Centenas de imagens que juntas mostram um pequeno pedaço da nossa galáxia. Durante dois anos astrônomos no Chile, coordenados por um catarinense de Florianópolis, reuniram estas fotografias para formar o maior registro da Via Láctea já feito. O catálogo contém 84 milhões de estrelas reunidas no centro da constelação. E isso só representa 1% do nosso céu.
Com graduação, mestrado e doutorado concluídos na UFSC, Roberto Saito — que vive desde 2009 no Chile — virou notícia no mundo pelo registro. A pesquisa permite conhecer melhor a Via Láctea, entender a formação da galáxia e como ela evolui.
O catálogo concentra dez vezes mais estrelas do que as registradas em estudos anteriores, possibilitando a visualização mais detalhada da Via Láctea. A resolução do “retrato” da constelação tem 2 bilhões de pixeis. O trabalho foi publicado na revista científica internacional Astronomy & Astrophysics.
Hoje, pesquisador da Pontificia Universidad Católica de Chile, Universidad de Valparaíso e The Milky Way Millennium Nucleus (Chile), Saito é o principal autor do estudo. Através das imagens ele e a equipe puderam observar que a Via Láctea tem grande concentração de estrelas velhas que rodeiam o centro, chamado de bojo pelos pesquisadores. Esta análise é essencial para a compreensão da galáxia inteira.
Estudo reuniu informações sobre as estrelas foram reunidas em um gráfico
O bojo é uma área escurecida pela poeira. Por isso, para observá-lo, são necessários detectores infravermelhos bastante sensíveis ao telescópio. Os pesquisadores calcularam o brilho de cada estrela pela cor.
Desta forma, foi possível criar um diagrama de cor-magnitude de cada um destes astros, informações pela primeira vez reunidas em um gráfico. Estas características são usadas pelos astrônomos no estudo das propriedades físicas da estrela, como temperatura, massa e idade.O coautor do estudo, Dante Minniti, pesquisador da Pontificia Universidad Catolica de Chile, Chile, explica que o brilho e o calor mostram qual o lugar ocupado pela estrela na galáxia. Pela fotografia, é possível fazer um censo destes astros nesta área da Via Láctea.
Leia a entrevista com Roberto Saito, principal autor da pesquisa que resultou no maior registro da Via Láctea
Diário Catarinense – Quanto tempo durou a pesquisa até que a Via Láctea fosse registrada?
Roberto Saito – Tanto a imagem quanto o catálogo com os 84 milhões de estrelas são os frutos de um trabalho de pelo menos dois anos. As observações foram tomadas durante os anos de 2010 e 2011. Tivemos o trabalho de extrair a informação de cada estrela, criar o catálogo, e fazer a a análise dos dados. Importante frisar que apesar de não ser coautor no artigo cientifico, o responsável em fazer a imagem com giga pixels foi Ignacio Toledo, do Observatório Alma, também no Chile.
DC – Qual o significado do resultado desta pesquisa?
Saito – A sensação é boa, de ter o trabalho reconhecido. Não é fácil estar longe da pátria (da Ilha principalmente!). É um alento saber que todo o esforço está valendo a pena. Mas é importante lembrar que trabalhamos num time muito grande, com especialistas trabalhando duro para que tudo de certo.
DC – O senhor vive no Chile há 3 anos e meio, durante todo este tempo fez pesquisas? O país tem melhores condições para estudos de astronomia?
Saito – No Chile temos acesso aos melhores telescópios do mundo. O Chile é especial para a astronomia, com os melhores céus para observação.
Inclusive o Brasil tem seu maior telescópio aqui, chamado de SOAR. Vim ao Chile a convite de Dante Minniti, argentino, professor da PUC-Chile, que é o investigador principal do projeto The VISTA Variable in the Via Láctea (VVV), e coautor no artigo das 84 milhões de estrela. O VVV é hoje o maior projeto da astronomia chilena, e visa observar a Via Láctea consecutivamente por 5 anos, entre 2010 a 2014.
DC – Como o senhor vê o estudo de astronomia no Brasil, principalmente em Santa Catarina?
Saito – O Brasil possui pesquisadores de primeiro nível, e produz trabalhos ótimos, participa de consórcios internacionais, e pode ter a produção ‘turbinada’ com a entrada do pais no ESO (observatório Europeu Austral), o que garantiria acesso aos melhores telescópios hoje, incluindo o Vista. O processo de entrada no Brasil no ESO está agora em tramitação no Congresso.
O ESO já permitiu que os pesquisadores de instituições brasileiras tivessem, acesso aos seus telescópios, mesmo antes da assinatura final. Em SC, a pesquisa em astronomia está concentrada no Grupo de Astrofísica da UFSC, onde estudei. Apesar de ser um grupo pequeno, com apenas quatro professores, é um grupo bem estabelecido, reconhecido, e com uma produção de ótima qualidade.
Outras informações com Roberto Saito pelo e-mail rsaito@astro.puc.cl.
Fonte: DIÁRIO CATARINENSE – Caroline Passos | caroline.passos@diario.com.br – 26 de outubro