Lançamento: livro-embalagem “Poemas”

08/12/2011 08:07

Com uma festa de lançamento da nova obra poética de Rodrigo de Haro, a Editora UFSC comemora sua trajetória de inovação do livro no dia 20 de dezembro, às 19h30min, no Centro Cultural do Badesc, na rua Vitor Konder.

A caixa-presente “Poemas” traz Espelho dos Melodramas e Folias do Ornitorrinco, dois livros inéditos do poeta e artista plástico catarinense que é, na avaliação do editor Sérgio Medeiros, uma das maiores expressões contemporâneas da arte brasileira. Aos 72 anos, Rodrigo está em sua fase mais produtiva, alternando-se no talhe da palavra e da pintura.

Lançamento: Livro-embalagem “Poemas”
(Folias do Ornitorrinco e Espelho dos Melodramas)
Autor: Rodrigo de Haro
Editora UFSC
Quando: 20 de novembro, às 19h30min
Onde: Fundação Cultural Badesc
Entrada aberta ao público

Texto: Raquel Wandelli, Jornalista na SeCArte/UFSC
Fones: 37218729 e 99110524
raquelwandelli@yahoo.com.br
www.secarte.ufsc.br

Tags: EdUFSCRodrigo de Haro

Livros da EdUFSC em promoção

04/11/2011 09:53

Estudantes, professores, funcionários e pessoas da comunidade em geral têm de 1º de novembro a 31 de dezembro para aproveitar livros de qualidade com preços vantajosos que a Livraria da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina está oferecendo com desconto de 20%. A livraria da EdUFSC fica no saguão térreo do prédio antigo do Centro de Comunicação e Expressão. Estarão em promoção todos os livros do catálogo da Editora, incluindo os lançamentos.

Exemplos de livros com desconto:

Título

Autor

Preço de Capa

Preço com 20% desconto

Negerplastik Carl Einstein R$ 61,00 R$ 48,80
Introdução à Engenharia Walter Bazzo e Luiz Teixeira R$ 39,60 R$ 31,68
Epistemologia da Geografia Paul Claval R$ 42,00 R$ 33,60
Estatística Aplicada às Ciências Sociais Pedro A. Barbetta R$ 42,00 R$ 33,60
Ecos no Porão – vol. 2 Silveria da Souza R$ 29,00 R$ 23,20
Uma Teoria da Adaptação Linda Hutcheon R$ 37,00 R$ 29,60
Resistência dos Materiais Aloisio Ernesto Assan R$ 68,00 R$ 54,40
Um Século de Conhecimento Samuel Simon (org.) R$ 87,00 R$ 69,60
A Literatura através do Cinema – Realismo, Magia  e a Arte da Adaptação Roberto Stam R$ 79,00 R$ 63,20
A Interpretação do Sonho em Freud Maria Luiza Furtado Kahl R$ 29,00 R$ 23,20

Editora UFSC

http://www.editora.ufsc.br/ 48 – 37219408

Divulgação: Raquel Wandelli, Jornalista na SeCArte/UFSC

Fones: 37219459 e 99110524

raquelwandelli@yahoo.com.br

www.secarte.ufsc.br

www.agecom.ufsc.br

Tags: EdUFSCpromoção de livros

Obra sobre história das fortalezas será lançada na próxima semana

01/09/2011 10:40

A obra que contempla mapas, iconografias, plantas das fortalezas e fotografias das fortificações ainda existentes será distribuída para escolas

Santa Catarina já teve 26 fortificações de defesa no século XVIII e o Rio Grande do Sul chegou a erguer 42, das quais sobram oito na Grande Florianópolis e uma em São Francisco do Sul e as ruínas de apenas duas no estado vizinho. Em alguns momentos mais tensos na história das invasões e das disputas territoriais entre Portugal e Espanha, praticamente toda a população da antiga Desterro e do Rio Grande de São Pedro viveu protegida pelas Fortalezas.

Examinando-se mapas demarcados dessa época, observa-se que se enfileiravam uma ao lado da outra, formando extensos cordões nas ilhotas e ao longo do litoral. O início dessas construções de defesa coincide com a própria data de fundação dos dois estados, tamanha foi sua importância no desenvolvimento dos povoados. As possibilidades de se conhecer a vida dentro dessas cidades fortificadas e o seu funcionamento esteve por três séculos encerrada dentro de um manuscrito original de 1786 que só agora vem à luz da história com a publicação de uma grande obra que une os esforços da iniciativa individual, pública e privada.

A publicação tardia desse documento inédito pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina e Prefeitura de Florianópolis, com apoio cultural da Unimed, devolve aos pesquisadores e curiosos em geral a chance de conhecer melhor esse capítulo decisivo e ainda obscuro da história do Brasil. O mérito maior cabe à determinação de dois pesquisadores que inscreveram o projeto de publicação explicada, complementada e ilustrada do chamado Códice de Santa Catarina na Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Fundação Franklin Cascaes: Roberto Tonera, arquiteto da UFSC, responsável pelas obras de restauração e conservação das fortalezas da Ilha de Santa Catarina mantidas pela universidade, e Mário Mendonça de Oliveira, professor de arquitetura da Universidade Federal da Bahia, condecorado pelo Exército por sua obra de reconstituição da memória militar do Brasil e restauro das fortificações.

Ambos são responsáveis pela organização do livro “As defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786”, que será lançado em uma data histórica em um lugar também histórico, na véspera do aniversário da Independência do Brasil, em 6 de setembro, às 19 horas, no Palácio Cruz e Sousa. Com uma tiragem de mil exemplares, a obra será distribuída gratuitamente às escolas públicas, meios de comunicação e instituições ligadas à memória e patrimônio.

A edição inclui textos introdutórios e explicativos sobre o contexto histórico, mapas, iconografias, plantas das fortalezas da época complementadas com fotografias das fortificações ainda existentes, e um glossário ilustrado que busca auxiliar na compreensão dos termos técnicos do manuscrito, reproduzido em forma de fac-símile, ao lado da transcrição em ortografia atualizada. A obra acompanha ainda um CD–ROM com o conteúdo do material impresso em linguagem multimídia, com recursos de animação tridimensional e links hipertextuais. O lançamento terá a presença do diretor do Arquivo Histórico Militar de Lisboa, Aniceto Afonso, que cedeu os direitos de publicação e assina a apresentação do livro, exaltando-o como “um acontecimento cultural de grande relevo”.

Mas há um primeiro autor que deu início a tudo, quando a forma de registro recorrente da história no Brasil ainda era a dos calígrafos medievais: o engenheiro militar José Correia Rangel. De nacionalidade indefinida, Rangel escreveu de próprio punho o Códice de Santa Catarina do qual seus seguidores partem para compor as 223 páginas do dossiê moderno. Em letra cursiva esmeradamente talhada a pena e no português do século XVIII, Rangel compôs o documento duas partes: a primeira contém o levantamento das fortificações, que na época chegaram a ter uma população de quase mil habitantes, e dos uniformes das tropas da Ilha de Santa Catarina (atual Florianópolis) e do Rio Grande de São Pedro (primeira cidade do estado vizinho). Apresenta ainda relações com quantidades precisas das guarnições militares existentes e dos armamentos e demais petrechos de artilharia, todos quantificados e discriminados com minúcia e precisão. A parte final do documento redescoberto traz um detalhado inventário de todos os mantimentos existentes nos armazéns das vilas gaúchas de Rio Grande, Porto Alegre e Rio Pardo. Extensas listagens de armas, munições, ferramentas, utensílios, móveis, tecidos, vestimentas, medicamentos; objetos de uso pessoal, religioso e militar; acessórios de montaria e veículos de transporte, instrumentos musicais (mostrando que a vida nas fortalezas não era tão dura) entre outros artefatos e equipamentos diversos oferecem matéria prima para historiadores da vida privada e pública.

Em 76 páginas de manuscrito, o autor entremeia 29 estampas coloridas, com desenhos aquarelados dos uniformes, das plantas das fortificações e dos mapas gerais de levantamento dos lugares fortificados das duas povoações. O bom gosto e talento na elaboração do incunábulo revelam a provável formação do autor em escolas jesuítas do Rio de janeiro, biografado no início do livro, conforme mostra sua biografia no início da obra. Pinçados na tropa entre os mais capazes intelectualmente e habilidosos nas artes dos desenhos, os engenheiros se destacavam dos oficiais comuns e da massa inculta dos exércitos coloniais, relegada ao analfabetismo. “Eles foram nossos primeiros urbanistas e projetistas de fortificações, igrejas, palácios, edifícios administrativos e outras obras civis e militares, muitas ainda presentes nos centros históricos das nossas cidades”, explicam os organizadores no prefácio.

Como viviam, como sobreviviam, como se organizavam, como se vestiam, o que comiam, o que consumiam, como casavam e constituíam família, como se divertiam, o que faziam os moradores das cidades fortificadas? Sem saber, o futuro capitão deixou um dos documentos mais antigos e importantes da história das fortificações dos dois estados, uma fonte para historiadores pesquisarem o cotidiano da vida militar, o estudo das fortificações portuguesas no Brasil e para a compreensão das origens históricas dos dois estados.  Antes de ser incorporado ao acervo do Arquivo Histórico Militar de Lisboa, o relatório técnico pertenceu no século XIX ao general de Divisão do Exército Português, Jaime Agnelo dos Santos Couvrer, grande colecionador de manuscritos e foi adquirido em 1919 pela Livraria dos Paulistas, de Lisboa.

Ao tomar conhecimento da existência do documento, em 2006, Tonera, que é também coordenador do Projeto Fortalezas Multimídia da UFSC, enviou projeto ao diretor da instituição portuguesa, Aniceto Afonso, solicitando permissão para que a universidade o publicasse na íntegra com as devidas complementações, transcrições e contextualizações sem os quais seria incompreensível para o grande público. O produto que chegará às mãos do leitor que comparecer ao lançamento é resultado, portanto, de um sonho acalentado durante cinco anos por essa rede de investigadores que começou a escrever, já no século XVIII, o grande Códice das Fortalezas.

Serviço:

Lançamento: “As Defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786 – de José Correia Rangel”
Organizadores
: Roberto Tonera e Mário Mendonça de Oliveira.
Data
: 6 de setembro de 2011 – terça-feira
Horário
: 19 horas
Local
: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa / Praça XV de Novembro – Florianópolis/SC
Publicação
: Editora da UFSC
Patrocínio
: Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Florianópolis/Fundação Cultural        Franklin Cascaes
Apoio cultural
: Unimed Grande Florianópolis
Apoio para o lançamento
: Universidade Federal de Santa Catarina;  Projeto Fortalezas da Ilha/ Secarte-UFSC, Projeto Fortalezas Multimídia – UFSC; Museu Histórico de Santa Catarina.

Por Raquel Wandelli (jornalista, SeCarte) / Contatos: (48) 99110524 – 37219459 / raquelwandelli@yahoo.com.br / raquelwandelli@reitoria.ufsc.br  / www.secarte.ufsc.br

Tags: EdUFSCfortalezas

Mais duas semanas para aproveitar a Feira de Livros da UFSC

23/08/2011 08:27

Com lançamentos de qualidade e preços vantajosos, prossegue até o dia 2 de setembro, das 9 às 19 horas, na Praça da Cidadania da UFSC, a Feira de Livrosda Editora da Universidade Federal de Santa Catarina/Liga de Editoras Universitárias. A Editora está oferecendo uma diversidade de 800 títulos e dez mil exemplares de qualidade com descontos de 50 a 70%. Durante o evento, a EdUFSC está lançando e colocandoa venda exemplares de quatro novas coleções nas áreas de arquitetura, direito, artes visuais e obras de formação.

Entre os lançamentos de produção própria da UFSC incluem-se três obras de impacto na Coleção Geral: Escritos de véspera, O Pinheiro Brasileiro, de João Rodrigues de Mattos e a obra de referência ALERAtlas lingüísticoe Etnográfico da Região Sul do Brasil, contendo as Cartas Fonéticas Morfossintáticas, que chega nesta terça (23/8) da gráfica para lançamento durante a Feira.

Organizado por Walter Koch, Cléo Wilson e Mário Kassmann, o atlas, publicado em dois volumes, traz uma contribuição fundamental para o estudo da variação lingüística nessa região. Já o renomado botânico brasileiro João Rodrigues de Mattos faz um apaixonado apelo à sobrevivência da auracária em O Pinheiro Brasileiro. No exaustivo estudo sobre a araucária, sustenta sua importância simbólica, ecológica e econômica para o Sul do Brasil.Em Escritos de véspera, Luiz Costa Lima, um dos mais importantes críticos do Brasil, discute as mudanças de paradigmas críticos na área dos estudos literários desde os anos 70.

Quatro novas coleções de produção própria estão sendo lançadas na feira: “Visuais”, com a colossal obra Negerplastik/Escultura Negra, de Carl Einstein; “Urbanismo eArquitetura da Cidade”, voltada para a produção de pesquisadores locais e internacionais, com o livro Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente, de Almir Francisco Reis; “Direito e Saúde”, em parceria com a Fundação José Arthur Boiteux (Funjab), com o livro De Defensivos a Agrotóxicos, de Maria Leonor Paes Cavalcanti Ferreira e a esperada coleção “Repertório”.

A reedição de Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa, cuja publicação da UFSC, em 1997, estava esgotada há vários anos, inaugura esta última, Repertório, que vai publicar pequenos volumes clássicos de diferentes áreas das humanidades. “O motivo da coleção é ajudar o leitor a fazer uma biblioteca de textos básicos, a um custo bem baixo e com edição supercaprichada”, explica o diretor geral, Ségio Medeiros.

A tradicional Feira de Livros volta às aulas na UFSC foi repaginada e está mais atrativa sob uma grande tenda coberta, com balão flutuante e raios lazer à noite. “Nossa feira já se tornou um evento marcante na vida cultural da cidade e alcançou um público recorde na sua história”, comemora a secretária de Cultura e Arte da UFSC, Maria de Lourdes Borges.

Aberta aos alunos, professores, funcionários e leitores em geral, a feira também está comercializando os últimos livros publicados pelas universidades integrantes da Liga de Editoras Universitárias (LEU), que incluem a USP, Unicamp, UFMG, UFPA e UFSP. “Graças a essa parceria, iniciada na Feira da abertura do primeiro semestre, a EdUFSC está oferecendo à comunidade interna e externa os melhores títulos publicados no meio científico e acadêmico do País, todos igualmente com desconto”, pontua o diretor geral.

Serviço:

Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU

Encerramento: 2/9/2011
Horário de funcionamento:
segunda, terça, quinta e sexta – das 9:00 às 19 horas
quarta-feira: das 9:00 às 20h:30min
Descontos: de 50 a 70%

(Exemplos de livros com desconto:)
Anota aí – de R$ 20,00 por R$ 10,00
Anatomia sistêmica – de R$ 27,00 por R$ 13,50
Farmacognosia – de R$ 96,00 por R$ 48,00
Introdução à Engenharia – de R$ 39,60 por R$ 19,80
Estatística aplicada às ciências sociais – de R$ 42,00 por R$ 21,00
Pensar/escrever o animal – de R$ 39,00 por R$ 19,50

Por  Raquel Wandelli /Jornalista na SeCArte/UFSC / Fones: 3721-9459 e 9911-0524 / raquelwandelli@yahoo.com.br / www.secarte.ufsc.br / www.agecom.ufsc.br / www.editora.ufsc.br
Fotos: Wagner Bher / Agecom

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Editora da UFSC lança livro inédito de Costa Lima

16/08/2011 09:31

Escritos de Véspera, uma reunião de ensaios de Luiz Costa Lima que será lançada pela EdUFSC nesta quinta-feira, dia 18 de agosto, às 20 horas, no auditório Henrique Fontes, na presença do autor, apresenta e desenvolve duas facetas fundamentais do seu pensamento crítico. Primeiramente, o autor utiliza de maneira heterodoxa, vale dizer, pessoal, a complexa base estruturalista, para analisar textos literários do poeta João Cabral e dos romancistas Guimarães Rosa e Stendhal.

A seguir, Costa Lima questiona o rendimento do paradigma estrutural dentro do trabalho crítico-analítico. Integra essa parte do livro um ensaio sobre a obra romanesca de Machado de Assis e um ensaio teórico centrado na categoria da “mímesis”, conceito que não se confunde, como acreditam os ingênuos, com imitação ou cópia.
Um dos maiores nomes da crítica literária brasileira, Luiz Costa Lima traz nessa coletânea textos fundamentais, nunca antes publicados em livro. Um desses textos foi escrito em parceria com o renomado antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, o teórico do perspectivismo indígena. Ambos, Costa Lima e Viveiros de Castro, são, como se sabe, leitores atentos de Claude Lévi-Strauss e discutem, em suas respectivas obras, a herança do método estrutural de análise da arte e da cultura, que floresceu nos anos 1950 e 1960.

Escritos de Véspera propõe ao leitor algumas questões fundamentais, como a interseção entre o desejo e a lei no discurso literário. Com sua costumeira lucidez, Costa Lima aponta para o desgaste e a limitação do aparato teórico-metodológico estrutural na nova era que então se abria, nos anos 1970-80: a era da desconstrução e dos estudos culturais.

Assim, o leitor é convidado a sair da polêmica estruturalista dos anos 1960 e acompanhar a polêmica pós-estrutural das décadas seguintes, que se prolonga até os dias atuais, com o questionamento de noções como autoria, textualidade, historicidade etc.
Depois de dialogar intensamente com Lévi-Strauss, Costa Lima começa a dialogar, nestes textos, com outros teóricos, como René Girard, enfocando a questão da castração no plano do sentido. O livro, assim, vai apresentando passo a passo uma mudança de rumo na reflexão de Costa Lima, que culminará, após seu afastamento da objetividade estruturalista, nos seus estudos atuais da “mímesis”, da modernidade e da pós-modernidade, nos quais propõe um questionamento da estética e do papel do sujeito.

A inestimável herança de Lévi-Strauss é, desse modo, repensada sob o prisma da ruptura e da continuidade. Menos que um corte e mais que um prolongamento, o movimento da sua reflexão antes se caracteriza como retificação e salto. Retificação de estratégia que se configura em salto teórico. O crítico busca a consciência (social) do simbólico e as representações sociais. É então que entra em cena um interlocutor de peso: Wolfgang Iser.

