UFSC na mídia: portal da Alemanha destaca ameaça a indígenas de SC em barragem

11/10/2023 07:49

A Deutsche Welle, empresa pública de comunicação da Alemanha que realiza coberturas no Brasil, destacou, em seu portal, as ameaças aos indígenas do município de José Boiteux por conta das cheias e da situação da barragem há 10 anos sem manutenção na Terra Indígena Ibirama La Klanõ. A terra está inundada por conta das fortes chuvas no Estado e houve confronto nas negociações para o fechamento das comportas. Em nota, a UFSC expressou sua solidariedade à comunidade.

A reportagem traz um histórico das negociações em torno da barragem e pontua a situação vivida pela comunidade. Segundo fontes ouvidas pela DW, famílias vivem muito próximas às regiões de alagamento e se sentem em risco. “Abarreira provoca alagamento rio acima (montante) — justamente onde moram os indígenas”, explica o texto.

Juliana Salles Machado, professora do Departamento de História Indigena da UFSC, foi entrevistada pela reportagem. Ela disse que os indígenas da localidade jamais foram indenizados ou consultados. “Nunca foram informados sobre o alagamento que a barragem provocaria no território deles. A estrutura foi feita para preservar as cidades de migração europeia, rio abaixo. Os laklanõ, rio acima, sofrem”, explicou  em entrevista à DW.

O texto reforça que o risco de inundação na região continua e que o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) prevê como muito alta a possibilidade de enchentes no Vale do Itajaí devido aos altos acumulados de chuva na bacia hidrográfica. O estudante de jornalismo da UFSC, Jucelino Senei Filho, também manifestou sua preocupação à reportagem.

Pedro Chaffe,  professor do Laboratório de Hidrologia da UFSC, concluiu que as cheias no estado de Santa Catarina ficaram mais frequentes nos últimos 40 anos e disse à reportagem que é preciso pensar sobre suas implicações. “Analisando os dados em todo o estado, a frequência e magnitude das cheias estão aumentando. Já tem que se pensar sobre as possíveis implicações, como a gente pode operar as estruturas que foram projetadas no passado e não consideram as mudanças que estamos vendo”. O professor lembrou ainda que toda a estrutura da barragem teria que ser fiscalizada por órgãos competentes,  revisada periodicamente e ter um plano de ação emergencial.

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‘Nossos Monumentos’: bustos de três catarinenses, pilares do ensino superior no estado

02/09/2016 17:30

DestaqueOs bustos, muitas vezes, não merecem a atenção dos que passam. Muitos desconhecem aqueles rostos estáticos em meio ao movimento frenético da vida moderna. A solidez dos traços não expressam as ações pioneiras dos personagens ali esculpidos. Para que suas identidades não sejam esquecidas, nem suas realizações, a série “Nossos Monumentos” traz alguns recortes da história por trás dessas obras de arte na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A representação de uma pessoa tem por finalidade recriar a sua fisionomia o mais próximo possível da realidade. Esse estilo acadêmico, inspirado nas escolas europeias, não é mais tão usual. No Campus Florianópolis da UFSC, bairro Trindade, há três esculturas do tipo em homenagem a três ilustres catarinenses: José Arthur Boiteaux, Henrique da Silva Fontes e João David Ferreira Lima. A de Boiteaux encontra-se no Centro de Ciências Jurídicas (CCJ); as outras duas, na Praça da Cidadania, em frente à Reitoria.

Fazenda Assis Brasil - atual campus universitário - foto acervo UFSC

Fazenda Assis Brasil, atual Campus Florianópolis. Acervo UFSC

Os bustos são uma forma de eternizar a atuação desses três professores, com formação em Ciências Jurídicas, que foram os alicerces da educação superior em Santa Catarina. São nomes igualmente importantes para o nascimento e a trajetória da UFSC.

A história deixa lacunas, inevitavelmente. A memória da instituição, em seus primeiros passos, deve ser resgatada e fielmente registrada, pois as conquistas alcançadas por cada um, cada qual no seu tempo e possibilidades, tornaram possível o surgimento de uma instituição federal, pública e gratuita – a primeira do estado. E mais, foram os responsáveis no passado, por a Universidade ser, no presente, referência dentro e fora do país.

Um ideal concretizado

A UFSC foi criada com o nome de Universidade de Santa Catarina, em dezembro de 1960. Era composta pelas faculdades e escolas da capital catarinense – Direito, Ciências Econômicas, Farmácia, Odontologia, Filosofia, Serviço Social, Medicina e Engenharia Industrial – e tem suas raízes no Instituto Politécnico, constituído em 1917 e absolvido pela Academia de Comércio nos anos 30. O Instituto ofertou os primeiros cursos superiores em áreas técnicas do estado. A Universidade recebeu a designação de federal em lei específica de agosto de 1965. Com a reforma universitária de 1969, as faculdades deram lugar às unidades universitárias, como são chamados os centros de ensino.

