
Relatório evidenciou desafios da Universidade na busca da equidade racial. (Foto: Maria Isabel Miranda/Agecom/UFSC)
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem um déficit de equidade racial no conjunto dos seus servidores que levará muitos anos para ser equacionado, caso não altere as regras dos concursos que realiza. Esta é uma das realidades reveladas pelo “Relatório de Monitoramento e Avaliação da Política de Enfrentamento ao Racismo na UFSC“, elaborado por um grupo de trabalho formado por pesquisadoras e pesquisadores de diversas áreas da Universidade. Entre os dados apontados, caso a UFSC continue com o ritmo atual de contratações, o percentual mínimo de 20% de pessoas negras exigido por lei só será alcançado em 2035 entre os servidores técnico-administrativos em educação (TAEs) e no ano de 2173 entre os docentes.
De acordo com o documento, atualmente 16,4% dos servidores técnico-administrativos da UFSC são autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (PPI). Entre os professores, este percentual é de apenas 9,1%, ainda muito distante do mínimo legal de 20%. Apesar de vigorar há dez anos, a lei que reserva a negros 20% das vagas oferecidas nos concursos para cargos e empregos no Governo Federal (Lei 12.990/2014) tem sido pouco efetiva em promover a equidade racial no serviço público. Tramita, no Congresso Nacional, uma lei que eleva para 30% este percentual.
Lia Vainer Schucman, professora do Departamento de Psicologia e pesquisadora da área de equidade racial aponta que outras Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) já estudam a implementação de políticas antirracistas visando à ocupação de vagas de forma a cumprir a lei. “Vemos situações semelhantes em Sergipe, Minas Gerais, Pelotas, em universidades que também buscam implementar mudanças para esse passo importante rumo à democratização do ensino superior”, ressalta a pesquisadora. “Se continuarmos com as mesmas ações, sem avaliação e sem planejamento de mudanças necessárias, a equidade racial não será alcançada”, alerta.
Lia integra o Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Racismo Institucional do qual também faz parte o professor Lindberg Nascimento Júnior, do Departamento de Geociências. Segundo ele, o número, nos últimos 10 anos (2015 a 2024), de docentes empossados na UFSC foi de 1.142 pessoas, ou 114,2 docentes empossados em média por ano – destes, apenas 19 professoras e professores são negros.
“Isso resulta na distribuição de docentes brancos de 98,3%, contra 1,7% de docentes negros empossados no périodo (19 em 10 anos, ou a média de 1,9 por ano). Se consideramos, a reserva de vagas (20%) neste periodo, pelo menos 228,4 deveriam ter sido destinadas para docentes negros”, aponta. “Esse quadro resulta no déficit de 209,4 de vagas consideradas defasadas. Se a comunidade acha que isso está tudo bem é que tudo vai muito mal. Esperamos que todos colaborem para esta mudança!”, adverte.

Lia Vainer e Lindberg Nascimento, na foto junto aos membros da mesa do Seminário de Ações Afirmativas em Concursos, integram o Grupo de Trabalho responsável pelo levantamento. (Foto: Maria Isabel Miranda/Agecom/UFSC)
A vice-reitora Joana Célia dos Passos chama a atenção sobre o assunto: “É muito importante que a comunidade universitária conheça os dados do racismo institucional que atravessa cada setor da UFSC e que possa se comprometer com a criação de políticas públicas que promovam a equidade na Universidade. O racismo institucional não é algo abstrato. Ele é produzido diariamente pelas pessoas. Eliminar as barreiras que têm sido naturalizadas nas práticas administrativas e acadêmicas é um compromisso da nossa gestão”, afirmou.
De acordo com dados apresentados pela secretária de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo do Ministério da Igualdade Racial (MIR) Márcia Lima, entre 2014 e 2019 o número de servidores negros na esfera federal aumentou apenas 2%.
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