Costa Lima revê, a partir daí, um dos principais impasses em que incorria o estruturalismo: o veto à subjetividade – a do leitor, a do crítico… Mas não se trata de mera conquista do “subjetivo”. Daí o autor de Escritos de Véspera afirmar: “a ‘mímesis’ não pode ser pensada a partir do indivíduo, quer o produtor, quer o receptor. Nela, sempre uma coletividade se faz ouvir.’ Percebe-se claramente que a readmissão do sujeito, posteriormente convertido em filão teórico específico, não se faz em desfavor da aprendizagem estrutural.

Escritos de Véspera conclui sua indagação com um ensaio teórico que já é considerado um dos momentos cruciais da moderna teoria literária, propondo um diálogo entre “mímesis” e representação social, que é o diálogo do presente, da atualidade.

Participação em seminário
Luiz Costa Lima participará, a convite da Pós-Graduação em Literatura, do I Seminário dos Alunos de Pós-Graduação em Literatura da UFSC, de 16 a 18 de agosto. O professor da UERJ e da PUC do Rio de Janeiro vai proferir a conferência “A História e a Teoria Literárias entre nós”, às 18 horas, do dia 18 de agosto, no auditório Henrique Fontes, do Centro de Comunicação e Expressão. Será apresentado pelo professor Sérgio Medeiros (UFSC), diretor da EdUFSC, que coordena na sequência o lançamento de Escritos de Véspera, de Luiz Costa Lima, pela Editora da UFSC.

Texto: Divulgação

Contatos: Raquel Wandelli

9911-0524 / 3234-7366

raquelwandelli@yahoo.com.br

www.secarte.ufsc.br / www.editora.ufsc.br / www.ufsc.br

Serviço:
Escritos de Véspera
Autor: Luiz Costa Lima
Editora da UFSC
Lançamento: 18 de agosto, 20 horas, no Auditório Henrique Fontes
Local: Praça da Cidadania da UFSC
Preço de capa: de R$ 34,00 (por R$ 17,00 na Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU (28 de agosto a 2 de setembro)

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Tags: EdUFSCFeira de Livors

Editora da UFSC lança obra de Cruz e Sousa em sua Feira de Livros

11/08/2011 10:29

João da Cruz e Sousa (1861-1898) não teve tempo para usufruir do reconhecimento e da glória que perseguiu em vida, porque a morte o apanhou antes disso, vítima da miséria e da doença. Foi com Últimos sonetos, volume publicado postumamente em 1905, que se consolidou o aval da comunidade letrada a este artista maior, que ajudou a fundar a moderna poesia brasileira. Este é um dos lançamentos que a Editora da UFSC faz nesta semana, dentro da Feira de Livros realizada na Praça da Cidadania, no campus da Trindade. Trata-se da quarta edição da obra: depois da primeira, as outras saíram em 1984 pela Fundação Casa de Rui Barbosa, EdUFSC e FCC Edições, e em 1997 pela EdUFSC e Fundação Casa de Rui Barbosa,  já há quase uma década esgotada.

A obra abre a coleção “Repertório”, de refinada e elegante edição, dedicada a autores fundamentais da literatura e do pensamento universal. São cerca de 90 sonetos que trazem o Cruz e Sousa mais pungente, mais completo, mais próximo da perfeição formal e ainda mais próximo da morte, que antevia com descomunal clareza e estranhamento. Os próprios nomes dos poemas remetem a um estado de alma peculiar – piedade, grandeza oculta, alucinação, vida obscura, vão arrebatamento, espírito imortal, alma fatigada, consolo amargo, lírio lutuoso, aspiração suprema, condenação fatal.

É impossível dissociar o dilema pessoal, familiar e estético do autor do que ele colocou no papel, já descrente dos homens e do mundo e, mais adiante, já tísico, dominado pela tuberculose que o mataria, no interior de Minas Gerais. Com formação clássica, adotado que fora por uma família abastada da antiga Desterro, hoje Florianópolis, ele tinha noção de sua genialidade, mas trazia na mente as marcas da discriminação – fora impedido, por exemplo, de assumir um cargo público por ser negro. Como poeta, também foi tratado como um pária pela elite literária carioca, onde despontavam figuras aninhadas ao poder, como Olavo Bilac e Coelho Neto.

Sempre sujeito a empregos menores, a atividades que considerava aquém de sua capacidade e talento, a vida pessoal e afetiva do poeta também decaiu por conta da doença da mulher Gavita e dos filhos, que perdeu um a um, em meio à imensa pobreza que o atarantou. Tudo isso, aliado à busca de um ideal estético superior, influenciado pelos simbolistas europeus já consagrados, fez com que se tornasse, ao mesmo tempo, um ser amargurado e um artista em busca permanente da grandeza, do domínio da palavra, da legitimação pelos seus contemporâneos.

“Vida obscura” é um soneto que reflete esta sensação: “Ninguém te viu o sentimento inquieto, / Magoado, oculto e aterrador, secreto, / que o coração te apunhalou no mundo. / Mas eu que sempre te segui os passos / Sei que cruz infernal prendeu-te os braços / E o teu suspiro como foi profundo!”

Outro poema emblemático – cujos versos finais estavam em sua lápide, no cemitério em que permaneceu por muitas décadas, no Rio de Janeiro – é “Triunfo supremo”, em que abre mão dos “fúteis ouropéis mais belos”, ciente de sua vocação para a transcendência, e dá ao mundo o “adeus indefinido”, porque fora feito para outra dimensão. No fim, diz, numa referência ao próprio destino: “Quem florestas e mares foi rasgando / E entre raios, pedradas e metralhas, / Ficou gemendo mas ficou sonhando!”

Por Paulo Clóvis Schmitz / Jornalista na Agecom

Serviço:

Últimos Sonetos,

Autor: Cruz e Sousa

Editora da UFSC, 104 páginas

Lançamento: Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU (28 de agosto a 2 de setembro)

Local: Praça da Cidadania da UFSC

Preço de capa: de R$ 22,00 (por R$ 11,00 na Feira)

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Tags: EdUFSCFeira de Livros

Obra de Carl Einstein é lançada na feira de livros da Editoria da UFSC

09/08/2011 10:46

Era um tempo de disputa entre os impérios, de massacre das colônias, de afirmação da superioridade bélica e étnica dos países anglo-saxões. Cenário de extermínio dos ditos povos primitivos. Tempo em que o eruditismo ocidental determinava o que era ou não era arte. Nesse transcorrer das duas guerras mundiais, foi um crítico de arte alemão perseguido pelo nazismo, amante das latinidades e das “culturas primitivas”, o responsável pelo descobrimento da escultura africana, com a qual pôs abaixo o paradigma evolucionista dominante de que só os povos ditos civilizados faziam arte.

Negerplastik (Escultura negra), a obra colossal de Carl Einstein que a Editora da UFSC acaba de publicar pela primeira vez em tradução para a língua portuguesa e lança na sua Feira de Livros de volta às aulas, elevou à condição definitiva de arte os objetos indecifráveis e “indatáveis” que os viajantes, missionários, comerciantes, saqueadores, militares e exploradores europeus colecionavam em suas excursões pela África subsaariana. E naqueles idos de 1915, estarreceu o mundo das Belas Artes com a lição de plasticidade e distanciamento subjetivo vinda dos rufares africanos, que ele poeticamente chamou de “a lição negra”.

Instaurando um olhar estético liberto do etnocentrismo europeu, o curto e vigoroso ensaio de Carl Einstein que antecede a reprodução de 111 esculturas em forma de estatuetas, máscaras, taças, trompas, bancos, efígies, bustos, cabeças, relicários, postes funerários, mudou para sempre a concepção ocidental de arte primitiva. Além de abrir-lhe o panteão das artes, autorizou e encorajou as relações, cada vez mais próximas, que a arte moderna, a literatura, a psicanálise, a filosofia, enfim, estabeleceram entre a cultura ocidental e a africana a partir de então. O exemplo mais particular é o movimento cubista, do qual Einstein participou ativamente como teórico. Desde Negerplastik não se pode mais duvidar do estatuto dessa escultura como arte ou ignorar a influência que exerceu nos grandes mestres modernos.

Mas antes que esses objetos, ainda hoje classificados nas galerias como “arte primitiva”, passassem das coleções particulares para as alas de museus internacionais, como o Louvre, ou ganhassem espaços exclusivos e de sucesso, como o Museu do cais Branly, em Paris, Carl Einstein empreendeu uma luta política e estética para demonstrar que as soluções africanas para problemas de volume, espaço, perspectiva, forma, movimento e plasticidade representavam um grande aprendizado para a escultura renascentista e romântica, inclusive para a obra do popular Rodin.

A percepção mais arguta e sensível de Einstein talvez tenha sido a de que, em vez de perseguir a inclusão do espectador no efeito emotivo e subjetivo da obra, valorizado pela arte ocidental, a arte africana justamente se afirma na distância mítica e religiosa. O “artista primitivo” se identifica não com o espectador, nos ensina Einstein, mas com o adorador que vê na arte a única forma de transcender aos deuses sua condição humana. Nessa perspectiva, seus objetos não representam um sentido a decifrar: eles são o próprio totem, a própria expressão do culto ao sagrado.

Uma obra assim antológica merece a edição primorosa, de capa dura e preta, miolo em papel de gramatura especial para as 220 páginas de ilustrações com as figurações africanas, num total de 302 páginas. E merece também a equipe paratextual à altura: orelha assinada por Raul Antelo (UFSC), texto de apresentação da crítica e historiadora Liliane Meffre (Universidade de Borgogne, França), estudiosa de longa data da obra de Einstein, que considera o crítico fundamental do século XX, e resenha final de Roberto Conduru, da Universidade do Rio de Janeiro, sobre as conexões propostas por Einstein entre a escultura negra e a vanguarda artística europeia. Inês Araújo traduz Carl Einstein em contraponto com a tradução francesa de Meffre e Fernando Scheibe (aplaudido por Divagações, de Mallarmé), traduz a apresentação da historiadora.

Em sua introdução, Meffre discute o contexto histórico e artístico em que a obra se ergue, reconstituindo a trajetória do autor, não só feita de glórias e reconhecimento pelos jovens parisienses e pintores espanhois encantados com a lição da África, mas também de incompreensões por seus pares, perseguições políticas, longos períodos de hospitalização e privação material em que teve de se desfazer de sua coleção pessoal de objetos africanos para sobreviver.

Depois de uma tentativa de suicídio frustrada, o alemão lança-se para a morte, “último ato de liberdade”, ao se jogar no rio Gave de Pau, em julho de 1940, na França invadida pelos nazistas. Deixou de herança sua paixão intelectual pela africanidade e pela latinidade que quase cem anos depois da primeira edição de Negerplastik, em 1915, o Brasil recupera. As honras a Einstein e ao seu achado arqueológico vêm, assim, de um país cuja “brasilidade”, como lembra madame Meffre, se alimenta de duas correntes construtivistas da arte e do pensamento do século XX marcadas pela intersecção: a modernidade e o primitivismo.

Por Raquel Wandelli / Jornalista na SeCArte/UFSC / (48) 9911-0524 / raquelwandelli@yahoo.com.br

Serviço:
Negerplastik/Escultura Negra
Autor: Carl Einstein
Tradução: Inês Araújo e Fernando Scheibe
Editora da UFSC, 302 páginas, ilustrado
Lançamento: Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU (28 de agosto a 2 de setembro)
Local: Praça da Cidadania da UFSC
Preço de capa: de R$ 61,00 (por R$ 45,00 na Feira)

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Tags: EdUFSCFeira de Livros

Livros de conteúdo, beleza e preço baixo na volta às aulas

05/08/2011 15:53
Cerca de 800 títulos terão descontos de 50% a 80%

Cerca de 800 títulos terão descontos de 50% a 70%

Uma nova série de grandes obras e autores, que incluem Cruz e Sousa e Carl Einstein, será lançada pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina em sua Feira de Livros, na volta às aulas deste segundo semestre. De 8 de agosto a 2 de setembro, das 9 às 19 horas, na Praça da Cidadania, em frente à Reitoria, a Editora vai oferecer uma diversidade de 800 títulos e dez mil exemplares de qualidade com descontos de 50 a 70% e direito a autógrafo de escritores locais e alguns autores nacionais, como Luís Costa Lima e Viveiros de Castro. A EdUFSC também vai lançar quatro novas coleções nas áreas de arquitetura, direito, artes visuais e obras de formação durante o evento, que a Secretaria de Cultura e Arte da UFSC pretende tornar um acontecimento cultural marcante na vida da cidade.

Embora tradicional, a Feira de Livros da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina/Liga de Editoras Universitárias chega à Praça da Cidadania completamente repaginada e mais atrativa, com estratégias de marketing como balões flutuantes e raios lazer à noite. Aberta aos alunos, professores, funcionários e leitores em geral, a feira também vai oferecer com descontos os últimos livros publicados pelas universidades que integram a Liga de Editoras Universitárias (LEU), que incluem a USP, Unicamp, UFMG, UFPA e UFSP. Através dessa parceria, iniciada na Feira do início do primeiro semestre, a EdUFSC pode oferecer à comunidade interna e externa os melhores títulos publicados no meio científico e acadêmico do País, todos igualmente com desconto.

Entre os lançamentos de produção própria da UFSC incluem-se três obras de impacto na Coleção Geral: Escritos de véspera, reunião de ensaios críticos literários de Luiz Costa Lima, O Pinheiro Brasileiro, de João Rodrigues Neto e a obra de referência ALERAtlas lingüístico e Etnográfico da Região Sul do Brasil, contendo as Cartas Fonéticas Morfossintáticas. Organizado por Walter Koch, Cléo Wilson e Mário Kassmann, o trabalho, publicado em dois volumes, traz uma contribuição fundamental para o estudo da variação lingüística nessa região. A obra será lançada na Feira a partir do dia 22 de agosto. Já o renomado botânico brasileiro João Rodrigues de Mattos faz um apaixonado apelo à sobrevivência da auracária em O Pinheiro Brasileiro. No exaustivo estudo sobre a araucária, sustenta sua importância simbólica, ecológica e econômica para o Sul do Brasil.

Em Escritos de véspera, Luiz Costa Lima, um dos mais importantes críticos do Brasil, discute as mudanças de paradigmas críticos na área dos estudos literários, destacando, particularmente, a passagem da abordagem estruturalista para a pós-estruturalista. Um dos artigos foi escrito em colaboração com o prestigiado antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, autor de Alma Selvagem. Ambos estarão na UFSC visitando a Feira em períodos diferentes: Eduardo Viveiros de Castro virá a convite do Curso de Antropologia para participar do colóquio internacional “Antropologia de Raposa” (de 8 a 11 de agosto) e Luiz Costa Lima participará, a convite da Pós-Graduação em Literatura, do “I Seminário dos Alunos de Pós-Graduação em Literatura da UFSC” (de 16 a 18 de agosto).

Cruz e Sousa e Carl Einstein

As novidades não terminam aí. Quatro novas coleções de produção própria serão apresentadas ao público durante a Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU: “Visuais”, com a colossal obra Negerplastik/Escultura Negra, de Carl Einstein; “Urbanismo e Arquitetura da Cidade”, voltada para a produção de pesquisadores locais e internacionais, com o livro Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente, de Almir Francisco Reis; “Direito e Saúde”, em parceria com a Fundação José Arthur Boiteux (Funjab), com o livro De Defensivos a Agrotóxicos, de Maria Leonor Paes Cavalcanti Ferreira e a esperada coleção “Repertório”. A reedição de Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa, cuja publicação da UFSC, em 1997, estava esgotada há vários anos, inaugura esta última, Repertório, que vai publicar pequenos volumes clássicos de diferentes áreas das humanidades. “O motivo da coleção é ajudar o leitor a fazer uma biblioteca de textos básicos, a um custo bem baixo e com edição supercaprichada”, explica o diretor geral da Editora da UFSC, Sérgio Medeiros. Franklin Cascaes, Simões de Lopes Neto, Rodrigo de Haro e Michel Montaigne são os próximos dessa coleção de capa branca sobreposta e padrão gráfico elegante.

A edição brasileira inédita de Negerplastik/Escultura Negra, de Carl Einstein, traduzida por Inês Araújo e Fernando Scheibe (tradutor de Divagações, de Mallarmé), pela primeira vez em língua portuguesa, é outra contribuição aguardada no pensamento da arte. Em seu estudo clássico e paradigmático sobre a arte dos povos da África e da Oceania, o crítico alemão Carl Einstein provocou uma mudança definitiva na maneira ocidental de ver a arte dita “primeira” (ou primitiva).

Mais do que uma feira convencional, o evento servirá também para que o leitor tenha uma noção do padrão de livro universitário hoje em voga no Brasil, uma vez que títulos das melhores editoras universitárias estarão em exposição ao longo de todo o mês de agosto, lembra Medeiros. “Nosso papel como editora universitária é divulgar o melhor do conhecimento por meio da publicação de livros que possam ser comercializados a um preço bastante acessível, sem prejuízo da qualidade gráfica e editorial de cada volume”, pontua o coordenador da Feira Fernando Wolff. É overdose de novidade literária pra encher a prateleira e aquecer o espírito.
SERVIÇO

Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU
Abertura: 8/8/2011
Encerramento: 2/9/2011
Horário de funcionamento:
segunda, terça, quinta e sexta – das 9:00 às 19 horas
quarta-feira: das 9:00 às 20h:30min
Descontos: de 50 a 70%

Exemplos de livros com desconto:
Anota aí – de R$ 20,00 por R$ 10,00
Anatomia sistêmica – de R$ 27,00 por R$ 13,50
Farmacognosia – de R$ 96,00 por R$ 48,00
Introdução à Engenharia – de R$ 39,60 por R$ 19,80
Estatística aplicada às ciências sociais – de R$ 42,00 por R$ 21,00
Pensar/escrever o animal – de R$ 39,00 por R$ 19,50

Por Raquel Wandelli/ Jornalista na SeCArte/UFSC

Fones: 3721-9459 e 9911-0524.

