“Antes eu achava que universidade era só para pessoas com maior poder aquisitivo, que era um sonho distante. E a gente está provando que não é”. É assim que Charles Constantino, de 16 anos, resume a mudança de visão de mundo pela qual passou desde que se tornou um bolsista do Pibic-EM, Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – Ensino Médio, financiado pelo CNPq.
Charles participa do projeto Papo Sério, ligado ao Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades – NIGS, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS). No dia 19 de outubro Charles foi um dos mais de 80 adolescentes de seis escolas públicas de Florianópolis, Araranguá e Curitibanos que participaram do Seminário de Iniciação Científica, evento que ocorre em paralelo à Sepex. Todos são bolsistas Pibic-EM desde 2010.
É a primeira vez que se destina um espaço específico para que bolsistas do ensino médio apresentem-se na Sepex. No piso superior do Centro de Eventos da UFSC estão expostos 36 pôsteres com as pesquisas dos estudantes sobre os mais diversos temas, desde Física, consumo de mídia, passando por história e escolha profissional (ver lista dos temas ao final desta matéria).
Vários grupos apresentaram suas pesquisas, alguns estavam descontraídos, outros bastante nervosos por estar fazendo algo desafiador pela primeira vez. Este parece ser um traço marcante dos projetos: o contato com o novo e com a mudança, justamente em uma idade repleta de transformações. Wallace Henrique, de 17 anos, dá um exemplo: “O projeto me ajudou a entender mais a escola. Hoje eu leio, interpreto e escrevo. Antes era muito raro escrever. Nos trabalhos da escola eu só copiava e colava”. Charles concorda, dizendo que aprendeu a ler e interpretar melhor os textos.
Também fazem parte do grupo Papo Sério as estudantes Helen Santos, de 16 anos, e Bianca Nascimento, de 18 anos. O grupo pesquisou a violência nas mais diferentes facetas, como o assédio moral, assédio e abuso sexual, o bullying e a violência doméstica. O estudo não ficou apenas em pesquisas a referências bibliográficas. No projeto eles aprenderam sobre metodologias de pesquisa antropológica, inseriram o currículo na Plataforma Lattes, participaram de palestras e de mostras de cinema, visitaram aldeias indígenas e comunidades pesqueiras, entre outras atividades.
Pesquisas de campo
Os estudantes também foram a campo e entrevistaram vítimas da violência, o tema do grupo de pesquisa. Helen conversou com uma professora que foi vítima de assalto e agressão verbal e também com um aluno vítima de bullying. Bianca entrevistou uma adolescente vítima de violência sexual. “Eu fiquei abalada, me senti impotente por não conseguir ajudar. Ao mesmo tempo, acho que a entrevista serviu para ela desabafar”, explica Bianca. Wallace entrevistou um adolescente que foi vítima de abuso sexual: “a gente estava conversando e ele começou a se abrir, dizendo que já tinha sido abusado. Foi uma barra pesada”. Charles entrevistou uma adolescente vítima de bullying e uma dona de casa que apanhava do marido.
O repertório desses adolescentes impressiona. Charles fala que durante a pesquisa aprendeu a desnaturalizar a violência, e explica que a violência estava tão arraigada em seu dia a dia que era vista de forma natural. Wallace conta que aprendeu sobre o preconceito racial e homoafetivo. “A gente tenta passar esse conhecimento para o nosso espaço”, explica Charles.
Para a coordenadora da pesquisa do NIGS, professora Tânia Welter, o projeto também trouxe mudanças para a prática dos acadêmicos, que nunca tinham participado de projetos com estudantes do ensino médio “Não tínhamos método nem clareza de como iria funcionar. Fomos aprender fazendo e fazer aprendendo”, explica Tânia.
A primeira dificuldade foi justamente encontrar os bolsistas. “A gente foi às escolas explicar sobre o projeto e quando falamos que o valor da bolsa era de R$100,00, chegamos a ouvir de um estudante: ‘eu ganho mais no tráfico’”, relata Tânia. Como o CNPQ exige dedicação exclusiva e o compromisso de 8 horas semanais ao projeto, nem todos os estudantes podem deixar de trabalhar para se tornar pesquisadores. Superada a dificuldade de encontrar participantes, outro problema foi o de abrir a conta bancária para que os estudantes pudessem receber a bolsa. O banco exigia comprovante de endereço e muitos estudantes moram em favela, não têm esse documento. “Isso mostra o abismo entre a realidade dos estudantes das escolas públicas e o mundo da universidade”, completa a professora.
