Vencedor do Concurso Salim Miguel 2011 de Romance, promovido pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, a obra Ao que minha vida veio…, de Alckmar Santos, chega às livrarias começando por São Paulo, estado de origem do autor. O lançamento será nesta sexta-feira, 4 de novembro, às 20 horas, na Livraria da Vila, na Vila Madalena, quando o autor apresentará também a criação digital multiartística, Volta ao fim, elaborada em conjunto com Wilton Azevedo. É o terceiro romance de Alckmar, que já publicou outras obras como poeta, ensaísta, pesquisador e professor de literatura na UFSC.
Ao que minha vida veio… será lançado pela Editora da UFSC em Florianópolis no dia 18 de novembro, às 20h30min, na Sala Aroeira do Centro de Cultura e Eventos da universidade, durante o Simpósio da ABCiber e, na primeira semana de fevereiro, em Silveiras, cidade natal do autor, no Vale do Paraíba paulista. Brincando com a palavra alquimia no título e com as origens e nome do autor na narrativa, a história inicia-se na década de 1930, ambientada em Silveiras. Relata a busca do narrador para reconstituir sua trajetória, descobrir quem são seus pais e definir sua própria identidade. Uma característica marcante é a linguagem inovadora, que evoca a oralidade dos contadores de causos do interior, com passagens repletas de detalhes e encantamentos.
O autor conta que o livro começou a nascer há quatro anos, em uma viagem a Belo Horizonte. “Eu estava na casa de um amigo e ouvi um estrondo. Era um adolescente que tinha se jogado no vão do 12º andar. A primeira cena do livro descreve a imagem do corpo caindo de uma pessoa. A partir dessa cena inicial, comecei a pensar na minha história e na história da minha região”.
Se, para o protagonista, a narrativa é um resgate de sua história, para o autor o processo de escrita foi um resgate da linguagem falada na região, das histórias contadas pelo avô, da memória de fatos de sua infância. “O ritmo desse romance, o vocabulário, as imagens, tem tudo a ver com Silveiras”, explica Alckmar.
Da sua experiência como pesquisador sobre cibercultura, o escritor fez uso de ferramentas como softwares de edição de imagens e de geolocalização para identificar elementos da região referenciada. “Empreendi uma viagem virtual a essa região de Minas Gerais e São Paulo, pelo Google Maps, atrás do personagem e do contexto onde ele viveu, examinando estradinhas, nomes dos bairros, de cidades, para nominar tudo com exatidão.” A obra também envolveu pesquisa sobre a história do Brasil, como a participação do país na Segunda Guerra, especialmente a atuação dos pracinhas, os lugares por onde andaram e combateram.
A apresentação do livro é feita por José Luís Jobim, diretor do Instituto de Letras e professor da UERJ e UFF. Ele destaca que não devemos esperar respostas cartesianas nem retas para a pergunta lançada pelo personagem já no título. Ao acompanhar a trajetória do narrador-personagem, o leitor pode ir testemunhando um processo de investigação e as mudanças que as revelações resultantes dessa pesquisa da vida operam na sua mente.
Sobre o autor
Alckmar Santos é professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde coordena o Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL). Foi pesquisador convidado na Université Paris 3 – Sorbonne Nouvelle (2000-2001) e na Universidad Complutense de Madrid (2009-2010). É também poeta, romancista e ensaísta. Autor dos livros Leituras de nós: ciberespaço e literatura, Dos desconcertos da vida filosoficamente considerada (ensaio e poemas, respectivamente – Prêmio Transmídia do Instituto Itaú Cultural), Rios imprestáveis (poemas, Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira da revista Cult).
Sobre o livro
Romance – Ao que minha vida veio…
Autor: Alckmar Santos
Editora UFSC
Páginas: 202
Preço: R$ 29,00
Lançamento
Data: dia 4 de novembro de 2011
Hora: 20h
Local: Livraria da Vila
Contatos do autor: E-mail: alckmar@cce.ufsc.br
Por Laura Tuyama / Jornalista – Agecom – UFSC / Fone (48) 3237-8506
Raquel Wandelli / Jornalista – SeCArte – UFSC / Fones: 37218729 e 37218910 e 99110524
www.secarte.ufsc.br www.ufsc.br
Saiba Mais:
A QUE VEM ESTE ROMANCE? (Prefácio de Ao que minha vida veio…)
José Luís Jobim
Como seu próprio título (Ao que minha vida veio…), seguido de reticências, este romance não é uma narrativa direta que logo anuncie a linha de seu enredo e depois vá explicando tudo completamente. A estória, ambientada primordialmente no interior de São Paulo, a partir da década de trinta do século passado, e contada pelo neto de Josefo, “contador emérito de histórias sem beiras, de casos de quase soltas causas”, tem uma estruturação aparentada com os causos. Ou seja, é elaborada em uma linguagem saborosa que alonga as frases em torneios e detalhes sobre o que se passou. Como para o narrador é relevante descobrir quem foram seus pais, ao contar sua procura, ele também vai dando um sentido ao seu percurso.
A pergunta básica é exatamente a que faz Juca Capucho ao narrador-personagem: “então ´cê quer mais é saber de onde qual progenitura é que é mesma a sua, é não mesmo?!”. O leitor, entretanto, não deve esperar nem que esta nem que todas as outras indagações do percurso tenham respostas cartesianas ou retas, pois o tom que predomina na escrita é sempre o indireto e o furta-cor. Quem conta a estória não é um narrador que sabe de tudo, nem alguém que vai lançar luzes claras sobre ela, até porque nada é absolutamente claro para ele.
O enigma a que se refere o título, enigma que se pode imaginar que vai ser desvendado a medida que a leitura do texto avança (e o narrador-personagem se envolve em uma busca de suas origens), na verdade percorre e alimenta o romance todo. De fato, não pode ser resolvido com uma simples resposta, porque não é somente uma procura de pai e mãe, mas também da identidade do narrador.
Como numa estória de detetive, em que o leitor só sabe o que o detetive descobre, vamos investigando, junto com o narrador, vestígios do que aconteceu antes da própria existência dele e pistas derivadas de sua vivência com outros personagens, vivência que é reinterpretada sucessivamente. Assim, ao longo da investigação, acompanhamos as mudanças que as revelações operam na mente do narrador, que é afetado pelos resultados de sua própria busca.
Trata-se de um narrador-personagem que se dedica a dar sentido às peças de um quebra-cabeça, tentando formar um todo, procurando configurar pouco a pouco os elementos de sua narrativa e estabelecer relações entre eles, para dar-lhes uma certa ordem e significado, provenientes da própria perspectiva dele, que, entretanto, é cambiante ao longo da estória.
Ao acompanhar os passos do narrador, o leitor pode desfrutar da dor e da delícia de cada momento. Ou seja, é exatamente em virtude do ponto de vista adotado que o leitor se situa em uma posição na qual ele pode chegar ao sentido para o qual as perspectivas do texto vão orientá-lo. Pode, então, viver vicariamente as experiências do narrador, e entender como e porque ele altera sua posição no enredo. Como a leitura é sempre o encontro do que o leitor já possui com o que o texto tem a oferecer, também o leitor vai ganhar ao vivenciar estas experiências, trazendo para seu mundo e à sua maneira aquilo que o narrador trouxe para o dele no romance.
Boa leitura!