Tags: EdUFSCFeira de Livros

Livros de conteúdo, beleza e preço baixo na volta às aulas

02/08/2011 17:53

Cerca de 800 títulos e dez mil exemplares terão descontos de 50 a 70%

Cerca de 800 títulos e dez mil exemplares terão descontos de 50 a 70% - Fotos: Paulo Noronha

Feira de Livros da Editora da UFSC volta repaginada, com lançamentos de grandes obras, novas coleções, belas edições e visita de autores

Uma nova série de grandes obras e autores, que incluem Cruz e Sousa e Carl Einstein, será lançada pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina em sua Feira de Livros, na volta às aulas deste segundo semestre. De 8 de agosto a 2 de setembro, das 9 às 19 horas, na Praça da Cidadania, em frente à Reitoria, a Editora vai oferecer uma diversidade de 800 títulos e dez mil exemplares de qualidade com descontos de 50 a 70% e direito a autógrafo de escritores locais e alguns autores nacionais, como Luís Costa Lima e Viveiros de Castro. A EdUFSC também vai lançar quatro novas coleções nas áreas de arquitetura, direito, artes visuais e obras de formação durante o evento, que a Secretaria de Cultura e Arte da UFSC pretende tornar um acontecimento cultural marcante na vida da cidade.

Embora tradicional, a Feira de Livros da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina/Liga de Editoras Universitárias chega à Praça da Cidadania completamente repaginada e mais atrativa, com estratégias de marketing como balões flutuantes e raios lazer à noite. Aberta aos alunos, professores, funcionários e leitores em geral, a feira também vai oferecer com descontos os últimos livros publicados pelas universidades que integram a Liga de Editoras Universitárias (LEU), que incluem a USP, Unicamp, UFMG, UFPA e UFSP. Através dessa parceria, iniciada na Feira do início do primeiro semestre, a EdUFSC pode oferecer à comunidade interna e externa os melhores títulos publicados no meio científico e acadêmico do País, todos igualmente com desconto.

Entre os lançamentos de produção própria da UFSC incluem-se três obras de impacto na Coleção Geral: Escritos de véspera, reunião de ensaios críticos literários de Luiz Costa Lima, O Pinheiro Brasileiro, de João Rodrigues Neto e a obra de referência ALERAtlas lingüístico e Etnográfico da Região Sul do Brasil, contendo as Cartas Fonéticas Morfossintáticas. Organizado por Walter Koch, Cléo Wilson e Mário Kassmann, o trabalho, publicado em dois volumes, traz uma contribuição fundamental para o estudo da variação lingüística nessa região. A obra será lançada na Feira a partir do dia 22 de agosto. Já o renomado botânico brasileiro João Rodrigues de Mattos faz um apaixonado apelo à sobrevivência da auracária em O Pinheiro Brasileiro. No exaustivo estudo sobre a araucária, sustenta sua importância simbólica, ecológica e econômica para o Sul do Brasil.

Em Escritos de véspera, Luiz Costa Lima, um dos mais importantes críticos do Brasil, discute as mudanças de paradigmas críticos na área dos estudos literários, destacando, particularmente, a passagem da abordagem estruturalista para a pós-estruturalista. Um dos artigos foi escrito em colaboração com o prestigiado antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, autor de Alma Selvagem. Ambos estarão na UFSC visitando a Feira em períodos diferentes: Eduardo Viveiros de Castro virá a convite do Curso de Antropologia para participar do colóquio internacional “Antropologia de Raposa” (de 8 a 11 de agosto) e Luiz Costa Lima participará, a convite da Pós-Graduação em Literatura, do “I Seminário dos Alunos de Pós-Graduação em Literatura da UFSC” (de 16 a 18 de agosto).


Cruz e Sousa e Carl Einstein

As novidades não terminam aí. Quatro novas coleções de produção própria serão apresentadas ao público durante a Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU: “Visuais”, com a colossal obra Negerplastik/Escultura Negra, de Carl Einstein; “Urbanismo e Arquitetura da Cidade”, voltada para a produção de pesquisadores locais e internacionais, com o livro Arquitetura, Urbanidade e Meio Ambiente, de Almir Francisco Reis; “Direito e Saúde”, em parceria com a Fundação José Arthur Boiteux (Funjab), com o livro De Defensivos a Agrotóxicos, de Maria Leonor Paes Cavalcanti Ferreira e a esperada coleção “Repertório”. A reedição de Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa, cuja publicação da UFSC, em 1997, estava esgotada há vários anos, inaugura esta última, Repertório, que vai publicar pequenos volumes clássicos de diferentes áreas das humanidades. “O motivo da coleção é ajudar o leitor a fazer uma biblioteca de textos básicos, a um custo bem baixo e com edição supercaprichada”, explica o diretor geral da Editora da UFSC, Sérgio Medeiros. Franklin Cascaes, Simões de Lopes Neto, Rodrigo de Haro e Michel Montaigne são os próximos dessa coleção de capa branca sobreposta e padrão gráfico elegante.

A edição brasileira inédita de Negerplastik/Escultura Negra, de Carl Einstein, traduzida por Inês Araújo e Fernando Scheibe (tradutor de Divagações, de Mallarmé), pela primeira vez em língua portuguesa, é outra contribuição aguardada no pensamento da arte. Em seu estudo clássico e paradigmático sobre a arte dos povos da África e da Oceania, o crítico alemão Carl Einstein provocou uma mudança definitiva na maneira ocidental de ver a arte dita “primeira” (ou primitiva).

Mais do que uma feira convencional, o evento servirá também para que o leitor tenha uma noção do padrão de livro universitário hoje em voga no Brasil, uma vez que títulos das melhores editoras universitárias estarão em exposição ao longo de todo o mês de agosto, lembra Medeiros. “Nosso papel como editora universitária é divulgar o melhor do conhecimento por meio da publicação de livros que possam ser comercializados a um preço bastante acessível, sem prejuízo da qualidade gráfica e editorial de cada volume”, pontua o coordenador da Feira Fernando Wolff. É overdose de novidade literária pra encher a prateleira e aquecer o espírito.


SERVIÇO

Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU
Abertura: 8/8/2011
Encerramento: 2/9/2011
Horário de funcionamento:
segunda, terça, quinta e sexta – das 9:00 às 19 horas
quarta-feira: das 9:00 às 20h:30min
Descontos: de 50 a 70%

(Exemplos de livros com desconto:)
Anota aí – de R$ 20,00 por R$ 10,00
Anatomia sistêmica – de R$ 27,00 por R$ 13,50
Farmacognosia – de R$ 96,00 por R$ 48,00
Introdução à Engenharia – de R$ 39,60 por R$ 19,80
Estatística aplicada às ciências sociais – de R$ 42,00 por R$ 21,00
Pensar/escrever o animal – de R$ 39,00 por R$ 19,50

Por Raquel Wandelli/ Jornalista na SeCArte/UFSC

Fones: 37219459 e 99110524

Tags: EdUFSCFeira de LivrosLiga de Editoras Universitárias

Lançamento do livro “Do jeito que você gosta”

25/05/2011 15:49

Na próxima terça-feira, dia 31 de maio, a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) lançará o livro “Do jeito que você gosta”, do original As you like it, de William Shakespeare, traduzido por Rafael Raffaelli. O evento será realizado às 18h30, no Espaço 1, bloco amarelo, CEART-UDESC.

Haverá uma leitura dramática de trechos da peça pela Traço CIA. de Teatro e, em seguida, palestra com o tradutor Rafael Raffaelli. A entrada é franca.

Apoio: Programa de Pós-Graduação em Teatro da UDESC

Outras informações pelo e-mail raffaelli.rafael@gmail.com.

Tags: Do jeito que você gostaEdUFSCRafael Raffaelli

Vencedor do Concurso Salim Miguel mistura história grande e miúda em romance

17/05/2011 18:34

Dez anos depois de publicar seu primeiro livro de poesias pela EdUFSC, Alckmar Luiz dos Santos recebe prêmio por romance das mãos do veterano Salim Miguel


Em uma cerimônia marcada pelo encontro entre velhos e novos escritores catarinenses, a Secretaria de Cultura e Arte e a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina divulgaram na segunda-feira à noite o resultado do concurso Salim Miguel de Romance. Ao que minha vida veio, terceiro romance do poeta, contista, ensaísta, escritor, pesquisador e professor de literatura da UFSC Alckmar Santos, foi o vencedor. Das mãos do homenageado, o laureado Salim Miguel, de 87 anos, Alckmar, 52 anos, recebeu o primeiro cumprimento pela vitória, que agradeceu com uma mensagem literária de Michel Montaigne: “Um leitor competente com frequência descobre nos escritos dos outros belezas e perfeições que eles mesmos não colocaram ou de que não eram conscientes”.

Mantido em sigilo absoluto até o instante da solenidade, o resultado foi divulgado pelo presidente da comissão julgadora, o professor de Literatura Carlos Eduardo Capella, que é também presidente do Conselho Editorial da EdUFSC e entregou para Salim Miguel o envelope  – aberto pelo escritor – onde constava apenas o nome da narrativa vencedora. Escolhido por unanimidade pelo júri formado pelos teóricos da literatura e professores Donaldo Schüller e Ana Luíza de Andrade, além do tradutor e ensaísta Marcelo Tápia, Alckmar concorreu entre outros 25 romances, entre eles autores já consagrados em Santa Catarina.

O romancista eleito foi saudado pelo reitor Alvaro Prata, que perdeu o pai no final de semana mas fez questão de prestigiar o evento, o vice-reitor Carlos Alberto Justus, a pró-reitora de Cultura e Arte Maria de Lourdes Borges, o diretor da Editora da UFSC Sérgio Medeiros e uma torcida de alunos seus integrantes do Núcleo de Pesquisa em Informática, Linguística e Literatura (Nupill), do qual é fundador e coordenador. No ano passado o Nupill comemorou 15 anos como o maior banco virtual de textos literários do Brasil. Ao cumprimentá-lo, Salim, revelou que também sua carreira foi impulsionada por um prêmio literário.

Apesar – ou além – da primeira formação em engenharia eletrônica pela Unicamp, em 1983, Alckmar Luiz dos Santos sempre atuou no campo das artes e da literatura. Mestre em Teoria Literária na Unicamp, é doutor em Etudes Littéraires, com orientação de Julia Kristeva, em Paris. Realizou um trabalho com Gilbertto Prado de poesia visual, com quem recebeu uma *Menção especial*, em 2000, no 7º Premio Nacional de Poesía Visual Joan Brossa. Em 2006, também na Espanha, num trabalho em equipe, coordenado por Francisco Marinho, ganhou o prêmio 2º Internacional “Ciutat de Vinaròs” de Literatura Digital na categoria de poesia digital, com a obra Palavrador.

Em poesia, publicou Retrato e percurso, pela EdUFSC; Meu tipo inesquecível, pela Editora Athanor; o poema digital publicado pelo Itaú Cultural intitulado Dos desconcertos da vida, filosoficamente considerada. É Autor de Rios imprestáveis, obra que lhe rendeu a premiação na categoria poesia do 1º Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, da Revista Cult, que teve como júri o os poetas Cláudio Willer, Wally Salomão e Nelson Ascher, e de Circenses, publicado pela Sete Letras.  Inaugurou-se na prosa com o romance São Lourenço, publicado pela editora digital RBL. Escreveu também o volume de ensaios intitulado Leituras de nós; Ciberespaço e literatura, publicado pelo Itaú Cultural, e foi co-organizador da obra Caminhos cruzados; Informática e Literatura, publicado pela EDUFSC em 2005. Como organizador publicou ainda Lugares textuais do romance, resultado de colóquio que inaugurou o primeiro ano do doutorado em Literatura da UFSC, em 1997. Nascido em Silveiras, no interior de São Paulo, Alckmar fala nesta entrevista como misturou memórias que compõem o que chama de sua “vida miúda”, como o testemunho do suicídio de um garoto de 17 anos e as histórias do avô, com fatos históricos que perfazem a “vida grande”, como a Segunda Guerra Mundial, cruzando as linhas da vida nas linhas da literatura.

Entrevista

1. Fale um pouco sobre o enredo, temática ou proposta do romance Ao que minha vida veio:

Meu primeiro romance, São Lourenço (cidade de Minas Gerais) nasceu de uma frase que eu me disse: “Se eu pudesse, eu voltaria a São Lourenço”. Inventei um personagem; para isso, inspirei-me um pouco na música de João Bosco, “As vitrines”, e comecei. Ao que minha vida veio nasceu há dois anos de um fato muito estranho: eu estava em BH na casa de um amigo e ouvi um estrondo. Era um adolescente que tinha se jogado no vão do 12º andar. A primeira cena do livro descreve a imagem do corpo caindo de uma pessoa. A partir dessa cena inicial, comecei a pensar na minha história e na história da minha região. O ritmo desse romance, o vocabulário, as imagens, tem tudo a ver com Silveiras, minha cidade natal que aparece na narrativa. Ao escrever, procurei reencontrar minha mãe terra e o meu pai país natal, em uma metonímia da própria história vivida no romance por um personagem-narrador que empreende uma saga para reconstruir sua história e descobrir quem é seu pai e sua mãe, porque sabe que escondem isso dele. Em meio à ficção enredei conhecimentos de alquimia que estudei quando fiz minha dissertação de mestrado sobre Guimarães Rosa. A alquimia está já no jogo com o nome do romance e inclusive por trás dessa ideia do deus limitado, que cria o mundo, mas não sabe o que vai fazer dele, numa espécie de magia limitada. O protagonista é, então, alguém que tem uma capacidade mágica de saber quase tudo dos outros, mas não nada de si mesmo. Junto à tentativa do narrador de reconstrução de sua história pessoal, há o esforço de reconstrução de fatos da história do Brasil, de modo que os eventos individuais se entrelaçam com os eventos históricos e gerais. Por exemplo, há uma passagem do cometa Halley, contada pelo meu avô, que ficou muito espantado ao ver voar aquela bolona com rabo no céu. É um evento individual, mas se emaranha a casos importantes para a minha região, como a revolução de 1932, quanto trago a cena dos aviões cariocas das forças federais, que bombardeavam Silveiras e eram chamados de vermelhinhos pelos habitantes. É historia que ouço ainda hoje de minha mãe. Ninguém conhecia avião, mas todos sabiam que dele se jogavam bombas. A história perpassa a segunda guerra mundial, quando o personagem desiludido, vai, como voluntário da FEB, lutar na Itália e usa imagens que tenho de memória desde criança, de ouvir sobre pessoas que perderam amigos na guerra ou de jovens que regressaram loucos.  O romance passa pelo  suicídio de Getúlio, em 54 e segue sempre cruzando a história miúda com a história grande, que é uma forma de dizer que uma é tão importante quanto a outra.

2. Há  no romance algo da sua experiência com cibercultura ou com a linguagem hipertextual?

A narrativa dá  muito salto, vai e volta, temporalmente falando. Utilizo um único recurso tecnológico, para borrar a leitura de uma frase enigmática que o personagem lê. Ao lê-la, ele está emocionado, chora e as lágrimas borram a tinta. Pra simular esse efeito sobre o papel, escrevi a frase no fotoshop e fiz o efeito de água turvando essa imagem, de modo que o leitor não consegue ler, a menos que tenha conhecimento de magia e de alquimia e possa mais ou menos adivinhar. De fato, o narrador está escrevendo e chorando em cima dessas letras tempo todo, é uma constante ao longo de toda a narrativa. Ao lado desses recursos, fiz uma pesquisa danada, inclusive “de campo”. Empreendi uma viagem a essa região de Minas Gerais e São Paulo, pelo Google Maps, atrás do personagem e do contexto onde ele viveu, examinando estradinhas, nomes dos bairros, de cidades, para nominar tudo com exatidão. E também fiz uma pesquisa histórica para poder descrever a parte em que ele vai para a Segunda Guerra. Fiz questão de descobri o nome do navio que levou os pracinhas para a Itália, bem como as cidades por onde passaram, onde combateram e outros elementos históricos que aparecem no romance.

3. Por que você  preferiu o formato tradicional para este seu romance?

A grande bobagem dos entusiastas das novidades tecnológicas é achar que estamos inventando um mundo novo a partir do nada; e a grande bobagem dos catastrofistas é achar que há um passado glorioso que não pode ser tocado (aquele sujeito que diz adorar cheiro de bolor dos sebos). O fato é que a cultura envelhece como a gente envelhece. Eu tenho todas as idades que eu já tive. Todas estão comigo, não abro mão de nenhum dia dos meus 52 anos de vida. A cultura tem que ser assim também: não podemos abrir mão de um grama da cultura dos assírios, babilônios, jônios, sumérios, mesopotâmicos, gregos, romanos, bizantinos, galego-portugueses etc. Abrir mão disso é abrir mão da humanidade. Para sermos contemporâneos, não podemos esquecer os passos anteriores da humanidade. Uma atual etapa da tecnologia incorpora todas as outras. É assim que, como disse, acho, a Fernanda Montenegro, cada ruga é uma medalha que eu ganhei na minha vida. Não quero  jogar fora. Da mesma forma, cada momento cultural da civilização é precioso. Agora estou estudando trovadorismo pra orientar a dissertação de um aluno, lendo coisas sobre Idade Média, filologia do latim ao português. E é claro que, mesmo indiretamente, isso pode ajudar na criação digital: se pensarmos, por exemplo, que Bacon, ao pintar um papa também pintado por Velásquez, mostra como este pode ser contemporâneo. O novo necessariamente incorpora o antigo, senão, não é novo, é só gaiatice.

4. Mas seu primeiro romance foi publicado em meio digital…

Sim, por uma editora de livros digitais, a RBL, do Luís Filipe Ribeiro, do Rio de Janeiro; mas foi em PDF. Não visava especificamente o meio eletrônico, mas, se coloco uma escrita verbal tradicional (que não tem porque ser jogada fora) na internet, posso usar vantagens das duas maneiras de publicar.

5. Diz-se que dificilmente um autor se desenvolve plenamente em gêneros distintos. No seu caso, você faz poesia e prosa. Como é conciliar isso?

