mestrado da UFSC avalia qualidade nutricional e uso do termo ‘integral’ em rótulos de alimentos industrializados

17/02/2022 15:46

A maioria dos alimentos industrializados vendidos como “integrais” não apresentam qualidade nutricional superior em relação aos alimentos refinados, além de frequentemente apresentarem excessos de gordura total, gordura saturada e sódio. Essa foi uma das conclusões da dissertação de mestrado de Érika Arcaro Bez Batti, defendida em dezembro de 2021, sob orientação da professora Paula Lazzarin Uggioni.

Érika realizou sua pesquisa no âmbito do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGN/UFSC). Com o título “Avaliação da qualidade nutricional e do uso do termo integral nos rótulos de alimentos processados e ultraprocessados formulados à base de cereais e pseudocereais“, o trabalho teve por objetivo “analisar a qualidade nutricional dos alimentos industrializados formulados à base de cereais e pseudocereais com e sem a presença do termo integral no rótulo”.

Segundo a autora, a motivação para o estudo partiu da observação de que, em vários países, a busca por alimentos que tragam benefícios à saúde aumentou ao longo dos anos: “O interesse por alimentos integrais tem papel nessa tendência, visto que esses alimentos são universalmente recomendados como parte de uma dieta saudável, sendo fontes de nutrientes, incluindo fibras dietéticas, vitaminas, minerais e fitoquímicos”, explica.

Érika Arcaro Bez Batti, autora da pesquisa.

Resultados da pesquisa

A pesquisadora analisou rótulos de alimentos processados e ultraprocessados formulados à base de cereais e pseudocereais disponíveis para venda em um supermercado pertencente a uma das dez maiores redes de supermercados do Brasil. Os alimentos foram divididos segundo grupos e subgrupos propostos pela legislação brasileira de rotulagem nutricional, a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 359 de 2003, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ao todo, foram avaliados 1004 alimentos industrializados, como pães, biscoitos, bolos integrais, panetones, entre outros, ofertados como integrais ou refinados. Além de constatar que os alimentos integrais não eram mais nutritivos que os refinados, a pesquisa demonstrou que metade dos alimentos integrais analisados não possuíam cereal integral declarado como primeiro ingrediente. Conforme a legislação de alimentos embalados, os ingredientes dos alimentos devem ser descritos em ordem decrescente: o primeiro ingrediente da lista deve ser sempre aquele que consta em maior quantidade na composição do produto.

No material analisado também era frequente o uso de nomenclaturas como “feito com cereal integral” e “cereal integral”, o que demonstra a falta de padronização nos rótulos dos alimentos integrais e evidencia a necessidade de regulamentar a rotulagem destes produtos para que as informações fornecidas sejam claras e padronizadas. “Assim, os consumidores poderão realizar escolhas alimentares mais conscientes. É preciso que tenham acesso a informações suficientes e fidedignas sobre o que é um produto integral, uma vez que no Brasil não existe legislação em vigor que estabeleça critérios quantitativos ou qualitativos para identificar ou caracterizar um produto como integral”, observa Érika.

A Anvisa estabeleceu, em abril de 2021, que os alimentos contendo cereais serão considerados integrais quando os produtos contiverem, no mínimo, 30% de ingredientes integrais e a quantidade dos ingredientes integrais for superior à quantidade dos ingredientes refinados. Essa legislação entrará em vigor no país em 22 de abril de 2022.

A autora tem a expectativa de que os resultados de sua pesquisa sejam utilizados como embasamento teórico para profissionais de saúde, sobretudo da área de Nutrição, e para a população, como forma de estimular escolhas alimentares mais informadas e saudáveis:  “Também espero esse estudo contribua para o fortalecimento de políticas públicas voltadas à regulamentação da rotulagem no país, com enfoque na regulamentação de alimentos integrais”, conclui.

A pesquisa foi apoiada pelo Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina (UNIEDU), por meio da concessão de bolsa de mestrado, e está inserida em um projeto amplo sobre rotulagem de alimentos industrializados no Brasil, que contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e da Organização Panamericana de saúde (OPAS).

Além da orientação da professora Paula Lazzarin Uggioni, a pesquisa de Érika teve coorientação de Amanda Bagolin do Nascimento e parceria com Ana Paula Gines Geraldo.

A dissertação está disponível na íntegra aqui.

Mais informações:

Érika Arcaro Bez Batti: ebezbatti@gmail.com

Paula Lazzarin Uggioni: paula.uggioni@ufsc.br

Amanda Bagolin do Nascimento: amanda.bagolin@ufsc.br

Ana Paula Gines Geraldo: ana.paula.geraldo@ufsc.br

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