Mas o Pibic-EM está mostrando que é uma das pontes possíveis entre os dois mundos. Se antes viam a universidade como um sonho distante, hoje Charles, Bianca e Helen e Wallace querem prestar vestibular da UFSC. Por serem desenhistas, os três primeiros querem fazer Design de Animação. Wallace não sabe ainda o que cursar, mas pensa em algum curso na área de Exatas.
Momento para trocas de experiência
O Pibic-EM já está em andamento desde outubro de 2010 e quase um ano depois os bolsistas tiveram a primeira oportunidade para se encontrar e trocar experiências. Foi durante o Seminário de Iniciação Científica, que também serviu de espaço para os participantes apresentarem sugestões para melhorar o projeto. Esta edição vai até o final de 2011. A proposta de continuação já foi encaminhada para o CNPq e aguarda a resposta, conforme explica o coordenador do Pibic-EM e diretor do Departamento de Ensino (DEN) da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, José André Peres Angotti.
Se a resposta do CNPq for positiva, o coordenador já tem uma lista de sugestões dos participantes, entre elas aumentar o valor da bolsa dos atuais R$ 100,00 para o mesmo valor da bolsa de graduação, que é de R$ 360,00. Outra sugestão é organizar mais encontros ao longo do ano, incluindo a participação dos estudantes das diversas escolas. O grupo também sugeriu divulgar melhor o projeto, principalmente para que outros estudantes possam participar das novas edições.
Foi apresentada a sugestão de ampliar a participação de outras escolas públicas, uma vez que o Colégio de Aplicação ficou com um terço das bolsas. O coordenador do Pibic-EM explicou que esta primeira versão foi criada em caráter de emergência. Para a próxima edição ele ampliou o convite a todos os coordenadores dos cursos da UFSC, como forma de aumentar também a participação de outras escolas públicas.
Escolas envolvidas e projetos
NOME DO COLÉGIO |
TÍTULO DO PROJETO |
1- COLÉGIO DE APLICAÇÃO – UFSC |
Educação, Comunicação, Ciência e Tecnologia Contemporâneas no Ensino Médio |
2 E.E.B. GETULIO VARGAS |
Aspectos do processo civilizador e da modernização em Florianópolis, nas primeiras décadas do século XX |
E.E.B. GETULIO VARGAS |
Educação, Comunicação, Ciência e
Tecnologia Contemporâneas no Ensino Médio |
3 – E.E.B. PROFESSORA MARIA GARCIA PESSI |
Educação ambiental, sustentabilidade e novas tecnologias |
4 – E.E.B. SIMÃO HESS |
Educação, Comunicação, Ciência e Tecnologia Contemporâneas no Ensino Médio |
E.E.B. SIMÃO HESS |
Papo Sério – Oficinas sobre Gênero, Sexualidade e Prevenção |
5 – Escola de Educação Básica Ildefonso Linhares |
Papo Sério – Oficinas sobre Gênero, Sexualidade e Prevenção |
6 – Escola de Educação Básica Jurema Cavallazzi |
Papo Sério – Oficinas sobre Gênero, Sexualidade e Prevenção |
7 – Núcleo Municipal de Campo Leoniza Carvalho Agostini |
CIÊNCIA EM CAMPO |
8 – Núcleo Municipal Getulio Vargas |
CIÊNCIA EM CAMPO – GV |
Temas das pesquisas PIBIC-EM
– As causas da imigração alemã no sul do Brasil
– A escolha da profissão
– A Física na mágica dos brinquedos
– A representação da História nos Jogos Eletrônicos
– Alcoólicos anônimos e sociedade: funcionamento de um grupo de A.A.
– Alergias e alimentação: perspectiva da comunidade do Colégio de Aplicação da UFSC
– As faces culturais e históricas do candomblé
– Astronomia em uma homepage voltada para o Ensino Médio
– Cannabis Sativa: efeitos sobre a fisiologia do sistema nervoso
– Ciência em campo – Núcleo Municipal Getúlio Vargas
– Ciência em campo – Núcleo Municipal do Campo Leoniza Carvalho Agostini
– Cotidiano com ou sem logaritmos: o que você acha?
– Desenhos animados: situações que contrariam as leis da física
– Ditadura militar: olhares do passado e do presente
– Educação ambiental, sustentabilidade e novas tecnologias
– Energia nuclear e catástrofes naturais: o caso de Fukushima
– Estudo da semelhança de triângulos: aplicações matemáticas e práticas
– Formação em rede: ciências rurais, educação do campo e ciências ambientais
– Formando uma juventude cidadã Colégio Estadual Simão José Hess
– Formando uma juventude cidadã Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires
– Formando uma juventude cidadã Escuela Superior de Comercio Manuel Belgrano (Córdoba, Argentina)
– HIV. E eu com isso?