O que faço no romance não é radicalmente distinto do que faço em poesia, nem pode ser. Escrevendo romance trabalho muito ritmo e uso artifícios da poesia. Tento pegar um ritmo de frase quando estou escrevendo e isso é tão importante quanto a história. Claro!, na minha poesia é um ritmo mais construído, mais de pedreiro que vai medindo, pesando, arquitetando. Na prosa, vai mais do modo como eu quero que seja ouvido aquilo que penso, é, digamos, uma fluidez com mais percalços, como rio cujo fluxo se agita com pedra no meio dele.  Quando escrevo romance, não planejo totalmente a história; nos poemas eu sempre penso na totalidade da obra, seja digital, seja em papel. Claro que muita coisa vai mudando. Nos três romances, eu saía navegando e não tinha ideia certa de aonde chegar. De um lado, gosto de brincar de me sentir um deus, de criar um universo, pessoas, relações entre elas, acontecimentos de toda ordem, mas começo com uma imagem, uma frase, daí associo um assunto e um problema de vida humana, mas não sei aonde vai acabar. O romancista constroi o mundo que ele quer com as relações que deseja. Porém, ignorando onde se vai chegar, ele fica como um deus muito mais grego que cristão, mais humano; assim, a gente fica mais próximo das pessoas, como as que se criam na narrativa.

6. O que significa ganhar o premio Salim Miguel Romance da sua universidade?

Gosto muito do Salim como intelectual. Não é qualquer um que ganha o Juca Pato. Aqui, como Silveiras, eu conheço muito bem, há certo provincianismo que impede de ver quem está de perto. Quando estive na mostra Cem anos de Pintura brasileira, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, vi cinco quadros do Martinho de Haro e dois do Rodrigo de Haro. No entanto, aqui ninguém registrou esse fato. Vejo pessoas falarem do Salim lá fora, mas não o vejo receber o mesmo destaque aqui. Li Nur na escuridão e gostei muito. Então, ganhar um prêmio com o nome dele foi muita alegria e um estímulo. De outro lado, eu já fiz parte de júri de concurso e todos eles têm um pouco de lotérico. Este romance, por exemplo, já havia submetido a um ou dois concursos e deu em nada. Outra coisa: queria deixar registrado que o pseudônimo Nacer Adjas homenageia o nome de um grande amigo cabil (etnia argelina), um fotógrafo talentoso, sensível, que falava árabe, francês, português, foi casado com uma brasileira, era amante e profundo conhecedor do futebol brasileiro… acima de tudo, um artista sensível e um ser humano magnífico; ele morreu há 11 anos, de um câncer fulminante, pouco antes de que eu chegasse a Paris para visitá-lo com goiabada de presente e tudo. Ele faz falta não só a mim, mas a todas as pessoas.

7. Você  acumula várias funções: professor, pesquisador, coordenador do Nupill. Como você encontra espaço e concentração para escrever romance e poesia? Como é seu processo de criação?

Você se esqueceu de dizer aí que não abro mão de cultivar o ócio, ver jogo de futebol… Como eu disse na divulgação do resultado, não é que eu tenho que escrever. O fato é que eu não conseguiria não escrever. É essencial para mim. É verdade que eu tenho um ritmo muito rápido. Acho que tenho um problema neurológico, congênito, faço tudo rápido demais. Sempre fui expulso de roda de samba em mesa de botequim porque adianto o canto, não consigo batucar e cantar ao mesmo tempo, tenho um ritmo rápido demais e descontrolado. E estou sempre querendo concluir uma obra para começar a próxima. O que eu procuro fazer é me organizar, fazer agenda e delegar competências. Planejando bem o tempo, a gente consegue fazer tudo, ou quase tudo. Na criação, percebo ou provoco o impulso inicial de escrever, planejo a realização dessa escrita e fico de modo disciplinado seguindo o esquema que faço.

8. Você  tem outras obras em andamento?

Tenho seis obras concluídas. A atual, ainda sendo escrita, eu chamo de romance, mas é feita de versos rigorosamente medidos, com ritmo mais modulado em que os versos variam de tamanho, de melodia. É, na verdade, um poema narrativo, em seis episódios. O personagem está velho e a família espera que morra pra pegar a herança. Então ele tenta recuperar os anos e voltar ao começo da vida. E aí a história é uma tentativa desse personagem de recontar sua história para mudá-la. Também estou procurando um programador para concluir outra obra,Máquina de escancarar janelas: são poemas verbais acompanharão um dispositivo que bolei para o Windows, para gerar interferências dos poemas (sempre curtos) na leitura dos usuários, de modo a se mesclar ao que o leitor está lendo. Uma parte são hai kais alegres, como: “Copacabana: / a lua tricota a chuva / e brota um ikebana” e há parte mais dolorosas, em que falo da morte do meu pai.  Tenho ainda um livro de poemas digitais para ser lido em HTML que chamo de Pequeno jornal das notícias diárias desimportantes. Está pronto, falta acabar pouca coisa da programação. Mas minha decisão é colocar tudo que produzi em um sítio (site) na internet, que é o meio que garante muito mais a circulação e a leitura, do que o circuito da literatura em papel.

Entrevista a Raquel Wandelli/ Assessora de comunicação da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC


Trecho inicial do romance Ao que minha vida veio,
de Alckmar Luiz dos Santos

Bem lá  do alto

Tio Eli… deixou um bilhete: Viva o amor.

E pulou do ponto mais alto a que pôde chegar da sapucaieira maior das três que por lá  havia. Depois de ter dado e feito, durante a subida, seus dois ou três escorregões no limo verde-encardido dos galhos, que quase anteciparam sua queda no encurtando a altura do salto e dando um esticado assim na vida sua dele ainda por mais um tempo — que daí teria caído ele, Tio, de altura nada de coisa nenhuma condizente com tragédias e gestos desse jaez —. E foi assim que, sem mais escorregar nada não e com bem menos de dificuldade, ele apegou-se um só instantinho àquele e último galho, antes de se despenhar de lá de cima e chegar no ao-chão a bordo de um baque seco cheio de ecos. Que tapa dado em cara de filho e queda de suicida nunca param de ecoar. Ficam atroando ainda depois de terem silenciado as carpideiras todas, e desaparecido tudo quanto é soluço fingido e não, e mesmo sumidos de-vez de-feita os últimos estrídulos da marcha fúnebre tocada que era sempre pela Corporação Musical Mamede de Campos, que acompanhava todo enterro de escol tido e havido por lá.

De meu Tio e de sua queda, atestei que ele se havia despenhado da sapucaieira sem mais palavras dizer e deixar do que aquele curto estrito bilhete, mas estaria incorrendo em erro e omissão, grossos, pois que nada! de ele ter pulado de pirambeira de morro nem de pedra coisa alguma!, mas de árvore, sim! E além de tudo o mais, o curto bilhete, esse, não foi a única coisa que disse e se disse a respeito desses eventos todos, como se verá com o tempo e com ainda a zelosa paciência de se ir descascando as camadas todas de gentes e de histórias que habitam esses miúdos gestos com que vamos no-sempre nos rascunhando, desde o quando em que nascemos. E se alguns por aqui já se perguntam Por quê?!, e outros acrescentam Como?!, e ainda alguns atrevem um De que jeito?!, o máximo que se pode então e bem dizer é que toda pergunta só ensina muito depois de ser esquecida, mesmo porque o futuro só dá resposta ao que parece nunca ter sido perguntado!

Tirantes os nadas outros minguados sem importância, o máximo que se pode afirmar é que era no ano de 1932, informação com que ninguém daria no tal e dito bilhete Viva o Amor!, pois que ele não trazia data nem hora, nem local nem circunstâncias nenhumas. Exíguo de meios e de maneiras como era e foi, econômico no cerne seu, mas sempre muito de eloqüente nas molduras, meu Tio parece ter decidido que, daí em diante, as pessoas perceberiam sim que bilhete de suicida é de todo tempo e lugar; que, no aliás, bilhete de suicida sempre inaugura nova época e inédito local, refunda o mundo inteiro todo em cima de alguma lacuna, bigue-bangue ao revés que é, e que tal gênero de missiva não precisa e nem deve de ter aparência de ofício encaminhado a alguma repartição coisa-nenhuma. Corria então o ano de 1932, colorido e agitado pelos céleres aeroplanos do governo, federal, que, de quando em vez, traçavam linhazinhas vermelhas e barulhentas no azul ligeiramente algodoal do céu — como ocorre habitualmente nos maios, em Silveiras — e punham em polvorosa completa a molecada, pouco usual que era e ainda estava a algazarras de máquinas, a estrépitos de hélices, e ainda menos afeita a velocidades tão rápidas.

Tags: EdUFSCliteratura

Animal que habita o homem é tema de livro a ser lançado pela Editora da UFSC

14/05/2011 12:35

Pensar e escrever o animal, que será lançado no dia 16, no aniversário da Editora da UFSC, reúne pela primeira vez no Brasil o pensamento que propõe repensar o conceito de humano a partir da sua relação com outras espécies


Seja na metamorfose de um jovem em inseto ou no profundo mergulho interior de uma dona de casa ao encarar uma barata no armário, as artes e a literatura sempre tentaram esgarçar as grades com as quais a ciência e o comportamento antropocêntricos separam os homens das outras espécies. Meninos-pássaros, homem-jangada, esposas vegetais, mulher-pantera, pergaminho humano, matrix, avatares, indivíduos biônicos, água viva: o homem sempre experimentou existências híbridas no plano do imaginário, frutos do contágio e da contaminação.

Mesmo a ficção científica quando zoofóbica ou tecnofóbica manteve-se como linha de fuga, linguagem-refúgio para a existência de um ser além de classificações, irredutível, neutro, inumano. E seria preciso aludir ainda às lendas indígenas, à cultura oriental e à religiosidade pagã, onde o humano se pluraliza em outras formas de vida, desfilando guerreiros transformados em lua, noivas em nenúfar. É nesses lugares privilegiados de acesso ao imaginário e de projeção de mundos possíveis que as jaulas podem se abrir para que o humano encontre a natureza e a fera livre das amarras da pretensa racionalidade que sustenta a supremacia e a arrogância da espécie desde a idade média.

Essas experimentações do imaginário finalmente ecoaram para a ciência. Só no século XX e sobretudo neste século, quando as fronteiras entre o animal, o humano e a máquina foram mais seriamente tensionadas, parte emergente dela decidiu colocar em xeque os parâmetros em torno do conceito de humano com base no que supunha saber sobre os animais e outras espécies. Fruto de uma parceria entre a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina e a Fapemig, a obra Pensar/Escrever o Animal; ensaios de zoopoética e biopolítica vem a público com esse propósito. O lançamento em Florianópolis está marcado para segunda-feira (16), às 17 horas, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, como parte das comemorações dos 30 anos da editora promovidas pela Secretaria de Cultura e Arte. Organizada pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Esther Maciel, a obra é a primeira publicação no Brasil que expressa o pensamento contemporâneo multidisciplinar em torno de uma das questões mais emergentes da atualidade: a superação do antropocentrismo.

Lançado na última semana com grande impacto em Belo Horizonte, o compêndio de 421 páginas reexamina a relação do homem com outras formas de vida e o impacto dessa relação na própria concepção clássica de ser humano. Em torno dessa temática gravitam 20 ensaios inéditos de grandes especialistas internacionais traduzidos para o português, como  Dominique Lestel e Donna Haraway, que fecha a obra empreendendo uma criativa e instigante conversa com Sandra Azeredo, além de textos de ensaístas brasileiros, como  Benedito Nunes, um dos maiores estudiosos da literatura moderna brasileira,  Márcio Selligmann-Silva e Raúl Antelo (UFSC). Inscritos na confluência entre os chamados “estudos animais” e diversas outras áreas, como filosofia, ontologia, religião, literatura, artes, etologia, biologia, arqueologia, antropologia, zoologia, biopolítica e estudos de gênero, os ensaios abordam pesquisas científicas recentes e leituras diferenciadas na perspectiva utópica (ideal?) de uma ética do inumano ou do pós-humano, que seria um mundo sem gêneros.

No artigo de abertura, “O animal e o primitivo: os outros de nossa cultura”, Benedito Nunes cria para o tratamento dos animais a alegoria de “prisioneiros de guerra”, de cuja vida o soberano pode dispor. Afirma que o paradigma cartesiano, pelo qual o animal é “um corpo sem alma” ou simples mecanismo a serviço do homem, tem justificado o sofrimento de inúmeras espécies. O tratamento “humano” ignora que o nosso “outro mais estranho” também é portador de sistema nervoso e de estímulos dolorosos. Nunes sustenta que a libertação do animal significa a libertação do homem da crueldade e defende que o apego atual aos artefatos tecnológicos canaliza o vínculo afetivo recalcado com espécies hoje inferiorizadas, mas amadas e cultuadas por povos ancestrais e ditos primitivos. Os ensaios fazem alusão a comunidades híbridas, onde homens e animais convivem em condições de igualdade. Ainda mais impactante e surpreendente é o ensaio de Dominique Lestel, que despretensiosamente vai pondo abaixo tudo o que compreendemos como característico e específico do homem (a linguagem, o artefato, a cooperação), propondo estabelecer o estatuto do homem mais pelas semelhanças com outras formas de vida do que pelos seus contrastes.

O movimento de animalização do ser humano na literatura e nas artes não é atribuído por esses filósofos à inferiorização metafórica dos animais, nem a uma mera apologia da natureza, mas antes a uma necessidade visceral e recalcada de libertar o próprio homem das amarras de ser homem oprimindo as outras espécies. E o faz ruminar no inconsciente os ecos da maldade antropocêntica, como no poema de Eucanaã Ferraz, analisado pela autora Esther Maciel: “Que nos pergunta o boi/ desde o silêncio e sobre este/ seu estrume, flor extrema?/Que nos pergunta em sua/ Ronda infinita desde/ O dorso de um vaso/ Sua pergunta redonda desde/O afresco em ruínas desabando/ […] Interroga/ sobre nós talvez, como se dele fôramos/ o seu mistério, seu tempo, seu espaço,/ cerne hostil de sua compreensão/ do mundo e de si mesmo”.

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Maria Esther: "Amar os animais é um aprendizado de humanidade"

“No futuro não conheceremos mais os animais e haverá menos vida”

Entrevista: Maria Esther Maciel

Da visão antropocêntrica e especista do mundo advêm todas as formas de opressão, acreditam os pensadores dos chamados Estudos Animais: do homem contra as demais espécies, do homem contra a natureza, os demais gêneros, as raça e classes subalternas, enfim, do homem contra os seus “outros”. Professora de literatura na Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Esther Maciel concedeu esta entrevista sobre a obra Pensar/escrever o animal, ensaios de zoopoéticas e biopolítica, publicada pela UFSC. Autora, entre outras obras, de O animal escrito: um olhar sobre a zooliteratura contemporânea, ela acredita que no futuro não haverá mais animais em sua forma plena de existência. Esse desaparecimento implica em todas as conseqüências de perda de vida e oportunidade de o homem estar diante do seu outro absoluto. “Haverá uma destruição em larga escala das espécies selvagens. As futuras gerações só conhecerão animais de estimação excessivamente humanizados e domesticados ou ainda animais para consumo, com vida curta e reproduzidos nas piores condições de sobrevivência”.

1 – Como você situa dentro do pensamento contemporâneo o movimento inserido nessa obra que se propõe a refletir sobre as questões da animalidade?

Ela parte de duas instâncias:  de um lado a reflexão sobre  animais e a animalidade, de outro  as relações entre humanos e outras formas de vidas. Esse tema tem estado em evidência em vários campos do conhecimento, sobretudo, na Europa, América do Norte e Austrália, onde é uma questão muito viva. Envolve estudos na área de zoologia, filosofia, literatura, artes, antropologia, ecologia, compondo um novo campo multidisciplinar chamado Estudos Animais. Esse livro é uma primeira tentativa de colaborar para a construção desse campo de estudos no Brasil. É o primeiro livro no país que busca essa abordagem transdisciplinar da questão animal dentro do pensamento contemporâneo.


2 – Quem são os precursores desse pensamento?

Derrida, com seus antológicos escritos sobre o animal. As abordagens biopolítica de Agamben, com O aberto, e bioética de Peter Singer, autor de A Libertação animal; Deleuze, com o conceito de devir-animal; Foucault ao investigar a relação entre animalidade e loucura; Bataille e a exploração do erotismo, Donna Haraway, com o conceito de “companion species” enfim, autores de diversas áreas que realizam estudos importantes sobre animalidade e as relações entre humano e animal ajudam a compor essa crítica na direção de um pensamento pós-humano.


3 – O que estaria no âmago do antropocentrismo?

Trata-se de um sentimento de soberania e superioridade humana, que leva à inferiorização das demais espécies, promovendo a associação dos “outros humanos” aos “outros animais”. O antropocentrismo hierarquiza e tiraniza por sua potência não só as espécies diferentes, mas os próprios humanos, subjugando os que são tidos como inferiores e por isso podem ser mortos. O poder soberano delibera sobre a vida e a morte desses grupos de pessoas relegadas ao lugar de prisioneiros de guerra, como fez o nazismo, como faz o imperialismo, ao anular esses seres humanos associando-os aos animais. Em síntese, a maneira como o homem soberano trata os animais, na qual tudo é permitido, é transposta para as relações humanas nesse exercício de poder em que se pode dispor da vida do outro e determiná-la.


4 – O que há de novo nessa retomada da crítica ao antropocentrismo e à racionalidade humana?

Pela primeira vez estamos nos deixando perturbar pela presença do animal.  Nessa “reviravolta animal”, estamos deixando que surja esse outro do próprio homem, que foi excluído, desprezado, em nome da máquina antropocêntrica. O animal volta como referência para se repensar o conceito de humano e as relações entre humanos e não-humanos.


5 – Aliás, a questão da animalidade ganhou impacto quando o filósofo francês Jacques Derrida  publicou O animal que eu sou, partindo da perturbação pessoal que lhe causava o olhar de seu gato e chamando atenção para o fato emblemático de que até então a filosofia ocidental nunca havia refletido sobre como pode o animal olhar o homem…

Derrida faz uma crítica radical a uma linhagem da filosofia em que se inscrevem Aristóteles, Descartes, Heidegger, Levinas, dentre outros, que analisam o homem partindo de um ponto de vista antropocêntrico e definindo os chamados “próprios do homem”, ou seja, as propriedades específicas dos humanos em relação aos outros animais. Derrida fala da importância dessa questão para a filosofia contemporânea e, a partir de um outro olhar, busca desestabilizar um conceito clássico de humanismo.


6 – Mas afinal, porque a humanidade precisa pensar sua animalidade?

Aproximar-se do animal é se tornar mais animal. Amar os animais é um aprendizado de  humanidade. O homem pode se pluralizar com essa relação. É a forma mais radical de alteridade. Recuperar a animalidade é o sentido de recuperação do humano, porque o animal não se dissocia da humanidade.  Há certa necessidade atávica de recuperar uma animalidade perdida.