José Arthur Boiteaux (1865-1934)

Monumentos UFSC - Bustos - Foto Henrique Almeida-12O patrono do ensino superior em Santa Catarina foi desembargador, jornalista, historiador e político. Apresentou em 1931 a proposta de criação da Faculdade de Direito, implantada no ano seguinte, cujo curso foi o primeiro superior do estado. Nas discussões que envolveram a formação do curso, já havia o interesse em criar uma universidade, acompanhando um movimento que se fortalecia no país.

Boiteux faleceu dois anos após a criação da Faculdade de Direito, e Henrique Fontes assumiu as obrigações, avançando em direção à criação de uma universidade.

A Fundição Cavina & Cia, do Rio de Janeiro, em 1989 (ano incerto), foi a responsável pelo busto de bronze, com pedestal de granito.

Henrique da Silva Fontes (1885-1966)

Monumentos UFSC - Bustos - Foto Henrique Almeida-2O professor e desembargador Henrique da Silva Fontes “coordenou todas as providências do poder público para a concretização da Universidade”, palavras do governador Heriberto Hülse, em 5 de julho de 1959, na solenidade de lançamento da pedra fundamental do primeiro edifício da cidade universitária que abrigaria a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atualmente Centro de Comunicação e Expressão (CCE).

Plano da cidade universitária de 1959

Plano da cidade universitária de 1959

Henrique Fontes solicitou ao governo do estado a doação das terras da Fazenda Modelo Assis Brasil, subdistrito Trindade, em Florianópolis, para instalação do campus da UFSC. O vasto espaço cedido, com cerca de um milhão de metros quadrados, era perfeito para a construção da cidade universitária, pois previa o desenvolvimento futuro do sistema universitário e da região. Ferreira Lima era a favor da localização no centro da cidade, porém sua proposta não passou no Conselho Universitário.

Fontes elaborou o plano, com a participação dos professores da Universidade de São Paulo (USP), Hélio de Queiroz Duarte e Ernesto Roberto de Carvalho Mange. O projeto, com as peculiaridades da época, contemplava escolas e institutos, ensino e pesquisa, cultura, recreação e convivência.

A idade avançada de Henrique Fontes o impediu de exercer o cargo de reitor da UFSC. Seu busto é de autoria de José Luiz Kinceler, em 1995, feito de bronze, com estrutura de metal, e a placa registra sua realização: “Ao fundador da Faculdade Catarinense de Filosofia e idealizador do campus universitário”.

João David Ferreira Lima (1910-2001)

Monumentos UFSC - Bustos - Foto Henrique Almeida-7Fundador e primeiro reitor da UFSC. Foi nomeado em 16 de setembro de 1961 e permaneceu nesse cargo até 24 de outubro de 1972. Ficou um pouco mais de 10 anos, e o acompanharam dois vice-reitores, Luiz Osvaldo D’Acâmpora (1962) e Roberto Mündel de Lacerda (1968).

Ferreira Lima foi reconhecidamente o responsável pela implantação da Universidade de Santa Catarina. Sua coragem o fez enfrentar as dificuldades e as barreiras burocráticas, e conseguir, em 1962, a sua efetiva instalação.

Em agosto de 2010, na comemoração dos 50 anos da UFSC e pelo centenário do nascimento do fundador, a instituição o homenageou com o descerramento de uma placa e a colocação de flores no busto, ocasião em que estavam presentes os três filhos de Ferreira Lima, que também seguiram a carreira docente e atualmente estão aposentados pela instituição que o pai criou.

O busto de Ferreira Lima é feito de bronze e, na sua estrutura em forma de arco, concreto armado. A obra é do escultor e professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), José Luiz Kinceler, que também assinou o busto de Henrique da Silva Fontes. O artista faleceu em junho de 2015, aos 54 anos.

As imagens dos criadores da UFSC foram instaladas na Praça da Cidadania em 1995, quando a UFSC completava 35 anos, na gestão de Antônio Diomário de Queiroz. A abertura social da praça foi em abril de 1994, e na placa de fundação a frase do sociólogo Herbert José de Sousa (o Betinho): “A fome é crime ético”. O conjunto, artes e jardim, faz parte do projeto de humanização do campus, idealizado pelo arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994). O objetivo era democratizar o espaço central da Universidade para livre expressão política, artística e cultural.

Os bustos podem não ser obras de arte tão atrativas ou instigadoras da curiosidade alheia. Sua beleza está na história que carregam e na linha do tempo. Aos que passam, fica a dica: perceba, observe e questione. O que a UFSC se tornou é mérito dos que foram retratados, pois estiveram à frente de um grande momento para Santa Catarina, nascido da necessidade de a sociedade crescer.

 

Rosiani Bion de Almeida/Agecom/UFSC

Fotos dos bustos e montagem: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Com informações institucionais de ‘Arte na UFSC’ (2014), ‘UFSC 50 anos – Trajetórias e Desafios’ (2010) e documentos fornecidos pela família Fontes em 2010 à UFSC – plano da cidade universitária, jornais e ata de lançamento da pedra fundamental da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1959).  

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