– Influência dos hábitos de vida sobre a incidência de câncer
– Levantamento sobre a situação de prevenção da dengue no Colégio de Aplicação
– Mídia e consumo entre crianças do Colégio de Aplicação/UFSC
– Mulheres na música erudita: participação e história
– Novembrada – Florianópolis fazendo história
– O uso de animais em laboratórios de cosméticos, produtos de limpeza e higiene pessoal
– Obesidade infantil: tendências para o século XXI
– Qualquer semelhança é mera coincidência? Até mesmo a semelhança dos triângulos?
– Rebobinando o filme: um pouco de história do movimento estudantil do Colégio de Aplicação da UFSC (2004-2010)
– Religiosidade contemporânea: as percepções dos estudantes sobre religião em suas vidas
– Três Marias e uma Enedê: mulheres estrelas
– Uma nova experiência de vida: a iniciação científica do Projeto Papo Sério (NIGS – UFSC)
– Vida de Catanhão no mangue do Itacorubi
– Violências em foco: uma experiência de pesquisa no Ensino Médio
Por Laura Tuyama/jornalista na Agecom
Acompanhe a divulgação da Sepex:
– Estudantes de escolas públicas trocam experiências na Sepex
– Estudantes de escolas públicas trocam experiências na SEPEX
– Estudo avalia a presença de glúten na farinha de mandioca
– Projeto orienta carroceiros sobre como cuidar de seus cavalos
– Núcleo apresenta na Sepex estudo sobre educação indígena
– Pesquisa avalia o nível de atividade física em portadores de HIV
– Estande sobre células-tronco mostra pesquisas realizadas em laboratório da UFSC
– Programa Sinapse da Inovação Operação SC III será apresentado nesta quinta
– Educação ambiental em ONG no Morro da Penitenciária é exposto em estande da Sepex
– PET Pedagogia chama atenção pela luta contra o câncer de mama na Sepex
– Laboratório produz mudas de alta qualidade para produtor rural de SC
– 10ª Sepex abre com expectativa de atrair mais de 50 mil visitantes
– Mudanças climáticas, desastres naturais e previsão de riscos são temas de workshop nesta quinta-feira
– Maquetes táteis são expostas na 10ª Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão
– Visitantes da Sepex têm mesa interativa com jogos de ciência
– Conhecimento de pescadores pode ajudar Reserva Biológica Marinha do Arvoredo
– Vulcões e o Ano Internacional da Química? Blog Ciência Para Todos explica a química da erupção
– 5ª Semana de Cinema da UFSC de 17 a 22 de outubro
– Gestão Social é tema de minicurso a ser ministrado durante a Sepex
– Fapesc participa da Sepex
– CEPED/UFSC participa da 10ª SEPEX
– A presença de répteis e anfíbios na ecologia catarinense é tema de estande da 10ª Sepex
– Comunicação Educativa Organizacional terá minicurso na 10ª Sepex
– Estande sobre latim traz a Boca da Verdade e o Túnel das Palavras
–Mesa-redonda na Sepex discute legado do ”Príncipe dos Observadores”
– Prêmio Destaque Pesquisador UFSC 2011 será entregue nesta quarta-feira
– Cientistas mirins e pesquisadores da UFSC se integram na Sepex
– Outubro também é mês de “festa da ciência”
– Comissão organizadora divulga orientações a expositores e ministrantes de minicursos na Sepex
– Palestra debate desafios da Terceira Idade
– Abertas inscrições para minicursos na 10ª Sepex
– Aloísio Nelmo Klein é Destaque Pesquisador do Centro Tecnológico
– Semana de Cinema tem bate-papo com João Moreira Salles e Eduardo Coutinho
– Fapesc leva rede nacional de pesquisa à Sepex
– UFSC convida escolas a programarem visitas a seu “circo da ciência”
– Newton Carneiro da Costa Junior é Destaque Pesquisador do Centro Sócio-Econômico
– Estudantes que participarem de palestras na Sepex receberão certificados
– Centro de Ciências Físicas e Matemáticas homenageia professor Ruy Exel Filho
– Na mídia: Revista Ciência Hoje destaca pesquisa da UFSC
– UFSC reconhece trajetória de professor do Direito Ambiental
– UFSC homenageia pesquisadora que colabora com a padronização de mapas táteis
– UFSC busca padrão de mapas para pessoas cegas
– UFSC homenageia pesquisador dos “clones verdes”
– Prêmio Destaque Pesquisador homenageia samurai da ciência brasileir