7 – E como você vê  a emergência política dessa temática para a sociedade como um todo?

De um lado, há uma questão contextual concreta, relacionada às grandes catástrofes ecológicas a despertarem a consciência em relação à natureza e ao equilíbrio entre todas as formas de vida. Por outro, a própria crise do conceito de razão como elemento dissociado, diferenciador próprio do humano, capaz de dar a ele o poder sobre as demais espécies. Estamos vivendo uma crise da filosofia, da maneira de pensar nosso ser e estar no mundo em relação ao que nos cerca. Trata-se de reconfigurar o próprio estatuto do humano.


8 – Em síntese, quando e como a ciência estabeleceu a cisão entre homens e animais?

É difícil dizer, porque animalidade não é algo que se possa definir com precisão.  A cisão se deu muito com o triunfo da razão cartesiana, que legitimou a superioridade humana e propiciou as relações de domínio dos homens sobre demais viventes. Essa cisão deixou o humano desprovido de algo que é inerente à nossa condição animal e pode potencializar nossa relação com o outro, os outros. Na verdade, o ser humano não tem ainda a consciência de que faz parte de uma comunidade híbrida inter-espécies. Essa consciência passa pelas questões ecológicas, mas também pela crise da idéia de humano em função das novas tecnologias, da vida artificial, das próteses que funcionam como extensões do corpo e provocam uma crise no conceito de humano enquanto espécie separada das outras formas de vida e mesmo das coisas e dos artefatos tecnológicos.


9 – Em grande medida, tudo o que a ciência definiu sobre o homem o fez em contraste ao que pressupõe como suas vantagens sobre o animal. Mas nós sabemos quem é o animal?

Somos totalmente ignorantes em relação ao animal, que é um estranho por excelência, pois como imaginar o que o animal sente, pensa ou é? Não há linguagem comum que permita esse conhecimento. Os estudos da animalidade estão atentos às descobertas recentes da etologia sobre as qualidades dos seres não humanos em termos de inteligência, de sensibilidade, de atributos que eram tidos como humanos. Hoje esses estudos de comportamento do animal têm revelado propriedades impressionantes nos animais.


10 – Inclusive no campo da linguagem, que é um limite demarcado como o que distingue o humano por excelência?

Sim, há um campo exploratório pensando o animal também como um ser de linguagem. É o campo da zoosemiótica que está em expansão no leste europeu com imbricações na lingüística e na semiótica.


11 – A ciência e o pensamento cartesiano ocidental se sustentam na distinção do humano, mas a literatura, as artes, as culturas pagãs e primitivas nunca se restringiram a essa prisão do homem como um ser absoluto que domina o mundo. Todos são povoados por personagens e figuras míticas que experimentam formas híbridas entre humanos, animais, vegetais, máquinas…

Sim, inclusive através da literatura é possível traçar a história do animal e de sua relação com o homem. Desde as fábulas de Esopo, desde os gregos antigos, os animais aparecem na literatura de diferentes maneiras: antropormofizados, alegorizados, metaforizados ou como personagens merecedores de consideração enquanto outros que sentem, sofrem e compartilham nosso espaço no mundo. Em geral, a literatura ficou muito voltada para a metáfora pejorativa ou fantástica do animal. O animal, nesse caso, sempre usado como metáfora do humano, como ponto de partida para um projeto humano e o homem sempre no foco. Desde os gregos, passando pela idade média, o animal literário foi colocado a serviço do humano. A mudança de parâmetro se deu na idade moderna, em função da teoria darwiniana que questiona o criacionismo e marca as origens animais do homem. Depois, os avanços da ciência do animal fizeram com que ele aparecesse em sua autonomia e relevância enquanto ser vivo (e não apenas como primitivo do homem). Surge também na literatura uma tentativa de exercitar, por vias poéticas e ficcionais, a animalidade.


12 – Mas paralelamente há  um movimento de exclusão e demonização da animalidade nos séculos XVIII e XIX…

De fato, isso tem a ver com uma mentalidade religiosa muito puritana de sacralização da espécie humana. O catolicismo oficial contribuiu muito para a renegação do animal e para a fixação desse estigma que o relega à inferioridade, violência, irracionalidade, loucura, sexualidade, perversão. Os animais são os que não têm alma. Esse especismo religioso teve repercussão simbólica na literatura com o surgimento de híbridos entre formas humanas e animais. Também o moralismo puritanista do século XIX propiciou a emergência dessas bestas na literatura, revelando uma animalidade recalcada, que vem do imaginário como monstruosa e ameaçadora. O que, na verdade, é um retorno a um momento da idade média, em que a repressão  à animalidade e aos mitos pagãos provocou essa composição ameaçadora e recalcada do animal. Hoje os vampiros e os lobisomens retornaram à cena na ficção literária e cinematográfica, mas esvaziadas de sua animalidade.


13 – Sim, são formas híbridas domesticadas, controladas, que fazem sucesso pelo seu aspecto bizarro, mas não abalam o antropocentrismo… Muito diferente da experiência perturbadora que vivenciamos, por exemplo, com a leitura de Paixão segundo G.H, de Clarice Lispector…

Ocorre que a partir de Darwin, de uma série de mudanças de paradigmas e questionamentos da própria ciência e da razão, houve uma tentativa de recuperar a animalidade de forma menos agressiva.  Aí temos Kafka e Virginia Woolf, que são o pilar da alteridade animal na literatura universal. E temos Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, que nos mergulham no mundo animal sob todas as perspectivas, desde a ênfase às possibilidades de vínculos afetivos, passando pela crítica ao antropocentrismo até o exercício propriamente dito da animalidade, com personagens que fazem o trânsito para a condição animal.


14 – Você acredita que um dia olharemos para trás e pensaremos na relação predatória das outras espécies com a vergonha e a perplexidade que hoje temos ao examinar crimes naturalizados no passado, como a escravidão dos negros pelo ocidente?

Acho uma expectativa um pouco utópica. Infelizmente minha expectativa é que em breve não haverá  mais animal enquanto o outro que proporciona uma experiência radical de alteridade. Os que vão persistir são os do zoológico e os produzidos para consumo de alimentos, numa reprodução em série e cruel, dentro do pior do sistema capitalista. Acredito que, de um lado, haverá uma destruição avassaladora da vida animal selvagem e livre, em paralelo à humanização excessiva dos animais de estimação e, por outro, essa produção massiva de viventes em condições bárbaras, seres de vida curta e programada, nascidos para serem mortos deliberadamente.


15 – E qual a conseqüência para a humanidade do desaparecimento dessa condição mais plena do animal com o desafio e o mistério que oferece?

Se os animais desaparecem, o mundo perde vida e o homem perde a oportunidade de aprender o que é  esse outro e assim de conhecer a si mesmo e as suas potencialidades.

Por Raquel Wandelli/ Jornalista na SeCArte

Matéria publicada no Diário Catarinense

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Editora lança nesta segunda 65 livros e divulga resultado de concurso de romance

Tags: EdUFSC

Editora lança nesta segunda 65 livros e divulga resultado de concurso de romance

13/05/2011 10:15

Um grande evento literário marcará as comemorações dos 30 anos de fundação da Editora da UFSC e um ano de virada na política gráfica e editorial que a projetou entre as melhores editoras universitárias do país. Em alusão a essas conquistas, a Secretaria de Cultura e Arte da UFSC promove, na próxima segunda-feira, 16 de maio, às 17 horas, na sala Aroeira do Centro de Cultura e Eventos, o lançamento coletivo: “A Editora da UFSC no século XXI”, que trará a publico 65 obras de grande relevância cultural. No mesmo evento, a Editora vai divulgar o nome do vencedor do Concurso Salim Miguel de Romance, o único no gênero hoje em Santa Catarina.

Para a tarde coletiva de autógrafos foram convidadas todas as pessoas envolvidas na produção intelectual da nova safra da Editora, o que inclui mais de 350 nomes, entre ensaístas, organizadores, escritores e tradutores que assinam 65 títulos publicados em 2010 e 2011. “São livros científicos, técnicos, ensaísticos e literários nas mais diversas áreas, que expressam essa mudança no projeto estético e editorial, caracterizada pela publicação de obras de impacto na cultura contemporânea”, explica a secretária de Cultura e Arte da UFSC, Maria de Lourdes Borges.  Depois da divulgação do vencedor do concurso haverá coquetel com tarde autógrafos.

Entre os lançamentos recém-saídos do prelo, o diretor da EduFSC, Sérgio Medeiros, destaca a obra Pensar/Escrever o Animal, um compêndio de 421 páginas que trata de uma das questões mais emergentes do pensamento contemporâneo: a superação da perspectiva antropocêntrica. Fruto de uma parceria com a Fapemig, de Minas Gerais, o livro é a primeira obra publicada no Brasil expressando o pensamento interdisciplinar sobre a relação do homem com outras formas de vida e sobre o impacto dessa relação na própria concepção clássica de ser humano.

Organizado por Maria Esther Maciel e lançado na última semana com grande impacto em Belo Horizonte, Pensar/Escrever o Animal reúne 20 ensaios inéditos, traduzidos para o português, de grandes especialistas internacionais, como Dominique Lestel e Donna Haraway, além de textos de ensaístas brasileiros, como Benedito Nunes, um dos maiores estudiosos da literatura moderna brasileira, Márcio Selligmann-Silva e Raúl Antelo. Os ensaios confluem pesquisas na área da filosofia, literatura, artes, etologia, biologia, arqueologia, zoologia, biopolítica, estudos de gênero, psicologia para discutir as tensões nas fronteiras entre o animal, o humano, a máquina e o artefato na direção de uma ética do inumano ou do pós-humano.

Obras locais e universais

Criada em 1980, a Editora da UFSC tem mais de mil títulos no mercado e publica, em média, 50 livros por ano. Reconhecida pela excelência internacional dos seus títulos, é hoje uma das grandes editoras universitárias do país. Destaca-se também pelo cuidado e rigor de suas edições, além de imprimir formatos inovadores, como livro-estante e caixa-livro. O novo padrão gráfico prioriza o uso de papel pólen e se caracteriza pela apresentação de capas, texturas, cores e ilustrações de elegância estética. Merecedores de resenhas, artigos e indicações de leituras dos principais veículos de cultural do país, os lançamentos impactantes de 2010 e 2011 estão expostos no site e nas vitrines da Livraria Cultura e distribuídos para as principais livrarias do território nacional.

Entre suas mais recentes publicações estão traduções de obras inéditas em língua portuguesa de autores como Mallarmé, Evaristo Carriego, Franz Kafka, Giorgio Agamben e Pierre Bourdieu (no prelo). Também lançou ensaios inéditos no Brasil de Gonçalo Tavares e traduções comentadas da dramaturgia de Shakespeare. Através da aquisição de direitos autorais ou da parceria com outras instituições, lançou obras exclusivas de Linda Hutcheon, Paul Claval, Miguel do Vale de Almeida, Luiz da Costa Lima, Luc-Nancy e Judith Butler (os três últimos no prelo).

Com o Instituto Itaú Cultural reuniu e editou os textos críticos do cineasta catarinense Rogério Sganzerla e prepara a publicação do romance de Glauber Rocha. Para incentivar a produção literária em Santa Catarina, lançou em 2010 o Concurso Romance Salim Miguel e já prepara os concursos para livros de conto, poesia, de roteiro e dramaturgia para os próximos anos. Muita expectativa gira em torno do nome do romancista catarinense que levará o prêmio entre 28 escritores inscritos, muitos autores já consagrados.

A editora traz ao leitor o melhor da produção científica, tecnológica e cultural da UFSC, através de séries como a Didática, Geral, Nutrição e Ética e da publicação dos grandes escritores catarinenses de todas as épocas, como Silveira de Souza, Cruz e Sousa, Rodrigo de Haro, Franklin Cascaes (ambos no prelo). É associada à Liga de Editoras Universitárias, formada pela EdUSP, Unicamp, EdUFPA, EdUNB, EdUFMG e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Há dois anos, os livros da EdUFSC podem ser adquiridos pela livraria virtual www.edufsc.ufsc.br

Raquel Wandelli – assessora de comunicação da SeCArte/UFSC / raquelwandelli@yahoo.com.brraquelwandelli@reitoria.ufsc.br

Fones: 37219459 e 99110524 / www.secarte.ufsc.brwww.ufsc.br

Tags: concurso de romanceEdUFSClançamento 65 livros

Editora lança 65 livros e divulga resultado de concurso de romance

10/05/2011 08:04

Um grande evento literário marcará as comemorações dos 30 anos de fundação da Editora da UFSC e um ano de virada na política gráfica e editorial que a projetou entre as melhores editoras universitárias do país. Em alusão a essas conquistas, a Secretaria de Cultura e Arte da UFSC promove, na próxima segunda-feira, 16 de maio, às 17 horas, na sala Aroeira do Centro de Cultura e Eventos, o lançamento coletivo: “A Editora da UFSC no século XXI”, que trará a publico 65 obras de grande relevância cultural. No mesmo evento, a Editora vai divulgar o nome do vencedor do Concurso Salim Miguel de Romance, o único no gênero hoje em Santa Catarina.

Para a tarde coletiva de autógrafos foram convidadas todas as pessoas envolvidas na produção intelectual da nova safra da Editora, o que inclui mais de 350 nomes, entre ensaístas, organizadores, escritores e tradutores que assinam 65 títulos publicados em 2010 e 2011. “São livros científicos, técnicos, ensaísticos e literários nas mais diversas áreas, que expressam essa mudança no projeto estético e editorial, caracterizada pela publicação de obras de impacto na cultura contemporânea”, explica a secretária de Cultura e Arte da UFSC, Maria de Lourdes Borges.  Depois da divulgação do vencedor do concurso haverá coquetel com tarde autógrafos.

Entre os lançamentos recém-saídos do prelo, o diretor da EduFSC, Sérgio Medeiros, destaca a obra Pensar/Escrever o Animal, um compêndio de 421 páginas que trata de uma das questões mais emergentes do pensamento contemporâneo: a superação da perspectiva antropocêntrica. Fruto de uma parceria com a Fapemig, de Minas Gerais, o livro é a primeira obra publicada no Brasil expressando o pensamento interdisciplinar sobre a relação do homem com outras formas de vida e sobre o impacto dessa relação na própria concepção clássica de ser humano.

Organizado por Maria Esther Maciel e lançado na última semana com grande impacto em Belo Horizonte, Pensar/Escrever o Animal reúne 20 ensaios inéditos, traduzidos para o português, de grandes especialistas internacionais, como Dominique Lestel e Donna Haraway, além de textos de ensaístas brasileiros, como Benedito Nunes, um dos maiores estudiosos da literatura moderna brasileira, Márcio Selligmann-Silva e Raúl Antelo. Os ensaios confluem pesquisas na área da filosofia, literatura, artes, etologia, biologia, arqueologia, zoologia, biopolítica, estudos de gênero, psicologia para discutir as tensões nas fronteiras entre o animal, o humano, a máquina e o artefato na direção de uma ética do inumano ou do pós-humano.

Obras locais e universais

Criada em 1980, a Editora da UFSC tem mais de mil títulos no mercado e publica, em média, 50 livros por ano. Reconhecida pela excelência internacional dos seus títulos, é hoje uma das grandes editoras universitárias do país. Destaca-se também pelo cuidado e rigor de suas edições, além de imprimir formatos inovadores, como livro-estante e caixa-livro. O novo padrão gráfico prioriza o uso de papel pólen e se caracteriza pela apresentação de capas, texturas, cores e ilustrações de elegância estética. Merecedores de resenhas, artigos e indicações de leituras dos principais veículos de cultural do país, os lançamentos impactantes de 2010 e 2011 estão expostos no site e nas vitrines da Livraria Cultura e distribuídos para as principais livrarias do território nacional.

Entre suas mais recentes publicações estão traduções de obras inéditas em língua portuguesa de autores como Mallarmé, Evaristo Carriego, Franz Kafka, Giorgio Agamben e Pierre Bourdieu (no prelo). Também lançou ensaios inéditos no Brasil de Gonçalo Tavares e traduções comentadas da dramaturgia de Shakespeare. Através da aquisição de direitos autorais ou da parceria com outras instituições, lançou obras exclusivas de Linda Hutcheon, Paul Claval, Miguel do Vale de Almeida, Luiz da Costa Lima, Luc-Nancy e Judith Butler (os três últimos no prelo).

Com o Instituto Itaú Cultural reuniu e editou os textos críticos do cineasta catarinense Rogério Sganzerla e prepara a publicação do romance de Glauber Rocha. Para incentivar a produção literária em Santa Catarina, lançou em 2010 o Concurso Romance Salim Miguel e já prepara os concursos para livros de conto, poesia, de roteiro e dramaturgia para os próximos anos. Muita expectativa gira em torno do nome do romancista catarinense que levará o prêmio entre 28 escritores inscritos, muitos autores já consagrados.

A editora traz ao leitor o melhor da produção científica, tecnológica e cultural da UFSC, através de séries como a Didática, Geral, Nutrição e Ética e da publicação dos grandes escritores catarinenses de todas as épocas, como Silveira de Souza, Cruz e Sousa, Rodrigo de Haro, Franklin Cascaes (ambos no prelo). É associada à Liga de Editoras Universitárias, formada pela EdUSP, Unicamp, EdUFPA, EdUNB, EdUFMG e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Há dois anos, os livros da EdUFSC podem ser adquiridos pela livraria virtual www.edufsc.ufsc.br

Raquel Wandelli – assessora de comunicação da SeCArte/UFSC / raquelwandelli@yahoo.com.br e raquelwandelli@reitoria.ufsc.br

Fones: 37219459 e 99110524 / www.secarte.ufsc.br e www.ufsc.br

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Crítico destaca contribuição da Editora da UFSC ao desenvolvimento nacional

07/04/2011 12:09

Em artigo sobre o papel das editoras universitárias, publicado no jornal O Globo do dia 2 de abril, o crítico literário Luiz Costa Lima, um dos principais intelectuais brasileiros da atualidade, destacou a contribuição das novas publicações da Editora da UFSC para o engrandecimento da pesquisa nacional. No artigo intitulado “Crescendo sem educação”, em que se refere à importância das editoras universitárias nos Estados Unidos, Lima inclui a EdUFSC no rol das editoras universitárias de peso que participam do desenvolvimento da inteligência nacional com publicações de qualidade.

“O número é tão pequeno que foi ante meu próprio espanto que recentemente descobri que àquelas poucas deveria se reunir pelo menos mais uma, a da Universidade de Santa Catarina, por onde saíram em 2010 uma excelente coletânea de textos em prosa de um autor difícil como Mallarmé (Divagações, tradução e apresentação de Fernando Scheibe) e, já neste começo de ano, um livro que combina um ensaio pouco conhecido de Giorgio Agamben sobre o poeta italiano Giorgio Camproni, com uma antologia bilíngue de Camproni, em obra organizada e traduzida por Aurora Fornoni Bernardini”, escreve o crítico.

Nesta sexta-feira, 8, a Editora lança Uma teoria da adaptação, obra inédita de Linda Hutcheon, teórica literária canadense reconhecida como uma das maiores especialistas em literatura na pós-modernidade, traduzida por André Cechinel, recém-doutor em literatura pela UFSC.

Veja o artigo de Luiz da Costa Lima na íntegra:

Crescendo sem educação’, por Luiz Costa Lima (publicado por O Globo em 2/4/2011)

Há muitos anos o Brasil foi chamado de terra de contrastes. Seria retórica barata perguntar se isso continua verdadeiro. É claro que sim, e mais: ao contraste antigo — a extrema diversidade da riqueza de uns poucos e a miséria de milhões — acrescentaram-se muitos outros.

Não me proponho tratar senão de um: ao passo que se fala na melhoria da condição financeira de parcelas até então miseráveis da população e da balança de pagamentos do Estado nacional, correlatas ao incremento do parque industrial e ao aumento das possibilidades de emprego, ressalta-se menos que nosso sistema educacional passa de mal a pior, desde o nível mais elementar até o acadêmico. (E como poderia ser diferente, considerando a má remuneração dos professores, suas condições de trabalho, seu consequente baixo status na sociedade e a carência das bibliotecas?) Pergunta que surge de imediato: como sustentar o leque ampliado de empregos sem que haja melhoria do nível de profissionalização? A resposta convincente não pode ser outra: o maior número de empregos é preenchido no plano que exige pequena ou ínfima profissionalização.

E como se fará com as tarefas que necessitem de profissionais bastante especializados? Há de se fazer de conta que são atividades que não interessam ao desenvolvimento do país — que são elitistas(!), ociosas ou necessárias apenas nos países que já resolveram seus problemas básicos — ou, se for inevitável, contratam-se técnicos estrangeiros (na verdade, embora disso pouco se fale, as duas estratégias já são bastante praticadas).

No entanto, mesmo que esse seja tão só umas das faces dos nossos novos contrastes, ele é muito vasto para o espaço de um artigo, tivesse o tamanho duplicado. Procuro ajustá-lo a meu tamanho, tratando do nível da questão que mais bem conheço: o do ensino universitário. Para que possa ser mais incisivo, condensando-o em uma questão: como a universidade pode cumprir sua tarefa sem que, em seu conjunto nacional, disponha de um número adequado de editoras de qualidade? Será preciso explicar o porquê da pergunta?

Na dúvida, em lugar de um raciocínio abstrato, recorro a um caso concreto. Não vejo outro melhor do que o do país por excelência do capitalismo liberal: os Estados Unidos. Qualquer pessoa que tenha de lidar com revistas e livros especializados, sabe da absoluta importância assumida pelas editoras universitárias norte-americanas. Não há nenhum mistério em que seja assim. Em um regime capitalista, a exigência da mais-valia pesa de igual sobre suas instituições e, assim, também sobre suas editoras comerciais. Os Estados Unidos contrariariam o espírito do capitalismo e sua tradição pragmática se suas editoras universitárias estivessem isentas de se preocupar com as respectivas receitas; ou se fossem instituições “benevolentes”, apenas colaboradoras dos amigos dos chefões, adeptas do nosso compadrio. É o próprio raio da extensão dos cursos, laboratórios e centros de pesquisa que as universidades acolhem que delas exige um número qualitativamente elevado de publicações; assim como bibliotecas extremamente bem aparelhadas.

Ora, se usarmos entre nós o mesmo raciocínio chegaremos a um resultado que pareceria impensável: embora eu não saiba quantas universidades temos, sei bem do número ínfimo de editoras universitárias de peso. Mesmo sob o risco de esquecer alguma ou, certamente, de não poder fazer justiça ao esforço de uns poucos — como é o caso da atual direção da Editora da Uerj, contra a inércia dominante — recordaria as editoras da Universidade Federal de Minas Gerais, da USP, da Unicamp, da Unesp. (É possível que não haja outras mais?!) O número é tão pequeno que foi ante meu próprio espanto que recentemente descobri que àquelas poucas deveria se reunir pelo menos mais uma, a da Universidade de Santa Catarina, por onde saíram em 2010 uma excelente coletânea de textos em prosa de um autor difícil como Mallarmé (“Divagações”, tradução e apresentação de Fernando Scheibe) e, já neste começo de ano, um livro que combina um ensaio pouco conhecido de Giorgio Agamben sobre o poeta italiano Giorgio Camproni, com uma antologia bilíngue de Camproni, em obra organizada e traduzida por Aurora Fornoni Bernardini.

Como é possível tamanha carência? Explicação possível: nas chamadas ciências “duras”, seus especialistas empenham-se em escrever pesquisas ou recém-acabadas ou em andamento, ao passo que os livros, identificados com os “manuais”, têm pouca importância. Mais ainda: tais pesquisas cabem em artigos que, segundo os critérios dos nossos conselhos de pesquisa, devem preferencialmente estar em inglês e serem publicados em revistas de prestígio reconhecido. Ora, essas não são nossas. Portanto não faz falta que não haja editoras nacionais. Mas e as humanidades? Nessas, os livros continuam decisivos. Devemos publicá-los também em inglês? Mas não compliquemos. Os que se dedicam a elas devem considerar o nível não especializado de nosso público. Portanto seus livros ou cabem em uma editora comercial ou são dispensáveis. Não sei se a explicação é correta, mas pelo menos faz sentido.

LUIZ COSTA LIMA é crítico literário, autor de “O controle do imaginário e afirmação do romance”, entre outros

Raquel Wandelli (37219459 e 991105240 – assessora de Comunicação

raquelwandelli@yahoo.com.br raquelwandelli@reitoria.ufsc.br

Tags: EdUFSC

Editora da UFSC lança Ecos no Porão

22/03/2011 09:59

Fotos: Paulo Noronha / Agecom

Florianópolis é o cenário para uma legião de homenzinhos fazendo cooper com calções esdrúxulos, tristes velhos pederastas, velhinhos trovadores, desempregados, avozinhas, solteironas, aposentados, enfim, habitantes da vizinhança da Ilha onde pulsa um coração decrépito, murchando para a vida, que pode ser acordado de súbito por um pequeno incidente, a fuga de um canário ou uma rajada de vento.

Mas Florianópolis não é mero pretexto para o quase octogenário escritor Silveira de Souza descrever o local onde nasceu e viveu. Mais do que isso, a Ilha é o “mundinho” onde se constituem essas “figurinhas ridículas” e apaixonantes do grotesco que vão ganhar dramaticidade e lirismo em Ecos no Porão, o segundo volume da antologia de contos de Silveira, que a Secretaria de Cultura e Arte e a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina lançam nesta terça-feira, dia 22 de março, às 10 horas, com a presença do autor, durante a Feira de Livros da UFSC e Liga das Editoras Universitárias, na Praça da Cidadania.

Esses habitantes ao mesmo tempo ordinários e excêntricos dos porões da ficção de Silveira, que podem estar no café, na Beira-Mar, na Praça XV, no Calçadão ou em quarto de hotel, carregam um traço em comum: todos experimentam o vazio da existência. Mas ao longo das 137 páginas são surpreendidos no automatismo banal do seu dia a dia urbano por sutis acontecimentos que anunciam possibilidades de passarem do mundinho para o “mundão” e conhecerem uma dimensão mais sublime da vida. E o que produz o acesso ao mundão? Uma sinfonia de Bethoven, um sonho ou um pesadelo, uma emoção inesperada, uma cena da memória, um abalroamento de carro, enfim, interferências mais ou menos perceptíveis que alteram o estado de coisas e, como em um poema hai kai, sugerem uma revelação.

Nem sempre os seres da Ilha percebem essas epifanias cujo deslinde o autor deixa a cargo da perspicácia e prazer do leitor, como anota bem o editor da obra, Sérgio Medeiros Vieira. “Em geral essas mudanças provocam os personagens momentaneamente, levando-os para a absoluta estranheza, mas não chegam a arrancá-los em definitivo do seu mundinho”, diz o diretor da Editora, que chama atenção para a delicadeza e a sofisticação da obra. É como se as possibilidades de sair do vazio estivessem por toda parte, mas os habitantes não se dispusessem a enxergá-las.

A exemplo do primeiro volume, Ecos no Porão II traz na capa a ilustração de um grande artista plástico catarinense, neste caso uma instalação de Fernando Lindote. Em papel pólen, a obra reúne três seleções do próprio autor dos livros Canário de assobio (1985), Relatos escolhidos (1988), Contas de vidro (2002) e ainda cinco contos inéditos, entre eles a narrativa metalinguística “Ecos no porão”, que dá nome à obra e traduz uma metáfora de Silveira para as deformações estilísticas da leitura dos escritores clássicos que inundam seu imaginário desde os dez anos de idade. Vendidas com desconto de 50% durante a Feira EdUFSC/LEU (R$ 15,00), que se estende até o dia 8 de abril, na Praça da Cidadania, os dois volumes apresentam-se, assim, no crivo do escritor e do editor, como o melhor da safra de Silveira.

Os personagens velhos passeiam por grande parte dos contos, mas assumem uma expressividade absoluta em “Vidraças partidas”, onde a decrepitude ganha um lirismo refinado na tentativa de sublimar o vazio através do amor sexual por um jovem. Todavia, em “O olho de Deus”, uma carta assinada aos efebos por mais um velho – funcionário público – aturdido pelo vazio, Silveira alcança um domínio da linguagem que fica à altura da ironia de Franz Kafka no conto “Convenção à Academia”.

Volta e meia Paulo, uma espécie de superego do autor passeia pelas narrativas. Ele mesmo um senhor de baixa estatura e calvo, e conversa franca e elevada, como o homenzinho de “olhinhos afiados” e “face rechonchuda” do conto “He, He, He, He!”, da coletânea Contas de vidro. Como se acometido de uma inspiração sublime, o baixote interrompe a reunião de engravatados executivos encafifados com o planejamento publicitário da empresa para contar um episódio bizarrísimo envolvendo os índios e índias tupinambás e Jean de Léry, missionário francês que narrou sua visita ao país por volta de 1557 na obra Le voyage au Brésil. Em seu relato aparentemente nonsense, o homenzinho exalta “um canto sublime, de extraordinária beleza”, que se produz inicialmente de um murmurante “he, he, he” entre os varões da tribo e contagia o coro das mulheres até assumir a proporção de um canto catártico. O personagem é calado pela perplexidade desdenhosa dos executivos, que retomam sua reunião sem se dar conta do caráter revelador da intempestiva história.

E assim, com sua habilidade inigualável com a língua, uma boa dose de humor e ironia e um olhar lírico para o grotesco, Silveira parece rir-se baixinho ao final de cada história onde reside uma possibilidade de revelação que nunca se entrega sem esforço do leitor… E é como se ouvíssimos os ecos longínquos do seu “he, he, he…” por trás de cada um dos 28 contos.

ENTREVISTA

A Ilha e seus habitantes na ficção de Silveira de Souza

Considerado pelo escritor Salim Miguel um dos maiores contistas brasileiros da atualidade, Silveira publicou O cavalo em chamas (Ática 1981) e Janela de varrer (Bernúncia, 2006). Como contista e tradutor de autores universais, participou ativamente do Grupo Sul, movimento que trouxe o Modernismo para Santa Catarina nos anos 40 e 50.  Aposentado do serviço público, desenvolveu sua carreira literária em meio à rotina de diversas funções, de professor de matemática do Instituto Estadual de Educação e da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, a diretor da Divisão de Informação e Divulgação do Departamento de Extensão Cultural da UFSC. Também atuou no setor de editoração da Fundação Catarinense de Cultura como coordenador das Edições FCC. De mãos ágeis e tão falantes quanto seus contos, mais falantes do que ele próprio, Silveira, concedeu esta entrevista:

O que norteou esta seleção de contos do segundo volume de  Ecos no Porão e o que a diferencia do anterior?

— O plano geral que norteou a preparação de Ecos no Porão, volumes I e II, foi proporcionar uma seleção dos que considero meus melhores textos publicados em livros, desde 1960 até o presente. A única pequena diferença que existe no segundo volume, em relação ao primeiro, é que ele contém alguns relatos inéditos e outros que fizeram parte de coletâneas com outros autores.

Percebe-se em todos os contos uma consciente localização do cenário de Florianópolis que vai muito além do mero retrato ou panorama da cidade pelo escritor. Em que tipo de intenção estética se inscreve essa presença geográfica de Florianópolis na sua ficção?

— De fato, Florianópolis é o cenário de todos os relatos. Por não se tratar de um guia turístico, mas de um livro de ficção literária, o leitor não vai encontrar descrições pormenorizadas ou exaltações entusiásticas a respeito de suas paisagens e recantos pitorescos. O que existe são apenas brevíssimas indicações dessa geografia, integradas à ação e à mente dos personagens. Foi minha intenção que esses personagens se comportassem como habitantes de uma ilha, que a ilha fosse, indireta ou inconscientemente, um componente importante de sua psicologia. Creio que isso diferencia um tanto os meus relatos dos relatos de autores de outros estados.

Alguns elementos naturais marcantes de Florianópolis também são recorrentes na narrativa, como o vento, o mar, as aves. Parece que você dá aos elementos inumanos uma vida e uma participação muito mais específica e marcante do que a de mero cenário para expressão do universo humano…

— Pode ser algo ilusório, mas sempre achei que as ilhas, e em especial a nossa Ilha de SC, propiciam uma aproximação maior do universo humano com outros universos, como o universo de seres inumanos (o mar, os ventos) e o universo de outros viventes, como os peixes, as aves, os insetos, os pássaros, as árvores e os bosques.

Apesar da aparente banalidade de suas vidas, os personagens sempre ganham a possibilidade de uma anunciação ou de uma revelação. Nem sempre se dão conta dessas possibilidades e nem sempre elas têm a força de arrancá-los do seu mundinho… O que você diz sobre isso?

— Na verdade não sei se a minha vida é banal, ou se o mundo de minha literatura é banal. Faz algum tempo que deixei de qualificar as coisas. Quando às vezes tento fazer uma retrospectiva da minha vida até o momento, me dou conta que ela foi pontilhada de fases diversas e até mesmo contraditórias; uma, extremamente tumultuada, com muita bebida, fumaça, cortinas vermelhas e anarquias boêmias; outra (como na infância) cheia de descobertas maravilhosas; outra, tediosa e presa às obrigações sem muito sentido, que eu precisei encarar para poder comprar, como disse certa vez Tom Jobim, “o uisquinho das crianças”; e ainda outra (como presentemente), tranquila e voltada para o estudo e a meditação. Mas, banal ou não, houve algo em todas essas fases que me salvou de um mergulho na mediocridade absoluta: um interesse pela criação literária, que me acompanha desde a infância. Quanto a meus relatos literários os personagens em geral vivem nesse mundinho, sem heroísmos, sendo muitas vezes surpreendidos por (para eles) estranhas ocorrências que podem despertá-los para uma dimensão de suas vidas antes desconhecida.

Ainda que voltado para as delicadezas da existência e da alma, os contos sempre iniciam com cenas concretas, personagens que têm vida corpórea própria, para que depois se deem as abstrações e possibilidades de reflexões filosóficas. Está aí uma escolha estética consciente?

No meu caso, não houve escolha. O modo como escrevo os meus relatos foi nascendo naturalmente, seja como resultado de constante exercício, seja como uma visão muito pessoal do mundo (e da criação literária ou da criação de modo geral), que foi nascendo com a vivência e com as impressões causadas no contato com obras de grandes ficcionistas, com pinturas, músicas, revistas diversas, cinema, paisagens, pessoas, bichos, mil coisas.

E qual o lugar da velhice nos seus contos. Pode comentar que traço há em comum nesses personagens aparentemente reféns da solidão e da decrepitude?

O velho do conto Vidraças partidas (que considero o meu  conto melhor realizado) é um caso especial. Ele existiu, costumava passear pela Felipe Schmidt, de terno e gravata, nos anos 1960, usando um chapéu de feltro. Pensei nele, na sua figura, quando pintou o tema do relato, uma experiência de extrair algo lírico de um comportamento que normalmente se julga degradante.

Você  faz uma literatura ao mesmo tempo densa e econômica, como poucos contistas. Como chegou a essa síntese e que autores o influenciaram nessa escolha estética?

— Harold Bloom escreveu que toda a escritura é uma espécie de releitura. Se ele estiver certo, devo dizer que leio desde os dez anos de idade (estou hoje beirando os 78). Em todo esse tempo, passei por períodos de leitura em que determinado autor, às vezes determinados autores, monopolizavam a minha preferência. Posso citar alguns deles: Monteiro Lobato e Hans Christian Andersen, lá entre os dez e 12 anos. Depois, com o tempo, foram surgindo: Machado de Assis, Anton Checov, Dostoievski, Clarice Lispector, Kafka, Dyonélio Machado, Joseph Conrad, James Joyce, Thomas Mann, William Faulkner, Guimarães Rosa, Cortazar, Jorge Luis Borges, H.P. Lovecraft e mais alguns outros. Nem vamos falar de poetas, de compositores, de alguns desenhistas e pintores, e de alguns diretores de cinema. É provável que todos eles, de algum modo, tenham deixado alguma marca, numa frase, na estruturação de uma determinada estória, na caracterização de um dado personagem. Mas essa é uma praia para os críticos literários.

Alguns escritores, como Salim Miguel, o consideram o maior escritor catarinense da atualidade e um dos melhores contistas do Brasil. O que pensa disso?

— Não tenho como responder a isso. Mas devo dizer que, desde 1960, quando publiquei O Vigia e a Cidade, até agora, o propósito real ao escrever os meus relatos foi conseguir realizar algo que me satisfizesse interiormente, do ponto de vista de uma criação estético-literária. Nunca me interessou ser, como autor, maior ou menor, principalmente num momento em que Santa Catarina tem, residindo aqui e fora daqui, um conjunto de poetas e escritores de primeira linha, como o próprio Salim.

Texto e entrevista: Raquel Wandelli – Assessora de comunicação da SeCArte/UFSC

raquelwandelli@yahoo.com.br e raquelwandelli@reitoria.ufsc.br

Fones: 37219459 e 99110524

www.secarte.ufsc.br e www.ufsc.br

Tags: Ecos no PorãoEdUFSC

Chega às bancas Ecos no Porão, obra maior de Silveira de Souza

18/03/2011 19:03
Florianópolis é o cenário para uma legião de homenzinhos fazendo cooper com calções esdrúxulos, tristes velhos pederastas, velhinhos trovadores, desempregados, avozinhas, solteironas, aposentados, enfim, habitantes da vizinhança da Ilha onde pulsa um coração decrépito, murchando para a vida, que pode ser acordado de súbito por um pequeno incidente, a fuga de um canário ou uma rajada de vento. Mas Florianópolis não é mero pretexto para o quase octogenário escritor Silveira de Souza descrever o local onde nasceu e viveu. Mais do que isso, a Ilha é o “mundinho” onde se constituem essas “figurinhas ridículas” e apaixonantes do grotesco que vão ganhar dramaticidade e lirismo em Ecos no Porão, o segundo volume da antologia de contos de Silveira, que a Secretaria de Cultura e Arte e a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina lançam na próxima terça-feira, dia 22 de março, às 10 horas, com a presença do autor, durante a Feira de Livros da UFSC e Liga das Editoras Universitárias, na Praça da Cidadania.

Esses habitantes ao mesmo tempo ordinários e excêntricos dos porões da ficção de Silveira, que podem estar no café, na Beira-Mar, na Praça XV, no Calçadão ou em quarto de hotel, carregam um traço em comum: todos experimentam o vazio da existência. Mas ao longo das 137 páginas são surpreendidos no automatismo banal do seu dia a dia urbano por sutis acontecimentos que anunciam possibilidades de passarem do mundinho para o “mundão” e conhecerem uma dimensão mais sublime da vida. E o que produz o acesso ao mundão? Uma sinfonia de Bethoven, um sonho ou um pesadelo, uma emoção inesperada, uma cena da memória, um abalroamento de carro, enfim, interferências mais ou menos perceptíveis que alteram o estado de coisas e, como em um poema hai kai, sugerem uma revelação.

Nem sempre os seres da Ilha percebem essas epifanias cujo deslinde o autor deixa a cargo da perspicácia e prazer do leitor, como anota bem o editor da obra, Sérgio Medeiros Vieira. “Em geral essas mudanças provocam os personagens momentaneamente, levando-os para a absoluta estranheza, mas não chegam a arrancá-los em definitivo do seu mundinho”, diz o diretor da Editora, que chama atenção para a delicadeza e a sofisticação da obra. É como se as possibilidades de sair do vazio estivessem por toda parte, mas os habitantes não se dispusessem a enxergá-las.

A exemplo do primeiro volume, Ecos no Porão II traz na capa a ilustração de um grande artista plástico catarinense, neste caso uma instalação de Fernando Lindote. Em papel pólen, a obra reúne três seleções do próprio autor dos livros Canário de assobio (1985), Relatos escolhidos (1988), Contas de vidro (2002) e ainda cinco contos inéditos, entre eles a narrativa metalinguística “Ecos no porão”, que dá nome à obra e traduz uma metáfora de Silveira para as deformações estilísticas da leitura dos escritores clássicos que inundam seu imaginário desde os dez anos de idade. Vendidas com desconto de 50% durante a Feira EdUFSC/LEU (R$ 15,00), que se estende até o dia 8 de abril, na Praça da Cidadania, os dois volumes apresentam-se, assim, no crivo do escritor e do editor, como o melhor da safra de Silveira.

Os personagens velhos passeiam por grande parte dos contos, mas assumem uma expressividade absoluta em “Vidraças partidas”, onde a decrepitude ganha um lirismo refinado na tentativa de sublimar o vazio através do amor sexual por um jovem. Todavia, em “O olho de Deus”, uma carta assinada aos efebos por mais um velho – funcionário público – aturdido pelo vazio, Silveira alcança um domínio da linguagem que fica à altura da ironia de Franz Kafka no conto “Convenção à Academia”.

Volta e meia Paulo, uma espécie de superego do autor passeia pelas narrativas. Ele mesmo um senhor de baixa estatura e calvo, e conversa franca e elevada, como o homenzinho de “olhinhos afiados” e “face rechonchuda” do conto “He, He, He, He!”, da coletânea Contas de vidro. Como se acometido de uma inspiração sublime, o baixote interrompe a reunião de engravatados executivos encafifados com o planejamento publicitário da empresa para contar um episódio bizarrísimo envolvendo os índios e índias tupinambás e Jean de Léry, missionário francês que narrou sua visita ao país por volta de 1557 na obra Le voyage au Brésil. Em seu relato aparentemente nonsense, o homenzinho exalta “um canto sublime, de extraordinária beleza”, que se produz inicialmente de um murmurante “he, he, he” entre os varões da tribo e contagia o coro das mulheres até assumir a proporção de um canto catártico. O personagem é calado pela perplexidade desdenhosa dos executivos, que retomam sua reunião sem se dar conta do caráter revelador da intempestiva história.

E assim, com sua habilidade inigualável com a língua, uma boa dose de humor e ironia e um olhar lírico para o grotesco, Silveira parece rir-se baixinho ao final de cada história onde reside uma possibilidade de revelação que nunca se entrega sem esforço do leitor… E é como se ouvíssimos os ecos longínquos do seu “he, he, he…” por trás de cada um dos 28 contos.

ENTREVISTA

A Ilha e seus habitantes na ficção de Silveira de Souza

Considerado pelo escritor Salim Miguel um dos maiores contistas brasileiros da atualidade, Silveira publicou O cavalo em chamas (Ática 1981) e Janela de varrer (Bernúncia, 2006). Como contista e tradutor de autores universais, participou ativamente do Grupo Sul, movimento que trouxe o Modernismo para Santa Catarina nos anos 40 e 50.  Aposentado do serviço público, desenvolveu sua carreira literária em meio à rotina de diversas funções, de professor de matemática do Instituto Estadual de Educação e da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, a diretor da Divisão de Informação e Divulgação do Departamento de Extensão Cultural da UFSC. Também atuou no setor de editoração da Fundação Catarinense de Cultura como coordenador das Edições FCC. De mãos ágeis e tão falantes quanto seus contos, mais falantes do que ele próprio, Silveira, concedeu esta entrevista:

O que norteou esta seleção de contos do segundo volume de  Ecos no Porão e o que a diferencia do anterior?

— O plano geral que norteou a preparação de Ecos no Porão, volumes I e II, foi proporcionar uma seleção dos que considero meus melhores textos publicados em livros, desde 1960 até o presente. A única pequena diferença que existe no segundo volume, em relação ao primeiro, é que ele contém alguns relatos inéditos e outros que fizeram parte de coletâneas com outros autores.

Percebe-se em todos os contos uma consciente localização do cenário de Florianópolis que vai muito além do mero retrato ou panorama da cidade pelo escritor. Em que tipo de intenção estética se inscreve essa presença geográfica de Florianópolis na sua ficção?

— De fato, Florianópolis é o cenário de todos os relatos. Por não se tratar de um guia turístico, mas de um livro de ficção literária, o leitor não vai encontrar descrições pormenorizadas ou exaltações entusiásticas a respeito de suas paisagens e recantos pitorescos. O que existe são apenas brevíssimas indicações dessa geografia, integradas à ação e à mente dos personagens. Foi minha intenção que esses personagens se comportassem como habitantes de uma ilha, que a ilha fosse, indireta ou inconscientemente, um componente importante de sua psicologia. Creio que isso diferencia um tanto os meus relatos dos relatos de autores de outros estados.

Alguns elementos naturais marcantes de Florianópolis também são recorrentes na narrativa, como o vento, o mar, as aves. Parece que você dá aos elementos inumanos uma vida e uma participação muito mais específica e marcante do que a de mero cenário para expressão do universo humano…

— Pode ser algo ilusório, mas sempre achei que as ilhas, e em especial a nossa Ilha de SC, propiciam uma aproximação maior do universo humano com outros universos, como o universo de seres inumanos (o mar, os ventos) e o universo de outros viventes, como os peixes, as aves, os insetos, os pássaros, as árvores e os bosques.

Apesar da aparente banalidade de suas vidas, os personagens sempre ganham a possibilidade de uma anunciação ou de uma revelação. Nem sempre se dão conta dessas possibilidades e nem sempre elas têm a força de arrancá-los do seu mundinho… O que você diz sobre isso?

— Na verdade não sei se a minha vida é banal, ou se o mundo de minha literatura é banal. Faz algum tempo que deixei de qualificar as coisas. Quando às vezes tento fazer uma retrospectiva da minha vida até o momento, me dou conta que ela foi pontilhada de fases diversas e até mesmo contraditórias; uma, extremamente tumultuada, com muita bebida, fumaça, cortinas vermelhas e anarquias boêmias; outra (como na infância) cheia de descobertas maravilhosas; outra, tediosa e presa às obrigações sem muito sentido, que eu precisei encarar para poder comprar, como disse certa vez Tom Jobim, “o uisquinho das crianças”; e ainda outra (como presentemente), tranquila e voltada para o estudo e a meditação. Mas, banal ou não, houve algo em todas essas fases que me salvou de um mergulho na mediocridade absoluta: um interesse pela criação literária, que me acompanha desde a infância. Quanto a meus relatos literários os personagens em geral vivem nesse mundinho, sem heroísmos, sendo muitas vezes surpreendidos por (para eles) estranhas ocorrências que podem despertá-los para uma dimensão de suas vidas antes desconhecida.

Ainda que voltado para as delicadezas da existência e da alma, os contos sempre iniciam com cenas concretas, personagens que têm vida corpórea própria, para que depois se deem as abstrações e possibilidades de reflexões filosóficas. Está aí uma escolha estética consciente?

No meu caso, não houve escolha. O modo como escrevo os meus relatos foi nascendo naturalmente, seja como resultado de constante exercício, seja como uma visão muito pessoal do mundo (e da criação literária ou da criação de modo geral), que foi nascendo com a vivência e com as impressões causadas no contato com obras de grandes ficcionistas, com pinturas, músicas, revistas diversas, cinema, paisagens, pessoas, bichos, mil coisas.

E qual o lugar da velhice nos seus contos. Pode comentar que traço há em comum nesses personagens aparentemente reféns da solidão e da decrepitude?

O velho do conto Vidraças partidas (que considero o meu  conto melhor realizado) é um caso especial. Ele existiu, costumava passear pela Felipe Schmidt, de terno e gravata, nos anos 1960, usando um chapéu de feltro. Pensei nele, na sua figura, quando pintou o tema do relato, uma experiência de extrair algo lírico de um comportamento que normalmente se julga degradante.

Você  faz uma literatura ao mesmo tempo densa e econômica, como poucos contistas. Como chegou a essa síntese e que autores o influenciaram nessa escolha estética?

— Harold Bloom escreveu que toda a escritura é uma espécie de releitura. Se ele estiver certo, devo dizer que leio desde os dez anos de idade (estou hoje beirando os 78). Em todo esse tempo, passei por períodos de leitura em que determinado autor, às vezes determinados autores, monopolizavam a minha preferência. Posso citar alguns deles: Monteiro Lobato e Hans Christian Andersen, lá entre os dez e 12 anos. Depois, com o tempo, foram surgindo: Machado de Assis, Anton Checov, Dostoievski, Clarice Lispector, Kafka, Dyonélio Machado, Joseph Conrad, James Joyce, Thomas Mann, William Faulkner, Guimarães Rosa, Cortazar, Jorge Luis Borges, H.P. Lovecraft e mais alguns outros. Nem vamos falar de poetas, de compositores, de alguns desenhistas e pintores, e de alguns diretores de cinema. É provável que todos eles, de algum modo, tenham deixado alguma marca, numa frase, na estruturação de uma determinada estória, na caracterização de um dado personagem. Mas essa é uma praia para os críticos literários.

Alguns escritores, como Salim Miguel, o consideram o maior escritor catarinense da atualidade e um dos melhores contistas do Brasil. O que pensa disso?

— Não tenho como responder a isso. Mas devo dizer que, desde 1960, quando publiquei O Vigia e a Cidade, até agora, o propósito real ao escrever os meus relatos foi conseguir realizar algo que me satisfizesse interiormente, do ponto de vista de uma criação estético-literária. Nunca me interessou ser, como autor, maior ou menor, principalmente num momento em que Santa Catarina tem, residindo aqui e fora daqui, um conjunto de poetas e escritores de primeira linha, como o próprio Salim.

Texto e entrevista: Raquel Wandelli – assessora de comunicação da SeCArte/UFSC

raquelwandelli@yahoo.com.br e raquelwandelli@reitoria.ufsc.br

Fones: 37219459 e 99110524

www.secarte.ufsc.br e www.ufsc.br

Tags: EdUFSCliteratura catarinense

Feira de livros de editoras universitárias oferece até 70% de desconto

15/03/2011 09:09

Fotos: Paulo Noronha / Agecom

A coisa perdida: Agamben comenta Caproni, organizado e traduzido por Aurora Bernardini, Ecos no porão II, livro do contista catarinense Silveira de Souza e Do jeito que você gosta, tradução de Shakespeare. Esses lançamentos que acabaram de sair do prelo compõem uma pequena mostra dos livros que a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, pela primeira vez em parceria com a Liga das Editoras Universitárias (LEU), coloca à venda na volta às aulas, com descontos variando entre 15 a 70%. Até o dia 8 de abril, na Praça da Cidadania da UFSC, a Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU vai oferecer com descontos vantajosos 8.200 mil volumes de suas antigas e novas coleções.

Ao todo aproximadamente 780 títulos e 7.200 livros da EdUFSC serão vendidos com 50 a 70% de desconto e 500 títulos de outras editoras universitárias filiadas à LEU terão 15 a 30%, incluindo-se as da Unicamp, USP, UFMG e UFBA, todas trazendo obras de interesse universal. É a oportunidade de adquirir pela metade do preço em condições normais, o livro Desgostos; novas tendências estéticas, do filósofo italiano Mário Perniola, que será vendido somente na Feira a R$ 16,00. Outros exemplos da nova coleção da EdUFSC são: George Bataille, filósofo, por R$ 12,00; Poetas da Catalunha, que custará R$ 11,00 e A Coisa perdida, que baixou de R$ 45,00 para 23,00. Com tradução inédita em língua portuguesa, o célebre comentário de Agamben com a seleção dos poemas de Caproni será lançado na Feira. A obra foi recomendada pela mídia nacional entre os dez melhores produtos culturais do país. Ecos no porão, segundo volume da coletânea de contos de Silveira de Souza também será lançado com preço especial de R$ 15,00.

Aberta ao público universitário e a toda comunidade, a feira ocorre em tendas cobertas localizadas na Praça da Cidadania, em frente à Reitoria. Incluem-se entre as obras oferecidas a Série Didática, composta por livros solicitados em diversas graduações (Medicina, Farmácia, Enfermagem, Engenharias, Química, Física, Matemática, Português) e autores que costumam ser solicitados na lista do Vestibular das universidades catarinenses. Entre as novas edições da Série Didática, o editor Sérgio Medeiros destaca títulos como Anatomia sistêmica, Introdução à engenharia e Estatística aplicada às ciências sociais e Manual básico do desenho. O volume Farmacognosia, um dos clássicos da EdUFSC, recentemente reeditado, também estará à venda com desconto. Coordenada por Fernando Wolf, a feira funciona sempre das 9 às 19 horas, exceto aos sábados e domingos.

Lançamentos da EdUFSC à venda na Feira:

  • Ética das virtudes – JOÃO HOBUSS (ORGANIZADOR)
  • A coisa perdida – AURORA FORNONI BERNARDINI (ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO)
  • A decadência de Santa Catarina – HENRIQUE LUIZ PEREIRA OLIVEIRA • MARLON SALOMON
  • Fundamentação filosófica – GIOVANI LUNARDI • MÁRCIO SECCO
  • Redes locais – MARCELO RICARDO STEMMER
  • Georges Bataille – FRANCO RELLA • SUSANNA MATI
  • Desgostos; novas tendências estéticas – MARIO PERNIOLA
  • 4 poetas da Catalúnia – LUIS SOLER (ORG.)
  • 28 desaforismos –  FRANZ KAFKA –  SILVEIRA DE SOUZA (TRADUÇÃO)
  • Ecos do porão vol 1 – SILVEIRA DE SOUZA
  • Educação do corpo em ambientes educacionais – FÁBIO MACHADO PINTO • ALEXANDRE FERNANDEZ VAZ • DEBORAH THOMÉ SAYÃO  (ORGANIZADORES)
  • Discussão de novos paradigmas –  JAIME COFRE • KAY SAALFELD (ORGANIZADORES)

Por Raquel Wandelli, jornalista na SeCArte

(048) 37219459 e 99110524

raquelwandelli@yahoo.com.br

raquelwandelli@ufsc.br

Tags: EdUFSCFeira de Livros

Feira de livros da EdUFSC adiada para terça

14/03/2011 12:26

A Feira de Livros da Editora da UFSC, programada para iniciar hoje, 14/03, foi adiada para amanhã (15) em função dos fortes ventos que atingiram o Campus Universitário na madrugada deste domingo. Segundo a organização da Feira, a empresa Cardeal Eventos, responsável pela estrutura física do evento, deverá reforçar os pilares da tenda  ainda nesta segunda.

As atividades terão início nesta terça, às 9 horas. Mais informações pelo 3721-9686.

Tags: adiadaEdUFSCFeira de Livros

UFSC lança Agambem e o poeta que lamentou a existência de deus

11/03/2011 10:33

O filósofo e o poeta que lamentou a inexistência de Deus

Editora da UFSC publica, pela primeira vez em língua portuguesa, célebre comentário de Giorgio Agamben sobre o poeta Caproni, autor de A coisa perdida, numa tradução de Aurora Bernardini, que estará na UFSC nesta sexta-feira (11).

As artes estão repletas de obras belas e definitivas em louvor a deus ou à transcendência divina. Mas nenhum artista, cineasta, escritor ou músico cantou com tanto fervor e desespero estético a inexistência de deus quanto o poeta italiano Giorgio Caproni. Esse paradoxo sagrado de quem ao chorar a ausência divina afirma-a faz de Caproni um dos poetas prediletos dos filósofos do pós-guerra. Em 1999, o pensador Giorgio Agamben escreveu um comentário em prefácio à sua última coletânea de versos que se tornou tão incontornável quanto à própria obra. É essa revelação da poesia pela filosofia que a editora da UFSC acaba de publicar em edição bilíngue sob o título: A coisa perdida: Agamben comenta Caproni, pela primeira vez em língua portuguesa, graças ao trabalho consagrado da tradutora Aurora Bernardini.

Nesse encontro de 375 páginas entre a reflexão e a arte, 40 são dedicadas ao prefácio da tradutora e ao breve, e denso, ensaio de Agamben (Roma, 1942). No restante do livro, imperam soberanos, em tradução bilíngüe, poemas selecionados de onze diferentes obras de Caproni (Livorno, 1912 – Roma, 1990), considerado um clássico da poesia moderna. São versos livres, ora longos, ora curtíssimos, que se fazem de uma delicadeza rude, entabulando misteriosos diálogos com uma entidade invisível ou uma ordem superior, como em “Reflexão”: “Foi dito também: Nós vivemos sobre um monstro”. Eis um mote que todos poderíamos tornar nosso. (A Besta que acuamos é o lugar onde nos encontramos). E também dramaticamente céticos, como em: e “Vou-me” disse,/ “O que lhes deixo é tudo/ o que levo em boa hora./ Tenham saúde. Cuidem/ de si mais do que/ de mim cuidei eu./Vou-me para onde, há tempo, Deus foi-se embora”.

O lamento pela ausência divina ou do que o poeta Rodrigo de Haro identifica como melancolia diante da perda do sagrado faz de cada verso um estranho clamor às avessas, como uma espécie de niilismo inconformado. “Nunca, como nesses poemas, a negação de Deus tem sido uma sua afirmação: como se Caproni tivesse travado com Deus um combate singular, um corpo a corpo definitivo (…)”, escreveu o poeta e crítico Giovanni Testori no Corrie della Serra de 1982, citado no prefácio de Aurora, que é professora da USP e já foi agraciada, na categoria de tradução, pelos prêmios Jabuti e Biblioteca Nacional. É como se o poeta reclamasse a promessa divina da infância traída na vida adulta: Um dos muitos, também eu. Uma árvore fulminada/pela fuga de Deus. (“Também eu”)

Esse sentimento que Agamben chama de traição da ordem do sagrado se expressa com plenitude em Meu Deus, mesmo se não existes, por que não nos assistes?, de “Invocação”, que integra a última coletânea do poeta, cujo título, Res amissa, traduz todo ânimo da obra, mesmo as que têm motivação política de quem combateu no front da Segunda Guerra Mundial e ingressou nas fileiras da Resistência pela libertação. Em seu comentário, Agamben compreende Res amissa como a coisa perdida, a melancolia pela falta daquilo que se teve tão plenamente e passa a ser tão nosso que se perde a consciência da sua presença e se torna impossível perder, mas também se torna impossível recapturar por conta do esquecimento. O próprio Caproni autorizaria essa interpretação em uma anotação a caneta resgatada por Agamben: Todos (sem lembrar de quem)/ recebemos um dom precioso/ e tão ciosos escondemos que não lembramos onde e até mesmo de que dom se trate – /Res amissa, o contrário do Conde. Centro, a perda. Agamben conclui seu comentário dizendo que “de todos os livros de poesia que se continua e se continuará certamente a publicar  é impossível dizer que ao menos um único deles poderá estar à altura do evento que aqui se cumpriu”.

Ensaísta e tradutora de mais de 70 obras, incluindo Jorge Luís Borges, Aurora se dedica no momento à poesia russa e italiana. Convidada a participar, na sexta-feira (11), às 14 horas, na Sala Machado de Assis, do Centro de Comunicação e Expressão, da banca de defesa de André Cechinel, doutorado em Literatura pela UFSC, sobre T.S. Elliot, a autora concedeu entrevista sobre seu trabalho na tradução desses dois grandes expoentes do pensamento e da poesia:

1. Os poemas da antologia nos trazem sempre o sentido dramático de uma ausência, de uma falta no plano superior. Podemos de algum modo relacionar a coisa perdida com a nostalgia ou o desespero pela perda do sagrado (no seu sentido mais pleno), embora o poeta ao tempo que reclame da ausência de Deus afirme sua inexistência?

Aurora Bernardini – A questão da ateologia (a análise da teologia para provar suas falhas intrínsecas) em Caproni é muito simples, embora retorcida, basta ler, na coletânea, o poema “Cantabile”: O menino que venceu/em seguida a vergonha escondida/de crer, e orando/por uma hora deixa agora/seu ramalhete de flores/a Santa Rita de Cássia, como fará, meu Deus,/como fará a perdoar-te/depois, sem ódio, o furto de tua inexistência?

A falha que o poeta imputa à teologia (no caso, ao conjunto de preceitos, princípios e dogmas do catolicismo) é de fazer crer ao menino algo (máxime, a existência de Deus) que depois (quando adulto), irá lhe subtrair. É desse furto que o poeta ressente, nos momentos mais lancinantes de sua existência (e de sua poesia). Trata-se, como o define Hölderlin, eufemisticamente, no prefácio de Agamben, de uma “traição de tipo sagrado”. Bergman, por exemplo, é mais direto. A personagem-chave de O sétimo selo,diz, durante a partida de xadrez com a Morte: “Os homens pegaram os seus medos e deram-lhe o nome de Deus”. Ele mesmo, numa entrevista a Cahiers du cinema, na década de 1960, declara: “depois que deixei de acreditar, sinto-me mais calmo, bem”. Na tradição poética italiana, esta “traição de tipo sagrado” jamais foi questionada tão abertamente.

2. No sentido em que a poesia de Caproni lamenta a perda e de Deus, pode ser vista como uma literatura que potencializa a consciência dessa perda? Ou seja, podemos ter em Caproni uma leitura que leve o homem da pós-modernidade ou o homem contemporâneo à busca do preenchimento? E quando lamenta a inexistência de Deus de alguma forma o poeta está se diferenciando do niilismo ou protestando contra a falácia religiosa?

Aurora Bernardini – Recorrendo novamente a Agamben: “Em Caproni, todas as figuras da ateologia chegam à sua despedida (…) No entanto, ao passo que a infidelidade hölderliniana  fazia questão precisamente que “ a memória dos celestes não findasse”, aqui domina uma sóbria ‘decisão de abrir mão’.(…) Caproni conseguiu exprimir, sem sombra de nostalgia ou de niilismo o ethos e quem sabe a Stimmung da solidão sem Deus.”  E mais, enquanto as diferentes escolas literárias têm discutido a relação vida/arte, na instância da dessujeitivização à qual   Caproni submete sua poesia, vida e arte confluem e se confundem.

3. O que seria perder algo que se possui tão completamente que não se tem consciência da sua posse e como você vê a relação dessa coisa perdida que Agamben faz com a poesia de Caproni, afirmando que ela se tornou a própria res amissa?

Aurora Bernardini – Trata-se de alguma coisa preciosa (um Bem, ou – para um crente – até mesmo a Graça – explica Caproni, citado no prefácio), que o poeta guardou tão bem que não mais a encontra. Aproveitando brilhantemente a deixa, Agamben adentra-se pelos meandros da Graça e lembra o perigo, para a religião cristã, de ela não poder ser perdida, conforme dizia Pelágio. Daí sua condenação por Agostinho, daí sua excomunhão. Por outro lado, o poema “Res amissa”, sem ritmo, sem rima, sem prosódia é comparado por Agamben ao lenho quebrado do violino que Caproni, depois de um concerto, esfacelou:

Dela não encontro traço./ Veio me ver a fim (disso tenho certeza) /de dar-me de presente./ Dela não mais encontro traço./ Revejo ao findar/do dia o rosto minguado/ branco flautado…/ A manga/ em renda…/A graça,/ tão doce e germânica/ no oferecer…/ Um vento/ de choque – um ar quase silíceo enregela/agora o quarto…/ (È lâmina/de faca?/Tormento/ além do vidro e da madeira/- serrada – do postigo?) /Dela não vejo mais sinal./Mais traço./Pergunto/ à Morgana…/ Revejo/ minguado o minguado rosto branco / flauto desaparecido…/  Descerra/- remota – a alvorescente boca, /Mas não fala./(Não pode/ – nada pode – dar resposta.) /Não mais espero encontrá-la./Com demasiado cuidado/ (irrecuperavelmente) a guardei. (“Res Amissa”).

O violino quebrado não tem reparo. Idem, a Coisa perdida não pode ser encontrada. E ela é imperdível por já estar irremediavelmente perdida. “E perdida por força de ser – tal como a vida, tal como, justamente, uma natureza – demasiado intimamente possuída, demasiado ‘ciosamente, (irrecuperavelmente) guardada’”, como comenta Agamben.

4. O que norteou Agamben na seleção desses poemas?

Aurora Bernardini – Agamben mencionou cronologicamente os poemas de Caproni que considerou significativos na obra deste, para o seu prefácio. Eu acompanhei a seleção, introduzindo também outros poemas que considerei representativos, das respectivas coletâneas, cronologicamente, para que o leitor brasileiro possa ter uma visão mais ampla da obra do poeta, a partir de suas fases idílicas (a crença), até a crueza da carnificina na guerra e da vida adulta, a denúncia político-social e o despojamento total.

5. Como é traduzir Caproni? E como vc lida com as “impossibilidades de tradução” na sua obra? Em seu comentário, Agamben diz que, pelo domínio da “ligação musaica”, “(…) nenhuma tradução, não apenas de Pascoli, mas também de Penna ou Caproni, conseguirá dar uma ideia vaga do original.  E da mesma forma, qual o desafio de traduzir Agamben com toda sua erudição medieval?

Aurora Bernardini – Tenho me dedicado ao estudo e ao processo da poesia há alguns anos, inclusive para traduzi-la, pois tradutor de poesia não se improvisa. E é necessário também que se tenha certa propensão… No caso de línguas afins, como a italiana, a tradução exige atenção e sensibilidade mais do que, propriamente, “recriação”. Já, para traduzir um crítico refinado como Agamben é preciso o máximo de rigor filológico e científico, diria: certos conceitos ligados aos termos que ele usa diferem de época em época e de língua para língua. Caproni teve alguns de seus poemas traduzidos por Maurício Santana Dias e Agamben já é um crítico bastante conhecido nas principais universidades do Brasil, cujas editoras o tem publicado em tradução brasileira. Cito da UFMG: Homo Sacer; da Humanitas/UFMG: Infância e História; da Boitempo: Estado de Exceção, Profanações; e agora, da UFSC: Desapropriada maneira.

6. Agamben conclui o comentário dizendo que “de todos os livros de poesia que se continua e se continuará certamente a publicar  é impossível dizer que ao menos um único deles poderá estar à altura do evento que aqui se cumpriu”. Como você vê essa afirmação?

Aurora Bernardini – Agamben chamou seu prefácio de “Desapropriada maneira”, exemplificando e explicando o que distingue estilo e maneira e descobrindo facetas capronianas das quais, provavelmente, o poeta não tinha clara consciência – e isso ocorre aos críticos particularmente argutos – ao comentar, no final do referido prefácio, o trabalho de desapropriação do nexo formal (ligação musaica) e da linha prosódica (métrica, rítmica e rímica) da última coletânea de Caproni (Res amissa). Em particular, o poema “Res amissa” – conclui Agamben – “atingiu para sempre uma região para além do próprio e do impróprio, da salvação e da ruína. Esta é a herança não recebível que a desapropriada maneira de Caproni deixa à poesia italiana”.

Entrevista à Raquel Wandelli – assessora de comunicação da SeCArte/UFSC

raquelwandelli@yahoo.com.br e raquelwandelli@reitoria.ufsc.br

Fones: (48) 37219459 e 99110524

www.secarte.ufsc.br e www.ufsc.br

Tags: AgambenAurora BernardiniEdUFSC

Feira de livros de editoras universitárias oferece até 70% de desconto na volta às aulas

11/03/2011 10:11

A coisa perdida: Agamben comenta Caproni, organizado e traduzido por Aurora Bernardini, Ecos no porão II, livro do contista catarinense Silveira de Souza e Do jeito que você gosta, tradução de Shakespeare. Esses lançamentos que acabaram de sair do prelo compõem uma pequena mostra dos livros que a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, pela primeira vez em parceria com a Liga das Editoras Universitárias (LEU), coloca à venda na volta às aulas, com descontos variando entre 15 a 70%. De 14 de março a 8 de abril, na Praça da Cidadania da UFSC, a Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU vai oferecer com descontos muito vantajosos 8.200 mil volumes de suas antigas e novas coleções.

Ao todo aproximadamente 780 títulos e 7.200 livros da EdUFSC serão vendidos com 50 a 70% de desconto e 500 títulos de outras editoras universitárias filiadas à LEU terão 15 a 30%, incluindo-se as da Unicamp, USP, UFMG e UFBA, todas trazendo obras de interesse universal. É a oportunidade de adquirir pela metade do preço em condições normais, o livro Desgostos; novas tendências estéticas, do filósofo italiano Mário Perniola, que será vendido somente na Feira a R$ 16,00. Outros exemplos da nova coleção da EdUFSC são: George Bataille, filósofo, por R$ 12,00; Poetas da Catalunha, que custará R$ 11,00 e A Coisa perdida, que baixou de R$ 45,00 para 23,00. Com tradução inédita em língua portuguesa, o célebre comentário de Agamben com a seleção dos poemas de Caproni será lançado na Feira. A obra foi recomendada pela mídia nacional entre os dez melhores produtos culturais do país. Ecos no porão, segundo volume da coletânea de contos de Silveira de Souza também será lançado com preço especial de R$ 15,00.

Aberta ao público universitário e a toda comunidade, a Feira ocorre em tendas cobertas localizadas na Praça da Cidadania, em frente à Reitoria. Incluem-se entre as obras oferecidas a Série Didática, composta por livros solicitados em diversas graduações (Medicina, Farmácia, Enfermagem, Engenharias, Química, Física, Matemática, Português) e autores que costumam ser solicitados na lista do Vestibular das universidades catarinenses. Entre as novas edições da Série Didática, o editor Sérgio Medeiros destaca títulos como Anatomia sistêmica, Introdução à engenharia e Estatística aplicada às ciências sociais e Manual básico do desenho. O volume Farmacognosia, um dos clássicos da EdUFSC, recentemente reeditado, também estará à venda com desconto. Coordenada por Fernando Wolf, a feira funciona sempre das 9 às 19 horas, exceto aos sábados e domingos.

Lançamentos da EdUFSC à venda na Feira:

  • Ética das virtudes – JOÃO HOBUSS (ORGANIZADOR)
  • A coisa perdida – AURORA FORNONI BERNARDINI (ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO)
  • A decadência de Santa Catarina – HENRIQUE LUIZ PEREIRA OLIVEIRA • MARLON SALOMON
  • Fundamentação filosófica – GIOVANI LUNARDI • MÁRCIO SECCO
  • Redes locais – MARCELO RICARDO STEMMER
  • Georges Bataille – FRANCO RELLA • SUSANNA MATI
  • Desgostos; novas tendências estéticas – MARIO PERNIOLA
  • 4 poetas da Catalúnia – LUIS SOLER (ORG.)
  • 28 desaforismos –  FRANZ KAFKA –  SILVEIRA DE SOUZA (TRADUÇÃO)
  • Ecos do porão vol 1 – SILVEIRA DE SOUZA
  • Educação do corpo em ambientes educacionais – FÁBIO MACHADO PINTO • ALEXANDRE FERNANDEZ VAZ • DEBORAH THOMÉ SAYÃO  (ORGANIZADORES)
  • Discussão de novos paradigmas –  JAIME COFRE • KAY SAALFELD (ORGANIZADORES)

Por Raquel Wandelli, jornalista na SeCarte

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Editora da UFSC na Folha de S. Paulo

21/02/2011 11:37

A UFSC e a Editora tiveram grande destaque no jornal Folha de S. Paulo desse  domingo (20). No caderno “Ilustríssima”, o livro A Coisa Perdida: Agamben comenta Caproni, organizado e traduzido por Aurora Bernardini e publicado pela EdUFSC, foi destacado entre os melhores produtos culturais da semana. Na edição do dia 13 de fevereiro a Editora já havia sido indicada pela recomendação da obra 28 Desaforismos, coletânea de aforismos de Franz Kafka, inéditos em língua portuguesa, selecionados e traduzidos pelo contista catarinense Silveira de Souza. Os pensamentos foram considerados os mais transgressores e corrosivos dos 109 aforismos encontrados nos cadernos do escritor tcheco depois de sua morte, em 1924.

Na seção Arquivo Aberto; Memórias que viram histórias, do mesmo caderno, Sérgio Medeiros, diretor da Editora da UFSC, fala do índio xavante Jerônimo Tsawé, cujos grafismos, feitos aos cem anos de idade, ilustram a capa de seu novo livro de poesia, Figurantes, publicado em 2011 pela Iluminuras, de São Paulo.

Habitante da reserva de Sangradouro, no Estado do Mato Grosso, Jerônimo era o “wamaritede’wa”, o dono dos sonhos, como foi reconhecido por seu povo, a quem
confiou muitas visões proféticas que ajudaram a indicar os caminhos dos índios da aldeia. Sob o título “O dono dos sonhos adormecido”, Medeiros relata seu encontro com o “sonhador oficial” em 1988, quando preparava sua tese sobre narrativas xavantes.

Ainda na edição de domingo, na página Imaginação, contracapa do caderno “Ilustríssima”, Dirce Waltrick do Amarante, professora do curso de Artes Cênicas
da UFSC, traduz e apresenta uma peça sintética do dramaturgo futurista F. T. Marinetti. O artigo marca as comemorações de cem anos do teatro sintético.

Por Raquel Wandelli – jornalista na SeCArte

Tags: A Coisa Perdida: Agamben comenta CaproniEdUFSCFolha de São Paulo